O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 176: Anjo da Morte

Ainda que isento do dano astronômico imposto pelo rugido feroz do Dragão da Destruição, Belzebu gargalhava enquanto era empurrado a uma velocidade descomunal para longe do planeta.

Um portal se abriu logo atrás e o transportou para um lugar inóspito e vazio do universo, um ponto fora da galáxia em que ele se encontrava antes.

O rugido do monstro morto-vivo enfim se esvaiu, dando ao Príncipe Infernal da Gula uma bela vista da galáxia espiral, ao longe.

— Podia ter me mandado pra mais longe. — Àquela distância, ele poderia retornar apenas na base da velocidade pura. — De qualquer forma, minha diversão está aqui.

Um segundo portal deu passagem ao nefilim, que chegou acompanhado por uma figura alta que usava um capuz escuro.

Era impossível enxergar o rosto da criatura; encoberto por uma nuvens em forma do cosmos, parecia não haver uma cabeça ou crânio debaixo do capuz.

No Necronomicon, que flutuava à frente de Raizel, estava a página número 91: a Personificação do Espaço, a primeira invocação conceitual em forma de morte.

— Parece que a brincadeira acabou — zombou, de olho nas asas curadas do oponente, agora roxas, assim como os olhos e os cabelos dele — Anjo da Morte.

“Esse título de merda.” Raizel moveu os lábios, sem produzir som. “Soa horrível”.

Mesmo que conseguisse sobreviver ao vácuo do espaço sideral, o nefilim ainda estava sujeito às leis do universo, diferente de seu adversário, que conseguia transmitir a vibração de ondas sonoras mesmo sem um meio de propagação.

“Necronomicon, Invocações Número 92 e 93.” Juntou as mãos, ao passo que as páginas do grimório se moviam sozinhas. “Personificações do Tempo e da Matéria”.

— Oh! — Belzebu aplaudiu o rapaz por conseguir manter três daquelas criaturas em campo ao mesmo tempo. — Bravo!

Como de praxe, as invocações usavam roupas maltrapilhas, contudo com destaque para o relógio de ponteiro no rosto da Personificação do Tempo 

A Personificação da Matéria, por sua vez, possuía uma forma robusta e densa, cujo corpo moribundo exalava a podridão de vários tipos de materiais irregulares.

Apesar do potencial apresentado ante às suas vistas, Belzebu se manteve sem avançar, apenas exalando êxtase pelo próximo movimento do nefilim.

Ele sabia muito bem qual era a pretensão de Raizel ao colocar aquelas três criaturas reunidas. Mal via a hora de contemplar a concretização daquele futuro.

“Combinar: Dar Origem.” Os três servos obedeceram o comando imposto, contorcendo-se e unindo forças, para enviarem Raizel e Belzebu para um novo cenário.

Recém-nascido da junção de conceitos fundamentais, um espaço de proporções infinitas se propôs a ser o novo palco do embate entre a Morte e a Gula.

O tempo fluía ao bel prazer de Raizel, enquanto que a matéria se apresentava na forma de densas nuvens de gás quente.

— Manifeste-se — ordenou o nefilim, agora livre da preocupação de destruir seu mundo ou universo com a colisão daquelas armas — Espada do Fim dos Tempos: Armagedom.

A arma de um Arcanjo rasgou o tecido do espaço e alcançou a mão direita de Raizel, que — armado até os dentes — encarou o Senhor das Moscas de um jeito inédito.

— Vamos, saque a sua também. — Estava na cara o quanto que Belzebu ansiava por aquele momento. — Mosca maldita.

— Haha! — Aquilo era mesmo magnífico: enfrentar o segundo melhor usuário de Nether, abaixo apenas do próprio Azrael. — É uma oportunidade de ouro.

Em vez de dar logo prosseguimento ao combate, Belzebu apontou para o monstro que personificava o conceito do tempo.

— Você disse que eu era um mentiroso. — Sorriu, maléfico. — Confira você mesmo.

— Huh… — Naquele estado, seria possível, para o jovem, checar o passado da alma de Petra e se de fato houve uma reencarnação.

Agora capaz de também enxergar todas as ramificações do futuro, Raizel tinha certeza de que o infeliz o deixaria fazer aquilo sem interferência.

“Como…?” Seus olhos se arregalaram, e, mesmo ele, que não possuía a obrigação de respirar, sentiu falta de ar. — Por quê?

Retida por tanto tempo… Azrael realmente esperou tanto para enfim liberar a alma da Karen para um novo corpo?

— A Chave de Goétia… — Sim, aquele poder nas mãos de Petra nunca foi uma simples coincidência.

Por ser uma invocadora, Karen Necron nunca foi apta para o combate, uma das razões da morte dela; já Petra, tinha um potencial imenso.

— Tá de brincadeira. — Aquele merda do Azrael nunca levaria algo assim em consideração, principalmente se tratando de alguém ligado a Raizel. — Só pode ser brincadeira.

Algo estava inacessível à sua Visão do Passado: alguém se encontrou com o Arcanjo da Morte. Alguém pediu que a Chave do Guardião dos Céus caísse nas mãos da garota.

“Essa pessoa… quem é?” Já sem prestar atenção no adversário à sua frente, Raizel voltou a si apenas quando escutou Belzebu proferir:

— Amálgama Antagônica: — Livrando-se do Bastão Demoníaco, o Príncipe Infernal juntou as palmas das mãos, as quais se afastaram e, como se fossem dois portais, deram passagem a outra arma alongada. — Baalzebub!

Como uma lança afiada dos dois lados, a arma do Senhor das Moscas exibia uma lâmina amarelada em uma ponta e uma esverdeada na outra.

Antecipando-se à percepção aguçada dos seus cinco sentidos, Raizel firmou a Espada do Fim dos Tempos em frente ao rosto, e o impacto com a lâmina amarela foi intenso.

— Argh! — Desde o encontro das armas até em cima e embaixo delas, por distâncias inalcançáveis aos olhos, uma rachadura maltratou o espaço. — Ah!

A Espada do Fim dos Tempos explodiu suas chamas carmesins, afastando-se da Lâmina da Fome, que foi feliz ao devorar as labaredas que a cercavam.

— Uhuuul! — Belzebu vibrou quando Raizel foi teletransportado pela Personificação do Espaço e, sem motivo algum,  enfiou a espada na cabeça da Personificação da Matéria. — É isso aí!

Girou a Amálgama Antagônica e barrou o avanço da ponta da arma que surgiu, através de um pequeno portal, atrás de si.

— Lembre-se que antes de você conseguir enxergar o futuro. — Impôs força e empurrou a arma de Raizel de volta para o portal. — Eu já fazia isso, moleque!

— Tsc! — O braço do nefilim foi empurrado junto à Espada do Fim dos Tempos.

Por sorte, a segunda fenda que dava lugar ao Vazio Existencial limitou-se apenas às costas de Belzebu e não invadiu o portal no rosto da Personificação da Matéria.

Ainda se recuperando do forte impacto, Raizel prendeu a respiração ao saber que o adversário estaria atrás dele antes que conseguisse corrigir sua postura.

Dito e feito, Belzebu desceu a Lâmina da Fome, devorando o tecido do espaço que havia no caminho e um fino pedaço do tecido da camisa do nefilim.

— Olha só. — Encarou o rapaz que havia sido movido de lugar pela Personificação do Espaço, para junto das invocações. — Se tivesse treinado o Nether esse tempo todo em vez de uma habilidade fajuta…

Cercado pelas nuvens de gás quente que o rodeavam, Belzebu sentiu seu corpo enrijecer, quando a Personificação da Matéria moveu os braços e fechou os punhos.

O que era gás se solidificou em uma prisão robusta feita de um material luminescente. O calor e densidade eram únicos, um material novo comprimido de modo a criar uma gravidade de magnitude imensurável.

Sob o efeito de tamanha atração, nada deveria ser capaz de escapar daquelas amarras; mas Raizel sabia muito bem que não seria o caso naquele momento.

Com a velocidade de seus movimentos intensificada pelo fluxo acelerado do tempo de seu corpo, o nefilim se deslocou até o ponto acima de onde o adversário estava e…

— Tsc! — Belzebu ainda foi mais rápido que ele, e mesmo que ambos vissem as mesmas possibilidades ilimitadas de futuros, o infeliz devorou a matéria com a Lâmina da Fome e bloqueou a investida de Raizel.

O tecido da realidade rachava, enquanto as armas atritavam e as chamas roxas continuavam a serem engolidas pela lâmina amarela da Amálgama Antagônica.

— Ter negado as suas origens ainda vai te custar muito caro, cria do Azriel.

As armas se repeliram, dando origem a uma rachadura de proporções cósmicas entre os dois, a qual logo desapareceu.

Entre um piscar de olhos e outro, tudo retornou ao instante em que Belzebu estava preso, porém era Raizel dentro da estrutura de atração imensurável.

“Porcaria!” O feitiço havia se voltado contra o feiticeiro, e agora era ele que tinha que escapar antes de ser cortado em dois.

A Personificação da Matéria cancelou a técnica em prol de livrar seu mestre, que viu o gás à sua frente ser engolido em um flash de luz amarela, para nunca mais retornar.

— Haha! — Belzebu abriu um largo sorriso para o moleque, que cerrou os dentes. — Nada mau.

Mesmo tendo negado suas origens como Anjo da Morte, Raizel não era considerado o segundo melhor em Nether por menos; aquilo era o que podia ser chamado de talento puro, porém o custo de ter fugido do que ele era por tanto tempo batia à porta.

Mesmo após constatar a reencarnação da Petra, Raizel ainda estava fazendo o possível e o impossível para manter a cabeça na luta, o que nem de longe era fácil.

“Concentre-se.” Quebrar seu emocional era justamente a intenção do inimigo, caso contrário aquele confronto nem passaria do primeiro segundo. “Concentre-se”.

A Personificação da Matéria mais uma vez entrou em ação, e o gás serpenteou para todos os lados, dando origem a um vasto labirinto que cobria a extensão completa daquele espaço infinito.

— Então, onde será que você tá, heim? — Deslocado para a outra extremidade do labirinto, Belzebu estava longe de tudo e de todos. — Ah, claro que eu sei, não é?!

Da parede ao lado, uma enxurrada de espadas roxas desviou o foco do demônio, que barrou o avanço delas congelando-as no tempo; de fato, chamou sua atenção.

— Construções Divinas. — A técnica que o moleque adquiriu recentemente, mas que nem  a Visão do Passado conseguia decifrar o momento da aquisição. — Foi o Miguel quem te deu isso também?

Assim como no caso da Espada do Fim dos Tempos e da Manipulação de Energia, apenas aquele Arcanjo e o próprio Lúcifer conseguiriam apagar o registro do passado daquela forma absoluta.

— Você pode perguntar isso ao próprio Miguel em pessoa, basta ir até o Sétimo Reino Celestial — zombou o rapaz, com sua voz ecoando de todas as direções. — Isso se você tiver coragem, claro.

Uma veia saltou da testa de Belzebu, mas sem espaço para que ele descarregasse sua raiva. De trás, saindo de uma das paredes do labirinto, a Invocação Número 94 do Necronomicon fez sua estreia.

Como uma versão espelhada, porém distorcida da Personificação da Matéria, a Personificação da Antimatéria avançou, sombria e instável, para cima do Senhor das Moscas.

— Hah! — Belzebu vibrou quando a Personificação da Matéria foi teletransportada para o lado oposto, e as duas invocações tentaram socá-lo. — Opa!

Pondo a Amálgama Antagônica na boca, o Príncipe Infernal segurou os socos dos monstros bizarros com as mãos nuas.

Matéria e Antimatéria rugiram, guturais, para ele, quando ambas uniram suas outras mãos e um intenso brilho branco devastou as paredes do labirinto.

A liberação de energia e raios gama fez toda a vastidão do espaço ao redor tremer.

No encontro daqueles dois conceitos opostos, um levava a aniquilação do outro; no entanto, o preço valia a pena.

Depois de tudo, Belzebu, enfim… sangrou.


Continua no Capítulo 177: Alto Custo

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