O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 174: Penetras

— Hã?! — Uma veia saliente, a ponto de estourar, se formou na testa da Patrona do Pecado da Ira. — Quem aqui é criança, seu velho?!

Mesmo naquela situação crítica, onde a velocidade de seu corpo beirava o zero, Nosferatu conseguiu sorrir.

Elesis Hiratus, a Ira entre os Patronos do Pecado, era a única da qual não se havia registro nenhum de suas habilidades.

“Uma menina bem problemática.” Se vacilasse, ela o decapitaria sem trabalho naquele estado. — Essa habilidade gira em torno de algo como vetores, certo?

— Huh? — Elesis engoliu em seco.

Quando se deparavam com a redução do módulo velocidade, as pessoas sempre pensavam que se tratava de uma Manipulação de Movimento ou até mesmo uma Manipulação Temporal.

Mas aquele diretor foi cirúrgico; alguém que viveu por bastante tempo, que viu, enfrentou e lidou com uma gama de Habilidades Inatas bastante vasta; alguém que fez bom proveito de cada ano de experiência vivido.

Percatuum estava certo: era necessário finalizar o Nosferatu o mais rápido possível.

— Morra logo de uma vez e me devolva ao estado de paz. — Batendo o cabo de seu macho no chão, bem à sua frente, Elesis exclamou: — Espaço Dimensio…!

A Patrona hesitou por um instante.

Belas flores tomaram conta do lugar, e a ira que ela sentiu foi substituída pela tranquilidade que tanto buscava com a morte do diretor.

Uma paz tão aconchegante que Elesis deixaria aquele confronto de lado, isso se uma onda de choque não tivesse varrido os Campos Elíseos da face da Academia.

“O que deu em mim?” Só podia ser coisa daquele tal de Esteban. Se fosse o caso, talvez valesse a pena fazê-lo de refém e torná-lo seu relaxante natural depois. — Heim?

Olhando para todos os cantos, a Patrona se deu conta de que Nosferatu, sem apego à honra, simplesmente deu no pé.

— Parado aí, seu… — Quando encontrou a silhueta do homem, ao longe, e se preparou para afetar o vetor velocidade dele, deu um pulo repentino para longe. — Merda.

Uma densa flecha sônica limpou cada um dos destroços do lugar onde Elesis estava antes, fazendo uma verdadeira limpeza.

— O chefe vai ficar puto comigo. — Encarou o responsável por colocá-la em uma situação complicada com o líder da Perpetuum. — Isso é culpa sua, penetra.

Vendado e com um arco em mãos, Nathan — o Top 3 Rank S da Academia de Batalha Behemoth — mantinha a Patrona da Ira em sua mira.

— Desculpe, por isso — lamentou o tenjin; contudo, atendo-se a algo mais importante para ele: os batimentos cardíacos das diretoras estavam fora do alcance de sua audição refinada. — Poderia me dizer onde estão os outros diretores?

— Mortos, né?

Nathan pôde perceber pelo som produzido pela garota que ela falava a verdade, o que o deixou paralisado, diferente da parceira dele — Sirin — que brotou, furtiva, com adagas de veneno, nas costas da Patrona.

— Sem essa. — Ao soar das palavras da Patrona, Sirin desacelerou em demasia. — Achou que eu tinha abaixado a guarda, por acaso?

Nosferatu só teve a sorte de escapar por causa da interferência dos Campos Elíseos de Esteban, nada mais.

Em condições normais, a percepção, a concentração e a atenção de Elesis superava de longe qualquer um entre os Patronos do Pecado.

— Tadinha de você — disse, enquanto Sirin descobria da pior forma o porquê de Elesis manter seu cabelo curto. — Eu tô te veeendooo.

Da nuca da Patrona, um olho escarlate piscou para a jovem assassina, que recebeu um baita corte do machado imenso da pequena garota.

— Argh! — Arremessada contra os restos de alguns assentos, Sirin sangrava bastante, enquanto a adversária permanecia parada, com algumas flechas sônicas vibrando perto dela. — Nathan…

— Impossível. — O jovem arqueiro duvidava de seus ouvidos. As flechas não apenas desaceleraram ao se aproximar de seu alvo como também a intensidade das vibrações perdeu força. — O que é você?

— Eu? Hum, vejamos. — A Patrona da Ira levou um dedo indicador até os lábios e olhou para cima, forçando sua mente. — Acho que eu sou tipo você, só que ao contrário.

Resposta dada, a garota se pôs à frente do adversário, que viu seu braço puxar uma flecha em direção a ela na velocidade mais lenta de toda a vida dele.

— Que lerdo. — Diferente da Patrona, que, veloz, enfiou o cabo do machado na barriga do pobre tenjin. Agonizando de dor, Nathan curvou seu corpo para a frente. — Isso aí.

Se por um lado, os vetores velocidade de Nathan e Sirin perdiam valor, os vetores de Ira só aumentavam, deixando-rápida demais até para a percepção de um arqueiro.

— É difícil alguém me tocar, sabe? — Ao lado do rapaz ajoelhado, Elesis ergueu o machado, pronta para aplicar a sentença daquele que ousou perturbar sua paz: a decapitação. — Morra e fique em silêncio!

Foi então que um fantoche verde apareceu do mais absoluto nada e segurou a lâmina sanguinária; seus braços líquidos tremeram e pingaram ácido no chão.

— Veneno? — A pequena cerrou os dentes; ainda assim, ao passo que a força do Fantoche de Veneno despencou, a de Elesis escalou, destruindo o pobre infeliz em um piscar de olhos. — Tsc!

Infelizmente, ao contrário do que a Patrona esperava, Nathan não foi pego de tabela no efeito da destruição do penetra.

— Obrigado — agradeceu o rapaz, ao lado de sua parceira, a responsável pela criação do Fantoche de Veneno.

— Agradeça depois. — Levemente convencida, Sirin limpou o resto do sangue em sua boca. — Você notou, né?

— Acho que sim. — No momento em que o fantoche cobriu a visão da Patrona, o efeito dos vetores passou. — É só tapar a visão dela.

O arqueiro segurou a venda dele, sentindo um fio de esperança na vitória. No fim das contas, Elesis era tipo ele, só que ao contrário.

Enfrentar aquela garota no um contra um seria uma derrota certa, mas em duo era outra história.

Eles venceriam.

— Eca! — Simulando uma ânsia de vômito, a Patrona observou os dois como quem via uma gosma medonha. — Pior que gente burra só quem pensa que é inteligente.

O controle dos vetores não dependia da visão em si, mas da percepção — gatilho inicial — e depois da concentração — permanência. Nathan só se soltou porque ela se distraiu demais com a raiva demais do fantoche penetra de veneno.

— Que perda de tempo. — Bateu o cabo do machado no chão, e o que antes estava guardado para Nosferatu seria entregue com nojo para aqueles dois. — Espaço Dimensional.

Tudo mudou ao redor deles, dando lugar a uma cúpula gigante repleta de olhos atentos, que compartilhavam sua atenção excepcional com a mente da Patrona.

— Transmutador Vetorial!

Alícia desviou o rosto para o lado, ainda assim quase foi puxada pela pressão do soco do brutamontes do Patrono do Orgulho, que sacudiu seus cabelos.

“Que força é essa?!” O melhor que fazia naquele momento era desviar e se manter inteira.

Pelas informações compartilhadas pelo pessoal da Academia de Batalha Ziz, os socos daquele maluco já haviam quebrado os braços de Raizel como se fossem feitos de gesso.

— Você é tudo o que dizem e muito mais — argumentou a garota, ainda preocupada com o estado de seu parceiro, que até então não havia retornado.

— Já você não é tudo o que me pareceu naquela luta, menina do Nether. — Orgulho deu um pisão que rachou o piso e jogou vários escombros para cima da menina. — Bora!

No que Alícia perdeu um instante de atenção com os escombros, o Patrono se aproximou pelo lado e a golpeou no rosto.

Um estrondo, como o da explosão de um bomba nuclear, engoliu o som do estalo da mandíbula da garota, que foi jogada contra os destroços e acertou dois duos que estavam lutando em seu caminho.

— Vazem daqui, seus merdas! — ordenou o grandão, sem espaço para contestação; e o duo, ainda desorientado, porém com o instinto em dia, correu para longe. — E aí, menina, cadê o seu poderzinho?

A energia primordial da morte, o poder capaz de ferir até mesmo ele, alguém que estava no topo da resistência física, e a única razão pela qual Romulus queria provar quem se sairia melhor ali.

— Ar-Argh! — Alícia cuspiu uma mancha de sangue enquanto aproveitava a boa vontade do oponente e terminava de curar sua mandíbula. — A… qui…

Materializou sua espada já imbuída em Nether e partiu para cima, ainda com os lábios pegajosos de vermelho, e cortou o peito do Patrono, de cima até embaixo.

Sangue escorreu pela ferida de Romulus, que não fez a mínima questão de desviar; pelo contrário, encontrava-se admirado.

— Olha só. — Contemplou o resultado, com os olhos brilhando com a bela visão. — Incrível!

O grandão gargalhou como o louco que era, enquanto que Alícia o observava, confusa. Quando ele aceitou o golpe, ela até pensou que seria alguma armadilha, mas…

“Esse cara é doido de pedra.” E pra piorar, era um doido que estava atrás dela e que saltou com uma vontade insana de derrotá-la.

Alícia cogitou defender o soco; mas, com aquelas manoplas negras nas mãos dele, o efeito do Nether seria negado, e o fim da sua espada poderia ser o mesmo que o da lança de seu parceiro: ficar só o farelo.

A menina desviou para o lado, mas a pressão habitual do soco não chegou a passar pela lateral dela, o que deixou Alícia surpresa.

— Hã? — De braços cruzados e com rachaduras sob seus pés, um draconiano robusto, tanto quanto o Patrono, se colocou no caminho e barrou o peso descomunal do punho do foderoso Orgulho. — Baltazar.

— E aí, menina da Behemoth — disse com dificuldade, abrindo os braços com força e lançando o oponente alguns metros para trás. — Deixa esse daqui com a gente, beleza? Ele é meu.

— “Nosso”, você quis dizer. — Com o machado Fúria de Ego apoiado em seu ombro, Carelli se aproximou de Alícia. — Tudo bem, pode deixar esse com a gente.

— Mas… — Hesitou por um momento em entregar aquela bronca nas mãos de outras pessoas, mas a preocupação acerca do que tinha acontecido com Esteban ainda a perturbava, principalmente por causa da ressonância. — Obrigada… Eu conto com vocês.

Alícia deu as costas para o Patrono do Orgulho, que cerrou dentes e punhos antes de tentar ir atrás dela, apenas para ser barrado por Baltazar mais uma vez e ser forçado a se afastar por causa de uma onda psíquica do machado de Carelli.

— Seus penetras do caralho! — Romulus ficou vermelho igual um pimentão emburrado.

— Você tá meio diferente da outra vez — disse Baltazar, com uma mão no queixo, dando uma boa observada no adversário. — Você é aquele cara da queda de braço, né, não?

Dizer que Romulus estava “meio diferente” era puro eufemismo; o cara parecia outra pessoa, até o rosto estava diferente. Mas Baltazar jamais confundiria alguém com quem já havia cruzado os punhos.

— Vamos acertar o impasse daquele dia, o que me diz? — Materializou o Machado Impetuoso Gram e se preparou para o combate, ao lado de Carelli.

— Tsc! Podem vir os dois, então. — Romulus bateu suas manoplas, chutou o chão e partiu para cima da garota, que se antecipou ao ataque dele. — Hah!

— Previsível. — Sem um arranhão, mas desequilibrada pela pressão do ar, Carelli ainda desferiu um corte no braço dele. — Resistente.

Mesmo que fosse um corpo humano, era tão resistente quanto as escamas dracônicas de Baltazar, ou até mais que elas se bobeasse.

Tendo acesso aos pensamentos do grandalhão, Carelli reagiu o mais rápido que pôde a um soco que viria pela esquerda, um movimento falso que Romulus usaria para apoiar a mão no chão e dar um chute de ponta cabeça nela.

Mas o ocorrido nunca veio a se concretizar. Baltazar, em posse do Princípio da Intangibilidade de Gram, cortou as costas do Patrono.

— Argh! — Saltou para cima e lançou a potência de um soco para baixo, que deixou uma cratera no chão e afastou Baltazar de Carelli. — Aquele machado…

Uma arma que também era capaz de ignorar a resistência das coisas; porém, ao contrário do Nether, não se limitava a apenas matéria orgânica.

— É, talvez isso seja divertido com vocês dois também. — O ferimento em suas costas começou a se fechar; diferente do causado pelo Nether, aquele dava pra curar em velocidade normal. — Quem eu devo matar primeiro?

Romulus aterrissou, mas não no solo da Academia de Batalha Leviatã. Arregalou os olhos ao perceber que Baltazar aproveitou a oportunidade daqueles segundos para lançar ambos no seu Espaço Dimensional.

— Berço de Plasma Escaldante! — proclamou o draconiano.

Fervendo com o calor do lugar, maquinários trabalhavam a todo vapor na produção incessante de plasma, que era despejado e mantido naquele estado na forma de rios escaldantes e brilhantes.

A Habilidade Inata de Baltazar sempre foi muito direcionada para o ataque, e a quantidade de plasma que ele tinha à disposição era limitada pelas reservas da sua Energia Espiritual e Bestial.

Ter usado a Supernova Dracônica na luta contra Dreison lhe custou bastante plasma, mas dentro do seu Espaço Dimensional, todo o material que ele precisava estava disponível para ele usar ao seu bel prazer.

— Tá querendo usar aquela técnica de novo, né? — O que deveria ser motivo de preocupação, fazia Romulus ferver de empolgação até o fundo da alma.

— É só pra garantir que ninguém mais vai se meter nessa luta. — Baltazar sorriu, assim como o Patrono; dois loucos por briga. — Mas se eu quiser usar, há algum problema?

— Você vai usar, sim — reclamou a garota. — Já vai carregando plasma no machado aí.

Carelli lamentou por estar envolvida naquilo. Mas, no fim, assumiria a responsabilidade que tomou de Alícia. Seria feio perder depois de ter tomado aquela luta das mãos dela.

— Vamos acabar com isso, entendeu? — intimou o parceiro.

— Haha! Pode ter certeza que sim!


Continua no Capítulo 175: Meu Parceiro, Meu Duo

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