O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 172: Traidores

Com os braços em frente aos rostos, as diretoras Theresia Archevitch (Academia Behemoth) e Karmen Astagina (Academia Absalon) travaram com a pressão imposta pelo demônio invasor.

“A Organização Perpetuum contava com um membro tão poderoso?”, indagavam-se, sem a mínima coragem de encarar Baal diretamente, por sorte a entidade foi em direção à parceira do nefilim expurgado.

— O pior cenário se tornou real. — De pé e com os braços cruzados em frente ao peitoral, o diretor Nosferatu observou o invasor bater um pequeno papo com a menina. — Seria esse o nosso extermínio inevitável, meu garoto?

Pela forma que Baal agiu, era evidente que seus olhos estavam sobre Raizel, o que seria até bom para o lado das Academias, uma vez que para se sobressair sobre a Perpetuum, bastava proteger o Santo Graal, não derrotar Baal.

O tempo que Raizel resistisse poderia ser muito bem o tempo que as Academias tinham para proteger os diretores e pôr um fim definitivo às forças invasoras.

— Que alívio ver todos seguros, nobres companheiros diretores. — Acompanhado por alguns duos da Academia de Batalha Leviatã, Donosor fitou bem os olhos de cada um dos outros diretores. — De fato, fiz bem ao pedir que a vossa sala fosse mais resistente que as demais.

Mesmo caprichando tanto na constituição da estrutura, o vidro que dava visão ao exterior caótico encontrava-se cheio de rachaduras, suscetível a ceder a um segundo impacto, ainda que mais fraco.

— De todo modo, o perigo maior se foi. — A diretora da Academia Behemoth tomou a frente do assunto, enquanto que Nosferatu fechou suas expressões ao reparar no estado das roupas do recém-chegado. — Com sorte, podemos até mesmo pôr as mãos no líder da Organização Perpetuum.

— Isso se ele fizer presente — ressaltou a diretora da Absalon — ou se capturarmos quem saiba a sua localização imediata.

— Sim, com certeza iremos. — Nabuco Donosor caminhou até o vidro, satisfeito com a visão que tinha do exterior: tudo conforme o esperado. — As medidas anti-invasores estão na ativa.

Ao contrário da empolgação do traíra, Nosferatu sondou os duos que faziam a escolta dos diretores, em sua maioria, membros da Academia anfitriã.

— Senhor Donosor, você estava no palco de premiações no momento do ataque, correto? — Todos encararam Nosferatu, com uma grande interrogação em suas faces. — Poderia expor como permaneceu ileso após o efeito devastador daquele ataque?

De fato, até mesmo aqueles que olharam Nosferatu com estranheza foram obrigados a concordar que Donosor estava bem demais pra quem se encontrava próximo ao epicentro do impacto; nem sequer suas roupas pareciam minimamente rasgadas.

— Caro Nosferatu, creio que haja assuntos mais importantes para tratarmos ago… — Virou-se em meio à resposta, dando de cara com a lâmina de um machado prestes a acertá-lo.

Ágil como um gato, Donosor escapou por um triz do ataque que terminou de estourar o restante da proteção de vidro, o que fez os duos avançarem para cima dele, a fim de conter o diretor enlouquecido.

— Qual o sentido disso, diretor Nosferatu?! — inquiriu Theresia, pouco antes de sentir uma dor aguda em seu peito e começar a vomitar sangue, assim como a diretora da Academia Absalon. — O… quê?

— Eu odeio gente sagaz que nem você e aquele moleque, velho. — Donosor levantou-se com calma, já que Nosferatu pegou distância assim que notou o primeiro traço de comportamento estranho das diretoras. — De qualquer forma, adeus.

Ele só precisava dos olhos de três diretores, para que tivesse acesso ao Santo Graal; Nosferatu ainda poderia manter a força que tinha na juventude, mas nada que um Patrono do Pecado não conseguisse dar conta.

E assim foi feito: sem que pudesse se aproximar por causa do veneno incolor que matava todos ao redor, Kriven Stear Nosferatu nada conseguiu fazer ao assistir Donosor usar um dispositivo de teletransporte e sumir com os corpos das diretoras.

— Não pense que será fácil assim. — Sem pestanejar se preparou para ir atrás do traidor; o lugar para onde ele tinha ido era mais que previsível: o cofre dimensional que guardava a relíquia sagrada.

— Pra onde cê pensa que vai? — Foi então que Nosferatu sentiu o corpo dele perder velocidade, até quase parar. — Sério, lutar só causa estresse.

Com um machado semelhante ao do diretor, em mãos, uma pequena garota de cabelo preto curto, a Patrona do Pecado da Ira, se mostrou como o principal obstáculo para se ter acesso ao traidor.

— Cê não quer só morrer logo de uma vez, não, velho chato? — Franziu a testa para o adversário, que sorriu despreocupado. — Que que foi?

— Que menina mais estressadinha o Donosor encontrou. Ainda assim… — Havia pouco tempo disponível para ser desperdiçado com encalços em seu caminho. — É melhor você sair logo da minha frente, criança.

Com a ativação das runas, Petra se livrou das feridas em um piscar de olhos; quando, então, um dos duos traidores se espreitou pelas costas dela: uma chance de ouro para eles.

— Huh? — A audição aprimorada filtrou a ameaça em meio ao ruído acústico das redondezas; entretanto, mesmo após se virar, Petra nada conseguiu fazer contra os algozes. — Er, bem… Obrigada.

Presos por raízes, aqueles que pretendiam aplicar um ataque surpresa foram pegos por um penetra: Esteban Roy, que andava, calmo, acompanhado por Alícia.

— Fique em paz e permaneça em silêncio.

Fissuras surgiram no chão, de onde raízes pequenas brotaram e se transformaram em lindas plantas floridas de vários tipos.

Abrangendo toda a extensão do ambiente, as flores dos Campos Elíseos liberaram um pólen aromático pelo cenário afundado em poeira, escombros e sangue fétido.

De pouco em pouco, o duo preso pelas raízes de Esteban começou a parar de se debater e a perder a vontade de lutar; o que se observou também nos demais.

“Uma sensação de paz tão grande.” Petra pôs uma mão sobre o peito esquerdo; seu coração, antes frenético, batia calmo.

— Sem o caos de violência é muito melhor. — O rapaz interrompeu seu caminhar, deixando para Alícia a tarefa de conversar com a parceira de Raizel. “Aquele cara… será que ainda tá vivo?”

Pela presença do anel de ressonância no dedo de Petra, era seguro assumir que o nefilim ainda vivia, ao menos por enquanto.

No entanto, só uma pessoa era capaz de ter uma noção mais clara do estado em que Raizel se encontrava, e essa pessoa era a própria Petra.

— Ei, Cê… Cê tá bem? — Alícia deu uma segurada leve no ombro da garota e a sondou de todos os ângulos, em busca de algum ferimento grave. — Céus, eu tava tão preocupada com vocês. A Luminas também…

— Como ela tá? — Alícia a soltou e assentiu aliviada. Apesar dos danos sofridos, Luminas conseguiu escapar só com alguns hematomas e ossos quebrados, o que deu pra curar. — Que bom.

— Mas e ele? — Alícia hesitou um pouco em tocar no assunto, principalmente quando notou que Esteban ainda se sentia incomodado quando ela falava de Raizel.

— A Ressonância não para de alertar do perigo que ele corre. — Petra nunca sentiu algo tão forte assim antes. Era até raro a Ressonância alertar que algo ameaçava a vida do parceiro dela.

Notando que a amiga ficou cabisbaixa com a notícia, Petra deu um pequeno abraço nela; apenas uma desculpa para cochichar no ouvido dela.

— Eu sei que seu irmão vai ficar bem.

O corpo de Alícia se contraiu. A ideia de ser reconhecida daquele forma, de ter alguém que pudesse chamar de família…

— Desculpa — murmurou para Petra; no fim, ela ainda se culpava por ter espiado a amiga e Raizel naquele corredor. — Depois eu tenho que te confessar algo.

Aquela hora estava longe de ser o momento adequado para contar sobre algo do tipo, ainda mais depois que um forte tremor e uma densa onda de choque maltratou as flores dos Campos Elíseos, reduzindo-as a nada mais do que restos.

— Mas que caralhos você ainda tá fazendo aqui, porra?! — Alto e robusto como um gorila selvagem, o Patrono do Pecado do Orgulho fuzilou Petra, com os olhos. — Você não é a parceira dele?! Vá ajudá-lo!

Despreocupado com o perigo, o grandão seguiu a passos pesados, pisando nas flores mortas que se encontravam pelo caminho; parou apenas quando uma raíz prendeu o pé dele.

— Sai daqui, caralho! — Forçou um chute e se soltou das raízes de Esteban, que recebeu a encarada mais feia de sua vida. — Qual foi, Zé da Planta?!

— O Orgulho? — Petra voltou a tomar a atenção do Patrono; aquele homem batia mesmo com cada uma das descrições que Raizel havia comentado sobre ele.

— É, sou eu mesmo, o foderoso Romulus! — Rápido como um flash, ficou cara a cara com Petra e Alícia. — Agora vaza daqui.

— H-Heim? — Qual era a daquele cara? Poderiam tirar o cérebro dele, e não faria diferença; alguém que só pensava com os punhos, de fato.

Se o adversário estava dando uma abertura tão gentil, cabia a Petra aceitar. Com um passo para trás pegou distância e começou a procurar o lugar onde Trevor deveria estar com Sophie.

— Só uma coisa aí menina — gritou o grandão, fazendo a garota olhar para trás. — Se aquele nefilim ficar vivo, diga a ele que eu quero a minha revanche!

Seguindo os mesmos passos que Petra; Alícia e Esteban buscaram encontrar os seus outros parceiros, algo que falhou assim que a garota foi presa pelo ombro.

— Quando eu disse que era pra você ir embora, menina do Nether? — Apertou com força, de modo que a clavícula de Alícia estalou. — Vamos nos divertir.

— Se divirta com isso então! — Com a lança em mão, Esteban partiu para cima; sempre soube que aquele cara era estranho demais para ser confiável. — Arborificação…!

O Patrono segurou a lâmina da arma com a palma fechada, o que já seria suficiente para causar ao menos cortes superficiais e permitir que o Florescer Devoto entrasse em ação, fazendo as plantas nascerem do corpo robusto dele.

— Parece que não foi dessa vez, otário. — Como se fosse um graveto qualquer, Orgulho esfarelou a arma do tenjin com a mão. — Você é só perda de tempo.

Soltou o ombro da garota, que se viu livre, e desferiu um chute no parceiro dela, que teve tempo apenas para tentar se defender com o que sobrou de sua lança.

Metal destruído e ossos quebrados foi tudo o que Esteban recebeu ao ser lançado para longe, contra paredes e casas, distante do local das premiações.

O pináculo da força e resistência física entre os Patronos do Pecado, Romulus Superbus, fazia sua primeira vítima.

— Agora é a sua vez. — Fitou Alícia, em êxtase, enquanto um par de manoplas de aço negro surgia nas mãos dele. — Você, minha inimiga natural.

“Trevor, Sophie, cadê vocês?” Sem ver os companheiros nas instâncias do vasto salão de premiações, mesmo tendo voado até o ponto mais alto do lugar, Petra logo recorreu ao canal telepático do MIC. “Por favor, respondam!”

“Petra?” Trevor respondeu, ofegante. “A gente tá nas ruas da Academia agora.” E lá fora a situação estava longe de ser mais bonita que o interior do salão. “É pra eu te teletransportar até o Raizel, certo?”

“Bem, sim.” Já sabia que deveria esperar aquele tipo de dedução vindo dele, ainda assim ficou meio surpresa quando Trevor tomou a frente. “A Ressonância indica que ele está lá no oceano Índigo”.

“Como?!” Aquele lugar ficava do outro lado do planeta. “Certo. Eu te mando pra lá em um instante.”

Ao lado dele, Sophie abaixou a cabeça, e o rapaz entendia o porquê, já que ele também sentia o mesmo.

“Desculpe a gente por não poder fazer nada além de um teletransporte, Petra”.

Belzebu estava em um nível que apenas ser forte não era suficiente nem para escapar com vida. Exceto Petra, ninguém possuía algum recurso útil contra um dos Príncipes Infernais.

A questão era que nem ela sabia se daria conta de vencer; tudo o que tinha certeza era de que precisava ir. Se hesitasse, poderia se arrepender pelo resto da vida.

“Eu vou fazer o meu melhor, e muito mais que isso se necessário.” Espaço deformado, Petra se despediu da Academia de Batalha Leviatã e se viu em meio a um lugar vazio e escuro. — Hã?

Nem de longe aquela imensidão de trevas seria um oceano; mas Trevor, justo ele, nunca cometeria um erro tão grotesco.

— Você nem se lembrou de mim de novo, né? — soou uma voz jovial, mais ao canto, o que levou Petra a olhar naquela direção. — Você sempre age como se eu, sua rival destinada, nunca existisse ou fosse uma ameaça digna de atenção.

Sentada numa mesa repleta de doces, a pequena lolita gótica segurava um milk shake, já pela metade, enquanto fitava a a recém-chegada sem nada da admiração que teve no primeiro encontro das duas.

— Ophelia…


Continua no Capítulo 173: Quebrador de Leis

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