O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 7

Capítulo 171: Cozinhar é Arte

Em meio ao caos, Baal caminhou a passos lentos, sem se importar de pisar no braço decepado de um dos membros da plateia.

Com exceção dos duos, usuários de Energia Espiritual, ninguém mais saiu vivo depois do ataque desferido em Raizel.

Mesmo entre os duos mais fortes: Petra, Luminas, Lucius, todos estavam cheios de escoriações e ainda saindo debaixo do peso dos escombros empoeirados.

— Que ar mais maravilhoso. — De braços abertos, inspirou o cheiro do medo e do desespero das pobres almas ao redor.

Foi então que parou em frente a Petra, que congelou assim que sentiu a presença do ser sombrio pairar sobre ela.

— A-Ah… — Com esforço, levantou seu rosto em direção a Baal, que soltou um “oh” ao contemplar os olhos da garota ficando dourados.

— Consegue se mover. — Abaixou-se devagar, com seus olhos vermelhos vibrando de empolgação. Ignorou os gritos das vítimas feridas ao redor. — Interessante.

Foi uma pena o fato de que ela só passou a ter um treinamento decente depois de  conhecer o filho de Azriel; caso contrário, seria Petra o grande prato da noite.

— Bem, nesse momento a minha refeição se encontra do outro lado do planeta. — Ao que Baal se levantou, Petra gaguejou.

“Refeição?” Ele se referia a Raizel? Seu parceiro foi jogado até o outro lado do mundo por um simples soco? — Espe…

— Nananinanão, garotinha. — Baal moveu o dedo indicador de sua mão direita de um lado para o outro. — A sua vida eu já prometi para outro alguém, infelizmente.

Ophelia era a única pessoa que Petra conseguia pensar naquele instante. No caso, o responsável por anular o Ritual Pactual só poderia ter sido aquele homem.

— Ah, apenas por garantia. — Antes de se afundar em um portal de escuridão, Baal estalou os dedos e fitou, mórbido, uma Sophie, que estava suando e tremendo. — Nada de reverter o tempo do planeta, entendeu, queridinha?

As mãos da jovem loira foram de encontro ao piso sujo do salão. Nem se ela desejasse o tempo a obedeceria; alguém como ela jamais seria capaz de desfazer o que alguém como Baal fez.

— Im-Impossível — gaguejou, atônita, enquanto um pouco de sangue escorria da sua testa até sua pálpebra esquerda. — O que um ser como ele… faz aqui?

Era o fim.

Aquela aura demoníaca. Aquele poder. Aquela pressão. Tudo naquele ser infame se equiparava ou até mesmo superava a manifestação do Guardião dos Céus.

Em toda a Criação, apenas um grupo de seres seria capaz de rivalizar, em nível de poder, com os santos Arcanjos e possuía tal presença absoluta.

— Sophie. — Trevor se aproximou aos trancos e barrancos, empurrando os restos de bancos em seu caminho. — Ei! Ei!

— Um Príncipe Infernal — mussitou, quando o rapaz segurou as bochechas dela e virou o rosto dela em direção ao dele, com cuidado. — O que a gente faz agora?

O rapaz parou, calado; a resposta para aquela pergunta era algo que ele também desconhecia. No entanto, Baal tinha ido embora, atrás de Raizel, então talvez ele não tivesse a intenção de ser tão ativo na invasão da Organização Perpetuum.

E por falar em invasão, a área reservada para os diretores das Academias de Batalha acabou por sofrer uma forte explosão que resultou na morte imediata de várias pessoas próximas.

O que chamou a atenção de Trevor foi que, das pessoas mortas, poucas foram atingidas pelos danos da explosão, um efeito semelhante ao que ele já tinha sentido em sua pele e vias respiratórias.

— O veneno da Patrona da Preguiça? — Seu corpo ardia só de lembrar de como era sentir aquela coisa o corroer por dentro.

No entanto, não havia sinal nenhum de fumaça tóxica, apenas os espasmos, convulsões e espuma nas bocas das vítimas indicavam a presença do veneno; além de que estava muito mais forte do que ele se lembrava.

O mais preocupante era o local alvo: a área dos diretores, aqueles cujos olhos eram necessários para conceder acesso ao cofre dimensional onde estava guardado o objetivo de todo aquele caos: a relíquia sagrada dos tenjins, o Santo Graal.

— Como isso foi possível? — Os duos da Academia de Batalha Leviatã deveriam ser os responsáveis por proteger os diretores, além de que eles já estavam alertas para uma possível invasão. — Se infiltraram com tanta facilidade… mas como?

A resposta infeliz que Trevor buscava veio quando um duo da Leviatã, aqueles que deveriam ser seus aliados, avançou com sangue em mãos contra ele e Sophie.

— Que porcaria. — Sobre a imensidão de um vasto oceano, Raizel limpou o rosto e cuspiu saliva com sangue, que manchou as águas azuis logo abaixo. — “Um homem com o pé na cova”, heim?

Bem como Absalon havia mencionado, nem tudo estava indo do jeito que Raizel esperava, e o dia estava só no começo; no caso, com a aparição de Baal, tudo se aproximava do fim.

E por falar no diabo, uma poça de sombras apareceu em frente ao nefilim, da qual o Príncipe Infernal saiu; cobriu o rosto com uma mão e encarou a vastidão do céu azul.

— Os tons sombrios e tenebrosos do Reino Infernal são muito melhores, não concorda? — inquiriu ao rapaz que o observava, atento a qualquer ação ofensiva. — Relaxa, moleque, que hoje eu sou todinho seu? Ou seria o contrário?

Gargalhou com todo o ar presente em seus pulmões, enquanto Raizel cerrou os dentes; o soco que levou no rosto ainda ardia, mesmo depois de ativar as runas e curar tudo.

— “O zunido da mosca é algo tão perturbador” — recitou o alerta que ouviu de Ziz, mais cedo. — O que faz aqui, Senhor das Moscas, Belzebu?

— Que moleque marrento você é, heim? — Parou a gargalhada e prestou atenção nas feições fechadas do rapaz, o que fez as suas ficarem sérias também. — Seu pai devia ter te ensinado bons modos.

O oceano se agitou, ficando à beira de explodir pilares de água com potência suficiente para jogar Raizel até fora do alcance da atmosfera daquele planetinha.

No entanto, em vez disso, Belzebu criou um bastão de Aço Demoníaco e deslizou uma palma por ele. Quebrar aquele bastão nas costas do moleque seria muito mais divertido.

— Temperar a sua alma, esse é o motivo pelo qual estou aqui. — Lambeu os lábios, que salivavam com a iminência da refeição mais deliciosa que teria em milênios. — A alma de um Nefilim Primordial mergulhada em desespero… Ah, que iguaria!

— Eu diria que é honra ser alvo de um Príncipe Infernal. — Deu de ombros, apesar das palavras solenes, que logo assumiram um tom claro de deboche. — Mas, então, isso quer dizer que você está com medo do Rafael?

Dessa Raizel não saiu impune: tão rápido quanto um raio de luz, o bastão de Belzebu se esticou e perfurou o coração dele,o que o levou a torcer a face, enquanto a Energia Demoníaca o atormentava por dentro.

— Não será como daquela vez. — Apertou o bastão, fazendo várias pontas agudas se prolongarem da parte que estava dentro do peito de Raizel, forçando-o a grunhir e se contorcer de dor. — Os Céus não irão se mobilizar por alguém como você, moleque.

Quando Longinus rogou pela intercessão de São Rafael Arcanjo e teve suas preces atendidas, no passado, aquilo foi apenas porque Belzebu foi ativo demais, puxou muita atenção para si mesmo e violou a ordem da Criação.

Ter entregue a Lei do Mundo nas mãos de Caesar e deixá-lo mudar toda a estrutura do planeta, para temperar as almas das pessoas com desespero foi um erro grave.

No entanto, as ações de Percatuum envolviam algo que era natural à Lei do Mundo: os portais irregulares; e Belzebu estava sendo ativo apenas para se livrar de Raizel, alguém que nem mesmo pediria ajuda aos Céus, tão pouco seria atendido.

— Você está sozinho comigo. — Puxou o bastão para o lado, estourando carne, ossos e os órgãos do garoto como se fossem nada. — E cada alma deste mundo, no fim, fará parte do meu banquete.

Em oposição à ameaça, Raizel cerrou um sorriso ensanguentado; dentro de um instante, todo o dano em seu corpo havia sido curado pelas runas e asas dele, embora a dor insistisse em permanecer.

— Deixa de baboseira. — Materializou a Espada do Princípio na mão que havia acabado de curar. — Toda essa falação só mostra o quanto você tá com medinho de encarar o Rafael de no…

A katana tremeu na mão de Raizel, e quem riu foi o adversário. Apesar de curar todo aquele dano em um piscar de olhos, a dor causada pelos ataques de Belzebu sempre passava por cima do efeito das runas.

— Falou tanto, mas é você quem tá com medo de mim! — Se acabou de rir de olhos fechados, sem se importar de ficar exposto aos cortes de energia que o nefilim lançou na força do ódio. — Hahahahah!

Com a leveza de uma pena, corte após corte, Belzebu se antecipou e desviou com tédio na face; o que para Raizel eram ataques velozes, para ele não passava de uma competição de lesmas velhas e cansadas.

Quando voltou a abrir sua visão, o Príncipe Infernal, sem esboçar qualquer traço de surpresa, se deparou com o nefilim pronto para decepar sua cabeça com um Presto que rasgou o tecido do espaço até alcançar a solidez de seu pescoço.

Espaço cortado, pescoço intacto.

— Hahaha! É só isso o que tem? — Uma veia inchou na testa de Raizel, que apertou sua arma e se preparou para lançar o Quinto Ato de sua espada. — Moleque!

— Huh?! — Sentindo sua própria cabeça flutuar, Raizel interrompeu o ataque; na verdade, o corpo dele, junto à cabeça decepada, caía rumo às águas solitárias do oceano. “Porcaria”.

Enfrentar seres daquele nível era sempre um porre.

O ataque que falhou em cortar o pescoço de Belzebu acabou por, no fim, se voltar contra o seu próprio usuário; ao menos de certa forma, e de uma bem problemática.

Criando um passado onde o Presto de Raizel foi efetivo, Belzebu inverteu o cenário de corte, de modo que aquele que foi decapitado foi o nefilim.

Cada vez mais fundo no oceano, a cabeça solitária de Raizel refletia sobre o tamanho da pedra que tinha em suas costas.

Mais fundo, mais escuro.

O sangue de seu pescoço ausente dava um pouco de cor aos arredores.

Frio.

Profundo.

Derrotado.

“Modificar o passado, para forçar uma alteração no presente.” Fechou suas pálpebras e esperou seu corpo nadar até ele, e então reconectar a cabeça ao pescoço. “Que hack do caralho”.

Conseguiu esboçar um sorriso doente nas feições pálidas, pela perda considerável de sangue. Por um instante, desaparecer nas profundezas daquelas águas solitárias até chegava a parecer tentador.

“Haha! Agora ferrou de vez.”


Continua no Capítulo 171: Traidores

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