O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 163: Eventos Impossíveis

Os centros de gravidade da técnica de Petra tiveram sua probabilidade de permanência reprovada nos 10% estabelecidos por Luminas, ou era o que a jovem humana tinha imaginado ao ver a adversária caminhar, livre e curada, para fora da luz do Vislumbre da Glória.

— 1% — ressaltou a tenjin ao estender a mão direita e ter sua espada materializada novamente. — É bom que você tenha reservado um pouco de sorte pra hoje.

Porque iria precisar.

Petra mordeu os lábios. Sua vida sempre pareceu uma montanha russa de azar e sorte: azar por ter vivido em cárcere privado, na infância; sorte por conhecer Raizel e escapar de uma nova captura.

Além disso, mesmo que tenha usado Energia Divina na criação daquele buraco negro, foram 67 tentativas até vencer os 10% de chance de sucesso anterior.

O gasto de energia desperdiçado na criação falha de 66 daqueles monstros cósmicos, com toda certeza, iria cobrar muito caro mais para frente.

— Eu vou vencer… esse seu 1%. — Se ela acertasse mais um buraco negro, tudo acabaria ali. — Devorador…

Apontou os dedos, pronta para disparar a técnica contra a adversária; no entanto, em meio a 100 tentativas consecutivas, ela conseguiu a proeza de falhar em todas.

— Hã?!

— Certa vez alguém me disse que a probabilidade é a parte mais enganosa da matemática. — Luminas deslizou os dedos pelos teoremas espalhados pela lâmina da Espada da Eventualidade. — Mesmo com apenas 1% de chance, você pode acertar de primeira; mas também tem mais coisa.

E Petra tinha notado o que era: não havia um limite máximo de erros. 1% nunca quis dizer que ela acertaria uma vez em meio a 100 tentativas. Naquele ritmo, ela poderia fracassar 200, 300 vezes, ou até mais.

— Só pra saber mesmo, essa sua Veste Divina te dar energia suficiente pra criar até quantos buracos negros? — Veloz, Luminas se aproximou e mirou um corte de cima para baixo, entre o braço e o ombro da adversária. — Mostre e prove seu valor!

Petra tentou prender a espada de Luminas no ar, com um centro de gravidade, mas pulou para trás logo em seguida.

150 tentativas falhas e um ombro ferido foi tudo o que ela ganhou.

“Isso é ruim.” Se refugiou dentro de um escudo de energia, que barrou o avanço dos ataques posteriores da tenjin.

No desespero, nem mesmo percebeu quantas vezes fracassou até criar aquele simples escudo. Ao menos, com aquele obstáculo, escapou do “acerto garantido” dos ataques hackeados de Luminas.

Ah… Ah… — Uma gota de suor escorria pela lateral de sua testa; mas o maior problema se encontrava na ferida que estava tendo dificuldades para se fechar. “Acalme-se. Vislumbre uma forma de vencer”.

Havia só 1% de chance de vitória, mas existia. Além disso, caso resistisse até o fim do Vislumbre da Glória, seria muito mais fácil ganhar a luta.

— Não! — Enfiou os dedos no buraco da ferida aberta, o que deixou Luminas espantada e a fez cessar os ataques. — Eu vou vencer o seu Vislumbre da Glória, nem que seja no último segundo dele.

Puxou os dedos de dentro da ferida e, tirando um elástico do seu anel de ressonância, prendeu o cabelo longo em um rabo feito às pressas.

— Eita! Gostei de ver. — Luminas bateu algumas palminhas. Vendo Petra com o cabelo preso, notou como a adversária parecia mais madura e séria do que a habitual doce e meiga. — Mas você já deve ter notado que a minha probabilidade também afeta a eficácia da sua cura, né?

Runas… Veste Divina… Aquele ferimento já deveria ter se fechado há muito tempo. Sério. Luminas estava em um nível de dificuldade diferente dos demais.

Petra respirou aliviada no momento em que as tentativas contínuas de cura de suas runas conseguiu vencer o azar, apenas para logo em seguida ter seu coração perfurado pela espada da tenjin.

Desesperado, o órgão espasmou.

Hã? — Graças às runas, a dor não se fazia presente, mas de que isso adiantaria se seu coração passasse muito tempo sem bombear sangue direito? — Co… mo?

O escudo ainda estava de pé, mas com um buraco criado pelo alargamento de um aro platinado pelo qual a espada passou.

Petra arregalou os olhos e puxou a arma o mais rápido que pôde de seu corpo e logo procurou pegar distância de novo.

“Ingênua.” Suas pernas bambearam, e ela usou a Bellatrix como muleta, para se manter de pé. Ter se prendido dentro do próprio escudo foi um erro grave. “Como eu pude ser tão ingênua?” — Cuspiu um pouco de sangue.

De que adiantou seu treinamento no Continente Sombrio? De que valeram as informações que recebeu de Trevor e Sophie sobre as habilidades de Luminas?

— 100% de chance de… Vejamos. — Com as duas mãos segurando o cabo da Espada da Eventualidade, Luminas teve uma lâmpada acesa sobre sua cabeça. — Ser atingida por uma intensa chuva de meteoros!

Foi então que a arma de tenjin emitiu um brilho prateado e um portal se abriu sobre Petra, que sem ter para onde correr, banhou-se numa sequência incessante de pedras incandescentes de todos os tamanhos.

Tremores e calor se alastraram. Pedra após pedra formaram uma onda de ruídos estrondosos em uma sinfonia desafinada e desajustada de um regente louco.

Luminas tapou seus ouvidos.

Petra sumiu no calor da catástrofe.

Quando o último meteoro caiu, aos poucos a fumaça abaixou e os detritos foram engolidos pelo domo espacial. Apenas o alvo se encontrava no chão.

Escoriações e queimaduras eram visíveis na pele dela; a visão seria bem pior se as roupas chamuscadas não fizessem o papel de esconder o dano sofrido nos ossos, músculos e órgãos machucados.

Petra moveu alguns dedos; ainda estava disposta a lutar; vencer significava muito para ela. Não seria um simples evento impossível que a tiraria de cena.

Ahh… — Levantou-se aos trancos e barrancos; uma simples brisa leve ali, e ela cairia mais uma vez. — Fermat…

Uma espada feita especialmente para usuários de Manipulação de Probabilidades. Mesmo que Luminas definisse como garantida a chance de um evento acontecer, se os elementos necessários para isso não existissem, o evento seria impossível.

Era aí onde a Espada da Eventualidade entrava. Obrigando a realidade a fornecer os meteoros necessários para o evento definido pela sua usuária, uma magnífica chuva de pedras incandescentes pôde acontecer, mesmo que sem ter ao menos um meteorinho por perto.

— Sinto muito por isso. — Sem dar espaço para a adversária respirar, Luminas prosseguiu rumo ao próximo evento impossível.

Por mais que estivesse aquém do seu agrado, teria que dar tudo de si para que o esforço da outra não fosse desperdiçado.

— 100% de chance de ser afligida por uma doença mortal.

Logo o ar ao redor de Petra foi contaminado por um vírus de outro mundo, que agiu na velocidade de Lucius e encheu a pele da humana com várias manchas escuras, sensíveis até mesmo ao toque dos sutis dedos do vento ambiente.

Huh! — Petra voltou a tombar, desta vez, de joelhos. Sua visão embaçou. O corpo ficou quente e débil. — Que doença… é essa?

O coração, fraco, ameaçou parar. Sua regeneração estava em um estado tão deplorável quanto a sua saúde.

De um lado, as probabilidades baixas roubavam a efetividade da cura de suas runas; de outro, as probabilidades altas massacravam seu corpo já debilitado.

— Já já vão te teletransportar para a enfermaria — alertou-a Luminas. — Mas tudo bem. Mesmo sendo uma doença mortal, eu vou cancelar depois que acabar.

— Não… — Levantou seu rosto em direção à oponente; os olhos sangrando até o queixo, pingando sob seus joelhos. — Não tá nada… bem!

Huh?! — Puxados contra sua vontade, os braços da jovem tenjin foram abertos e suas pernas se fecharam, formando uma verdadeira cruz humana. “Mais forte do que antes?!”

Petra sabia que, mesmo com a regeneração dela funcionando como deveria, as runas dos nefilim nunca foram pensadas para curar doenças; afinal, aquela raça não adoecia.

“Essa garota.” A barriga de Luminas gelou ao ver a adversária, ainda que de joelhos, apontar dois dedos cruzados para ela. “É parceira daquele maluco mesmo!”

Partindo para o tudo ou nada, gastaria até a última gota de Energia Divina, antes que sucumbisse ao vírus que corroía sua força.

— Devorador… — Moveu os lábios ressecados pelo sangue que manchava seus dentes. — Cós.mi.co!

Luminas fechou os olhos e tremeu da cabeça aos pés; lembrou-se da angústia que foi ter um buraco daquelas proporções em sua barriga; os órgãos dilacerados, escorrendo devagar para o lado de fora.

Uma agonia sem precedentes.

E o que ela sentiu, em seguida, estava além de suas expectativas: braços livres, pernas leves; a liberdade havia recaído sobre ela novamente, como o frescor de uma brisa matinal.

— Sério isso? — Abriu os olhos e tudo o que enxergou foi a Veste Divina da adversária se desfazendo em partículas de luz após esgotar seu poder. — Petra…

Literalmente no chão, a garota se encontrava sem reação ou esperança de vitória. Só para prender Luminas foi necessário centenas de tentativas, isso para cada centro gravitacional.

No meio da tentativa 137 de criação do Devorador Cósmico, sua energia se esgotou. Para continuar com aquele embate, agora só lhe restava um corpo debilitado em cada membro.

— Eu… Eu… — Apertou o próprio peito com o que tinha sobrado de força em sua mão esquerda.

Era verdade.

Ela ainda não estava no nível de poder de um Top 1 Rank S.

Se fosse Raizel em seu lugar, ele insistiria na criação de suas estrelas e passaria por cima das probabilidades de Luminas.

Mil. Um milhão. Um bilhão de vezes.

Nem que fosse necessário jogar uma galáxia inteira em cima daquela garota, Raizel, com certeza, venceria.

Mas ela… Ela estava muito abaixo disso.

— Eu… perdi. — Uma lágrima solitária escorreu de seus olhos azuis, que começavam a adquirir um tom de ouro puro, assim como suas runas. — Eu…

Um ar novo pairou sobre toda a extensão do planeta Calisto. Diante dos olhos de todos, a figura divina de uma águia celestial repousava atrás da garota caída.

— Quem é você? — indagou Luminas, sem retorno.

As asas da criatura se fecharam ao redor de sua adversária; as manchas pretas na pele dela reduziram de tamanho até desaparecer, e a Energia Divina voltou a emanar dela.

Não. Não era só isso.

Aquela Energia Divina era diferente da que Petra tinha usado antes. A pureza daquele poder era muito mais do que poderia ser descrito com palavras.

A Espada da Eventualidade tremeu na mão de sua usuária, assim como as pernas dela ao ouvir o crocitar das cordas vocais de um dos seres mais poderosos que a Criação já viu.

— Tá de brincadeira…

Ziz, o Guardião dos Céus, entrava em cena e abalava os firmes alicerces de todo o mundo de Calisto, uma visão surreal que marcaria a memória e vida de muitos.


Continua no Capítulo 164: Contemplação do Abismo

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