O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 161: Criança Desprezada Pelos Céus

Um fulgor resplandecente irradiava do corpo tenjin, que teve seu poder divino elevado ao limite que sua alma podia suportar, sem o colapso de sua mente.

O tom vermelho do sangue se misturava ao dourado de sua aura, o sinal de que todo poder grandioso cobrava um alto preço para ser usado: parte de sua vida.

— Vamos pôr um fim a isso. — Levantou a Longinus, na horizontal, na altura de seu próprio ombro, e diversas flechas de luz surgiram atrás de si. — Purificação Divina.

Apontou a lança na direção de Raizel, fazendo chover flechas contra o nefilim, que se antecipou ao disparo luminoso para escapar da mira de Lucius e se esgueirar rapidamente até as costas dele.

“Segundo Ato: Legato!” Formou uma espiral perfurante sua katana e a disparou no peito do tenjin, que se explodiu na forma de um lampejo de cegar. — Tsc!

De olhos fechados, tudo o que Raizel sentiu logo após foi a sequência de flechas encravadas por todo seu corpo, junto a uma ardência lancinante que ele sentiu durante apenas um momento daquela luta.

Pelo seu conjunto de runas completo, mesmo com o sangue quente escorrendo dos buracos em sua carne, a dor jamais deveria ser capaz de alcançá-lo.

Haha! Fala sério… — Levou as mãos, em movimentos rígidos, até os olhos que nada mais enxergavam, quebrando as flechas cravadas em seus braços. — Que porre.

Para aquelas flechas terem se tornado capazes de causar dano à alma dele, transmitindo a dor direto para o corpo, elas já não eram mais flechas de luz comum.

— Flechas de Luz Celestial, heim? — O lembrete de que ele nunca foi bem-vindo naquele lugar, uma criança desprezada pelos céus, desde seu nascimento. — Até aqui essa porra vem encher o saco.

— Peça desculpas para a Alícia, e eu posso te poupar do sofrimento. — Segurando a Longinus, que também passou a irradiar a Luz Celestial, após a ativação do Vislumbre da Glória, Lucius cerrou os dentes. — Ela não tem culpa…

— É, eu sei disso também, sabichão. O meu problema com ela nunca foi pessoal. — Enfiou os dedos em seus olhos e arrancou-os sem hesitar; usando força, estourou-os em suas mãos. — Se você soubesse algo sobre aquela garota, iria desejar o mesmo que eu, pode ter certeza, queridinho pelos céus.

Lucius deu um passo para trás ao ver os olhos de Raizel, curados, após se reconstruírem do zero, em segundos. Curar feridas era uma coisa, recuperar membros era outra.

Não era por menos que ele só conseguiu recuperar a perna e o braço, que Raizel fez em picadinho, com a ativação do Vislumbre da Glória.

A capacidade regenerativa do seu adversário era de fato divina.

— E o que você quer pra ela? A morte? — Preparou outra chuva de Flechas da Luz Celestial, o que Raizel respondeu com a criação de um arsenal inteiro de armas construídas a partir do material massivo de estrelas de nêutrons. — Responda!

Sem espaço para respostas; o som ensurdecedor da colisão dos projéteis infindáveis dos dois roubou qualquer intervalo de tempo para que suas vozes se fizessem audíveis para o outro.

Bater de frente com as armas atuais de Raizel não era tão diferente de encarar estrelas reais: quentes, densas e destrutivas, capazes de sobrepujar o que quer que encontrassem em seu caminho.

Comprimidas a ponto de formar pulsares incandescentes, aceleradas por uma energia de dimensões astronômicas, as armas estelares do nefilim estavam sendo, diante do olhos dele, miseravelmente quebradas.

Tsc! — Inclinou o rosto para o lado e teve a bochecha esquerda atingida de raspão por uma das flechas de Lucius.

Por sorte, a arma estelar serviu para reduzir um pouco a velocidade do projétil divino. Fora o incômodo do sangue retornando para dentro da ferida, que se fechava, os danos foram mínimos.

— Você conseguiu uma bela benção aí, no entanto… — Bateu sua asa e, com o impulso de um Círculo de Propulsão em seus pés, disparou como um raio, para o meio da confusão de armas. — É temporária.

— Quê?! — Chamuscado pelos danos que recebeu durante o trajeto, Raizel brotou na frente do adversário, louco como uma besta fera. — Seu maluco…

O tenjin preparou-se para se transformar em luz, quando então estranhou que faltava algo em Raizel: a Espada do Princípio havia sumido, ou melhor, surgiu atrás das suas próprias costas.

— Quarto Ato: — Urrou a sequência de cortes que dilaceraram as costas do tenjin em uma onda aleatória de ataques, que atacava para todo canto. — Dissonância!

Sorridente, Raizel aterrissou no chão; Lucius, por outro lado, escapou na forma de luz, mas com danos suficientes para fazê-lo gastar alguns preciosos segundos antes de voltar para a sua forma humana.

E a cada segundo passado, o Vislumbre da Glória se aproximava de seu fim. Quando o momento chegasse, Lucius necessitaria recitar a invocação da Luz Celestial para convocá-la, coisa que Raizel jamais permitiria que acontecesse de novo.

— Vamos deixar as coisas mais animadas. — Com um estalar de dedos, o nefilim encheu os arredores, tanto no chão quanto no ar, de estacas auto explosivas. — Se materializa de novo aí, na moral.

E Lucius se materializou, contudo — para a surpresa do oponente — ele surgiu bem na sua frente, o que ativou a detonação das estacas próximas a ambos.

— Filho de uma pu… — Fosse tenjin ou nefilim, a explosão não fez diferença na hora de tragar sua refeição.

Uma nuvem de fumaça escura envolveu os combatentes, a qual foi expurgada, logo em seguida, pela onda de choque gerada a partir da colisão das armas deles.

Longinus e Gênesis atritaram faíscas incandescentes e foram empurradas para trás, repelidas pelo ímpeto intenso do efeito de ação e reação.

Ahh! — Gritaram em uníssono, esticando a pele das bochechas queimadas e forçando suas armas a retornarem para uma segunda colisão, que tremeu o piso transparente sob seus pés.

Golpes e mais golpes se seguiram no embate veloz que repelia o ar para fora da zona de impacto e criava um vácuo entre os dois; uma disputa até então equilibrada.

“Quarto Ato!” A lâmina da Espada do Princípio tremeu; e Lucius, por um instante, imaginou que a arma vacilou; mas, quando se lembrou do que aquilo antecedia, já era tarde. — Dissonância!

A onda de cortes avançou, pronta para fatiá-lo em pedacinhos; no entanto, rápido como a luz, as flechas do tenjin brilharam para interceptar a Dissonância de Raizel.

— Eu já conheço esse truque! — E como era de se esperar, as suas Flechas da Luz Celestial atropelaram os cortes da Espada do Princípio, deixando Raizel em meio a uma situação difícil, cheio de furos ensanguentados.

— É, mas eu também conheço os seus truques. — Os dentes, vermelhos de sangue, se abriram em uma curva macabra. — Boom!

Todas as estacas auto explosivas foram detonadas ao mesmo tempo por meio de um comando manual, incluindo não apenas os dois mas as suas parceiras também na explosão brutal.

Em um momento, o interior da arena ficou inacessível aos olhos dos espectadores, por causa da fumaça; em outro, ficou claro como a água, iluminado por um intenso brilho azul.

— Alnilan, Alnitaka, Mintaka — entoou o nefilim.

Nas costas de Raizel — que saiu ileso da detonação, após ter manifestado o seu par de asas divinas por completo — um trio de magníficas estrelas azuis ameaçavam destruir tudo o que havia dentro da arena.

“Esse maluco pirou de vez?” Com os olhos arregalados a ponto de saírem de seu rosto, Luminas duvidava do que via. — O Cinturão de Órion, o Caçador.

— Ei, Trevor. — Raizel estalou os dedos enquanto falava para o espectador que o assistia, apreensivo. — Tô confiando que a sua construção vai segurar isso daqui.

O rapaz, que os assistia, engoliu em seco; cada uma daquelas estrelas superava de longe as proporções do minúsculo sol que iluminava o seu pequeno mundo.

— Vai incluir a sua própria parceira nessa explosão também? — A Longinus brilhou nas mãos de seu portador, determinada a encarar a pedrada diante de si. — Você não tem nenhum escrúpulo mesmo.

— Ela sabe dar seus pulos. — Deixando a katana de lado, Raizel uniu as mãos em frente ao peito e abriu seu majestoso e imponente par de asas. — A questão é se você também sabe, herói.

No entanto, compenetrado, Lucius iniciou uma recitação verbal antes que se desse conta disso, e a Longinus o respondeu na mesma sintonia e determinação:

— Aurora celestial, sublime e imortal. Resplendor do coração da esperança…

Diferente da outra vez, em que a recitação verbal atuou como meio de invocação da Luz Celestial, Lucius buscava usá-la como um intensificador.

Concentrando tudo na sua Lança Sagrada, a única coisa que ele possuía e que era forte o suficiente para canalizar tal poder; aquilo prometia ser devastador.

— Então que assim seja!

Raizel recuperou sua espada e modificou a estrutura dela, transformando-a em uma bazuca, a qual exibia a cabeça de um dragão, de onde sairia o disparo.

O Canhão Devorador de Estrelas: Gênesis.

— Rugido Estelar… — Comprimiu Alnilan, Alnitaka e Mintaka e as usou como munição para a nova versão da sua arma. — Ato Cósmico!

— Haja Luz!

O encontro de poderes espalhou rajadas condensadas de energia na forma de erupções solares, que elevou a pressão e a temperatura dentro da arena a um nível insuportável.

Nas alturas da Academia de Batalha, o domo espacial tremia e chacoalhava, fazendo seu criador ficar com o coração na mão quanto a efetividade de sua obra-prima.

A quantidade de energia desprendida daquela colisão estava dando trabalho até mesmo para as paredes espaciais transportarem todo o dano para algum outro lugar do universo.

Como Petra e Luminas estavam lidando com o caos cósmico em que elas estavam incluídas, só as duas sabiam; não era possível enxergar nada além do brilho extremo.

“Impossível!” Lucius cerrou os dentes com força, esforçando-se ao máximo para se manter firme em seu lugar. A sua Luz Celestial que deveria sobrepujar tudo do Plano Físico, principalmente com a recitação, estava sendo barrada pelo poder conjunto de três estrelas? — O que você fez aqui?!

Foi então que uma sensação gélida agarrou os tornozelos do tenjin, e a sua preciosa Luz Celestia — justo no momento mais crítico de sua vida — se extinguiu em um piscar de olhos.

Com um “zoom” ensurdecedor, o ataque de Raizel passou direto pela Longinus e se deliciou no peito e abdómen de Lucius que — querendo fugir na forma de luz — viu a ativação da sua técnica falhar.

Não. A situação era pior do que isso: assim como o vazio imensurável deixado em seu corpo, não havia uma gota sequer de Energia Divina fluindo da alma dele.

— Perder o acesso à sua Energia Divina é um saco, não é? — salientou o nefilim, desfazendo seu imponente Canhão Devorador de Estrelas — Herói da Luz.


Continua no Capítulo 162: Rendição

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