Volume 2 – Arco 6
Capítulo 159: Aura Dourada
Alguns minutos antes de Raizel ser pego pela Luz Celestial, Petra limpou um corte em seu lábio inferior e analisou a situação difícil em que se encontrava.
“É praticamente um hack.” Enquanto a Manipulação de Probabilidades reduzia a chance de acerto dos ataques de Petra para 0%, os de Luminas estavam sempre com 100%. “Um acerto garantido”.
Naquele ritmo, a jovem tenjin poderia levar a cabeça de qualquer pessoa com apenas um único ataque indefensável; saber disso era o que deixava Petra apreensiva: se a adversária quisesse, ela teria perdido seus braços e pernas ainda no início da luta.
— E aí. Você pensou alguma coisa pra esse momento, né? — desafiou Luminas, mas sem dar chance para a outra responder. Em uma segunda troca direta de golpes, Petra mais uma vez se viu em desvantagem. — Eu sei que você pensou!
Petra confiou tudo na capacidade de cura do seu conjunto de runas e cessou os ataques inúteis, o que resultou em diversos ferimentos pelo seu corpo, que se fecharam logo em seguida.
— Hã? — Luminas sentiu uma forte pressão manter seu tornozelo esquerdo cravado no chão, e embora os golpes da espada de Petra tenham falhado em alcançá-la, o seu membro que foi afetado pela gravidade estourou tendões, ossos e sangue para todos os cantos. — Espertinha você, heim?
Diferente dos ataques físicos, aqueles provenientes de Habilidades Inatas eram mais complicados de terem uma probabilidade de acerto reduzida a 0%, ainda assim, nada os impedia de serem alterados para algo como 10%.
— Olha só o estrago. — Luminas observou o tornozelo que começava a se curar e indagou, curiosa. — Quantas vezes você tentou até vencer os 10%?
— … Umas setenta vezes. — Engoliu a saliva com dificuldade; o resultado foi alcançado, mas o custo foi alto demais. — Em várias partes diferentes do seu corpo.
— Ohh! — Os olhos da tenjin brilharam de excitação. Enfrentá-la era como encarar a roleta do azar: para acertar apenas um golpe, seria necessário gastar Energia Espiritual equivalente a setenta, oitenta, noventa técnicas. — Você é bem sortuda.
Sortuda? Petra não se considerava assim. Aquele confronto era um cabo de guerra de Energia Espiritual onde ela se encontrava em clara desvantagem.
Depender da sorte era o mesmo que estar entregue nas mãos do azar.
— Mas me diz aí: o que é que essa sua espadinha faz? — questionou Luminas, pegando a outra desprevenida. — Vamos lá. Certeza que te passaram informações sobre mim e a minha arma. Seja justa aí.
Por ter treinado fora da Academia de Batalha, pouco se sabia sobre as habilidades de Petra Lavour. O que se tinha conhecimento era a sua Habilidade Inata e que ela usou uma espada longa nas Batalhas de Admissão contra Raizel.
— De onde essa katana saiu? — Se uma estava curiosa, a outra estava em dúvida sobre responder e entregar informações de mão beijada. — Eu posso sentir que é uma arma divina; mas só isso mesmo.
— Foi o Rai que fez. — No fim, optou por ir pelo caminho justo, e, eventualmente, o mais complicado para si mesma. — A Bellatrix replica o poder de um quasar.
“Cê tá de brincadeira…” A jovem tenjin esbugalhou os olhos assim que ouviu sobre o buraco negro supermassivo.
O pior era que Luminas até entenderia se aquele maluco tivesse dado forma ao Aço Divino, afinal ele ainda era descendente de um anjo; agora, implementar um poder à arma? Ainda por cima, algo que nem fazia parte da Habilidade Inata dele?
No entanto, antes que pudesse perguntar alguma coisa, um intenso brilho cheio de uma raiva insana se alastrou pela arena e ofuscou a visão das duas garotas.
“Lu-Lucius?”
— Purificação?! Existência infame?! — esbravejou Raizel, cuspindo o sangue de seus dentes manchados de vermelho, assim como os poros de seu corpo e o chão transparente abaixo de si. — Não venha com essa merda pra cima de mim!
— … Quê? — Antes que percebesse, do meio da Luz Celestial, Lucius viu o que parecia ser um flash dourado sair e passar pelo seu lado. — Como… Como você…?
Um corte de Energia Divina capaz de fatiar o tecido do espaço, o Terceiro Ato da Espada do Princípio de Raizel — o Presto — havia decepado o braço direito do tenjin, justo aquele que segurava a Lança Sagrada de Longinus.
“Impossível!” Recuperando-se do choque, Lucius logo pensou em recuperar o membro perdido e colá-lo de volta em seu ombro o mais rápido possível.
No entanto, mais veloz do que ele, uma sequência quase instantânea de Prestos dilacerou a área do espaço em que seu braço se encontrava, formando uma malha quadriculada perfeita e minúscula.
— Você ia perguntar como foi que eu fiz isso, certo? — Só o bagaço da laranja, encharcado no próprio sangue, Raizel caminhou para fora da Luz Celestial, que começava a se desvanecer aos poucos. — Tá meio na cara, não acha?
De cabelo, olhos e aura dourada, assim como o rival, um Raizel loiro replicava com exímia maestria a Energia Divina do tenjin Lucius Arcadius, a única energia que a Longinus não anulava a sua emanação.
Lucius sempre acreditou que, por possuir aquela arma, ela era o adversário perfeito para lidar com a quantidade astronômica de energia que Raizel detinha.
Parado e com o coração a mil por hora, ele percebeu como passou todos aqueles dias enganado: com a capacidade de alterar a natureza da Energia Espiritual e Divina, Raizel era o seu rival perfeito.
— Parece que o jogo virou. — Ainda sentindo cada uma de suas fibras musculares arderem, o nefilim manifestou sua asa esquerda, o que espalhou temor pelo coração do adversário.
O ar pareceu mais pesado pela aura densa que Raizel emanava. Embora desejasse se afastar, Lucius sentia que acabaria sendo sugado até o rival, como uma pobre estrela vagante caminha para a sua destruição por um terrível buraco negro.
“O poder divino dele… já tá maior que o meu?” E isso com apenas uma única asa.
Agora que sentia o real poder de Raizel transbordar, Lucius tinha dificuldades para respirar. Aquilo era aterrador. Sufocava. Apertava. Abalava. Estraçalhava o mais profundo do seu ser.
Como era possível que, dentre todos os seres, um cara tão desprezível e cruel quanto aquele pudesse emanar uma aura divina e pura como aquela?
Só podia ser um erro.
Ou foi ele que sempre esteve errado?
O portador da Longinus deu um passo para trás e caiu de bunda no chão; não por faltar forças em suas pernas ou em sua convicção, mas por sua perna direita já não estar mais conectada ao seu corpo.
— Presto. — Diante de si, Raizel apontava a Espada do Princípio, agora prateada com símbolos de ouro, em sua direção. — Se isso é tudo, então acabou, Herói da Luz.
Mesmo sem usar os cortes com velocidade suficiente para fatiar o espaço, o nefilim picotou a perna desmembrada do rival em vários pedaços tão pequenos quanto grãos de terra, dentro um insignificante segundo.
Apenas uma grande mancha vermelha restou aos pés do Top 1 Rank S da Academia de Batalha Behemoth, o qual sangrava pelos membros perdidos.
— O que deu em você, Lucius?! — esbravejou Luminas, que após ter sua visão restaurada, tudo o que viu foi seu parceiro totalmente arrasado. — Se levanta, poxa! Esse não é você!
Ao contemplar o parceiro materializar a Longinus na mão esquerda, Luminas ficou feliz por suas palavras terem, ainda que só na superfície, alcançado ele.
Boom!
Em um instante Lucius estava aos pés de Raizel; em outro, ele havia sido acertado por um chute no peito que o enviou como uma bala de canhão contra a parede da estrutura espacial adornada com símbolos rúnicos e, agora, com o vermelho também.
— A-Argh! — Cuspiu saliva misturada com sangue. A voz da sua parceira parecia distante, e as chances de vitória eram como neve no deserto. — Me desculpem… por isso.
— Espada do Princípio, Segundo Ato! — Raizel ergueu a arma, que formava um vórtice de energia espiral ao redor da lâmina e se estendia até a cúpula espacial. — Já ouvi o seu discursinho de herói dramático por tempo demais.
Intensificou a técnica a um nível insano — a um ponto em que mesmo se Luminas decidisse encher o saco, seria impossível definir uma chance de acerto mixuruca.
— Perfure os céus…! — Disparou a espiral afiada como uma broca, que avançou torcendo tudo ao redor até alcançar o oponente caído. — Legato!
Rajadas de poder dourado se espalharam de norte a sul, de leste a oeste, tendo seu efeito catastrófico amenizado apenas pelas paredes dimensionais que Trevor programou para transportar o excesso de Energia Espiritual e Divina para um lugar remoto do universo.
— Huh? — Ainda com a katana apontada para o caminho da destruição, ao abaixar do caos, Raizel sentiu falta do adversário. — Mas que persistência chata você tem.
— Quando eu pedi desculpas, foi por ter fraquejado em minhas convicções — ressaltou o tenjin, que saiu do estado de luz para a forma humana, atrás do nefilim. — Você deveria ser a distorção de tudo o que eu acredito em um anjo, mesmo assim, é muito mais divino do que eu.
Sua voz soava tão baixa quanto seu olhar. Os membros decepados e picotados começaram a ser substituídos por próteses temporárias de luz sólida; o melhor que ele poderia fazer naquele momento.
— Se esses anjos que você admira fossem tão santos quanto imagina, Herói da Luz, uma aberração como eu — enfatizou, batendo o cabo da katana na lateral da própria cabeça — nunca teria existido.
— É… Parece que sim…
De qualquer forma, se dar conta daquilo em nada mudaria o resultado para o qual o confronto presente se encaminhava.
Contra o poder de apenas uma das asas de Raizel, o estado natural de Lucius jamais venceria. E aquela aberração de nefilim ainda tinha mais uma guardada.
— Quando eu pedi desculpas, também me referia aos meus companheiros. — o tenjin apertou sua lança, e Raizel sorriu. — A nossa marca como um povo agraciado pelos céus, jamais deveria ser usada por um motivo egoísta como um campeonato.
Misturada com o tom escarlate de seu sangue, a aura divina do portador da Longinus elevou-se a um patamar poucas vezes visto por seus companheiros.
— Perdoem a minha vil hipocrisia. — Ele, que pediu para que os outros não usassem aquele recurso sagrado, naquele momento, recorria de forma egoísta ao seu… — Vislumbre da Glória.
Continua no Capítulo 160: Criança Querida Pelos Céus
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