O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 158: A Sagrada Longinus

— Um duelo entre armas divinas. Eita. — Com os cotovelos apoiados sobre o colchão d’água de uma cama em um quarto de motel, Luxúria assistia o embate entre a lança de Lucius e as correntes de Raizel. — Só é uma pena que seja meio injusto.

Deitada com as costas voltadas para cima, ainda de meias, pouco se importava com as feições fechadas da companheira sentada no canto da cama, mais atrás.

— Nem toda luta é justa, afinal — ressaltou Inveja, tentada a parar de prestar atenção na transmissão da tela de energia na parede e se render aos encantos das pernas sedutoras da Luxúria. — Aquele nefilim só deu muito azar dessa vez.

Seus olhos desceram em direção à minissaia da garota deitada; as pernas levemente abertas com ousadia, sem o mínimo de pudor, assim como Lilith era.

— Droga. — Inveja sem arrependeu das coisas quem pensou naquele curto intervalo e logo voltou a encarar a tela de transmissão, com as pálpebras arregaladas ao máximo.

Lilith poderia ser a Luxúria entre os Sete Patronos do Pecado, mas o que custava agir com o mínimo de decência? Daquela posição, a outra conseguia ver mais do que deveria, e isso sim era uma “droga”.

— Oi? — Virou-se para a companheira, que parecia vidrada na luta final do Campeonato Sojourner. — Tá bem, Yuna?

— Esquece. — Disfarçou a tentação e jogou o assunto para algo coerente. — Ele tá com mais restrições do que qualquer um nesse campeonato.

Ah, é mesmo. — Voltou a reparar na ausência da Energia Espiritual de Raizel. — E eu aqui querendo ver que tipo de homem teria treinado o Trevor.

Graças à Absorção Espiritual, que permitia a Raizel absorver a energia de quem ele matasse, o que — considerando o quão antigos os Nefilins Primordiais eram — dava a ele uma quantidade de energia verdadeiramente astronômica.

Entretanto, enquanto a Lança Sagrada de Longinus estivesse em campo, ninguém — exceto seu usuário — conseguiria usar algum tipo de energia dentro do alcance da sua área de atuação, a qual poderia mudar de tamanho conforme a vontade de Lucius.

Aquela situação era mais do que frustrante para o nefilim: de que adiantava ter uma quantidade descomunal de energia quando não era possível usar nem uma gota dela?

As Cadeias de Abaddon até podiam ser efetivas contra usuários de Energia Demoníaca: demônios e majins; mas contra um tenjin como Lucius, não eram mais do que correntes fortes e bonitas.

Para completar, ele também não poderia recorrer à Espada do Fim dos Tempos, uma vez que os danos causados por ela seriam permanentes em alguém abaixo de uma Besta Sagrada.

Os seus maiores trunfos — até mesmo o poder dos Olhos Universais — nada disso estava à disposição do membro mais forte da Academia de Batalha Ziz.

— Pra quem tá acostumado a ter trocentas armas à disposição, como será que ele vai se virar só com algumas correntinhas? — Luxúria virou-se na cama e encarou o teto do quarto; seu rosto corado e quente. — Ah… Acho que tô com tesão.

— Oi? — O que uma coisa tinha a ver com a outra? No entanto, Yuna mal teve tempo para perguntar algo: Lilith já estava em cima dela. — Ei! Qual foi?

Empurrada contra o colchão de água, a Patrona só conseguia prestar atenção na respiração ofegante e lasciva da outra, coisa que a perturbava bastante: por que ela sentia aquelas coisas estranhas logo com Lilith?

— Cinco dias, e eu não achei ninguém pra transar nessa Academia de merda. — Olho no olho, buscava por socorro nos braços da companheira. — Cinco dias. Me satisfazer sozinha já não…

— E o que eu tenho a ver com isso? — Fez força e moveu as mãos da garota, que prendia seus braços. Lilith era uma assassina, Yuna uma lanceira; seria fácil se soltar só com a força física, isso se ela de fato quisesse.

Sim, se quisesse.

— Transe comigo. — Realmente implorava por aquilo, e justo a uma pessoa que se negava a enxergá-la até mesmo como uma simples amiga. — Vamos transar, Yuna, ou… eu vou morrer.

— Então mor… Uh… — Sedenta, a língua da Luxúria penetrou sua boca e provocou uma confusão de sensações lá dentro: raiva, afeto, desconforto, prazer. — Ah… Ah…

Lilith entrelaçou os dedos da sua mão direita com a esquerda de Yuna antes que ela se recuperasse do choque que foi receber um beijo de abertura para o sexo.

— Eu sempre quis fazer esse tipo de coisas com você, sabe? Então, mesmo que você me odeie. — Lambeu o pescoço da outra, que fechou os olhos e teve um arrepio na cama, sem força suficiente para oferecer resistência. — Nem que seja só dessa vez, transe comigo, Yuna.

O corte extenso se fechava no peito de Raizel, levando consigo o sangue que cobria a carne dele de volta para o interior de seu corpo, exceto a parte com que o nefilim manchou seus dedos, ao passar a mão por cima da ferida.

— Sério. — Passou o sangue de sua palma no cabelo, usando-o como uma espécie de fixador e sorriu. — Isso vai dar uma canseira danada.

— É o preço necessário para que — vociferou enquanto avançava, veloz como a luz — o mal do mundo seja expurgado!

Faíscas e um tinido marcaram a colisão entre a ponta da Lança Sagrada de Longinus e as Cadeias de Abaddon, que se colocaram em seu caminho, enroladas na forma de um disco.

Expurgado foi o ar, que empurrou o cabelo dourado de Lucius para trás, diferente do de Raizel, que pouco se moveu por causa do sangue misturado aos fios escarlates.

— Então eu sou o vilão da sua história? — As correntes, que antes bloqueavam o caminho da Longinus, se enrolaram nela e a puxaram para o lado. — Que piada!

Raizel explodiu um chute que quebrou a barreira do som em um estrondo brutal, mas falhou em alcançar o herói que se transformou em partículas de luz e retornou em forma humana, nas costas dele, tão rápido quanto um teletransporte.

— Acha que vou cair nisso de novo? — Materializou a Longinus de volta em sua mão e, ainda no ar, atacou o pescoço do nefilim… Um segundo tinido metálico ecoou. — Huh?!

Fechando as mãos rapidamente atrás do próprio pescoço, Raizel as envolveu com as correntes divinas e bloqueou a investida do adversário outra vez.

— Você até que é bem rápido. — Segurou a lança e a arremessou com tenjin e tudo contra o chão transparente. — Mas só quando tá na forma de luz!

O ar nos pulmões de Lucius foi expelido para fora com tanta intensidade quanto a dor que afligiu suas costas.

Argh!

Sem intervalo para apreciar a dor do oponente, Raizel apontou um dos braços com as Cadeias de Abaddon em direção a ele e disparou a corrente como se a mesma fosse um arpão perfurante, o qual atingiu um espaço solitário, rodeado por inúmeras partículas de luz.

— Já tá ficando chato isso, não acha? — falou para o oponente, que se retornou à forma humana a uma distância segura. — Mesmo com toda a vantagem que você tem, tudo o que consegue fazer é ficar virando luzinha?

— Isso está fora de cogitação. — Limpou o sangue de sua boca, com uma mão. — Perder pra você… Jamais.

Mais amargo que o gosto férreo em seu paladar era cair em batalha pelas mãos de alguém tão infame quanto o homem desprezado pelo Céus — Raizel Stiger — alguém que fez uma de suas companheiras chorar e desistir de sua carreira na Academia de Batalha.

— Peça desculpas — sussurrou, sentindo o peso de cada uma de suas palavras e deixando o adversário confuso por um momento. — Ela não merece passar por isso. Nunca mereceu. É uma boa pessoa.

— Por “ela” você quer dizer…?

— Peça desculpas a Alícia!

A garota, que o assistia de um local reservado, sentiu seu peito apertar, enquanto lágrimas insistiam em se formavam nos olhos dela. O seu amigo, aqueles seus amigos… Alícia realmente queria poder passar mais tempo com eles.

— Peça…!

— Eu até entendo o seu ponto, mas… — Inclinou um sorriso debochado para o lado e, apesar das palavras de compreensão, mostrou pouco se importar com o estado da garota, mesmo que entendesse a situação dela melhor do que o próprio Lucius. — Não tô afim.

Congelado em um primeiro momento, o jovem tenjin demorou a processar que o que ele tinha ouvido era verdade: alguém como aquele cara realmente existia?

Ah… Ahhh! — Levantou a lança com ímpeto, e Raizel se preparou para a investida, no entanto o que Lucius fez foi bater sua arma contra o chão.

A Longinus explodiu em um brilho tão intenso que — apesar de ser inofensivo em termos de danos gerais — foi capaz de castigar a visão aprimorada pelas runas do nefilim e queimaram as retinas dele.

Tsc! — Só colocar um braço na frente do rosto foi muito pouco para resistir ao efeito de perder a visão. — Abaddon!

As correntes o envolveram em um casulo perfeito de Aço Divino. Enquanto estivesse isolado lá dentro, estaria seguro até que seus olhos voltassem a enxergar de novo.

— Eu nunca vou deixar você fugir! — esbravejou o lanceiro, a ponto de quase rasgar suas cordas vocais. — Até que pague por cada um dos seus pecados, eu nunca…!

“Lu-Lucius?” A parceira dele, que também teve a visão afetada pelo brilho intenso, se assustou ao ouvir a voz de seu parceiro naquele estado de fúria.

— Eu nunca vou deixar você sair impune! — Firmou a base dos pés e disparou a lança resplandecente, na velocidade da luz, no ponto de encontro das correntes.

Huh?! — Quando Raizel se deu conta do estrondo e de que as Cadeias de Abaddon haviam sido ultrapassadas, já era tarde demais.

A intensidade da colisão de um projétil tão veloz quanto a luz foi extrema; tudo ao redor pareceu colapsar e, ao fim, o que restou foi apenas um enorme buraco no peito esquerdo do nefilim.

— Merda… — Cambaleou e cedeu de joelhos. Pela primeira vez durante aquela luta, lá estava ele cuspindo uma poça de sangue no chão; e com a visão danificada ainda por cima.

Mas nem tudo estava perdido: Lucius arremessou a Longinus, que era o centro da zona de anti-energia, para longe.

— Obrigado por me mostrar que, mesmo sendo tão rápido, você não pode desviar de um ataque na velocidade da luz.

O tenjin levantou seu rosto e abriu os braços em graças aos céus; então, recitou as palavras sagradas que roubaram a atenção de todos; o poder de purificar qualquer mal na terra:

— Aurora celestial, sublime e imortal. Resplendor do coração da esperança. — Uma sensação refrescante inundou seu peito, como se tivesse sido transportado para um lugar calmo e cheio de paz. — Revelação da eternidade futura: Haja Luz!

Sem o menor tempo para reação, um pilar de luz — vindo diretamente do Reino Celestial — recaiu sobre Raizel que, para a surpresa de muitos, agonizou de dor.

Ahhh! — Ele era o descendente direto de um anjo. A princípio, uma técnica de purificação jamais deveria funcionar contra ele, assim como não funcionava contra tenjins e anjos, certo?

Errado.

— Nefilim Primordial, Pecado dos Anjos. — Ainda que sentisse rancor pelo seu adversário, o homem querido pelos céus, lamentou a dor do outro. — Aceite a purificação da sua existência infame.


Continua no Capítulo 159: Aura Dourada

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