O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 157: Probabilidade Desfavorável

Sendo os últimos que passaram pelos portões de teletransporte, Raizel e Petra se depararam com os seus adversários em cima de um piso transparente e suspenso no mais alto ponto do céu da Academia de Batalha Leviatã.

Ao redor, nuvens ornamentavam a paisagem; abaixo, os domínios da Academia — que até então ostentava o território de uma cidade inteira — se fazia minúscula em sua extensão.

— Olha só. — Dando alguns pisões para testar a resistência da estrutura espacial criada pelo companheiro, Raizel falhou em conter a exposição dos dentes brancos, em um sorriso perverso. — Parece que o Trevor deu uma caprichada aqui, heim?

E o motivo para isso era evidente: estava com medo da loucura de Raizel acabar por mandar tudo pelos ares, mas o mais impressionante era que mesmo assim Trevor não resistiu à vontade de personalizar a estrutura.

Tanto pelo piso quanto pelas paredes e teto, vários símbolos rúnicos e enigmáticos embelezavam o cenário, simulando o interior de uma câmara mística usada para aprisionar a mais cruel e impiedosa das bestas.

— Já que é assim, acho que podemos nos soltar um pouquinho — disse o nefilim, puxando a luva de sua mão direita contra o pulso. — O que me diz, Herói da Luz?

Com sua lança em mãos, desde o início — diferente da parceira — Lucius retraiu o rosto e virou-o para o lado, deixando para Luminas a tarefa de cumprimentar os adversários, coisa que a garota fez sem qualquer preocupação.

Aproximou-se dos recém-chegados como quem cumprimentaria velhos conhecidos; diferente de Raizel e Lucius, Luminas não tinha nenhum desentendimento pessoal com Petra, na verdade, achava ela uma pessoa até que bem simpática.

— Eu vou com tudo. — Cruzou as mãos atrás das costas e se inclinou com graça em direção à garota, que possuía quase a mesma altura que ela. — E que vença a melhor.

— Obrigada. — A tenjin sentiu seus lábios se curvarem ao ver Petra pôr uma mão sobre o peito esquerdo, verdadeiramente grata por ter seu objetivo levado em consideração. — Vou dar o meu melhor.

Para ser reconhecida como uma verdadeira Top 1 Rank S, só derrotar alguém que dessa posição não seria suficiente; ela derrotaria Luminas Luminesk em seu potencial máximo.

— Toda cheia de vigor. — Corrigiu sua postura inclinada e encarou a outra, animada. — É assim que eu gosto.

“Vigor?” Parando para pensar, Petra notou que realmente estava exalando mais disposição física depois que, de alguma forma, Raizel compartilhou o Fruto da Luxúria com ela no corredor, momentos antes. “Eh?!”

Olhou abismada para o nefilim ao seu lado, que quase gargalhou com a reação dela. No fim, o que ele queria fazer naquele beco era muito mais do que satisfazer um fetiche seu.

Usando o Fruto da Luxúria em Petra, foi possível converter a lascívia de sua parceira em vigor físico, assim compensando a noite de sono e descanso que tirou dela.

Útil e prático.

— Se o papo de vocês já acabou — disse o rapaz enquanto o conjunto de runas vermelhas se espalhavam pelo seu corpo — vamos dar início a essa bagaça.

Hã? — Luminas virou o rosto para trás tão rápido quanto pôde, ainda assim foi incapaz de acompanhar a velocidade com que Raizel desapareceu do seu campo de visão.

Uma devastadora onda de choque estrondou dentro da arena, jogando densas rajadas de vento no rosto das garotas, que foram obrigadas a proteger seus olhos, com um braço.

— Lu-Lucius?! — Caído contra a parede do domo espacial, o tenjin sangrava pelo nariz quebrado e por um buraco brutal em sua garganta dilacerada. — Esse cara…

Se fosse para alcançar a vitória, Raizel Stiger não hesitaria em ser tão cruel quanto qualquer majin; tanto que, com sangue nos olhos, desceu um pisão pesado contra a cabeça do oponente com força suficiente para estourar os miolos dele por todos os lados.

A estrutura do domo espacial pôde constatar a potência de tal ato sanguinário; já Lucius, por sua vez, saiu ileso do perigo. Para o espanto de quem assistia, Raizel — mesmo que de uma curta distância — errou sua investida.

Hah! — cuspiu uma gargalhada. Já havia um tempo desde a última vez que ele havia lutado de verdade contra alguém, o Rei de Setealém, no entanto, quem diria que sua mira teria ficado tão ruim assim?

O corpo de Lucius, que não pretendia tentar a sorte uma segunda vez, logo se transformou em várias partículas douradas de luz e se reconstruiu a uma distância segura, onde começou a curar os ferimentos na carne maltratada.

— Ficar se intrometendo no meio da luta dos outros é algo feio — disse, mudando seu foco de Lucius para aquela que foi responsável pelo seu erro de antes — Luminas.

— Isso é uma luta de duos, querido. — Colocou a ponta do dedo indicador abaixo do seu olho direito e mostrou a língua para o nefilim desaforado. — Dããã!

— Dar apoio a um companheiro em risco é um ato nobre — enfatizou o rapaz que tinha curado sua garganta. — Lutar da forma que você luta, isso sim é feio.

Lucius cuspiu uma mancha de sangue no chão transparente e colocou o nariz de volta no lugar. O desgosto das táticas utilizadas por Raizel era maior do que o amargor na boca.

No momento há pouco, no meio do piscar de olhos do tenjin, Raizel quebrou o nariz dele com um soco, e mesmo que Lucius tenha tentado reagir, o futuro já estava definido.

O nefilim chutou a lança dele para o lado, de modo que a arma quase escapou de seus dedos. De qualquer forma, ainda que tenha falhado no desarme, Raizel foi feliz em arrancar um pedaço da sua garganta com os dedos e chutá-lo contra o domo espacial.

— Você tem que ficar mais atento, Herói da Luz — caçoou, deixando a cara de Lucius semelhante a um pimentão vermelho. — Se dormir no ponto, você nunca vai conseguir salvar ninguém, sabe?

— Claro que eu… — Deu um salto rápido para trás, escapando por um triz de um soco em seu estômago, ou foi o que pensou. — Argh! — A pressão do vento espremeu cada órgão em sua barriga, junto à torção no uniforme.

— Falava algo? — Desferiu um chute lateral, a fim de quebrar algumas costelas e, então, partir para torcer o pescoço. — Não percebi!

Em vez do som de ossos quebrando, o que ressoou pela arena foi o tinido da lança de Lucius, que se materializou no caminho da canela de Raizel. Apoiado em apenas uma perna, o nefilim viu que se deu mal.

Ah, merda. — Com um dedo apontado em sua direção, o lanceiro disparou um feixe de luz que varou o seu ombro, deixando um buraco de carne queimada e fumegante para trás. — Só isso?

Raizel riu; esperava receber aquele dano na cabeça ou no coração. No ombro, deu pra curar antes mesmo de fixar o segundo pé de volta no chão.

Com a movimentação de seu braço direito, lançou um corte de vento na vertical, que Lucius não foi feliz de desviar; jogando seu corpo para o lado, sentiu um puxão frio em sua mão e teve parte de seu braço direito decepado.

Hã?! — As Cadeias de Abaddon, as correntes divinas de Raizel, prendiam o membro mutilado, junto à lança sagrada, e não perderam tempo na hora de puxá-los para longe. — Retorne!...

Em um piscar de olhos, lá estava Lucius com o nefilim bem diante dele; suou frio. Com uma longa estaca negra na mão, Raizel se encontrava a um fio de cabelo de fincá-la e explodi-la no olho do pobre rapaz.

— … Longinus!

Tão rápido quanto o retorno da lança sagrada, a estaca na mão de Raizel se desfez em inúmeras partículas de energia e um grande corte se abriu no corpo dele, desde o abdômen até o peito.

Tsc! — Afastou-se com a carne ferida se fechando, enquanto o adversário girava sua arma no ar e se preparava para prosseguir com o combate. — Isso vai ser um saco.

Soltando faíscas contínuas da colisão de suas espadas, Petra seguia o ritmo dos ataques de Luminas sem apresentar dificuldades aparentes, na verdade, com o auxílio de suas runas, ela até mesmo a pressionava.

“Sério que tinha gente subestimando essa menina?” Se era assim, porque tinha que ser ela a lidar com a pedrada que era enfrentar Petra Lavour? — Era pra aquela galera tá apanhando, não eu.

— Modéstia da sua parte. — Arrastou o fio de sua espada, com pressão, contra a arma da tenjin, ficando cara a cara com ela enquanto suas espadas atritavam faíscas incandescentes para todos os cantos. — Eu ainda não acertei nem o primeiro golpe.

Hehe! — Riu com dificuldades. A força que as runas dos braços davam para a adversária colocava Luminas em uma situação de desvantagem, mesmo que ambas compartilhassem da mesma Classe de Batalha. — Eu só tenho sorte.

No fim, foi Petra quem venceu aquela disputa de força e ganhou uma abertura ao desequilibrar a adversária, que teve os braços forçados para cima, ainda segurando a espada.

— Aí deu ruim. — Luminas sorriu torto quando, em um movimento ligeiro, a parceira do nefilim errou o corte que levaria seus dois braços embora. — Ou talvez não, né?

“De novo isso…” Sempre que uma chance clara de dano crítico surgia, seus ataques simplesmente erravam o alvo, ou melhor, a sua probabilidade de acerto caía pra zero.

Por outro lado, como uma série de flashes brancos, Luminas lançou uma chuva de ataques que atingiu sua oponente sem desperdiçar um único corte; até mesmo aqueles que Petra claramente estava prestes a defender obtiveram êxito em alcançá-la.

— Repulsão Celestial! — Quando a tenjin se deu conta, seu corpo havia sido puxado para trás e já estava grudado contra a parede da estrutura espacial da arena, preso por algo mais persistente que cola de sapateiro.

— Esse é o poder da gravidade, heim? — Apertou os punhos fechados, mas independente de quanta força fizesse, ela continuava presa ali. Por sorte, todos os ataques subsequentes da adversária erraram. — Que perigo.

Foi então que, de repente, a técnica de Petra teve a sua efetividade zerada e falhou em manter Luminas presa. Fazer aquilo em técnicas, no lugar de ataques físicos, era um tiquinho mais chato, mas nada que fosse impossível para ela.

— Vamos lá. — Girou a espada prateada em sua mão, a qual esbanjava diversos teoremas matemáticos espalhados ao longo de sua lâmina. — Vamos continuar… calculando.

Petra apertou o cabo da Bellatrix com mais intensidade, fitando a oponente com a certeza de que a probabilidade de vitória estava desfavorável para si.


Continua no Capítulo 158: A Sagrada Longinus

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