O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 154: Rei Esmeralda

No caminho de volta para a sala de transmissão dos membros de sua Academia, Trevor caminhava a passos mais lentos que o habitual.

“Eu morri umas três vezes”, lamentava, sentindo o cansaço de ter criado um domo espacial capaz de segurar até as explosões estelares de Raizel e o Devorador Cósmico da Petra. “Minha vida ficou lá atrás, certeza”.

E para completar, ainda teria que ficar de olho na luta, a fim de evitar eventuais imprevistos. Era incrível como de uma hora para outra seu dia tinha virado do avesso.

— Você não precisa se forçar tanto — disse Sophie, seguindo o ritmo mais vagaroso dos passos do parceiro. — Vai dar tudo certo… com você aqui.

Discreta, apreciou os fios levemente bagunçados do cabelo do namorado, a marca de como ele tinha se dedicado para cumprir o trabalho que lhe foi entregue.

Era bem a cara de Trevor se entregar de corpo e alma ao que fazia, e Sophie admirava isso nele; tudo aquilo que recebia o toque de suas mãos parecia ganhar vida.

Não foi exigido que seu parceiro levasse a estética do novo domo espacial em consideração, ainda assim — se foi por senso de responsabilidade ou pelo seu lado artístico falando mais alto — o resultado final foi uma obra de arte.

Huh? — Trevor virou o rosto para o lado, cruzando seus olhos escuros com o brilho vívido dos de Sophie que, pega no flagra, desviou a visão tímida para baixo.

Por alguma razão, as pernas dela cessaram seu movimento, o que resultou na parada inesperada de um Trevor confuso, uns dois passos logo adiante.

Milady?

Eh, Trevor… — Mordiscando os lábios de nervosa, Sophie fitava os próprios pés, vez ou outra tentando focar no parceiro. — A luta ainda deve levar um tempinho pra começar e… a gente nem tá tão longe assim da sala… Então, bem…

As bochechas levemente rosadas faziam questão de denunciar suas intenções; ainda assim, Trevor a julgaria como uma garota atrevida por querer desfrutar de um momentinho particular com ele bem ali?

Antes de se despedirem dos amigos, Eirin achou que sim; aquela garota sabia como ver através das intenções da tímida e discreta Sophie Alvarez.

Trevor se aproximou mais, reduzindo a pequena distância que havia entre ele e sua parceira; no entanto, por mais incrível que pudesse parecer, o rapaz tropeçou nas próprias pernas e quase caiu.

Huh?! — Apoiou o braço esquerdo na parede ao lado para evitar de tombar sobre a garota, a qual parecia apenas um borrão distorcido para a visão cansada dele. — Sinto muito. Sobre o que você falava? — indagou sua voz vacilante.

Não aguentando o peso do próprio corpo, encostou as costas na parede antes que recebesse uma resposta de sua parceira, que o encarava preocupada.

— Você tá pálido, Trevor… — Cogitou usar a Reversão Temporal para reverter o cansaço, embora não fosse recuperar a energia gasta, já que a mesma ainda estava no presente do domo espacial.

— Já já passa. — Tentou confortar a garota. Criar algo daquelas proporções nunca o levaria a uma exaustão completa… Ele era um nefilim no fim das contas. — O que você falou mesmo?

Foi surpreendido ao receber um abraço leve da garota que pôs o rosto em seu peito com cautela, como se quisesse evitar de machucá-lo apenas com aquele ato.

— Você estava dando tudo de si em um trabalho perfeito — disse com uma voz baixa e um tanto triste — e eu lá só querendo passar um tempo com você.

— Sophie? — O coração pulou com o final.

— Eu não reparei direito em como você estava exausto de verdade. — Caso contrário, teria pensado em algo para ajudá-lo antes. — Sinto muito, eu… fui egoísta demais.

A-haha. — A risada inusitada deixou Sophie a ponto de se afastar no impulso, o que não aconteceu; o nefilim foi feliz na ação de fechá-la em seus braços. — Desculpas, é?

Os braços de Trevor estavam mais fracos que o habitual; seria fácil sair dali, mas o calor de seu corpo se tornava cada vez mais relaxante e aconchegante. Sophie não resistia nem por um segundo lá.

— Ouvir isso me deixa feliz, milady. — E Sophie também; aliviada e feliz. No fim, eles pararam para descansar por ali mesmo, assim como ela desejava.

Abraçado à sua parceira, cumpriu a vontade dela. Com o cheiro doce que exalava da sua estatura pequena, Trevor sentiu o corpo exaurido relaxar.

— Sério. Quão boa parcei… — Já eram mais do que simples parceiros. Ainda dava certa vergonha falar, mas corrigiu o termo, em tom verbal. — Quão boa namorada você consegue ser?

Suave e gentil, sua boca desceu pelo pescoço dela com carícias tão delicadas quanto a pele macia que tocava, a qual se arrepiou ao sentir o tato úmido dos lábios grossos subir até sua boca.

Lábios, língua, saliva, ela entregou tudo no breve momento que tinha à disposição, naquele largo e longo corredor deserto; silencioso, exceto pelo som molhado de seu beijo hipnótico.

— Eu te adoro. Você sabe disso — disse o rapaz de voz melodiosa enquanto colocava uma mecha do cabelo dourado dela para atrás da orelha e a contemplava como quem via a mais cativante obra de arte. — Acredito que tenho que te devolver algo.

Huh? — Surpresa, teve seus olhos esmeraldinos presos na materialização de um objeto que saiu do anel de ressonância de Trevor. — Isso… Isso é…

Tão verde e brilhante quanto suas íris, um rei esmeralda se apresentava no palco da mão do nefilim; a peça de xadrez que sua parceira havia perdido no dia em que os dois se conheceram, o dia que mudou ligou suas vidas.

Trevor tinha pleno conhecimento de que Sophie já sabia de onde a peça faltante do precioso tabuleiro de xadrez dela sempre esteve; isso graças à tentativa de sequestro que ele sofreu da Perpetuum.

— Quando eu estava esperando pelo dia em que você ingressasse na Academia — disse, tomado por uma certa nostalgia de tempos passados — eu pensava que se você não viesse por mim, viria para pegar a sua peça de xadrez de novo.

— Mas na época eu nem sabia…

Haha. É mesmo. — Expôs coisas embaraçosas, era mesmo constrangedor. — Eu só queria algo pra me apegar à esperança infantil de te ver mais uma vez.

— Mas… — Por alguma razão que Trevor parecia não entender, Sophie se mostrava temerosa em pegar a peça de sua mão? — Por que quer me devolver?

Er, bem, digamos que como a gente tá namorando agora — era estranho como falar isso em voz alta dava tanta vergonha — não tem mais porque usar um objeto de esperança, certo?

Sophie ficou em silêncio por um instante. De fato, uma vez que se alcançava aquilo que se estava esperando, a esperança deixava de existir: e Trevor não mais esperava por tê-la ao seu lado, pois ela já estava lá.

— Obrigada — disse, obtendo um passo de distância. Com as mãos atrás das costas, inclinou a cabeça para o lado, graciosa, e sorriu. — Mas eu não quero.

— Oi? — Foi a vez de Trevor quase ficar sem voz e, de olhos esbugalhados, fazer a cara mais engraçada que sua parceira já tinha visto naquele rosto ponderado. — Como é?

— Foi o que eu disse — riu, delicada e meiga, deixando o rapaz ainda mais confuso. Aquele rei esmeralda devia ser importante para ela; foi algo que a própria Sophie construiu. — Pode ficar pra você.

— Tem certeza? — Até poderia ser reconfortante ter a posse sobre o objeto; no entanto, durante todo aquele tempo, saber que estava escondendo algo, também pesava bastante em sua consciência. — Digo, seu tabuleiro vai continuar incompleto.

— Você sempre esteve carregando um pedacinho meu ao seu lado. — Pondo o rosto sobre o peito esquerdo dele, ouviu cada batida daquele coração acelerado. — Saber disso me deixou muito feliz, de verdade.

Ouvir aquilo fez Trevor fechar a peça de xadrez em sua mão; com a outra, envolveu a cintura da garota. Não queria deixar que ela se afastasse por nem mais um único segundo mais.

Naquela disputa de quem passaria o rei esmeralda adiante, ele havia sido derrotado. Ainda assim, nenhum resquício de insatisfação havia em seu peito.

— Você quase sempre ganha de mim quando tem xadrez no meio, milady — disse ao sentir os braços de Sophie percorrerem seu pescoço e se perder na imagem de lábios entreabertos dela. — Isso chega a ser injusto.

— Você pode ter capturado a rainha, mas eu conquistei o rei. — O xeque-mate sempre esteve nas mãos dela, o tempo todo. — Você agora é meu refém, né?

Falar aquele tipo de coisa a deixaria com o rosto quente de nervoso, isso se já não estivesse imersa no flerte, de tal modo que  recebeu Trevor em seus lábios antes de ter tempo para pensar sobre algo como nervosismo ou vergonha.

A pressão em sua cintura aumentou junto à empolgação do beijo. Trevor a puxou para mais perto dele, fazendo-a ficar na ponta dos pés, à beira de ser levantada do chão.

Ela gostava daquilo: de como seu namorado a tratava com delicadeza na maior parte do tempo, mas parecia perder um pouco essa característica quando se deixava levar pelo momento.

Naquele intervalo de tempo, diante de si estava uma versão de um Trevor que só ela conhecia — que só ela tinha acesso — e ninguém mais: o seu Trevor. O seu namorado. O seu rei.

— Vamos jogar quando voltarmos para casa — disse, meiga e sorridente, ainda com suas bocas próximas uma da outra. — E dessa vez com o nosso tabuleiro esmeralda.

Era uma ideia agradável, no entanto Trevor se interessava mais pelo que receberia como recompensa, caso a vencesse daquela vez. E Sophie tinha um bom senso de retribuição.

— Eu vou vencer, pode ter certeza disso.


Continua no Capítulo 155: Envelhecido como Vinho

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