O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 153: Frustração Nua e Crua

Uhhh…! — grunhiu, ou tentou fazer algo do tipo. Mesmo que o pessoal da enfermeira tenha regenerado sua língua e olhos, seus membros ainda estavam funcionando mal. — Maíta aaína (maldita assassina).

Apenas um tradutor universal para decifrar suas palavras emboladas. E, para fechar o pacote, Baltazar ainda tinha que passar algumas horas vendado, já que sua visão estava toda embaçada.

No escuro, ele não conseguia confirmar o estado em que sua parceira se encontrava na cama ao lado. A única certeza era de que a garota estava inconsciente.

"Parece que escapei de levar uns bons tapas", pensava, no entanto, sem alívio em sua mente, apenas pesar. "Sério, quem é eu tô querendo enganar?"

Ele daria tudo o que tinha para que Carelli o recebesse com tapas e reclamações em vez de desacordada e calada.

Seria muito melhor ouvi-la dizer como ele a fazia passar vergonha do que ser recebido com aquele silêncio perturbador.

Quando estava para esmurrar o colchão da sua cama, já espumando de tanta frustração, escutou o som da maçaneta, que quebrou sua sinfonia de silêncios.

— É-É melhor bater primeiro — aconselhou a voz feminina da garota mais tímida que Baltazar já conheceu. — Ei, Vínia…

— Que nada. A porta já tá é aberta. — Porque foi ela quem a abriu. — E esse doido conhece tudo, menos etiqueta, né, não, grandão?

Shi… (sim) — proferiu da sua forma estranha.

— Oi? — Vínia, a mais boca livre das duas visitantes, falou a primeira coisa que lhe veio à mente: — Entendi foi nadica de nada.

O draconiano quase engasgou com o riso involuntário. Sua companheira de Academia continuava com o astral sempre alto e leve, embora carregasse a pressão do medo por onde quer que andasse.

Bem diferente dele, Grete se desesperou, preocupada de que o comentário da sua parceira tivesse pegado mal, ao menos até que Baltazar fizesse um sinal com a mão de que estava tudo tranquilo.

— Mas assim fica difícil de conversar, heim? — Enquanto Grete pegava duas cadeiras para ambas se sentarem, Vínia abriu a tela de energia do seu MIC. "Tá escutando tudo direitinho, ô grandão?"

"Hahaha! Aí sim!" Riu animado através do canal telepático com a garota. "Mas a Telepatia da Carelli é bem melhor".

"Hah! Então pede aí pra Bela Adormecida dar uma acordada". Foi nesse instante em que Vínia notou que exagerou um pouco com o grandão; ele ficou minúsculo de tanto que murchou. "Eh, bem, foi mal".

Apesar de parecer sempre animadão e irresponsável, aquele cara também tinha um coração bem mole, principalmente quando se tratava de colocar sua parceira em perigo.

"E-Ela tá bem" comunicou Grete, falhando em expressar confiança para animá-lo. "Eu não acho que foi culpa sua, e a Carelli deve pensar assim também… eu acho".

Aquele "eu acho" no final fez Baltazar sorrir outra vez. Carelli iria encher ele de porrada, isso sim.

"Como ela tá?"

Analisando o estado em que a moça se encontrava, as visitantes descreveram as faixas curativas que cobriam quase todo o corpo dela, com destaque especial para a faixa no olho que a assassina cortou.

"Tá numa situação complicada, mas os médicos disseram pra gente que vocês dois iam ficar bem", ressaltou Vínia.

Eram palavras aliviadoras e que levantaram o astral do draconiano, ainda assim parecia insatisfeito com algo.

"Vamos lá. Você não precisa sentir culpa por perdemos o título do campeonato.” Vínia suspirou, embora desejasse ter aquele troféu em mãos. “O resultado é consequência do grupo todo".

Grete concordou, com um balançar de cabeça. As duas também carregavam o peso da derrota sobre suas costas, uma vez que perderam na luta contra Trevor e Sophie.

Se havia alguém entre os seus companheiros para oferecer um ombro amigo aos caídos da Academia de Batalha Absalon, certamente essas eram Vínia e Grete.

"Aquele majin desgraçado…" lamentou o fato que mais apertava o seu orgulho como guerreiro. "Meu corpo treinado, meu Tesouro de Fafnir, meu poder destrutivo… nada disso forçou aquele desgraçado a usar o Sacrifício Sangrento…!"

Apertou os lençóis brancos da cama com a força da frustração. O que faltou para que ele vencesse? O que faltou para que fosse um adversário à altura?

"Deixa disso, grandão" falou como se expressasse o óbvio. "Aquela técnica é realmente um sacrifício".

Estava longe de ser algo adequado para ser usado em uma competição. O Sacrifício Sangrento junto ao Vislumbre da Glória só deveriam ser utilizados como último recurso, onde a vida do usuário já corresse um alto risco.

"Além disso, aquele covarde só ficou se escondendo atrás da Perséfone." Lembrar disso fez Vínia esboçar uma feição de quem iria vomitar. "E ainda se acha o bonzão, o rei da cocada preta".

"Mas eu sei que… Eu sei que você é forte, Baltazar." Grete, que entrelaçava os dedos ansiosos, juntou-os, convicta de sua afirmação. "E eu sei que você pode ficar muito mais forte!"

"Haha!" Aquele otimismo… Baltazar era grato pelas companheiras que tinha; sem dúvidas, as melhores. "Eu tenho que me lembrar de guardar vocês em um potinho".

Na parede do quarto de enfermaria reservado para os membros da Academia de Batalha Leviatã, a projeção da celebração da vitória era exibida com entusiasmo e euforia, características que não se observavam no rosto do rapaz acamado.

Tsc! — Quase cuspiu ao virar-se para o lado. Por qual razão aquelas pessoas pareciam tão animadas? A sua vitória deveria ser mais do que óbvia. — Bando de vermes.

— Pra que todo esse humor ruim? — Apesar de se encontrar em um estado físico mais debilitado, Perséfone esbanjava um sorriso largo na face. — Você é o herói.

Bajulava enquanto se deliciava nas feições azedas de indignação que Dreison esboçava ao ouvir aquilo; ele poderia ter vencido, mas o desenrolar da luta estava longe de ser o desejado.

Era para ter sido uma vitória absoluta, não aquela coisa feia que beirou a derrota; pior, que beirou a eliminação dele pelas mãos de alguém tão vergonhoso como Baltazar.

— Esse resultado humilhante… — rosnou enquanto fechava os dedos trêmulos de raiva — era preferível a morte.

Ehhh… — A garota suspirou sem ânimo. Ainda estava um pouco cedo demais para ele morrer. "Você poderia sofrer cinquenta? Não, cem vezes mais que isso antes de partir desta pra pior?"

Era nesses momentos em que Perséfone se perguntava o que o Pacto de Ressonância tinha identificado de comum entre os dois: a ambição distorcida de controlar o futuro um do outro?

Diferente da forma que muitos viam, aquele ritual baseado em algo tão belo quanto o casamento talvez pudesse ser bem mais sádico do que as aparências davam a entender.

— Escória — disse o rapaz pouco antes de encerrar a transmissão da comemoração dos membros da sua Academia de Batalha. — Que esse dia seja apagado da história e que ninguém se lembre dele.

Ehhh… Esse olhar de frustração não combina em nada com você. — Mentira; era a coisa mais prazerosa de se ver. — Você quer um consolo? — disse enquanto se levantava de sua cama e ia até a dele.

Dreison torceu o rosto em desgosto. Pior do que a humilhação de ser pressionado por uma lagartixa apenas um pouco mais evoluída do que as outras era ter que se sujeitar a ser consolado por alguém.

— Nunca me darei por satisfeito até que aquele maldito morra. — Com fogo nos olhos, encarou a moça que subiu em sua cama, em cima dele; cara a cara. — Esse é o único consolo para a minha alma.

— Então mate ele. — Acariciou a bochecha do parceiro e sussurrou uma doçura recheada com veneno. — Se é o que você quer, quem poderá te impedir?

A posição de Baltazar, claro. Nem mesmo Dreison Asimorph tinha passe livre para se livrar de um dos preciosos Top 1 Rank S das Academias de Batalha de Hervron.

Considerando que o próprio Dreison também ocupava o mesmo tipo de posição, no melhor dos casos ele seria expulso da Academia; isso se não gerasse um conflito entre a Leviatã e a Absalon.

— Que tal hoje à noite, heim? — Pôs as duas mãos no rosto do parceiro e ficou a uma distância ínfima dele, de modo que suas respirações quentes se encontravam. — Faça dele o seu alvo principal durante a Cerimônia de Encerramento.

— O que pensa que está fazendo? — indagou, suspeito, pondo uma mão na nuca da majin enganosa.

Perséfone era boa em bajular, mas para chegar a ponto de querer induzi-lo a fazer alguma coisa, ela estava se empolgando além do limite habitual; perversa.

Além disso, ficando naquela posição: sentada sobre o colo dele, o rosto sugestivo a beira de beijá-lo… Estava atrevida demais se pensava que poderia tomar alguma iniciativa sobre ele.

— Eu que decido o que fazer e quando fazer. — Bruto, pressionou a boca da garota contra a dele, devorando os lábios macios dela com fervor… Aqueles cabelos negros entre seus dedos.

Uma sombra escura selou a maçaneta da porta do quarto, a fim de que ninguém ousasse interromper a celebração particular dos dois, a única que importava.

— Me satisfaça — decretou ao passar as mãos pela cintura da garota e puxar a blusa dela para cima até tirá-la toda. — Pouco importa se está feita em pedaços, não se atreva a me desapontar, Perséfone.

Deslizou os dedos pelas faixas curativas que revestiam toda a barriga da garota, as mesmas faixas que substituiam o sutiã e provocavam inveja a qualquer um por ter o direito de segurar seus seios.

“Pode ser um imbecil arrogante, mas até que tem um pau gostosinho de sentar.” Lambeu os lábios e desprendeu as faixas de seu corpo, as quais, folgadas, revelavam sua pele de avelã. — Seu desejo é uma ordem.


Continua no Capítulo 154: Rei Esmeralda

Ajude a pagar o cafezinho do autor contribuindo pelo pix abaixo:

79098e06-2bbf-4e25-b532-2c3bf41ccc53

Siga-nos no famigerado Discord.



Comentários