Volume 2 – Arco 6
Capítulo 152: Entre Lágrimas e Abraços
— Ufa! — Com um suspiro de alívio, Trevor deixou seu corpo ceder sobre o conforto da poltrona que dividia com Sophie. — Esse draconiano é louco.
Desfazendo-se em sutis partículas de luz azul, a Veste Divina do Anjo do Espaço se despedia após cumprir o papel de segurar a devastação da Supernova Dracônica de Baltazar.
Se Trevor não estivesse assistindo a lutar naquele momento, para que pudesse criar uma segunda proteção ao redor da arena, todos poderiam ter se deparado com o pior.
Calcular os estragos causados por todo o plasma que escaparia através do buraco no domo espacial seria uma tarefa difícil. Aquele ataque não era algo feito para ser usado fora de um Espaço Dimensional.
— Huh? — O pobre nefilim mal teve tempo para respirar e o relógio em seu pulso bipou, anunciando o recebimento de uma mensagem em seu MIC. — Da Academia?
Sem dúvidas deveria ser uma notificação por causa da sua intervenção na luta. No entanto, o que ele fez não afetou o resultado. Ninguém o repreenderia, certo?
— Oh… — sussurrou, pensativo, enquanto observava a mensagem na tela de energia.
Curiosa, a moça ao seu lado virou o rosto a fim de ler o conteúdo: uma solicitação de última hora para que o jovem da Academia de Batalha Ziz auxiliasse na reconstrução do domo espacial da arena.
Graças às ações sorrateiras da Organização Perpetuum ao longo do tempo, a quantidade de usuários de Manipulação Espacial havia reduzido aos poucos, fazendo de Trevor a pessoa mais adequada para a tarefa imposta a ele.
— Eu tenho que dar uma saída — disse, preparando-se para se levantar, quando a mão de Sophie segurou sua camisa. — Milady?
— Eu posso ir… com você? — pediu um tanto sem jeito. No fim, só queria passar um tempo junto a ele, mesmo que aquele trabalho não tivesse relação com ela.
— Sim, claro. — Ofereceu uma mão para que Sophie a segurasse; e ela a pegou devagar, desde as pontas dos dedos. — Vamos, milady.
A garota o encarou cativada pelo som de sua voz, presa na profundidade daquele gentil par de olhos azul-escuro… tão profundos.
Sophie saiu do transe apenas quando reparou que Eirin os observava com uma mão na frente da boca, escondendo um sorriso travesso nos lábios rosados de batom.
Era óbvio o que se passava pela mente da amiga: uma oportunidade para que Sophie se separasse do grupo e ficasse a sós com o namorado… Sozinhos por aí.
"Hehe! Danadinha."
Captando a mensagem telepática da amiga através do MIC, Sophie desviou o rosto envergonhado para o lado e seguiu o parceiro pela mão, evitando olhar para os outros na sala.
Quem também se preparou para dar um breve adeus aos companheiros foi Raizel, que, abandonando sua poltrona, estalou as falanges dos dedos.
— Vamos acabar com isso logo. — Para que pudessem enfim voltar para casa. — Isso já demorou demais.
— Uhum! — concordou Petra, também de pé. — Mas antes, Tina — disse para a moça ao lado de Andrew — a gente pode se falar um pouquinho lá fora?
Pega de surpresa, Valentina perdeu suas reações por um instante e se viu perdida; bem diferente de Raizel, que entendeu a intenção da sua parceira e saiu primeiro.
— Te espero lá na frente. — Despediu-se brevemente com um tom de voz baixo e um tanto incentivador. — Boa sorte.
Era estranho como as poucas palavras de seu parceiro a enchiam de coragem e determinação; por outro lado, Valentina a seguiu sem receber palavra nenhuma.
"Força!" Transmitiu Eirin através do MIC, com um sorrisinho encorajador e um sinal de joinha. "Tô torcendo por você".
A garota que parecia insegura e cabisbaixa até então pôde, enfim, dobrar os lábios em uma curva que, apesar de singela e quase imperceptível, era feliz e leve.
Do lado de fora, as garotas caminharam na direção oposta à de Raizel, pegando uma certa distância da porta da sala; uma de frente para a outra.
— Er, Tina… — Embora houvesse chamado a garota até ali, Petra começou a entrelaçar os dedos, nervosa, com dificuldades para tocar no assunto. — Er, a gente se viu bem pouco esses dias, né?
Tanto que uma distância estranha parecia ter crescido entre as duas; de um jeito que ficava difícil de encarar os olhos de uma pessoa com quem ela sempre se sentiu confortável, como se fosse sua irmã.
— Petra…
— Eu fiz alguma coisa errada? — Absorta em seus pensamentos, nem percebeu que interrompeu a outra. — Esses dias, parece que você tá me evitando, sabe?
— Pe…
— Eu ia reparar nisso uma hora ou outra. — Com uma certa preocupação na voz, perguntou para a outra, que começava a ficar com os olhos molhados. — Afinal, a gente é amiga, né?
Mal teve tempo de processar a redução da distância física entre as duas, e Valentina já estava em seu pescoço, abraçando-a com força, como se jamais desejasse soltá-la de novo.
— Desculpa… — pediu, a voz embargada pelo choro que vertia dos machucados do seu fragilizado coração; o rosto caído sobre o ombro da amiga molhando seu uniforme. — Desculpa…
Por todo esse tempo Petra também esteve prestando atenção nela, mesmo tendo tantas outras coisas rondando a sua mente. Mesmo enquanto uma luta difícil a aguardava, Valentina era sua maior preocupação.
"Como eu fui tão egoísta?" Fungou, e quando uma mão calorosa acalentou sua cabeça, ela quase se desfez em lágrimas nos braços de Petra. — A gente… amiga, sim.
— Tudo bem. Vai ficar tudo bem. — Por tantas vezes, aquela cena já tinha se repetido em posições inversas, quando Petra estava cativa nos domínios de sua própria casa. — Eu vou estar sempre aqui.
— Mas eu não… — soluçou suas palavras e despejou para fora o que tanto a deixou aflita nos últimos dias: — Eu vou morrer como qualquer um. Eu vou… ficar pra trás.
Um silêncio sepulcral reinou na boca da amiga. Independente do que Petra pudesse dizer, do que escolhesse para consolar a frágil garota em seus braços, nada mudaria o fatídico destino das duas.
Olhou com pesar para o parceiro ao longe encostado na parede: olhos fechados, cabeça baixa, Raizel já parecia imaginar o que ela ouviria.
"Eu me apeguei a quase ninguém no decorrer dessa minha longa jornada." Foi um sofrimento que carregou em poucos momentos, mesmo assim, ainda lembrava de como machucava. "Essa garota é apenas a primeira pessoa de quem você vai ter que se despedir, senhorita".
— Valentina, eu… Eu queria…
— Tá tudo bem. — Uma meia-verdade. — Você encontrou um parceiro legal, né? — Forçou um sorriso torto. — Mesmo sendo meio doido.
Petra sorriu, mas viu a amiga se afastar de seus braços e enxugar as lágrimas dos olhos avermelhados. Dessa vez, entendendo a situação de Valentina, conseguiu encarar ela nos olhos inchados.
— Eu também quero você ao meu lado, Tina. — Era um pedido puro e sincero, mas carregado por um desejo egoísta que levava apenas a sua própria vontade em consideração. — Eu quero você comigo até o último dia da sua vida.
Valentina mordeu os lábios trêmulos, muda. Com aquelas palavras profundas, ficava difícil de segurar uma nova onda de choro. Petra gostava do sabor de suas lágrimas, só podia.
— Eu vou ser insuportável, tá? — Aproximou-se. — Eu vou perturbar você todo santo dia. — Envolveu Petra de novo no calor se seus braços. — Você vai cansar de ver essa minha cara feia.
— Nunca vou me cansar de você, Tina — sussurrou, sentimental e meiga, como só ela sabia ser. — Nunca se canse de mim também, tá bom?
— Uhum! — concordou já sem forças para se expressar verbalmente; se não fosse por Petra a segurando, Valentina poderia já ter cedido de joelhos no chão.
Raizel, por sua vez, esboçou um leve sorriso e deu às garotas o tempo que precisavam para se confortar uma à outra; ou melhor, para que Petra confortasse a que parecia ser a mais abalada ali.
Com um abraço bem apertado, as duas se despediram após alguns minutos que pareceram durar por horas, até que Valentina retornasse para dentro da sala e se sentasse ao lado do parceiro, sem dizer nada.
Ao menos, não de forma verbal.
"Huh?" Assim que a garota repousou o rosto sobre o ombro dele, Andrew recebeu duas curtas mensagens pelo seu relógio:
Valentina: Me abraça.
Valentina: Por favor.
Um nó apertado se formou em seu peito. Por que pedir isso logo para ele? Quando Valentina saiu triste daquela sala, quem a confortou foi Eirin.
Também foi Eirin quem conseguiu dar forças à sua parceira com a conversa nas termas, coisa que ele — um zé ninguém — fracassou em fazer.
"Me perdoe por ser tão fraco, Valentina." Passou seu braço ao redor do ombro dela e a deixou descansar o rosto sobre seu peito. "E obrigado por permitir que eu sirva pra alguma coisa no final".
— Eu sei que foi um assunto delicado e que você pode precisar de mais tempo para digerir isso direito — disse o nefilim enquanto seguia com sua parceira para o portão da arena — mas, agora, não é o momento para isso.
Petra assentiu com um movimento sutil de cabeça. O campo de batalha nunca levava o estado emocional de um guerreiro em consideração; distração era derrota.
— Quando a gente voltar, você me faz um cafuné? — Deitada no colo dele, sozinhos no sofá enquanto aqueles dedos calorosos afagavam seus cabelos. — Eu aceitaria, sabe?
Pegou a mão do companheiro com gentileza e entrelaçou seus dedos aos dele, formando uma ligação mais forte que as correntes divinas do próprio Raizel.
— Vença, e eu terei certeza de te recompensar de forma adequada.
Foi então que ambos saíram do corredor e entraram no pequeno beco que levava direto até o portão que — naquele dia em especial — servia como um portal para os teletransportar direto para o centro da arena de combate.
— Er, só uma coisa: — ponderou a moça, sabendo que o portão não funcionaria até que Trevor estabelecesse um domo espacial adequado para a próxima luta. — Por que a gente veio tão cedo?
— O motivo. — Sagaz como um lobo, Raizel prendeu a cintura dela com uma mão, por trás; astuto uma serpente, deu o bote certeiro em seu pescoço vulnerável. — Você quer mesmo saber?
Continua no Capítulo 153: Frustração Nua e Crua
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