O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 151: Supernova Dracônica

À beira de tombar seu corpo colossal, Baltazar empregou o que pôde de força em suas pernas, que gritaram de dor ao terem que se manter firmes frente a uma brutal tempestade de cortes, vinda de cima.

Largue as armas! — vociferou inutilmente. Assim como mais cedo, a sua adversária se mostrou inflexível à Língua do Dragão Soberano. — Pare de atacar!

Um tremor tectônico acompanhou a dobra das pernas do dragão sobre os destroços da arena de combate. Um som que, apesar de preocupante, nem de longe se comparava ao que veio de suas costas.

"Tá quebrando…" pensaram, boquiabertos, os parceiros do draconiano, que o assistiam ser massacrado, encurralado. "As escamas de dragão…"

Estraçalhadas na base da brutalidade; não por intermédio de habilidades que burlavam sua resistência, como o compartilhamento de dano entre o corpo e a sombra causado pela katana demoníaca de Dreison, mas por impactos diretos.

Ahhh! — No desespero, Baltazar virou seu pescoço e abriu sua boca, para soltar um Rugido de Plasma às cegas, o que resultou no oposto do esperado. — Urgh!

Um instante e a sua língua foi decepada. Um gosto forte e amargo de ferro se espalhou pelo seu paladar e derreteu sua boca com o sangue que se tornou ácido.

Ainda assim, seus esforços o levaram à liberação do plasma, de forma aleatória e miseravelmente concentrada, mas com eficiência suficiente para forçar a garota a desviar seu foco das escamas do dragão.

Só foi uma pena que ela passou a visar os olhos dele; e, em um mísero segundo, Baltazar se viu cego dos dois olhos.

Foi então que a lâmina de uma katana negra passou pela sombra da outra asa do dragão, fazendo-a se separar de suas costas e privando-o de sua forma alada.

Uma vez que o rival havia perdido sua língua e não a recuperaria nem tão cedo por causa da Hemofilia, o jovem majin pôde enfim sair com segurança da escuridão humilhante.

— Agora sim você parece patético e miserável como realmente é, lagartixa. — De pé, ainda com alguns poucos ferimentos, por ter retornado cedo demais, Dreison viu o dragão grandioso cair e começar a reduzir de tamanho. — Durou mais do que deveria, mas está acaba...

O majin reagiu no impulso e ergueu uma mão instintiva na direção do draconiano caído de joelhos, o qual — ainda sem visão — escutou um grunhido ensandecido bem perto do seu ouvido.

Ainda sob a liberação da maldição das Lágrimas de Sangue, a assassina não havia recobrado sua sanidade mental, agindo apenas com base em seu instinto e sede de sangue.

Presa pela própria sombra, manipulada pelo seu parceiro idiota, Perséfone ainda levaria alguns minutos até sair do efeito da maldição que a colocava em estado berserker.

Esse era o preço a pagar: usaria aquele poder quando quisesse, mas não poderia interrompê-lo quando desejasse; mesmo que isso significasse matar o adversário e, por consequência, arruinar sua vitória no Campeonato Sojourner.

— Quando eu mandar atacar, você ataca — disse o majin, mostrando que apesar de toda a surra que levou ainda era o mais orgulhoso ali. — Quando eu quiser que você pare, você tem que parar.

Mas naquele estado ela nunca o obedeceria, assim como não havia se curvado frente à Língua do Dragão Soberano, uma vez que sua mente estava ignorando toda e qualquer distração.

Diferente do Sacrifício Sangrento, que removia os ferimentos anteriores à ativação, a liberação das Lágrimas de Sangue não havia curado os danos recebidos pelo Rugido de Plasma do Baltazar monstrificado.

Paralisada pelas amarras da escuridão de sua sombra, as queimaduras no corpo da assassina se mostravam sem censura para a plateia: sangue escorria sobre a pele derretida na carne deformada.

O tecido do uniforme grudado em seu corpo, boa parte dos cabelos chamuscados e o semblante psicopático colocava medo no coração daqueles que a assistiam.

A garota espumou raivosamente por sua boca. Ter se movimentado de uma forma tão insanamente ágil com seus membros naquele estado, havia levado ela ao limite.

A maldição berserker poderia entorpecer seus sentidos e fechar seus olhos para a dor, o que era ótimo naquele momento, mas quando o efeito passasse…

— Você já me serviu o bastante — disse o parceiro da garota, antes de estalar os dedos da mão direita — agora vá embora.

Quando a moça abriu sua boca, expondo as presas salientes e sanguinárias, foi ela quem se tornou a presa, devorada para o interior do Domínio das Sombras.

A sós com o draconiano debilitado, Dreison caminhou sem preocupação até perto do adversário que mal conseguia se mexer.

Suas escamas continuavam rachadas mesmo depois de regressar à forma híbrida. Seria fácil acabar com ele.

Dreison torceu o rosto, desgostoso. Era para se sentir bem, a vitória estava nas suas mãos, então por quê se sentia mal?

"Esse gosto ruim." Foi Perséfone que deixou Baltazar naquele estado. Dar apenas o golpe final não seria o mesmo que se alimentar das sobras dela? — Eu queria ouvir suas últimas palavras, lagartixa.

Isso seria impossível. Tudo o que escutou foi um ruído gosmento e incompreensível vindo da boca cheia de sangue do draconiano.

"A vergonha que me fez passar hoje", pensou enquanto erguia a Retalhadora de Sombras lentamente "ainda há de ser limpa com a sua infeliz morte".

Foi então que o guerreiro, sangrando pelos olhos, levantou seu braço direito e apontou para um certo lugar, que deixou o majin confuso por um momento.

Os dedos trêmulos de Baltazar iam em direção ao Machado Impetuoso Gram caído ao longe, nem um pouco diferente de um mísero pedaço de ferro.

"Se eu perder assim, tenho certeza de que ela vai me matar." Carelli, que lutou até o último osso quebrado, até a última gota de sangue derramada, como ela o veria se ele fosse derrotado sem conseguir fazer mais nada? "Eu sou um parceiro idiota mesmo".

Sua mão cedeu e caiu sem forças contra a lateral de sua perna curvada no chão. Dreison gargalhou; ver o draconiano falhar até em levantar um único braço era mais do que prazeroso.

Haha! Não consegue falar, então vai se render levantando uma mão?! — Patético. — Mas nem isso consegue fazer!

"Supernova Dracônica." Com uma liberação instantânea, o Machado Impetuoso Gram explodiu um brilho de cegar, que arrastou o riso prepotente do majin para o rio do esquecimento.

Os espectadores fecharam os olhos; uns cobriram o rosto com o braço, outros viraram para o lado e alguns esconderam sua visão com a cabeça baixa.

Foi da pior forma possível que o público descobriu que além do poder de passar através de defesas, com a intangibilidade, o Machado Impetuoso Gram era capaz de acumular e comprimir o plasma de Baltazar ao longo dos dias para liberá-lo de uma só vez.

Mesmo que em pequena escala, a liberação de energia presente na Supernova Dracônica fazia jus ao seu nome, uma explosão tão intensa quanto o colapso da morte de uma estrela.

Uma devastação que aniquilou tudo dentro do domo espacial da arena de combate e impôs temor ao coração de muitos; havia um buraco no domo espacial causado por Baltazar, instantes antes.

— Esse doido quer matar a gente?! — Eirin se agarrou no braço de  Klaus, para não perder o equilíbrio e cair por causa dos tremores cataclísmicos que derrubavam tudo o que havia em cima das mesas e paredes.

Foi quando uma luz azul brilhou na sala dos duos da Academia de Batalha Ziz, e um segundo domo espacial revestiu a arena de combate, impedindo o plasma de escapar e destruir o exterior por completo.

Então, o terror da carta final do draconiano começou a reduzir junto aos tremores que se tornavam cada vez menos intensos, até que as coisas pareceram se acalmar.

Tombado sobre a semi-transparência do domo espacial, Baltazar já não sentia o chão sob seus joelhos e mãos; qualquer traço de terra tinha sido evaporado até não sobrar nada.

Sem sinal dos adversários, pensou ter mandado o espadachim para o além; mas, no fim, ele sabia que seria otimismo demais considerar isso como verdade.

Um forte impacto atingiu seu queixo, derrubando-o para trás. Da sombra fraca do draconiano, Dreison emergiu com um chute encaixado, enquanto segurava uma Perséfone desacordada sobre o ombro.

— Que mau perdedor você é, lagartixa — disse, observando o outro cuspir ácido vermelho sobre o domo espacial. — Se a explosão foi as suas últimas palavras, saiba que serviu de nada.

A garota em seu ombro começou a ser teletransportada para a enfermaria; apesar de Dreison ter curado boa parte dos ferimentos dela no Domínio das Sombras, Perséfone desmaiou quando a liberação das Lágrimas de Sangue se encerrou.

A regra era clara: Perséfone Strier estava eliminada do Campeonato Sojourner.

— Ei! O que pensa que pode fazer? — Usando o que lhe restava de forças nos braços, o guerreiro tentou levantar seu rosto e… . caiu de cara. — Haha! É assim que se faz!

Estava acabado: com duas vitórias e um empate, a Academia de Batalha Leviatã se consagrava a campeã já na penúltima luta do Campeonato Sojourner.

A única coisa que faltava para a explosão dos fogos comemorativos dos majins era o anúncio do resultado, que veio assim que um gêiser de plasma explodiu dos pés do draconiano, arremessando-o para o alto.

— Diz aí, otário. — Sádico, Dreison sorriu ao liberar a parte do poder da Supernova Dracônica que guardou dentro da sombra do oponente. — Como é ser finalizado pelo seu ataque mais poderoso? Hahahahah!

Caindo como uma pedra rachada, Baltazar desapareceu da arena de batalha antes que voltasse a encostar no chão; inconsciente na enfermaria, Carelli o aguardava sob cuidados médicos.


Continua no Capítulo 152: Entre Lágrimas e Abraços

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