Volume 2 – Arco 6
Capítulo 150: Liberar!
— Menos um. — Indiferente à oponente destroçada e ao rapaz que a segurava aflito em seus braços, Perséfone uniu suas mãos e adagas acima da cabeça e alongou o próprio corpo. — Ai que dor.
Cada músculo ardia e latejava após quase ser espremida até a morte pelas mãos invisíveis da Telecinese de Carelli. Lidar com algo que não se podia ver era um verdadeiro pé no saco.
Ao menos com o teletransporte da rival para a enfermaria, sua preocupação havia chegado ao fim, bem como a necessidade de ficar correndo em alta velocidade por todos os lados como se fosse um rato.
— Isso era pra ser só um campeonato idiota. — Cerrando os dentes afiados de dragão e os punhos manchados pelo sangue da parceira, que escorria entre seus dedos, Baltazar fitou a assassina com um ódio ardente em seus olhos. — Eu vou acabar com você.
— Ai que medo. — Reuniu as mãos em frente ao peito e retraiu o corpo, fingindo estar assustada e indefesa, uma vez que seu parceiro havia a abandonado para se curar nas sombras. — E agora? Quem poderá me defender?
— Cala essa matraca! — Ignorando os danos em seu corpo, Baltazar avançou aos trancos e barrancos contra a assassina, que desviou com facilidade do primeiro, do segundo, do terceiro ataque. — Para de correr, merda!
Ainda que Perséfone tivesse recebido muitos danos físicos e psíquicos, ela detinha a vantagem da Classe de Batalha sobre o guerreiro, ao menos quando se tratava de desviar e ser furtiva.
Com um urro de frustração, que mais parecia o lamento de uma besta ferida, Baltazar bateu seu machado com toda a força que ainda lhe restava contra o chão, explodindo destroços para todos os lados com um tremor cataclísmico.
— Maldição…! — Nem com aquilo ele foi capaz de pegar aquela mosca desgraçada e covarde, por outro lado, apenas criou uma cortina de poeira para que ela se escondesse melhor. — Mas que porra!
Foi então que de repente a emanação da Energia Espiritual de Baltazar começou a diminuir em uma velocidade estratosférica, dando lugar à ferocidade da sua Energia Bestial pura.
Teve que abandonar o princípio da intangibilidade do Machado Impetuoso Gram, uma vez que seria impossível usá-lo na sua nova forma, mas o que ganharia em troca deveria compensar: os privilégios advindos da Monstrificação.
Em meio à densa nuvem de poeira, Perséfone sentiu um arrepio ao vislumbrar a silhueta de um enorme dragão crescer dentro da arena de combate.
A cauda longa, adornada por espinhos pontiagudos e perfurantes, rasgou o solo com uma fenda profunda de seu balançar. As asas de couro impermeável abriram-se, expulsando toda a poeira para longe de si.
Sem ter para onde fugir, a assassina foi empurrada contra a barreira de proteção da arena; criou um escudo de energia para se proteger, o que se mostrou ineficaz.
Apenas o rugido de fúria da fera já foi capaz de destruí-lo, e levar a garota a receber todo o dano daquela onda de destruição avassaladora.
— A-Argh! — Caindo de joelhos, Perséfone não sabia se ela se engasgaria com a poeira ou com o sangue que agredia seu paladar. — Merda…
Todo seu corpo tremeu junto ao chão da arena, uma… duas… três vezes.
Passo após passo as patas do dragão Baltazar provocavam pequenos terremotos com o peso colossal de sua aterradora estrutura imponente.
— Urgh? — A assassina engoliu em seco ao ser fitada por aquele par de olhos reptilianos imbuídos em fúria. — Tá putinho, é?
O dragão grunhiu ao erguer seu rosto para o alto e abrir sua boca, expondo dentes tão afiados quanto suas garras e um forte odor de enxofre proveniente de sua garganta.
— Desapareça! — Baltazar desceu seu rosto de vez em direção à garota caída antes que ela tivesse tempo suficiente para escapar do Rugido de Plasma que derreteu tudo o que havia pela frente. — Queeeimeee!
Loucura e insanidade pareciam ser as únicas palavras capazes de descrever o ataque monstruoso do dragão: passando pelas camadas da barreira de proteção como se as mesmas não existissem, bateu de frente com o domo espacial que envolvia a arena.
Ao ver a estrutura espacial colapsar, os organizadores do evento tremeram; e, ao constatarem que o domo cedeu à passagem do plasma, todos ficaram sem chão.
A crosta do planeta foi perfurada com violência; o manto não ofereceu a menor resistência, e o núcleo escapou de ser destruído e levar aquele mundo ao colapso apenas porque Baltazar cessou a investida; o seu alvo era outro.
Enquanto vapor quente saía de sua boca, sondou os arredores em busca da adversária: sem sinal dela. Escapou? impossível. Ela teria desidratado até a morte só com o calor.
— Onde está…?! — Foi então que sentiu uma pontada forte em seu peito, que começou a sangrar, e logo abaixo de si duas figuras humanóides emergiram das sombras. — Desgraçado…!
— Essa garota é propriedade minha — disse o majin, agora com as duas partes do corpo conectadas novamente. Apenas as roupas rasgadas ainda carregavam as marcas da brutalidade do golpe sofrido. — Sou eu quem decide o que acontece com ela, e não você, lagartixa imunda.
Veloz como a luz, a sombra da asa esquerda de Baltazar foi decepada, fazendo o membro do semi-humano despencar livremente contra o chão enquanto sangue quente esguichava da ferida aberta na carne crua.
Ter assumido a forma gigantesca de um dragão, apesar do aumento de poder, foi um belo tiro no pé para aquela lagartixa evoluída. Uma sombra daquelas proporções parecia implorar por ser dilacerada pela katana demoníaca.
— Hahaha! — Ainda assim, o guerreiro ria sem arrependimento ou preocupação com a dor latejante no ferimento em suas costas. — Parados!
Gutural, imponente e imperativa, a voz bestial de Baltazar reinou até mesmo sobre a vontade e ego do grande Top 1 Rank S da Academia de Batalha Leviatã.
“Mentira.” Nem sequer o menor músculo do seu corpo o obedecia mais. “Isso só pode ser mentira!”
Ordem dada.
Ordem cumprida.
A Língua do Dragão Soberano, algo que Baltazar só tinha acesso durante a Monstrificação e o verdadeiro motivo pelo qual ele tinha assumido aquela forma; algo que não feriu a carne de Dreison Asimorph, mas, sim, o seu ego.
“Esse lixo imundo…” Espumava ódio pelos olhos. “Está mandando em mim?!”
Amaldiçoado fosse até a terceira geração de sua família. Que findasse seus dias como um miserável desejando pela morte, um cão que lambia as próprias feridas.
Quem em seus últimos dias não houvesse quem prestasse condolências. Que, partindo da terra, ninguém lembrasse do seu maldito nome.
“Eu te odeio!” Por fazê-lo passar por tamanha vergonha e humilhação. Por submetê-lo ao papel de um simples cumpridor de ordens. “Eu te odeio, Baltazar Dragom…”
O balançar violento da cauda cheia de espinhos do dragão açoitou tanto as costas de Dreison quanto as de Perséfone, lançando-os para longe. Caíram de forma desengonçada, como os dois palhaços que eram nas mãos de Baltazar.
No entanto, o público mal teve tempo para dar gargalhadas; em sequência, o Rugido de Plasma avançou contra a dupla de majins, acertando-os em cheio.
Pressionando os adversários contra o domo espacial, os administrados do evento ficaram com o coração na mão, perguntando-se se a proteção cederia mais uma vez.
Pior do que isso, a dupla mais preciosa do diretor Nabuco Donosor sairia viva depois de receber um ataque de tal proporção enquanto estavam de defesa baixa?
A resposta veio na forma de duas silhuetas fumegantes caídas sem reação. A carne viva não chegava a sangrar; os ferimentos cauterizados permitiam apenas a dor e a ardência.
Pele e carne, derretidas uma sobre a outra, se misturavam ao tecido dos uniformes e se esticaram em agonia quando os dedos dos majins se moveram de forma triste e miserável.
Vomitaram o que podiam de sangue fervente, o qual evaporou ao cair no chão aquecido pelo ardor do plasma draconiano.
— Acabe com ele, nem que você morra — disse o majin, desta vez com um tom de voz débil, quase doente, enquanto seu corpo se desfazia em sombras mais uma vez. — Perséfone…
— Retorne agora! — Frustrado, Baltazar viu o oponente fugir mais rápido do que a sua voz. — Tsc! Vai correr com o rabinho entre as pernas e deixar uma garota sozinha para lutar no seu lugar?!
Se estivesse ouvindo aquilo dentro da escuridão das sombras, Dreison surtaria de raiva e teria um infarto ali mesmo.
Por sorte sua, decidiu barrar o som exterior, a fim de que a Língua do Dragão Soberano não o forçasse a sair antes de se curar por completo.
— Então se cure e volte quantas vezes quiser! — Arranhou o chão com as garras dianteiras e intimidou o majin com o bater de sua cauda, como se desejasse que o tremor adentrasse no Domínio das Sombras. — Eu vou te bater e bater até que essa lição fique cravada nesse seu corpo metido de merda!
— Ha… ha! — A assassina riu, mal se aguentando de pé. Ver aquele cara ser humilhado era algo que não tinha preço. — Eu vivi pra ver isso… Haha!
Era realmente agradável. Perséfone poderia até esquecer dos ferimentos e da carne exposta, a qual ardia apenas por ser tocada pelos dedos leves do vento, mas, sozinha ali, quem teria que dar andamento à luta contra o dragão era ela.
— Vê se não me matam, entenderam? — disse, encarando as adagas negras em suas mãos, as quais começaram a drenar o sangue pelas suas palmas queimadas. — Lágrimas de Sangue, liberar!
Forçado a fechar os olhos e virar o rosto reptiliano para o lado, Baltazar recebeu uma densa rajada de ar em sua face, que o levou a soltar um grunhido rouco.
Naquelas condições, perdeu a oportunidade de contemplar as lâminas escuras das adagas da assassina assumirem um tom vermelho-vivo, proveniente do sangue consumido.
Ao conseguir abrir os olhos, tudo o que pôde ver foi a assassina de cabeça baixa, os braços finos perdendo para o chão — a ponto de quase soltar as suas armas — o rosto escondido pelo véu de trevas dos seus fios preto-profundos.
Um mal pressentimento tomou conta do peito do draconiano monstrificado que, sem dar sorte ao azar, logo apelou para a Língua do Dragão Soberano.
— Solte as adagas! — No entanto, o que a garota fez foi encará-lo, revelando os globos oculares enegrecidos, as íris brilhando em vermelho e as lágrimas que escorriam pelas suas bochechas, literais lágrimas de sangue. — Huh?!
Perséfone sorriu, expondo um par de presas salientes, e, então, veloz como um raio, desapareceu da visão de Baltazar.
A única coisa que o dragão sentiu foi o impacto que quase tombou seu corpo colossal para o lado e reabriu o ferimento causado pela perda de sua asa.
Rios de sangue verteram-se das costas dele, os quais pareciam nunca cessar. Naquele instante, com uma ardência demoníaca o atormentando, o draconiano entendeu o que sua parceira sentiu ao ser vítima da Hemofilia.
A sensação de poder sangrar até a morte.
Continua no Capítulo 151: Supernova Dracônica
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