O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 148: Marionete de Sangue

Respirando com dificuldade, Carelli seguiu até os adversários desestabilizados e liberou mais outro abalo psíquico da Fúria de Ego, deixando todos de joelhos e com o cérebro a ponto de ter um colapso neural.

No entanto, a situação dela também não era das melhores: apoiou-se no cabo da própria arma para evitar que caísse enquanto sua visão escurecia, e o coração beirava a inércia, junto à iminência da falência de órgãos.

— Eu odeio esse machado. — Perséfone cerrou os dentes, os olhos entreabertos, caída de joelhos. — Se foder…

Naquele estado, além de ser um alvo fácil para a Fúria de Ego, ainda poderia ser presa sem dificuldades pela Telecinese de Carelli; no entanto, nem tudo estava perdido.

Quando a guerreira passou pelo lado de Baltazar, e o mesmo falou empolgado o quanto tinha achado aquilo incrível — colocar três Top 1 no chão de uma vez só — a moça se virou para ele com um semblante assustado.

— Balta…! — A lâmina do seu machado explodiu uma catastrófica onda de choque contra as escamas peitorais do parceiro dela, arremessando-o contra uma das camadas da barreira de proteção, que se espatifou em vários pedaços. — Ma-Mas o que que eu…?

O seu corpo havia se movido sozinho, e o ataque que deveria acabar com Perséfone acabou se voltando contra o draconiano, que agonizou no chão.

Haha! — Levantando-se em meio a uma gargalhada debochada, a assassina limpou os lábios manchados de vermelho e se deleitou com o espanto da adversária. — Isso foi lindo de se ver.

— Sua vagabunda! — Estava na cara que aquilo tinha sido alguma artimanha daquela desgraçada; e, para Carelli, saber que ela feriu seu próprio companheiro por causa disso, a deixava furiosa a ponto de xingar. — Vai se foder!

No entanto, mais uma vez os seus movimentos foram involuntários, e ela caiu de joelhos diante da adversária. Suas mãos se recusaram a obedecê-la, nem mesmo conseguia ativar a Fúria de Ego.

— Foi mal aí, mas você já tá com uma boa quantidade do meu sangue dentro de você. — O que permitia a Perséfone ativar o terceiro efeito do seu sangue: a Marionete. — Agora, você é meu brinquedinho.

O que a assassina não esperava era que os seus braços travariam com força contra o próprio corpo, assim como as pernas que se fecharam, como se tivesse sido amarrada por cordas invisíveis.

— Que brinquedinho rebelde você é. — Quem diria que mesmo sob os efeitos de Hemofilia e Transfusão Sanguínea aquela garota ainda conseguiria resistir. — Acho que merece uma punição.

Movendo-se de um jeito bizarro, o dedo indicador da mão direita de Carelli curvou-se para trás em um estalo agonizante que a fez gritar de dor e reduzir a força da sua Telecinese contra a rival.

Ha! Haha! — Apesar da situação crítica, a guerreira ainda conseguiu lançar um riso torto. — Não adianta fingir. Eu posso ouvir a voz da sua mente, e ela tá com medo.

Esboçando certa irritação, Perséfone franziu a testa e ralhou a garganta, quebrando os outros quatro dedos da mão da guerreira, que ficou impossibilitada de segurar sua arma.

A garota mordeu os lábios na tentativa de segurar o grito doloroso. Suas falanges expostas abriram caminho para que a Hemofilia fizesse o sangue escorrer sem limites de restrição, até que não restasse mais nada em suas veias.

— Quem você acha que tá com medo? — intimou a assassina. — Vamos, me diga!

— Você… claro. — Sorriu com a corda no pescoço, mas com a adversária ainda refém da sua Telecinese. — Aquela velocidade insana que você tinha… onde é que ela tá?

Perséfone esbugalhou os olhos. Os danos causados pela Fúria de Ego afetaram muito as capacidades da sua coordenação motora. Não foi por menos que, daquela vez, ela nem teve chances de escapar da Telecinese da adversária.

— Parece que eu cortei as suas asinhas. — Inclinando a cabeça para o lado, debochada, Carelli alfinetou a oponente arrogante antes de fortalecer o aperto telecinético e arrancar um grunhido de dor dela. — Eu posso cair, mas vou cair atirando.

Em termos de resistência física, a guerreira teria a vantagem, mas sua visão desfocada evidenciava que o sangue de Perséfone havia se tornado um fator decisivo naquela disputa.

Ainda assim, Carelli se recusava a ceder sem antes ter cumprido a responsabilidade de eliminar a assassina. Só então, deixaria o restante nas mãos de Baltazar.

Seu parceiro poderia ser irresponsável e fazê-la passar muita vergonha; mas, ela sabia melhor do que ninguém, que aquele maluco era doido demais para desistir, mesmo depois de ficar todo quebrado.

Sua cabeça latejava sem parar. Nem quando inventou de beber cem barris de cerveja, sofreu com uma enxaqueca tão torturante quanto aquela. Realmente, ele tinha uma parceira incrível… forte e incrível.

Ahh…! — Virou-se com esforço para o lado. Carelli ainda enfrentava aquela majin maluca, então onde o espadachim arrogante estava? — Vai dizer que fugiu?

Foi então que a lâmina cega de uma espada negra emergiu de sua sombra e espetou a escama do seu pescoço. O draconiano engasgou e teve o corpo empurrado para trás, deixando uma agonia chata na sua garganta.

— O que te faz pensar que eu fugiria de você? — Saindo lentamente de dentro da sombra, Dreison o encarava sem esboçar qualquer traço do dano recebido anteriormente.

— Isso aí é trapaça, cara. — Diferente do majin, Baltazar não possuía uma cura acelerada dentro das sombras.

— Essa é a diferença que define a verdadeira força. — Imperativo, apontou a Retalhadora de Sombras imbuída em trevas, como o martelo que batia a sentença no tribunal da vitória. — Essa é a diferença que decreta a sua derrota.

Baltazar ouviu aquilo e teve um péssimo déjà-vú. Se ele e Dreison fossem irmãos, seu pai já teria quebrado uma floresta inteira nas costas daquele moleque.

Mas em vez de pensar em memórias ruins, o draconiano limpou o sangue que escorria pelo nariz e tornou a entrar em posição de combate com seu machado.

— Eu vou te ensinar uma lição, moleque arrogante. — Deu um pulo e cortou na horizontal, o que Dreison foi feliz em desviar sem dificuldades; e, daquela vez, sem precisar se refugiar na escuridão.

— Tá devagar, lagartixa? — Riu, pondo-se ao lado do oponente. — O que você ia me ensinar mesmo?

O machado girou, brusco, arrancando pedaços do chão no processo, no entanto, o majin bloqueou a investida com a espada e rebateu a arma gigante para trás.

Fraco.

Não apenas lento, Baltazar estava fraco demais depois de ser atingido tantas vezes pela Fúria de Ego. Chegava a parecer patético ter um corpo tão grande e robusto, mas sem qualquer traço de força.

E assim, confiante, o espadachim começou a entrar em êxtase. A cada ataque rebatido com facilidade, ele afirmava para todo o continente o quanto era superior.

Fosse dragão, tenjin ou nefilim ninguém era páreo para ele. Ninguém se comparava ao tamanho da sua grandiosidade. Finalizaria aquela luta sem nem ao menos ter de recorrer ao Sacrifício Sangrento.

— Que miserável você é! — esbravejou enquanto avançava para barrar outra tentativa vergonhosa do oponente, porém não sentiu a solidez da arma dele. — Quê?

A lâmina de Baltazar passou direto através da sua katana demoníaca, como se fosse a imagem ilusória de um holograma.

A Retalhadora de Sombras permanecia intacta, afinal  nada no Plano Físico seria capaz de quebrá-la.

Mesmo assim… Mesmo assim, em uma diagonal decrescente e limpa, o tronco do majin foi dividido em dois, sem o menor direito de defesa.

— Machado Impetuoso Gram! — anunciou sua arma com orgulho, ao passo que via as metades do adversário espatifando-se na arena. — Isso que é um bom trabalho!

Gram, o princípio da intangibilidade, a arma criada para passar através de qualquer defesa física — até mesmo pela mais resistente das escamas — a lâmina assassina de dragões.

— Eu disse, não foi? — No pódio da batalha, o draconiano firmou um passo adiante e, triunfante, encarou o outro de cima, o qual espumava de ódio pelos olhos e boca ensanguentada. — Aprenda a lição, moleque arrogante.

A-Argh! — Com os órgãos espremidos, Perséfone vomitou sangue sobre o próprio uniforme. A baixa resistência física era a única coisa que a assassina detestava em sua Classe de Batalha. — Hehe! Já tá na hora de acabar com isso de uma vez por todas, não?

Contudo, quando estava para fazer seu lance final, a ressonância alertou o estado crítico em que Dreison se encontrava, coisa pela qual Perséfone não se preocuparia em condições normais.

Ao precisar ser salvo por alguém, era mais fácil aquele cara ficar com raiva do que grato. Mas, já que ele estava partido em dois pedaços e precisaria recorrer aos braços da escuridão para se curar, por que não criar um pequeno teatro?

— Faça o seu trabalho direitinho, brinquedo. — Foi quando o corpo de Carelli parou de ficar se quebrando e pegou a Fúria de Ego com a canhota. — Acaba com ele.

Antes que a guerreira tivesse a oportunidade de falar algo, ela avançou contra o próprio parceiro, pronta para colapsar até o último neurônio presente na cabeça dele.

— Baltazar! — Gritou, chamando a atenção do draconiano que a fitou assustado, não por causa do ataque, mas pelo sorriso torto no rosto da garota. — Sinto muito.

Um a um, os braços e pernas de Carelli foram tomados pela sua Telecinese e forçados a se opor à Marionete de Sangue, o que resultou em uma sequência angustiante de estalos dos ossos sendo quebrados.

Fêmur. Joelhos. Tíbia.

Pernas desabaram.

Braços foram retorcidos.

Uma marionete cujas cordas haviam se rompido encontrava-se incapaz de se mover. Apenas as expressões de dor ainda indicavam se tratar de um ser vivo.

— Carelli… — Correu até a garota, desesperado, para curá-la de alguma forma.

— É inútil. — Perséfone pôde enfim se soltar das amarras telecinéticas e respirar com liberdade. — A Hemofilia ainda está fazendo efeito. E não se esqueça de um detalhe, tá?

De imediato, o corpo da garota caída convulsionou e passou a formar uma grande poça vermelha e viscosa ao redor de si. Carelli engasgou com o próprio sangue, que já não corria em seus vasos sanguíneos, pois os mesmos — derretidos — não existiam mais.

— Meu sangue também pode ser corrosivo, lembra? — Naquele instante, o que havia no interior da garota era o mais puro ácido corroendo-a de dentro para fora. — Quando um brinquedo quebra, você tem que jogar fora.


Continua no Capítulo 149: Brinquedo Quebrado

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