Volume 2 – Arco 6
Capítulo 146: Lágrimas de Sangue
Na sala dos Top Rankings da Academia de Batalha Behemoth, Luminas observava o desenrolar do confronto, com atenção, enquanto repousava sua cabeça calmamente no ombro de seu parceiro.
— A Carelli tem muita sorte — disse, imaginando se ela mesma conseguiria lidar com a velocidade surreal de Perséfone. — A ressonância com o Baltazar tá salvando a pele dela, legal.
— Nem eu consigo acompanhar aquilo direito. — Sirin Strauss, a Top 3 Rank S, sentia-se obrigada a reconhecer a diferença que havia entre ela e Perséfone. — Nem parece que a gente é da mesma Classe de Batalha.
Seu parceiro, Nathan Martin, afagou os cabelos dela e — apesar de não conseguir enxergar com a venda no rosto — ele era capaz de deduzir o nível elevado das habilidades da majin.
Os membros da Classe Assassino tinham a capacidade de reduzir bastante o som de seus movimentos, ainda assim nunca chegava a zero… normalmente.
— Eu sei como se sente. — Ele tinha uma noção de tudo o que estava acontecendo com os outros combatentes, menos com Perséfone. — Pela primeira vez, é como se tivesse alguém invisível pra mim.
— Aí, Lucius, cê acha que seria melhor enfrentar esse pessoal ou aquele nefilim? — Luminas abraçou o braço do parceiro com certo ar de curiosidade, embora já soubesse a resposta.
— Eu quero derrotar aquele cara. — Já não era mais sobre o campeonato, mas pessoal. — O que ele fez com a Alícia… Não pode ficar assim.
Falar na garota que se encontrava ausente naquela sala deixou Esteban, o parceiro dela, com um gosto amargo na boca.
Revoltado, apertou o tecido de sua calça. Mesmo que ela ainda não tivesse oficializado a sua saída da Academia de Batalha Behemoth, Alícia nem mesmo se reunia com eles direito mais.
Era como se sua parceira — praticamente ex — desejasse apagar todos os indícios de que algum dia ela tinha existido ali.
"Injusto." O que mais o irritava era o fato de que a garota com quem ele passou tanto tempo junto nem mesmo dizia o porquê de querer fugir de tudo. “Você só pode tá de brincadeira, Alícia. Por quê?"
As adagas demoníacas começaram a girar rente às palmas da majin, salpicando sangue carmesim para todos os lados, o qual queimava o chão como ácido.
— Vamos, Lágrimas de Sangue — instigando suas armas pelo nome, as arremessou em uma velocidade tão alta que quando Carelli percebeu a ação da oponente as adagas já haviam lhe alcançado — Hora do banquete!
— Huh?! — Atônita, a humana saltou para trás, o que pareceu inútil, uma vez que as Lágrimas de Sangue a seguiram, como discos afiados, cortando suas escamas com um barulho agudo e contínuo. — Sai!
Liberou uma rajada psíquica de seu corpo, que afastou as adagas, então — antes que fosse tarde — desferiu uma onda de choque com o machado, a qual lhe proporcionou um pequeno segundo para analisar seu estado atual.
O peito ardia de dor junto à pele de seu rosto, que soltava um pouco de fumaça após ser tingida pelo sangue ácido da majin.
Foi por pouco tempo, mas as lâminas demoníacas geraram duas fendas nas escamas que revestiam seu busto.
— Ahhh!! — Na base do desespero, e com um giro pesado de seu corpo, a garota soltou uma densa rajada psíquica do seu machado, visando alcançar toda a área ao redor de si. — Apareça logo de uma vez!
Mesmo que não fosse possível enxergar a assassina, era certo que ela ainda estava por lá, apenas se deslocando em alta velocidade pelos pontos cegos da sua oponente.
Nesse caso, aquele ataque em área seria capaz de acertá-la, isso se Perséfone não tivesse sido sagaz e se refugiado próximo a Baltazar e Dreison.
"Que perigo, heim?" A majin chegou a sentir um frio na barriga. Ela sabia muito bem qual era o efeito causado pelas ondas psíquicas do machado Fúria de Ego. "Isso sim é o tesouro de um dragão lendário".
De qualquer forma, Carelli nunca lançaria um ataque daqueles em uma área grande o suficiente para alcançar o parceiro dela; ao menos Perséfone contava com isso.
Baltazar já não era conhecido por ter um dos cérebros mais resistentes; se ele fosse atingido pelas ondas psíquicas da Fúria de Ego, não se levantaria nem tão cedo.
Preparada para o abate, a assassina correu para o lado e desapareceu da visão da oponente, que percebeu apenas uma das Lágrimas de Sangue sendo jogada contra ela.
A adaga colidiu contra o cabo do seu machado; dado o impacto repentino e o roubo de atenção, Carelli perdeu um precioso instante para revidar o corte seguinte.
"Tudo bem, as minhas esca…" Diferente do que a assassina afirmou antes, o alvo do corte não foi as escamas, mas sim o olho esquerdo da guerreira. — Argh!
Dado seu rosto sangrando, Carelli liberou uma potente rajada da Fúria de Ego a fim de afastar a algoz, e então obter uma abertura para criar um Escudo Telecinético ao redor de si.
"Ela me enganou…" Seu olho ardia e latejava; e mesmo que tentasse curá-lo com Energia Espiritual, o sangramento se recusava a parar. "Eu caí feito um patinho".
Ter sido ferida pelas armas de Perséfone significava receber mais do que um simples corte, era o mesmo que receber o sangue dela em seu corpo — o sangue que banhava a lâmina daquelas adagas.
Dentro do Escudo Telecinético, Carelli ficava isolada de fatores externos como sons, clima e atmosfera, mesmo assim — através do som da mente — ela conseguia entender o que era dito pelos lábios da adversária.
Indução à Hemofilia, o efeito que impedia o sangue dela de parar de jorrar pelo seu rosto, o que acabaria por tirá-la de combate por anemia.
— Você tá bem mal — alertou a voz mental da majin ao notar que Carelli começava a ficar com a pele pálida e com um semblante caído. — Como a boa pessoa que sou, vou te dar uma transfusão, ok?
— Não quer…! — A ação do segundo efeito do sangue de Perséfone foi mais rápida do que a voz da garota humana. — Argh!
Agindo como uma espécie de transfusão sanguínea, o sangue de Perséfone se multiplicou nas veias de Carelli e supriu a falta do que se havia perdido.
O problema era que, ao mudar as propriedades do seu sangue, o que a majin transferiu para as veias da outra não era compatível com o tipo sanguíneo dela.
Sentindo calafrios assombrarem toda a sua pele, e a respiração cada vez mais pesada, difícil de respirar, a guerreira abriu mão do grande machado e caiu de joelhos.
Protegida de qualquer fator externo ao seu escudo, mas sentindo que morreria a qualquer instante, Carelli via o desespero tomar conta do seu ser.
Para fechar o pacote de desgraças, Perséfone passou a derramar uma chuva de ataques que colidiu, caótica, contra o Escudo Telecinético, levando-o a trincar em poucos instantes.
– Droga…
— Que merda. — Por mais que Baltazar curasse seus ferimentos, o majin infeliz nunca se cansava de se transportar para as sombras e espetá-lo com a katana demoníaca. — Isso aí é tortura, tá ligado?
O pior era que, naquelas condições, até mesmo fugir para o ar seria inútil, uma vez que a sombra de seu corpo continuaria a ser projetada sobre o solo, um alvo fácil para Dreison.
— Então, quer que eu comece a cortar seus membros logo? — indagou o majin, sem o menor traço de empolgação. Brincar com aquela lagartixa já estava perdendo a graça. — Por onde quer que eu inicie o esquartejamento?
— Hah! Que diferença faz? — Passou uma mão pelos seus cabelos suados. — Mesmo sem braços e pernas, eu nunca deixarei de lutar! — Então, bradou com todo o ar de seus pulmões: — Porque eu sou um guerreiro!
Foi nesse momento que Baltazar sentiu uma pulsação de alerta em seu peito; a ressonância indicava que Carelli corria perigo. Preocupado, dedicou sua atenção a ela.
Perséfone atacava o Escudo Telecinético de uma maneira tão insana que deixava uma quantidade inumerável de pós-imagens, que formavam um domo de ataques a ponto de derrubar a proteção da parceira dele.
Carelli poderia causar um estrago mental em sua oponente, caso usasse a Fúria de Ego dentro de todo o espaço da arena, então porque apanhar tanto de graça?
— Ah, cara, como eu sou burro! — Bateu uma mão na testa ao se dar conta de que a garota estava preocupada com a mente dele. — Tinha que ser culpa minha.
Assumindo a responsabilidade pelo que estava acontecendo, Baltazar bateu seu machado no chão da arena, o qual foi inundado por uma quantidade massiva de plasma escaldante.
— O que pensa está fazendo, idiota?! — reclamou, Dreison, refugiando-se no ar. — Acha que isso vai servir de alguma coisa?
— Bem, eu te tirei do chão. — O que significava que o majin não poderia se refugiar no interior das sombras rapidamente. — Nós vamos todo mundo pra puta que nos pariu!
De cara, tanto Dreison quanto Perséfone entenderam o objetivo do draconiano; a questão era se Carelli estaria disposta a sacrificar o parceiro pela vitória.
— Tudo bem, eu aguento! — A garota bem sabia que ele não aguentaria porra nenhuma. Mesmo assim, Baltazar sorriu e fez um sinal de joinha pra ela. — Manda bala!
Foi aí que, para a surpresa dos majins, Carelli voltou a segurar a Fúria de Ego e — apesar de Perséfone enfim abrir um buraco no escudo dela — uma densa onda psíquica se alastrou pela extensão de todas as dez camadas da barreira de proteção da arena.
Tudo tremeu, e os outros três foram arremessados para longe, caindo como sacos de arroz no chão — parecia que suas mentes tinham simplesmente desligado.
No entanto, adversários do calibre de Perséfone e Dreison nunca cairiam de forma definitiva com tanta facilidade, tanto que Carelli não se surpreendeu ao ver a majin ser a primeira a se levantar.
Com as pernas bambas, cambaleante, ninguém enxergava na assassina a elegância e a graciosidade que antes marcavam seus movimentos impecáveis.
Baltazar foi o próximo a dar sinal de vida, mostrando mais um joinha para a parceira, que só não riu porque o rapaz estava sangrando por todos os orifícios da cabeça: boca, olhos, nariz e ouvidos.
"Sério, por que você é sempre tão irresponsável?" Antes que percebesse um pequeno sorriso nostálgico surgiu em seus lábios. "Meu parceiro idiota".
Continua no Capítulo 147: O Dragão Ganancioso
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