O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 145: Escamas de Dragão

Ahhh! — Acabando de alongar seus braços robustos, Baltazar soltou um brado rouco e fez o chão tremer com o bater de sua cauda dracônica. — Estoou prontoo!

Diferente do grandão, que esbanjava empolgação, os demais combatentes esboçaram feições de vergonha alheia ao vê-lo agir de uma forma tão avacalhada em um momento importante daqueles.

"Essa luta já pode definir o campeão, idiota." Carelli, ao lado do parceiro, escondia o rosto com uma mão; era a que mais sofria por ter que passar tanta vergonha na frente do continente inteiro. "Eu te odeio, Baltazar".

— Relaxa, Carelli. — Colidiu os próprios punhos em frente ao peito, provocando um som rígido com as escamas que revestiam seus dedos. — Ninguém pode zombar do campeão!

Sem dar satisfação a mais ninguém, Baltazar avançou como uma fera selvagem contra o adversário que, apesar de ter uma estatura consideravelmente alta, pareceu uma criança quando o pé do draconiano rachou o solo à sua frente, e ambos ficaram cara a cara.

— Lembra de mim?! —Desferiu um soco de cima para baixo antes mesmo de esperar por uma resposta, pois esta era desnecessária.

— Impossível esquecer alguém tão inconveniente. — Fosse o semblante altivo ou o tom de superioridade, tudo em Dreison Asimorph parecia prepotente ao parar o soco do draconiano com a ponta de um dedo. — Lagartixa.

Independente do quanto forçasse seus músculos protuberantes, Baltazar não conseguia empurrar o dedo do majin um centímetro sequer para trás.

Na verdade, seus braços e pernas nem mesmo se moviam; o que o prendia ali não era a força do seu adversário mas sim sua própria sombra, a qual se encontrava enrolada ao redor do seu corpo como se fosse uma resistente camisa de força.

— Que merda…! — Carelli ia ficar uma fera se ele fosse derrotado pela própria sombra depois de avançar de uma forma tão imprudente quanto àquela.

— Já acabou — proferiu Dreison, enquanto a katana negra e aparentemente desgastada que ele havia usado para intimidar Baltazar no dia anterior se formava em sua mão. — Ser morto por uma arma demoníaca é uma honra indevida para alguém como você.

Ao perceber o risco que o parceiro corria ao ouvir a palavra "morto", Carelli avançou com um grande e pesado machado em mãos; no entanto, para a infelicidade da garota, uma adaga negra passou voando rente ao seu rosto.

— Você aí — disse a garota de cabelos escuros, que se pôs à sua frente enquanto mostrava a segunda adaga demoníaca para ela — nem pense em fugir de mim.

— Sai da minha frente e vai encher o ego daquele seu parceiro idiota. — Vendo que Perséfone franziu a testa ofendida com a provocação, Carelli cutucou a ferida um pouco mais. — Vou te mandar voando daqui, princesinha puxa-saco.

Diferente da sua parceira, Baltazar riu, descontraído, como se não tivesse uma lâmina demoníaca vindo sedenta em sua direção, visando provocar uma triste despedida entre a cabeça e o pescoço dele.

Estridente e metálico, o tilintar da espada do majin ressoou ao colidir contra as escamas dracônicas do pescoço do adversário e, depois de soltar faíscas, ter falhado em eliminá-lo em um único ataque.

Haha! — Vangloriou-se Baltazar. — Tá vendo, Carelli, nem precisa se preocupar!

Tsc! — No fim, nem mesmo uma arma demoníaca era capaz de passar com facilidade pelas resistentes escamas de um dragão. — Verme.

Indignado, porém com tudo sob controle, Dreison apoiou os pés com firmeza e se preparou para desferir um ataque que, com toda certeza, seria eficiente daquela vez.

Jamais aceitaria passar vergonha diante do continente inteiro por causa de um simples draconiano, nada mais do que apenas uma lagartixa mais evoluída do que as outras.

A lâmina de sua espada assumiu um tom obscuro e começou a liberar uma espécie de sombra medonha semelhante a uma fumaça, que subia lentamente aos céus.

— Uma lagartixa um pouco mais resistente que as demais — disse, enquanto seus olhos compartilhavam do desejo sanguinário da lâmina. — Reconheça sua inferioridade e…!

Quando Baltazar abriu a boca, expondo os dentes grandes e afiados — dignos de um carnívoro voraz — Dreison se deu conta da principal habilidade pela qual os dragões eram conhecidos… seu rugido de fogo.

No caso do Top 1 Rank S da Academia de Batalha Absalon, o seu potente Sopro de Plasma; um calor que invadia a casa dos milhões de graus celsius e que — junto à extinção da umidade ambiente — aniquilou a carne do peito de um majin prepotente.

Urgh! — Inclinando-se para a frente, Dreison caiu de joelhos aos pés do adversário imobilizado; cuspiu sangue, apoiando-se no pedaço de ferro, que era sua espada. — Seu… merda…!

Nem era necessário olhar para trás para que o jovem majin chegasse a entender as dimensões do ataque que colocou ele, o mais egocêntrico membro da Academia de Batalha Leviatã, rendido de joelhos.

Em suas costas, o chiado efervescente dos buracos feitos nas dez camadas da barreira de proteção se estendiam até à cúpula espacial que os isolava do meio externo.

— Isso aí, cara! — Bruto como um touro, Baltazar forçou seus músculos monstruosos até quebrar as amarras de suas sombras, imposta pelo adversário. — Agora sim posso me mover com liberdade!

Enquanto suas costelas e pulmão destruído ainda estavam em processo de restauração, Dreison foi obrigado a encarar o draconiano de baixo — mas sem abaixar a cabeça, ele jamais se submeteria a isso.

Orgulhoso de si, Baltazar manifestou um machado tão chamativo quanto o que Carelli usava, uma vez que ambos faziam parte da mesma coleção — espólios do tesouro de uma criatura tão arrogante quanto o majin caído.

Ergueu a arma para o alto, então sua lâmina — repleta de dentes pontiagudos e afiados — desceu com o fulgor de um flash de plasma contra o ombro do adversário que, em um instante, submergiu no solo, ou melhor, na escuridão da sua sombra.

Frustrado, o draconiano teve que se contentar com o estrondo seco e os destroços que saltaram do solo após sua investida. Ele nunca imaginou que logo aquele cara fosse fugir de uma forma tão covarde.

Ah, fala sério — suspirou, desapontado. — Vai ser sem graça, se você ficar correndo, tá ligado?

— Tá se achando demais só porque me arranhou, imbecil. — Sem dar tempo para que o oponente curtisse o momento, Dreison saiu da sombra de Baltazar, nas costas dele. — Você só serve pra encher o saco.

Fincou a espada na sombra do adversário, que de tão grande parecia implorar para que fosse alvo da katana demoníaca de Dreison, a Retalhadora de Sombras.

Urgh! — Esboçando dor pela primeira vez, Baltazar se afastou em um salto quase instintivo, porém, ao aterrissar, sentiu um líquido viscoso escorrer de sua barriga. — Isso aí é roubo, cara.

Todos que assistiam a luta arregalaram os olhos ao ver as intransponíveis escamas do draconiano serem tingidas pelo vermelho vívido do sangue. O único que possuía um olhar altivo era o próprio Dreison Asimorph.

— Entenda o seu lugar… verme.

"É mesmo muito rápida", pensava Carelli, ao passo que via apenas breves vislumbres do que aparentava ser o vulto de Perséfone. — Mas eu consigo lidar com isso.

Logo girou o grande machado em suas mãos, o qual era ornamentado por símbolos que se assemelhavam a conexões neurais, e o levou para trás das costas.

Faíscas voaram junto ao som metálico do encontro de uma das adagas da assassina com o cabo do machado.

— Te peguei! — Carelli apertou o cabo da arma e uma veloz onda de choque varreu tudo entre a lâmina e a adversária… menos a adversária. — Tsc!

— Que peninha, né? — debochou a assassina, enquanto usava de sua velocidade notável e presença quase indetectável para sumir da visão da guerreira. — De nada adianta saber onde eu vou atacar, se você for muito lenta, sabe?

Então, em um piscar de olhos, uma onda de cortes emergiu do lado direito de Carelli, forçando-a a desviar; rebater todos os ataques seria impossível.

Pulou para o lado e defendeu alguns novos cortes que vieram contra seu rosto e pescoço, no entanto suas pernas não tiveram a mesma sorte e foram ambas completamente dilaceradas… ou não.

— Chato. — Parando desanimada, a assassina ficou de pé a uma certa distância e cruzou as adagas atrás da cintura enquanto via as escamas dracônicas formadas nas coxas da adversária. — Você tá devendo uma para o lagartixa ali. Vai ter que pagar direitinho a ele quando voltarem para casa, entendeu?

Não bastava Carelli e Baltazar serem da Classe Guerreiro, o que já proporcionava uma alta resistência física, eles ainda tinham aquelas escamas chatas de cortar.

— Você que quis fazer o Pacto de Ressonância com alguém da mesma raça. — Sem perder tempo, a guerreira lançou outra violenta onda de choque com o machado. — Não me culpe por isso!

Perséfone sumiu, e a investida da guerreira foi ineficaz mais uma vez. Aquela agilidade estava se mostrando mais difícil de lidar do que Carelli esperava.

Graças à sua Habilidade Inata de Telepatia, ela conseguia ter acesso aos pensamentos da assassina e saber de onde os próximos ataques viriam.

Aquela tática já tinha sido efetiva contra tanta gente da Classe Assassino. Por que contra Perséfone tinha que ser diferente? Por que ela tinha de ser tão rápida e ágil?

— Pare de ser presunçosa — disse enquanto aparecia sorrateiramente ao lado da guerreira; tão sútil que nem o ar parecia ser afetado por seus movimentos impecáveis. — E ver se deixa de me comparar com a ralé.

Perséfone ter se revelado e se aproximado tanto de sua oponente, sem preocupação, deixava claro o quanto confiava que poderia escapar com facilidade de qualquer investida da guerreira, e saber disso deixava Carelli irritada.

— Agora vê se presta atenção, parceira do lagartixa. — Conforme a sede de sangue da assassina crescia, seus olhos emitiram um brilho fugaz e suas adagas, antes completamente negras, começaram a pingar um líquido vermelho e viscoso de suas lâminas. — Eu vou te mostrar como é que se corta as escamas de um dragão.


Continua no Capítulo 146: Lágrimas de Sangue

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