O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 144: Senso de Dever

Sentada em uma banqueta de metal acolchoada, de frente para um grande espelho na parede, Petra relaxava ao som do secador de cabelos enquanto seus fios prateados eram cuidados pela maestria das mãos de Raizel.

Um tanto sonolenta, uma vez que mal conseguiu pregar os olhos durante a madrugada, suas pálpebras se fecharam, e os braços relaxaram.

Dada a sensação aconchegante de ter o parceiro cuidando da aparência dela, seria fácil tirar um cochilo ao repousar a cabeça sobre o peito desnudo do nefilim, que, no momento, usava apenas uma calça preta.

— Está quase pronto, senhorita — disse, enquanto prendia uma das seções do cabelo longo dela com uma presilha e se preparava para secar o último conjunto de fios restantes. — Macio, suave e brilhante como sempre foi.

Falava como se não fosse ele o responsável por bagunçar todo o cabelo dela. Ainda assim, de nada se arrependia. Arrumaria quantas vezes fossem necessárias, para que pudesse bagunçá-los no fim.

Com o processo acabado, o secador e o pente nas mãos de Raizel se desfizeram em partículas de luz carmesim tão luminosas quanto o brilho dos fios prateados após a aplicação do creme.

— Obrigada, Rai. — Sondou o próprio reflexo mal acreditando no resultado que era exibido no espelho: aquilo estava bom demais para algo feito apenas com um secador, um pente e um creme. — Ficou lindo.

Como ela poderia estar acompanhada de um cabeleireiro daquele calibre por tanto tempo, e nunca ter usufruído de seus serviços?

Seu parceiro parecia ser excepcionalmente hábil em quase tudo: no campo de batalha, no domínio de instrumentos musicais, no cuidado de cabelos e, especialmente, na cama.

Hehe! — Riu de um jeito inocente e sem maldade, o que deixou o rapaz curioso com a reação repentina. "Só a comida dele que parece veneno mesmo".

Deixou sua cabeça ceder para trás, sobre a parte inferior do peito do parceiro, entregue ao calor corporal que emanava dele e a protegia da frieza matinal, a qual era intensificada pelo banho que os dois tomaram juntos.

"O que te faz pensar que eu vou tomar banho sozinho?" Foi o que o híbrido ardiloso disse quando Petra sugeriu que ele poderia ir na frente para tirar o suor do corpo.

E, como a moça imaginava, ir junto lhe rendeu mais algumas prazerosas e dolorosas marcas de mordidas e chupões, das quais algumas poderiam ser vistas na pele exposta — atraente — de suas coxas e ombros.

O shortinho do pijama era curto e justo, o que colocou Raizel em uma tensa prova de resistência enquanto cuidava do cabelo dela; qualquer deslize, e as mãos dele já não estariam mais no pente ou no secador.

A blusa de alça fina entregava boa parte do pescoço saboroso e evidenciava, de forma cruel, um pouco dos seios, jogando na cara do nefilim que ela ainda estava sem sutiã.

— Eu ficaria feliz se você cuidasse mais vezes do meu cabelo — disse enquanto sentia a maciez e suavidade dos fios escorrerem por entre seus dedos como as águas de uma cachoeira platinada. — Se não for incômodo…

— Não é. — Inclinou-se para a frente e, quando Petra direcionou o rosto para cima, depositou um beijo molhado em seus lábios. — Mas saiba que nunca trabalho de graça.

— Nem pra mim? — pediu com jeitinho.

— Principalmente pra você. — E já tinha em mente cada uma das formas peculiares pelas quais exigiria o pagamento.

Intensificou o abraço na parceira, que, em resposta, acabou por franzir as feições e grunhir de dor. Ao notar a reação da moça, Raizel afrouxou seus braços e fitou a garota com mais atenção.

— Já tá na hora de curar isso.

Como um bom nefilim, as mordidas dele machucavam bastante, muito além do que uma pessoa comum conseguiria suportar.

Ver Petra manter as marcas em seu corpo — sabendo que aquilo a incomodaria bastante durante o dia — o fazia pensar se ela tinha desenvolvido algum fetiche estranho.

— É uma forma de lembrança — lembrou a moça, juntando as mãos entre as coxas pálidas e observando uma das mordidas; refletiu sobre o momento em que os dentes de Raizel foram cravados, sedentos, ali. — Uma memória da nossa primeira noite.

— Nós temos uma luta pra vencer ainda esta manhã. É importante que você esteja bem até lá. — A garota assentiu com a cabeça, embora um pouco deprimida. — Não fique assim, senhorita. Essa cara triste não combina com você.

Huh? — Voltou a erguer o rosto em direção ao dele, deparando-se com um semblante de afetuosidade genuína.

Chegava a ser impressionante como os olhos safados que a devoravam com perversão durante a noite eram os mesmos que a encaravam com carinho e ternura pela manhã.

— Eu te amo, Rai — soltou as palavras sem pensar, presa no encanto das íris escarlates do parceiro, que pareceu ter sido pego com a guarda baixa pela declaração dela. — Hehe!

Petra sorriu com naturalidade, formando uma curvatura cativante em seus lábios róseos que aumentava, em Raizel, a vontade de ignorar a luta do campeonato para passar o restante do dia com ela no quarto.

Mas nem tudo era tão simples. Petra queria provar sua posição como Top 1 Rank S para as Academias, mostrar que não seria apenas um fardo que o parceiro teria que carregar.

Embora Raizel não desse tanta importância para a opinião pública — tão pouco achasse Petra um peso — se esse era o objetivo dela, então a ajudaria a provar seu potencial para aquele planeta inteiro, se necessário.

— Eu vou preparar algo pra gente comer. — Levantou-se da banqueta e se preparou para ir até a cozinha. Embora o namorado não precisasse repor energia, ela, por outro lado, estava exausta. — Te espero lá, tá?

Petra acenou e se virou para sair, proporcionando uma visão completa do shortinho colado que marcava a sinuosidade das curvas acentuadas de sua bunda.

Os quadris largos em contraste com a cintura fina — que Raizel segurou… apertou… beijou… mordeu… — eram uma combinação capaz de levar qualquer um à loucura.

Vestida assim, perto dele, fazia parecer que Petra desconhecia o risco que corria; mas ela deveria saber muito bem, afinal, provou a intensidade do Fruto da Luxúria em primeira mão.

"Provocando? Sensualizando?" O rapaz riu baixo ao cogitar a ideia. Aquele tipo de comportamento não era do feitio da namorada. "Talvez seja melhor que ela continue do jeito que é".

Caso chegasse o dia em que Petra o provocasse com sensualidade, Raizel temia que seria esse o momento em que perderia o mínimo de controle que ainda tinha sobre si.

Tateou o próprio cabelo que, diferente do da garota, ainda estava bagunçado e levemente úmido. No entanto, o que chamou o trabalho de suas mãos, foi a camisa social jogada sobre os lençóis bagunçados da cama.

Pegou-a e, sem preocupação, deixou os traços do aroma quase inexistente do perfume doce da parceira misturado, ao seu suor, entorpecer o olfato aguçado dele.

Ha… — Sua visão se prendeu na parte de baixo do tecido branco, onde uma mancha rígida se fazia presente como um registro histórico. — Foi lindo de se ver.

Junto às meias ⅞, a camisa dele foi tudo o que Petra usou durante a maior parte da madrugada — nua só de meias, uma visão deslumbrante, de todos os ângulos.

Raizel limpou sua mente dos pensamentos levianos que por ali rondavam e passou a arrumar a cama antes que cedesse à vontade de se divertir com a garota na cozinha e esquecesse do campeonato.

Quase em cima da hora para o início da quinta e penúltima luta do Campeonato Sojourner, a qual poderia muito bem já definir a Academia campeã, Raizel e Petra foram os últimos a chegarem na sala dos Top Rankings da Academia de Batalha Ziz.

Lá estavam todos os seus amigos, incluindo duas pessoas que se fizeram ausentes durante os confrontos do terceiro dia: Andrew e Valentina; a garota, em especial, tremeu quando viu a amiga chegar.

— Tina! — Sem perceber a tensão da amiga, a primeira coisa que Petra fez foi dar um abraço apertado nela antes de ser, então, repreendida pelo olhar invejoso de uma certa moça de cabelo rosa curto. — Oi pra você também, Eirin.

Rum! — Fez biquinho e virou o rosto para o outro lado, fingindo certa indignação por não ser a primeira a ser cumprimentada. — Depois que não precisa mais dos meus conselhos, nem olha pra mim.

— Sério, desculpa. — Petra abriu um braço e convidou-a para fechar o abraço com Valentina, o que Eirin aceitou assim que viu as expressões descontentes de Raizel.

— Tá bom, tá bom! — Aquele nefilim chato não precisava ficar sério só porque ela tinha provocado um tiquinho a namorada dele. — Eu só tava brincando, poxa.

Abraço encerrado, Eirin voltou a se sentar na poltrona ao lado de Klaus, tendo Sophie e Trevor como vizinhos. A loira, curiosa, foi quem puxou conversa, em um sussurro.

— "Conselhos"? — Estava por fora do assunto das fontes termais, uma vez que se fez ausente servindo de modelo para um quadro novo do parceiro. — Que conselhos?

— É o que acontece quando se troca "a noite das meninas" pra ficar de namorico. — Eirin mandou na lata, deixando o casal recém-formado totalmente sem jeito. — Mas depois eu te conto. Relaxa.

Por falar em casais recém-formados, Andrew sondou os pares presentes na sala: aqueles três duos estavam namorando, e os casais sempre ficavam lado a lado.

A questão primordial era que quem estava sentada ao lado dele era Valentina. Os dois eram os únicos que não tinham assumido nenhum tipo de relacionamento romântico.

De forma involuntária, desviou o olhar para a parceira, que logo compreendeu a intenção por trás daqueles olhos e escondeu o rosto, constrangida.

"Não brinca comigo assim, Andrew." Se sentia agradecida por manter o cabelo longo, ao menos assim conseguia cobrir as orelhas, que estavam vermelhas de tanta vergonha.

Por sua vez, quem conseguiu esboçar um sorrisinho ao vislumbrar as feições de poucos amigos de Raizel foi Klaus, que apoiou um braço em sua poltrona e quase verbalizou o que pensava.

"Só de olhar pra essa cara de cu, já dá pra ver que ele queria ter ficado em casa com a Petra." Por pouco seu sorriso não se transformou em uma gargalhada descarada. "Você tinha que se ver em um espelho agora, mestre louco".

O próprio Klaus tinha ciência de que Raizel nunca teve interesse em participar da competição. Ele só estava ali por causa do seu senso de dever como Top Ranking da Academia de Batalha Ziz.

O nefilim em questão, por outro lado, encarava a tela de transmissão, a qual exibia uma redoma espacial esférica em volta da arena de combate, criada para aumentar o grau de segurança para o ambiente externo.

A justificativa para a alteração era de que "se na luta dos Top 2 Rank S, Trevor furou todas as dez camadas da barreira de proteção, e sem dificuldade alguma, algo precisava ser feito para as próximas lutas".

"Estranho". Naquelas condições, os Top 1 Rank S poderiam se digladiar ao máximo. Porém, fazer isso enquanto uma possível invasão da Organização Perpetuum se mostrava iminente, era muito estranho. "Que merda se passava pela cabeça desses diretores?"


Continua no Capítulo 145: Escamas de Dragão

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