Volume 2 – Arco 6
Capítulo 141: Conselhos Termais
— Ahhh… — Soltando um suspiro de alívio, Eirin deixou seu corpo submergir nos braços envolventes e abrasadores das águas termais. — Eu poderia ficar a noite toda.
Sozinha com Petra nos domínios das termas, Eirin deslumbrava a gloriosa lua a iluminar a silhueta de seus corpos desnudos imersos lado a lado até a altura dos seios.
A diferença de personalidade entre as duas era notável: com os cabelos longos presos em um coque, Petra parecia um tanto tímida e desconfortável por estar vestindo nada em um ambiente a céu aberto, já a outra…
— Relaxa, essas águas são exclusividade nossa pelo resto da noite. — Até porque Eirin teve a brilhante ideia de alugar o local inteiro. — Ou você preferiria que um certo alguém estivesse aqui no meu lugar? Hehe!
Petra viu seus olhos se arregalarem no reflexo turvo das águas, que se ondularam com a tremidinha que seu corpo deu. A questão era que, de certa forma, Eirin não estava tão errada assim.
Bem mais relaxada, a garota de cabelos curtos se entregava à sensação de leveza que se espalhava sob sua pele, o que causava uma certa inveja inofensiva na companheira.
Petra gostaria de possuir um senso de liberdade e descontração tão acentuado quanto o de Eirin, principalmente quando se tratava de estar a sós com seu parceiro.
— Então, você não progrediu com o Raizel, né? — Atingida no ponto central do encontro entre as duas, a garota de coque prendeu a respiração e abraçou os próprios joelhos, retraída em corpo e mente. — É sobre isso que você queria conversar comigo. Estou certa?
— Era… — sussurrou; e pelo tom da resposta, Eirin já conseguia imaginar o restante do contexto. — E parece que o problema tá em mim.
"É, foi o que eu pensei mesmo." Apesar de não ser tão tímida quanto a amiga ao lado, ela ainda podia se lembrar do nervosismo que sentiu durante sua primeira vez com Klaus. — Vai. Pode desabafar comigo. Conselheira Eirin tá aqui pra te ouvir!
Naquela época, ela não tinha ninguém com quem pudesse conversar, já que toda a sua família havia morrido, e ela tinha poucas companhias na Academia de Batalha.
Mas agora era diferente, em suas mãos estava a grande tarefa de dar suporte a uma das suas principais amigas; e ela não falharia em sua missão.
— Mas, e aí, até onde vocês já foram? — Inclinou-se na direção de Petra e ficou com os ouvidos atentos a cada palavra. "Conta, conta".
— Ele já me viu assim — disse, enquanto vislumbrava a silhueta embaçada de seu corpo nu sob a ondulação das águas esverdeadas. — Quase rolou.
— "Quase"? Como assim? — Dada a aparente personalidade de Petra, Eirin esperava que os dois estivessem indo bem devagarinho, a ritmo de tartaruga. Mas eles chegaram a um “quase”? — O que aconteceu?
— Eu amarelei. — Abaixou o rosto, desesperançosa. — E eu não sei como as coisas vão ficar se eu estragar tudo de novo.
No entanto, antes que recebesse alguma resposta de Eirin, o som de passos molhados se aproximando fez o coração de Petra pular uma batida, de susto.
Se já estava difícil se abrir estando sozinho com a amiga, quem diria com outra pessoa junto a elas? Além disso, Eirin tinha falado que ela alugou as termas, então quem estaria ali?
— Desculpa pelo atraso, mestra. — A voz da recém-chegada vacilou no momento em que reconheceu a garota que acompanhava aquela que a convidou. — Petra…?
— Tina! — Um sorriso feliz se formou nos lábios da garota que estava abatida até poucos instantes atrás. — Que bom te ver bem.
— Aí, gostaram da surpresa? Hehe! — Marota, a orquestradora da reunião sentia-se realizada ao executar seu plano com maestria. — Tira essa toalha aí e se junta a gente aqui, ó minha pupila!
E assim Valentina se despediu da toalhinha, deixando-a num suporte, ao lado das pertencentes a suas companheiras, e entrou na água — logo ao lado de Petra.
— Oi — disse, com um semblante menos radiante do que a amiga de infância conseguia se lembrar. — Você tá bem?
Apesar da felicidade momentânea de rever Valentina, o pesar nas feições de Petra ainda estava lá. Foi então que a orquestradora de tudo tratou de explicar a situação para a recém-chegada.
— Pe-Peraí! — Valentina quase teve um treco ao saber que estavam ali por causa da primeira vez da amiga; ela tinha visto aquela menina crescer. — É-É sério?
— Que conselhos cê tem pra gente, minha pupila? — Fez a pergunta já querendo deixar Valentina sem jeito, e teve sucesso, uma vez que Eirin já sabia que ela também era virgem.
Petra também pareceu se divertir um pouco com a situação, na verdade, desde que Valentina havia chegado, ela se mostrou bem mais confortável e relaxada para falar sobre o sexo.
— É que, bem, tipo… — Enquanto a recém-chegadoa se embolava toda em suas palavras, Eirin se esgueirou por trás dela e deu um bote em suas costas, agarrando-a pela cintura. — Me-Mestra?!
Os braços de Eirin eram bem mais finos e curtos em relação aos de Andrew; eram macios e suaves — Valentina conseguia afirmar isso — perdiam apenas para a maciez do toque sutil dos seios que acariciavam suas costas.
— Eu até diria pra você relaxar e só seguir o fluxo da coisa — disse, não para a pupila em seus braços, mas para Petra. — Mas a verdade é que você vai acabar ficando meio nervosa mesmo. Eu também fiquei.
As outras duas olharam para ela com o que poderia ser dúvidas, surpresa ou uma mistura de ambos. Elas podiam imaginar Eirin em diversas situações, menos naquela.
— Que foi? Eu também sinto um tiquinho de vergonha às vezes, sabiam? — Apertou o abraço por trás de Valentina e mostrou a língua para Petra. — E eu ainda era bem jovem naquela época.
De fato, apesar da aparência, tanto os nefilins quanto suas parceiras já tinham vivido muito mais do que as aparências sugeriam, e tocar nesse assunto fez Valentina receber uma pontada de tristeza no peito.
— Mas você tem que se preocupar com isso agora? — disse, tentando esconder a dor que sentia, mas ainda com o desejo de ajudar sua amiga. — Assim, é que, tipo, vocês estão namorando tem só uma semana, né?
— Hehe! — Petra colocou uma mão atrás da cabeça, pensando em como contar aquilo sem que parecesse meio safada para as outras duas. — Quando eu comecei a pensar em sexo com o Rai, a gente nem tava namorando ainda, sabe?
— Pe-Petra?! — Espantou-se Valentina, quase dando um salto para fora da água.
O que aconteceu com aquela garotinha tímida, frágil e insegura que ela viu chorar porque se sujou de lama, que soltou berros após ralar os joelhos em uma queda e não sabia nem beijar quando chegou na Academia de Batalha?
— Acontece que meio que dá um medo pensar que eu posso não satisfazer o Rai, ou que não sou tão boa assim. — Principalmente quando a experiência dele com a antiga namorada lhe vinha à mente. — Eu sou uma boba por pensar assim, né?
Então, por causa do medo de errar, ela acabava por nem tentar? Pensar sobre isso fez Eirin repousar o rosto sobre o ombro molhado de Valentina e ficar ali por um momento, reflexiva.
— Olha, não é querendo dar uma de coach não, mas o medo de errar já enterrou mais sonhos do que muitas tentativas fracassadas.
— Aquele Raizel também sabe que é a sua primeira vez, né? — emendou Valentina. — E ele parece gostar mesmo de você; não acho que ele vai te achar insuficiente ou ruim.
Em silêncio, Petra fitou as companheiras e ficou feliz por ter tido aquelas pessoas em sua vida. Muitas coisas perturbavam a mente dela: Alícia, Ophelia, a posição de Top 1 Rank S… e a sua primeira vez com Raizel; mas, em meio a tudo isso, ela sabia que nunca esteve sozinha.
— Obrigada. — Agradecida, levantou-se, dessa vez sem tanta vergonha de ficar sem roupa a céu aberto, o que rendeu uma vista deslumbrante para as outras duas. — Tudo bem se eu já for pra casa?
— Vai lá! — Incitou Eirin. — E se aquele desgraçado não ficar satisfeito com um mulherão desses, eu dou um tapa na cara nele!
Todas as garotas, em especial Petra, deram boas risadas enquanto ela saía das termas e pegava a toalha para ir embora, deixando Eirin e Valentina com a exclusividade de todo o lugar para elas.
Ainda abraçada à sua pupila, a Princesa do Gelo contemplou a lua com uma sensação de dever cumprido, ao menos um dos deveres que ela havia tomado para si naquela noite.
Com dedos ardilosos e travessos, fez cócegas na barriga de Valentina, o que levou ela a se contorcer de forma desajeitada dentro das águas e se afastar em meio a risos forçados.
— Me-Mestra, o que deu em vo…? — Ao contrário do que a moça esperava encontrar, Eirin estava com expressões fechadas e sérias, algo um tanto incomum para ela.
— Eu que pergunto: o que deu em você, Valentina? — Era hora de clarear uma coisa que a estava incomodando já havia um tempo. — Do nada, você começou a evitar contato com a Petra, e ainda achou que eu não ia perceber?
A ideia de que a melhor amiga daquela garota havia se afastado justo no momento em que ela mais precisava de alguém para conversar — para ouvir algumas palavras positivas — só piorava o cenário geral, então por quê? Por que sua pupila tinha se afastado logo naquele momento?
E a resposta veio… veio acompanhada de uma voz embargada e olhos que começaram a se encher de lágrimas; apesar de já ter derramado tantas nos últimos dias, Valentina ainda era capaz de conseguir chorar mais.
— Você não entende. — A própria Eirin havia cutucado as suas feridas poucos minutos atrás e, agora, insistia em enfiar o dedo lá dentro e mexer com força. — Todos vocês só envelhecem até os vinte anos, você mesma disse isso.
"Então era… isso?" Valentina e Andrew não possuíam Pacto de Ressonância com nenhum nefilim, o que significava que teriam o tempo de vida igual ao de qualquer outro humano.
Claro, os nefilins e suas pactuantes não morreriam em decorrência do tempo, mas nada os impedia de serem assassinados dentro de um portal; eles só continuavam vivos porque eram muito fortes.
Ainda assim…
— Você, a Sophie, o Trevor, o Klaus, o Raizel, a Petra… vai tá todo mundo vivo, então por que…? — Esfregava os olhos com as costas das mãos, deixando-as mais úmidas pelas lágrimas do que pela água das termas. — Por que só eu tenho que morrer?
Foi quando Eirin a abraçou, e lhe entregou um ombro amigo para a consolar, que Valentina sentiu uma parcela de aconchego e alento, um remédio para suas feridas.
— Desculpa. Eu não sabia que era isso, tá? — Uma dose de culpa invadiu o coração de Eirin, junto a uma certa quantidade de pena. Não havia nada que pudesse ser feito para evitar o futuro iminente.
— Eu só queria que ficássemos juntas até o fim. — Compartilhar suas conquistas. Criar memórias alegres. Se apoiar nas horas difíceis. — É pedir demais?
— Pode ser complicado, mas não deixe isso impedir os momentos felizes que você pode construir ao lado da Petra, tá? — Valentina mordeu os lábios trêmulos, tentando segurar e engolir o choro que se recusava a parar. — Você percebeu também, né?
A garota fez que sim com um balançar lento de cabeça no ombro da companheira; apesar de Petra ter pedido ajuda a Eirin, foi quando Valentina chegou que ela se sentiu mais à vontade para falar sobre como se sentia.
— Tava na cara que era com você que ela queria se abrir. — Fez um carinho delicado na nuca de Valentina, o que parecia que teria que durar por um bom tempo até a moça se acalmar. — Afinal, você é, e sempre será, a melhor amiga dela.
Continua no Capítulo 142: Meu Desejo Pecaminoso
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