O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 134: O Meu Para Sempre

— Ai! Que dor do diacho. — Deitada em sua cama na enfermaria, Vínia lamentava com uma mão na cabeça, a qual latejava sem lhe dar um segundo de paz. — Alguém me traz um dipirona.

Logo ao lado, Grete escutava calada e tristonha. Considerando o rumo que a luta tinha tomado, seria bem difícil fazer algo contra o Trevor naquele estado.

Ainda assim, era sofrível ter que carregar o peso de ser a primeira pessoa a declarar desistência no meio de um confronto do Campeonato Sojourner.

Ah… — suspirou com pesar e abraçou os joelhos enfaixados, deixando-os próximo ao peito, praticamente em posição fetal. — Eu sinto muito.

— Você tem pedido desculpa com muita frequência, sabia? — Virou-se para a parceira desolada, e a cabeça latejou de novo; aquele nefilim sabia como bater forte quando queria. — Se eu soubesse que ia dar nisso, não teria pedido pra você usar aquela técnica lá.

— N-Não é isso. Eu só… — Hesitante, enfiou o rosto entre os joelhos, como se buscasse fugir do mundo real. — Você acha que eu fui muito cruel ao fazer ele viver algo tão ruim?

— Eu nem faço ideia do que ele passou lá dentro — disse enquanto se levantava de sua cama e se dirigia até a da parceira. — Mas, tipo, você… uma pessoa cruel? Nem fudendo.

Sentou-se ao lado de Grete e, apesar do espaço ser um pouco apertado para duas pessoas, tomou metade da cama para ela.

— Se você tá triste, então pode me abraçar, tá bom? — Antes que a outra tivesse a chance de tomar qualquer atitude, Vínia a puxou e a acolheu em seus braços. — Você continua uma gracinha, Grete.

— É… É mesmo? — A voz chorosa saiu abafada, quase inaudível, mas com força suficiente para que a outra escutasse.

— Sim, a minha gracinha.

As duas passaram algum tempo assim: Grete repousando sobre o peito de sua parceira, como se esse fosse o seu travesseiro natural — o seu favorito.

Vínia, por sua vez, descansava o rosto próximo aos cabelos de Grete, sentindo o cheirinho dela reduzir sua dor de cabeça; relaxava de tal forma que cairia no sono a qualquer momento.

Foi então que um certo alguém resolveu dar as caras e fazer uma pequena visita às companheiras caídas no campo de batalha.

— Eita! Eu tô atrapalhando alguma coisa? — disse Carelli, a Top 1 Rank S da Academia de Batalha Absalon. Quando viu as duas naquela posição, levou uma mãozinha boba até a frente dos lábios, e disse com um sorrisinho sacana: — Tavam de sapecagem, né?

Grete tentou gesticular algo com as mãos para desfazer o mal-entendido criado pela mente fértil da visitante, o que não funcionou direito, já que Vínia não quis colaborar.

— Aí você chegou e atrapalhou tudo. — Com um balançar de mão, apontou para a porta de saída, como se espantasse um cachorro. — Vai embora, vai.

— Vínia…

Ehh… — Aproximando-se mais das garotas, Carelli cruzou os braços atrás das costas e se inclinou para frente. — Assim eu fico até ofendida.

Corrigindo sua postura, a visitante assumiu uma posição mais séria e conferiu se as duas se encontravam em condições estáveis de saúde e se sentiu mais aliviada.

— Vocês se saíram muito bem. — Só era uma pena terem caído justo contra aqueles dois. Trevor e Sophie, com uma combinação de tempo e espaço, mostraram ser o duo mais problemático entre os Top 2 Rank S. — Agora podem deixar tudo por nossa conta.

acha que dá pra gente vencer isso ainda? — Vínia observou Carelli reproduzir a imagem do placar com a energia do anel de ressonância dela. — Tá osso.

Como as lutas dos Top 1 Rank S valeriam 4 pontos, a Academia Absalon ainda poderia chegar a um total de 6 pontos caso derrotasse a líder atual: a Academia Leviatã, o lar dos majins.

Ainda teriam que torcer para que a Academia Ziz não vencesse os tenjins da Behemoth, ou eles alcançariam 7 pontos e assumiriam o troféu do Campeonato Sojourner.

— Pelo visto, esse pessoal aí da Academia Behemoth já era, heim? — Com uma derrota e um empate acumulados, vencer a próxima luta serviria apenas para fugir da lanterninha da competição. — É, boa sorte aí pra você e o Baltazar. Agora eu só quero descansar, pode ser?

Haha! Verdade. — De costas para as companheiras, Carelli deu um pequeno aceno com as costas das mãos. — Eu tenho que fazer aquele idiota do Baltazar trabalhar direitinho.

Saiu, deixando apenas as outras duas sozinhas no espaço apertado daquela cama de enfermaria. Apesar da checagem de Carelli ter atrapalhado o momento de repouso, ela acabou por dar uma ideia para Vínia.

— "Sapecagem", né? — Encarou a parceira, com um tom sugestivo no olhar. — Hehehe!

— O-Oi?! — Grete pensou ter ouvido errado. Alguém do corpo médico poderia aparecer a qualquer instante e pegar as duas no ato. — A-Aqui?!

Por suas adversárias não possuírem Habilidades Inatas focadas em potencial destrutivo — Medo e Ilusão — e por Trevor e Sophie possuírem técnicas que os permitiam se curar rapidamente ou até mesmo evitar danos físicos, os dois passariam muito pouco tempo na enfermaria.

Mesmo assim, o rapaz não dava indícios de que iria se retirar tão cedo. Como aquela tinha sido a última luta do dia, eles poderiam ir direto para casa; mas Trevor, depois do que viu, ainda conseguiria pisar na sua residência e passar pela porta daquele quarto?

"Maldição…" Mordeu os lábios e levou as mãos até o rosto, frustrado consigo mesmo. "É tudo culpa minha… Se eu… Se eu…"

— Tudo bem, Trevor? — indagou a moça que, mesmo já podendo ir embora, fazia questão de esperá-lo. — Se você quiser conversar um pouco sobre o que viu, eu…

— Não — cortou a fala dela no seco. — Eu não quero falar… Não quero lembrar daquela desgraça!

Sophie calou-se em seu canto. Vê o parceiro naquele estado e não poder mover um dedo para ajudá-lo, principalmente quando o próprio recusava a ajuda, a fazia naufragar em um mar de impotência.

Mas, por alguma razão, Trevor se levantou na base do impulso e — com movimentos meio travados — caminhou até a cama dela, onde caiu de joelhos.

— Trevor! — Preocupada de que houvesse sequelas de algum dano cerebral em seu parceiro, Sophie se levantou para auxiliá-lo. — Fala alguma coisa, Trevor.

Sem respostas.

Ela já estava para gritar pela ajuda de alguma enfermeira, quando o rapaz a abraçou pelo pescoço e — com ambos de joelhos no chão — ele desabou em soluços e lágrimas.

A ansiedade espremia seu peito, dilacerava o coração e a mente sem dó. Como um carrasco levando-o para a execução, Trevor se sentia atormentado pelo fantasma de um futuro que ainda não tinha chegado; mas que podia se concretizar.

— Eu gosto… — sussurrou com a voz embargada pelo gosto amargo das lágrimas que escorriam até seus lábios, o que tornou difícil para Sophie entender o que ele disse. — Eu gosto de você!

Assustada pelo grito, e muito mais pela declaração de Trevor, a moça esbugalhou os olhos e perdeu a voz. Era até complicado para Sophie acreditar no que seus ouvidos escutavam. Ele falava "gostar" no sentido que ela estava pensando?

Foi quando Trevor soltou sei pescoço e a encarou com os olhos molhados, o que fez Sophie constatar que sim… Sim, ele estava colocando todos os sentimentos contidos em seu peito para fora.

— Eu… Eu… — Declarar aquilo estava sendo mais difícil e embaraçoso do que ele pensou durante todo o tempo em que passou ao lado dela.

Se Sophie o achasse um covarde por esconder seus sentimentos por tanto tempo, como as coisas ficariam entre eles?

Ela ainda continuaria como sua duo? Ou seria melhor voltar atrás e dizer que o "gostar" era em um sentido mais simples?

"Não, caralho!" O medo batia forte, mas a ideia de que alguém com menos amor e mais coragem tomasse o coração dela o maltratava ainda mais.

— Sophie, eu…

— Eu te amo. — Talvez fosse um tanto injusto roubar as palavras que seu parceiro se esforçava para falar, mas Sophie também queria seguir o exemplo dele e despejar todos os seus sentimentos para fora. — De todo o meu coração, eu te amo, Trevor.

Caído ali, sentindo o chão frio da enfermaria, um nefilim perdeu o ar que respirava enquanto via os olhos esmeraldinos de Sophie ficarem úmidos como os dele.

Ela sorriu, sem jeito. Mesmo com a visão parcialmente embaçada, Trevor se sentiu cativado pelas bochechas rosadas da moça à sua frente.

Era notável o quanto ela também se sentia embaraçada por expor o que estava guardado no mais profundo do seu coração, no seu lugar mais secreto.

— Mais do que alguns momentos especiais — disse, com aquele sorriso que só ela era capaz de esboçar; a mais linda e cativante obra de arte que Trevor desejava pintar — com você, Trevor, eu quero dividir o meu para sempre.

Vendo que o rapaz se manteve calado após ouvir seu romantismo, Sophie desviou o olhar um pouco mais para baixo e começou a bagunçar uma mecha de seu cabelo dourado.

O silêncio era perturbador; aquilo fazia parecer que ela exagerou com o "para sempre". Naquela hora, tudo o que Sophie queria era que a estátua de Trevor falasse alguma coisa.

Porém, o que ela recebeu foi um toque na sua mão que estava bagunçando o cabelo. Era possível perceber o tremor na palma do seu parceiro, mesmo assim ele se aproximou mais, bem devagar.

Sophie gelou ao notar como seus rostos estavam próximos um do outro; nunca, exceto no ritual do Pacto de Ressonância, eles tinham feito aquilo. Até mesmo naquele dia foi difícil para os dois conseguirem.

Seus lábios se encontraram de novo após tanto tempo, dessa vez sem o gosto amargo do sangue — que o pacto exigia — sem a obrigação processual, sem nada mais do que seus desejos genuínos.

Um beijo simples e lento, que consistia em uma reunião tímida e um tanto desajeitada de lábios, com as mãos unidas.

Um beijo singelo em todos os sentidos. Um beijo tímido que carregava o desejo e os sentimentos de dois corações.


Continua no Capítulo 135: Cobaia 616

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