Volume 2 – Arco 5
Capítulo 133: O Fruto da Covardia
Mudando de adversária, Trevor focou todo o sentimento ardente que queimava dentro de si na causadora da Ilusão do Medo Profundo: Grete.
Aquela que o próprio pediu para que Sophie curasse há pouco, agora, estava marcada para o abate, destinada a sucumbir por suas mãos.
Teletransportou-se para as costas da garota e, então, desferiu um corte bruto, que fatiou tudo o que se encontrava no caminho em uma distorção violenta.
Por pouco, Grete escapou, deixando apenas uma imagem ilusória para trás — a qual foi facilmente apagada pelo ataque do nefilim.
— Tsc! — Trevor cerrou os dentes, indignado. — Já vou avisando que, contra mim, é uma péssima ideia se esconder atrás de ilusões.
Por mais que ele dissesse aquilo, a moça sabia que seria ruim se mostrar naquela hora; por causa do vórtex espacial de antes, ela tinha perdido um braço, o que a forçava a usar apenas uma de suas adagas.
— Se é assim que deseja jogar — disse enquanto estendia o braço esquerdo para o lado e fazia o espaço tremular dentro da arena — então eu vou apenas espremer tudo aqui até que não sobre mais nada.
"Hã?" Aquilo seria loucura; até a parceira dele seria engolida naquela catástrofe. "Ele… Ele não faria isso, certo?"
Trevor conseguiria vencer, mas a que custo? Grete não estava a fim de saber. Quando viu aquele cara pela primeira vez, ele parecia ser uma boa pessoa; mas, naquele momento, ele só transmitia sensações ruins.
Talvez fosse realmente culpa dela. Talvez ela merecesse alguma punição por ter pagado o bem com o mal. Encurralada, desfez a Camuflagem Ilusória e se preparou para o que viria a seguir.
— Eu sinto mui… — Pouco a fim de ouvir o que ela tinha a dizer, o adversário atacou assim que a moça ficou visível.
Em um instante, o corte de Trevor se dividiu em vários através do tecido do espaço, atacando Grete de todas as direções.
Mesmo com a agilidade da Classe Assassino, defender-se de tantos ataques simultâneos — tendo um braço em falta — foi simplesmente impossível.
Cortada em diversas partes de seu corpo, a garota mal conseguia se manter de pé. O sangue vermelho e viscoso manchava sua pele e uniforme, tornando o tecido úmido e pegajoso.
Com suspiros pesados, ela inalou o forte e amargo odor da imundície que suas roupas haviam se tornado; e, quando Trevor caminhou lentamente em sua direção, Grete teve certeza de que ele a odiava do fundo da alma.
"Por quê? Por que não tá funcionando mais?!" Enquanto fazia o possível para rebater ou esquivar das flechas incessantes de Sophie, Vínia explodiu de raiva. — Por que você consegue me olhar?!
Firmou a base dos pés e, mesmo que significasse ser ferida pelas flechas no processo, arremessou a lança contra o peito da adversária.
Porém, foi nesse momento em que ela entendeu o problema: mesmo que tenha acertado a arqueira, a arma foi incapaz de perfurar a pele dela.
— Isso vai ser meio complicado depois que a luta acabar — disse Sophie, enquanto Vínia corria, saltava e fazia acrobacias para escapar das flechas, até que a lança voltou para a mão dela. — Então essa é a verdadeira forma do Bicho Papão… Bem peculiar.
"Então foi isso…" praguejou, pondo-se totalmente na defensiva "Retenção Temporal".
Sem perder um milésimo de segundo, Sophie aproveitou que o efeito do medo havia enfraquecido no instante em que ela despertou; então, com a Reversão Temporal, retornou o próprio corpo a um ponto em que ele se encontrava estável.
Mas, só isso não resolveria o problema de encarar o Bicho Papão; para evitar que o medo retornasse, ela paralisou o estado do seu corpo, assim tornando-o imune a efeitos negativos e danos.
Porém, a Retenção Temporal pagava um certo preço, o qual poderia ser bem alto: ao desativar a técnica, todo o dano e efeitos negativos seriam desencadeados de uma só vez.
— Então tudo o que preciso fazer é te forçar a desativar essa técnica, né?! — esbravejou, avançando com tudo o que tinha, mesmo que fosse arriscado. — Eu vou te bater tanto que você não vai mais conseguir ficar de pé!
Por alguma razão, Sophie parou de disparar as flechas nela e focou em vários pontos aleatórios, o que deixou Vínia confusa.
"Tudo bem." Sorridente, percorreu o caminho livre de obstáculos. — Valeuzinho!
Infelizmente, o movimento da lança travou à distância de um mísero fio de cabelo de perfurar a garganta da adversária.
— Que diacho! — O pior estava apenas por vir. — Heim? — Quando percebeu, seu corpo também tinha sido paralisado, embora a mente continuasse consciente do evento.
Da mesma forma, todas as flechas de energia, as quais Sophie havia disparado antes, se encontravam estáticas no ar; porém, agora apontadas para Vínia.
— Cê só pode tá de brincadeira… — O que ela ainda poderia fazer ali? Sem o poder do medo, causar danos direto ao corpo daquela garota era quase inútil. — Me solte! Me enfrente num combate de verdade, poxa!
Aquele era, provavelmente, o momento em que Sophie — ao ter encurralado o rei adversário — decretaria o xeque-mate; no entanto, dadas as circunstâncias, levantou uma mão e proferiu:
— O tempo em que o Bicho Papão causava medo… — estalou os dedos da mão erguida — já passou.
Como um animal indefeso, a forma desfocada de Vínia teve cada órgão e ponto vital perfurados pela chuva de flechas intermináveis que caía sobre ela.
O zunido dos projéteis, a ardência das feridas, o mau funcionamento de pulmões, coração, fígado e tudo o mais, quase a levaram ao delírio do sofrimento.
Recebendo um forte chute que, com toda certeza, espremeu todos os órgãos localizados na região da barriga, Grete foi arremessada contra a primeira camada da barreira de proteção.
Após o baque seco, os espectadores se perguntavam o que mais tinha sido quebrado: a barreira translúcida ou os ossos da frágil assassina?
Para alguém detentora da Classe de Batalha com a menor resistência física, perder a sua preciosa agilidade era devastador; Grete sentia isso muito bem nas manchas vermelhas e roxas espalhadas por sua pele.
Com esforço, tentou se levantar de novo, mas caiu logo em seguida. De qualquer forma, de que adiantaria se erguer? Para apanhar outra vez?
Era inútil. Com Trevor naquele estado, ele dificilmente pararia só porque a adversária estava caída no chão. Era notável que o nefilim estava prolongando aquilo de propósito.
— Antes de pôr um fim a isso, eu quero que me responda — disse; sua voz fraca e cansada carregava um tom claro de sofrimento, o que fez Grete sentir uma certa culpa e pena. — Por quê…? Por que me fizeram passar… por aquilo?!
— Sinto mui…
— Isso não é resposta pra o que eu perguntei! — De frente a ela, apontou sua espada tremulando tudo nas redondezas. — Eu até pedi pra te curarem, então, por quê?!
A culpa era maior do que Grete podia imaginar. De fato, ela foi uma garota ingrata, talvez até merecesse toda a desgraça pela qual estava passando.
— Eu não sei… o que você viu — disse, sentindo tanto o peito quanto as cordas vocais rasgarem com o peso daquelas palavras. — Eu só te fiz viver… aquilo que você… mais tinha medo.
Foi naquela hora que a moça viu Trevor ficar mudo. Como se tivessem roubado a língua dele, o rapaz ficou paralisado; poderia ser o medo fazendo efeito de novo?
— Aquilo foi… — Deu alguns passos para trás e colocou a mão, que não segurava a espada, no rosto. — Aquilo é…
Mais do que uma ilusão, uma possibilidade real. Aquele maldito sonho — aquele pesadelo vindo das profundezas do inferno — poderia se concretizar em algum momento?
Não. Mesmo que ele não testemunhasse a cena, Sophie ainda poderia pertencer a outro homem? A árvore que ele regou, ao longo de tantos anos, com temor e falta de confiança produziria um fruto de covardia?
Um fruto podre e de sabor amargo, o qual a vida enfiaria na boca dele goela a baixo, rasgando sua garganta sem piedade? Agredindo seu paladar sem dó?
Levou a mão que estava no rosto até a boca, para segurar a vontade de vomitar. Sentia o coração a ponto de enfartar. A ansiedade massacrava sua mente, como um carrasco conduzindo-o à execução.
— Eu sinto muito… — Enfim conseguiu completar a frase que tanto tentou falar, mesmo sabendo que só aquilo seria pouco para se redimir pelo mal que causou. — Eu me rendo.
Que seus companheiros de Academia a perdoassem, mas ela não se sentia bem ao ter de carregar uma vitória tão suja nas costas.
Grete começou a ser teletransportada para a enfermaria, deixando apenas um Trevor com expressões de melancolia e espanto para trás.
O rapaz só foi desperto de seu transe ao ouvir a enxurrada letal de flechas, que sua parceira desferiu contra a adversária dela.
Foi então que, de olhos fechados, teletransportou-se até as costas de Vínia e — com a ponta do cabo da espada — desferiu uma pancada que fez a moça sofrer um apagão mental.
— Trevor…? — Sophie encarou todo o peso que seu parceiro parecia carregar, mesmo que fosse impossível ver através dos olhos fechados dele. — O que aconteceu?
Só quando Vínia foi enviada para a enfermaria e o risco de ser pego de novo pelo Bicho Papão sumiu, Trevor voltou a levantar suas pálpebras.
— Acabou… — Cabisbaixo, não viu os primeiros três pontos conquistados pela Academia de Batalha Ziz serem adicionados ao ranking do evento. "Finalmente, toda essa desgraça acabou".
Junto à sua parceira, ele também começou a ser teletransportado para o tratamento na enfermaria do campeonato.
Aquilo o proporcionou o mínimo de alívio. Dado tudo o que aconteceu ali, a arena de combate havia se tornado um gatilho perturbador para ele.
Não havia nada melhor do que sair logo daquele lugar, e abandonar aquele inferno de uma vez por todas.
Continua no Capítulo 134: O Meu Para Sempre
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