O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 132: Promessa

Em frente a jovem moça, o grande portão de entrada da Academia de Batalha Ziz se mostrava receptivo a qualquer um que por ele desejasse passar.

Enquanto pessoas empolgadas para realizar o Exame de Admissão passavam pelos lados dela, Sophie tirou um medalhão metálico de dentro da pulseira de seu pulso direito.

Por ter passado tanto tempo guardado, era notório o quão gélido o metal do objeto se encontrava na palma de sua mão; tão frio quanto a ansiedade que preenchia o peito da garota.

"Ele vai aparecer, né?" Encarando o medalhão, como quem esperava que um gênio saísse de uma lâmpada mágica, ela ativou o dispositivo. "Ele disse que viria!"

Contraindo o próprio corpo, fechou os olhos com medo. Aquele dispositivo havia passado muito tempo dentro do armazenamento dimensional da pulseira dela; será que ainda estaria funcionando?

E se não estivesse? Tudo até ali teria sido em vão? Todas as discussões que teve com os seus pais superprotetores, nos últimos anos, para seguir seu objetivo teria sido por nada?

— Há quanto tempo — disse a voz calma e serena de um rapaz, que fez a jovem abrir os olhos, com o único propósito de enxergá-lo. — Você cresceu bastante desde a última vez em que nos vimos, Sophie.

Com seus olhos esmeraldinos vidrados no rapaz, Sophie tinha certeza de que quem deveria dizer aquelas palavras era ela.

Na época em que o conheceu, poucos antes do ataque de monstros que aconteceu em sua escola, Trevor já era ligeiramente mais alto do que ela.

Mas, naquele momento, talvez fosse necessário ficar nas pontas de seus pequenos pés para que conseguisse se aproximar da estatura atual dele… e quem sabe nem alcançasse.

Os braços também estavam bem mais fortes e definidos, e embora o uniforme da Academia de Batalha não a permitisse ver, ela poderia imaginar o quão era a estrutura escondida embaixo dele.

— Você veio mesmo — sussurrou, esboçando um singelo sorriso, até mesmo seus olhos pareciam brilhar. — Estou feliz de te ver de novo, Trevor.

Pego de surpresa por aquela reação, o rosto do rapaz ficou um tanto quanto vermelho. Era incrível como as orelhas dele esquentaram tão rápido, mesmo que estivessem numa estação de temperaturas amenas.

— É… eu… eu também. — Percebendo a própria instabilidade, Trevor corrigiu sua postura. Ele deveria receber a moça de forma adequada. Para ela chegar até ali, não deveria ter sido nada fácil. — Você já fez sua inscrição?

Acenando que "sim" com a cabeça, Sophie tirou um papel da pulseira e mostrou para ele. Ao ler certa parte do conteúdo, Trevor pareceu ficar para baixo, o que deixou a garota preocupada.

— Você vai lutar na Seção de Batalha 8. — Aquilo era ruim. Ele tinha sido escalado para auxiliar Klaus na condução de outra Seção. — Eu tenho que supervisionar a de número 5.

Hehe! — O sorriso forçado não conseguia esconder a tênue tristeza que sentia naquele momento. Assim como Trevor desejava vê-la lutar, Sophie queria que ele estivesse lá por ela. — Tá tudo bem. Sem problemas.

— Sinto muito, Sophie. Você se incomodaria de me esperar só por um instante? — Deixando a moça confusa, o rapaz se afastou um pouco e ativou uma tela de energia, que saiu do relógio dele. "Espero que me responda rápido".

Pelo canal de mensagens do MIC, enviou um pedido de socorro para um certo alguém, embora soubesse que as chances de sucesso estavam contra ele.

            Trevor: Preciso da sua ajuda, agora!

Raizel: Diga.

            Trevor: Eu sei que você não gosta

            disso, mas poderia me substituir

            na condução da Seção de Batalha 5?

Raizel: Tô fora.

Raizel: Se vira.

            Trevor: A garota que eu te falei, aquela

            com quem eu quero formar um duo,

            estar em outra Seção de Batalha.

            Trevor: Eu quero apoiar ela, nem que

            seja só na torcida.

Por alguma razão, o rapaz do outro lado da linha demorou alguns instantes a mais para dar retorno, o que deixou Trevor morrendo de nervoso.

Raizel: Faça como desejar.

Raizel: Eu assumo a Seção.

Tendo um fardo tirado de suas costas, o nefilim se virou, aliviado, para a moça que o esperava em seu cantinho.

Como Trevor se virou de repente, Sophie escondeu o rosto envergonhado. Durante aquele tempo todo, ela não tirou os olhos de cima dele por nem mesmo um segundo.

"Será que ele notou…?" A tensão só aumentava conforme o rapaz se aproximava.

— Nós já podemos ir — disse, tirando-a do transe. — Me liberaram.

Buscando sempre se manter a uma distância segura, para que aproveitasse a vantagem contra o lanceiro, Sophie disparou uma saraivada de flechas de energia.

Muitos dos projéteis, o oponente conseguiu defender, entretanto no instante em que os movimentos de sua lança travaram de repente, ele foi facilmente perfurado em vários pontos do corpo.

— Se lascar… — praguejou, sentindo a dor ardente se espalhar pelos seus membros e vendo a arqueira desaparecer do seu campo de visão. — Pra onde ela foi?

Quando sentiu a emanação da Energia Espiritual e o agudo toque de uma flecha sua nuca, o adversário de Sophie soltou a lança — a qual permaneceu estática no ar — e ergueu os braços.

— Eu admito a derrota.

Uma sensação viva e borbulhante nasceu no interior da arqueira vitoriosa. Ela sabia que mesmo que fosse derrotada, a depender da análise que a Academia de Batalha fizesse acerca da luta, ainda haveria chances de ser aprovada.

Mesmo assim, vencer mostrava que ela era capaz e qualificada para seguir seu objetivo: se tornar um membro da Academia e salvar várias vidas ao fechar os temíveis portais.

Por causa do excesso de proteção que a família dela proporcionou, a garota não teve muito incentivo para se fortalecer ao longo da vida — bastava procurar uma profissão mais segura, segundo o que eles diziam.

Sophie mal conseguia usar a Paralisia Temporal em seres vivos por causa disso. Naquela luta, o máximo que ela podia fazer era ser esperta e paralisar o tempo da lança inimiga no momento oportuno.

Enquanto o oponente saía da arena, a moça olhou para a arquibancada, na direção em que seu futuro parceiro estava. A felicidade dela era tanta que contagiava o jovem nefilim através dos olhos.

"Eu venci." Continha a vontade louca de gritar para ele. "Trevor, eu venci!"

Mesmo após a luta ser finalizada, Trevor se propôs a fazer companhia a Sophie durante o tempo em que passasse nos domínios da Academia de Batalha.

O resultado de alguns candidatos seria decidido ainda naquele dia; então, beneficiando-se um pouco de sua influência, o nefilim pediu para que a luta da garota fosse uma das primeiras a ser analisadas.

Assim, até que o primeiro lote dos resultados saísse, ele queria comemorar a vitória que ela obteve no Exame de Admissão.

Mesmo que o resultado não garantisse a classificação, Sophie trabalhou duro e se saiu muito bem; ela merecia alguma celebração, nem que fosse simples.

Humm! Que gostoso! — Sentada ao lado de Trevor, no banco de uma praça, a garota degustava um gelado e doce sorvete de copinho. — Huh?

Ainda com a colher na boca, notou que Trevor a observava com certa admiração; era um olhar singelo e apreciativo, algo que não estava acostumada a receber dele.

— Trevor…?

Como se saísse de uma hipnose, abriu bem os olhos e ficou meio sem jeito de continuar encarando-a por mais tempo. Só então reparou que seu sorvete estava derretendo.

— Tudo bem, eu só estava pensando que…

Talvez estivesse na hora de devolver algo para ela, um objeto que a pertencia e era dela por direito: uma peça de xadrez, um rei de vidro esmeralda.

Em meio à confusão causada pelos monstros, na escola de Sophie, ele acabou por ficar com uma das peças mais importantes do tabuleiro de xadrez dela.

Aquele rei esmeralda sempre o fez se lembrar da proposta que um dia ele havia feito; mas, por alguma razão, Trevor não queria devolver.

— Eu estava pensando que…

Foi então que a pulseira de Sophie emitiu um brilho tênue, apontando que havia recebido algo no seu armazenamento dimensional.

— O resultado… já saiu.

Na hora, era difícil dizer quem estava mais ansioso entre os dois. As mãos de Sophie tremiam enquanto abria o envelope, e os olhos de Trevor nem piscavam.

Ao ler o "Aprovado" estampado no papel, o nefilim quase vibrou de empolgação, mas não teve tal reação ao ver que a moça estava paralisada, com lágrimas formando-se em seus olhos.

— Sophie…

Hehe! — Deu uma risadinha enquanto enxugava os olhos marejados. Com a visão embaçada, nem conseguiria ver o parceiro direito. — Obrigada, Trevor.

Em silêncio, o rapaz não se julgava merecedor do agradecimento. Sophie havia chegado até ali com as próprias pernas, tudo o que ele tinha feito era esperar segurando aquela peça de xadrez.

— Fico feliz. Você foi incrível — disse, cada palavra vinha do fundo do coração. — Mas acho não que eu fiz muita coisa.

— Quando eu estava sozinha com aquele tabuleiro, foi você quem apareceu e jogou comigo.

Foi só um jogo, no qual ele perdeu cada uma das partidas para ela — nem teve chances de vitória. Aquilo não poderia ter significado tanta coisa.

— Quando eu estava sem esperanças, a ponto de abandonar a minha própria vontade e seguir um caminho que queriam forçar pra cima de mim, você foi o único a acreditar nessa minha pouca força.

Dessa vez, Trevor realmente perdeu a voz. Nada do que conseguisse pensar para argumentar sairia de sua boca. Receber aquelas palavras era tudo que ele poderia fazer.

— Trevor, eu te agradeço por tudo. — Com o sorriso mais lindo e sincero que já havia surgido na história daquela Academia, Sophie tocou onde nenhuma outra pessoa havia alcançado. — Obrigada por dividir esse momento comigo.


Continua no Capítulo 133: O Fruto da Covardia

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