Volume 2 – Arco 5
Capítulo 131: O Preço da Bondade
Vendo o sangue de Grete escorrer por entre os braços desesperados de Vínia, Trevor virou o rosto — com pesar — para o lado. Uma certa culpa apertava seu peito.
Era difícil de acreditar no desejo que se passava pela cabeça dele naquele momento. Muitos o julgariam como louco, mas aquele era o tipo de pessoa que Trevor Foster era, afinal.
— Cure ela com a Reversão Temporal, Sophie. — Até mesmo sua parceira o encarou com confusão ao ouvir o pedido sem sentido. — Rápido. Antes que enviem ela para a enfermaria.
Todos os espectadores ficaram atônitos com as palavras do rapaz. O que deu naquele cara? Ele nunca teve uma reputação de ser alguém idiota.
As pessoas da Academia de Batalha Ziz eram as que mais queriam a cabeça de Trevor naquela hora. O desgraçado estava com a vitória nas mãos, mesmo assim a jogaria na lata do lixo?!
Por sua vez, os responsáveis pelo teletransporte dos feridos decidiram esperar alguns instantes, para constatar a fala do nefilim.
O que para muitos poderia parecer loucura ou burrice, para Sophie era uma das características que ela mais admirava em seu parceiro; o que a cativou desde cedo.
— Assim seja. — Apontou uma mão para a moça caída e, de imediato, os ferimentos foram revertidos pelo efeito da aura verde, que tomou o corpo abatido.
— He-Heim?! — Vendo-se inteira de novo, Grete olhou para suas mãos e pernas, depois para os lados e, enfim, para sua parceira. — Oi?
— Obrigada — respondeu a moça, direcionando-se para Trevor. — Mas não pense que vamos pegar leve daqui pra frente, por causa disso.
Em resposta, o nefilim se preparou para retomar o rumo do combate; movimento que foi replicado por Sophie, a pessoa que mais preocupava Vínia.
Não havia um instante a perder.
Caso Sophie parasse o tempo mais uma vez, estaria tudo acabado para o lado da Academia de Batalha Absalon.
A combinação de tempo e espaço era algo verdadeiramente terrível; então, para que fosse possível encará-la, era necessário ser tão terrível e assustador quanto.
— Vamos, Grete. — Em questão de instantes, todos os traços de Energia Espiritual presentes no corpo de Vínia mudaram, dando lugar apenas à Energia Bestial. — Monstrificação!
Sem a presença da energia que caracterizava os seres humanos, qualquer razão para a aparência humana de Vínia desaparecia. Com pura Energia Bestial, ela seria um verdadeiro monstro.
Fosse dentro da arena ou fora dela, ninguém era capaz de encarar a aberração à sua frente. Vinda de uma história contada para crianças, ela trazia traumas à tona.
Manifestando uma imagem de terror diferente para cada pessoa que a via, a Monstrificação do Bicho Papão resgatava, junto da criança interior de cada um, aquilo que mais a amedrontava.
Somado ao uso da Amplificação de Medo, os que não se mijaram nas calças, esconderam seus rostos, em vão. Uma vez vista a imagem, era impossível apagá-la tão cedo de sua mente.
Muitos nem conseguiram virar o rosto, o medo era tamanho que todos os seus músculos e nervos congelaram; as pernas tremiam e seus corpos suavam de nervoso.
— Ah… Ah… — O grito de Sophie maltratava sua garganta, entalado nela. — nã… não…
A única pessoa a ter escapado dos efeitos da Monstrificação foi a parceira da semi-humana — Grete — a qual evitou o contato visual desde o início.
— Irônico, né? — Sem saber o que os outros enxergavam, a própria Vínia via suas pernas e braços com uma aparência distorcida e desfocada. — Agora são vocês que não conseguem se mexer.
Se mover era o menor dos problemas. Ninguém além dela conseguia nem mesmo usar qualquer tipo de habilidade ou técnica, exceto uma pessoa.
— Agora é com você, Grete. — Graças às regalias que o Pacto de Ressonância lhe proporcionava, a jovem humana havia se tornado capaz de usar um tipo peculiar de ilusão. — É a sua hora de brilhar.
— Me desculpem por isso. — Era um pouco desconfortável ter que retribuir a boa ação daqueles dois, de uma forma tão ruim, entretanto aquilo ainda era uma luta. — Ilusão do Medo Profundo.
De imediato, Trevor e Sophie viram tudo girar, como se estivessem em um carrossel. Sentiam-se tontos enquanto suas pressões sanguíneas caíam.
De pouco em pouco, suas mentes se apagaram, perdendo-se no vazio da escuridão; seus corpos tombaram.
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Quando abriu os olhos, Trevor percebeu-se no meio de uma rua. Pessoas andavam de um lado para o outro, todas usando o uniforme característico da Academia de Batalha Ziz.
— Estranho. — Era nítido que se encontrava em uma ilusão mental, no entanto, o temor angustiante do medo havia desaparecido de seu peito. — Por que abrir mão de uma vantagem?
Infelizmente, ele teria de pensar nisso enquanto buscava um jeito de acordar. Cada segundo ali era ouro.
Quem poderia saber o que fariam com ele e com Sophie durante o período em que seus corpos estivessem vulneráveis.
Do nada, um rapaz passou correndo por perto e acabou esbarrando nele; irado, seguiu caminho resmungando o quanto os Top Rankings eram arrogantes.
— Isso é mau… — sussurrou enquanto passava uma mão pelo ombro dolorido — muito mau.
Mesmo sendo pessoas falsas, elas conseguiam fazê-lo sentir dor; e o pior de tudo estava na Automutilação de Grete.
Se os danos sofridos ali fossem transmitidos para o corpo real, então ele estaria apanhando dentro e fora da ilusão.
Em um piscar de olhos, Trevor teve uma ideia ingênua e se teletransportou para onde deveria ser a residência dele.
Caso seu palpite estivesse certo, todas as pessoas dentro da ilusão já haviam se encontrado com ele em algum momento da vida; então sua parceira também deveria estar ali.
Apressado, procurou-a por todos os cantos. Nem sinal dela. Cozinha, sala de treino, sala de estar… Era uma verdadeira desgraça que o Pacto de Ressonância não funcionasse ali para que ele a encontrasse mais rápido.
"É possível que não tenham incluído ela na ilusão?" Foi quando chegou ao quarto de Sophie e, antes que segurasse a maçaneta, um "Ahhh…" ofegante se manifestou na forma de um gemido sensual. "Quê…?"
— Ummm… — choramingou, contorcida em delírios, a voz da garota.
Aqueles sons safados… Trevor jamais pensou que os escutaria saindo daquela forma da boca de sua parceira, ainda menos que ficaria doido de excitação com isso.
"Calma, é só uma ilusão." Aquela Sophie gentil, meiga e recatada nunca gemeria com uma ausência de pudor tão grande enquanto se tocava… nunca, não é?
— Ohhh… — Foi então que um gemido mais grave e rouco ganhou espaço na cabeça do rapaz, trazendo um verdadeiro tormento ao seu peito temeroso.
Era um homem. Sem dúvidas aquele tinha sido um gemido masculino. Quem? Quem poderia ser? Trevor estava do lado de fora do quarto; não tinha como ser ele.
Então, o medo voltou. O pesadelo que havia encarado na Monstrificação de Vínia, naquele infeliz momento, Trevor estava vivendo ele.
Devagar, esforçando-se para que a mão trêmula não o denunciasse, abriu uma fresta na porta, mas grande o suficiente para que pudesse enxergar o interior.
De costas para ele, o que o rapaz contemplou o fez se arrepender de ainda continuar estático ali: Sophie rebolava nua, sentada sobre o quadril de um homem cujo rosto Trevor não conseguia enxergar.
Por já tê-la visto de biquíni algumas vezes, ele tinha uma breve noção do quanto sensual o corpo de sua parceira era — esbelto e provocador de desejos pecaminosos.
Mas aquilo, o que via naquele momento, era simplesmente luxurioso demais, erótico demais… estimulante demais.
Os longos cabelos loiros caíam sobre as costas dela, como uma cocheira de ouro líquido que chegava nas curvas perfeitas de seus quadris largos.
Ela não se encontrava ofegante por menos. Suor escorria pela pele macia e delicada, deixando-a mais brilhante e escorregadia. O menor dos toques seria uma delícia.
"Im-Impossível…" Por mais que desejasse negar, de alguma forma, aquela cena — aquela maldita cena — o estava deixando excitado; poderia notar no volume que crescia de forma involuntária em sua calça. "Por quê? Por quê?"
Ignorando sua indagação, Sophie saiu de cima do indivíduo. Havia acabado? De modo nenhum. Ficando de quatro e empinando a bunda, os seios rosados foram amassados no colchão macio.
Sophie fazia um convite.
Aquele convite, Trevor desejava que fosse para ele; mas não era, era para o outro. Roçando sua virilidade entre as pernas molhadas pelos fluídos sensuais da garota, ele a penetrou com tudo.
Sophie soltou um intenso gemido, tão forte quanto o prazer que aparentava afogá-la em um mar de perversão. Suas cordas vocais pareciam servir apenas para aquilo e nada mais.
A voz manhosa se misturava aos sons obscenos de cada uma das estocadas que recebia em seus quadris, no interior de sua intimidade; delicioso para ela, doloroso para o espectador escondido.
Trevor não sabia dizer quanto tempo passou espiando a intimidade de sua parceira, congelado. Não, não era ela. Aquela Sophie era falsa, ele sabia disso.
"Apenas… uma ilusão…"
Consolava-se em pensamentos; mas, a verdade era que, independente do que soubesse, vê-la movimentando os quadris para frente e para trás enquanto se entregava para outro, doía demais…
Gemia e gemia. Por que não parava logo com os malditos sons agridoces?! Aquela voz não combinava com ela, era como a de uma vadia; os movimentos desesperados dos quadris… Porra!
"É falso, é falso, é falso!" Já não suportava mais. Queria ir embora, mas também desejava interromper o que o atormentava. "Por quê? Por quê? Por quê?!"
Seu coração, a mil por hora, quase infartou no momento em que Sophie se ajoelhou na frente daquele cara; suas feições pareciam implorar por algo.
Com o rosto na altura da cintura dele, a boca, juntamente aos lábios macios e pequenos — os quais pareciam ter utilidade apenas para os gemidos — estavam para desempenhar uma nova função.
Naquele instante, o impotente nefilim caiu de joelhos. Amaldiçoados fossem os céus e a terra; miseráveis, os criadores da ilusão; infelizes, as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
— Ahhh!!!! — O grito, contido por tanto tempo, rasgou as cordas vocais de Trevor, da mesma forma que a distorção do espaço ao redor devastou toda a extensão da Academia de Batalha Ziz.
— Ei, eles já estão desacordados! — Vínia gritava para o vazio, querendo que suas palavras alcançassem o pessoal da administração do campeonato. — Dá logo a vitória pra gente, poxa!
Bateu a imagem de seu pé disforme no chão e murmurou indignada. Só faltava que todo mundo estivesse tão amedrontado com o poder do Bicho Papão que não conseguisse mais acompanhar o andamento da luta.
Se o bando de velhos que ditava as regras iria continuar se fazendo de surdos, então caberia a elas o dever de acabar com a luta de uma vez por todas.
— Sinto muito por termos que fazer algo tão covarde — disse para Grete, indicando que atacariam os adversários desacordados. — É o jeito.
O efeito da Ilusão do Medo Profundo já deveria ter feito os seus adversários sofrerem uma sequência de falência de órgãos; mas, em posse das Vestes Divinas, aqueles dois eram duros na queda.
Porém, a hora que as representantes da Academia de Batalha Absalon escolheram para avançar não poderia ser pior.
— Heim?!
Em uma espiral ascendente, o espaço se contorceu com violência, perfurando, pela primeira vez durante todo o Campeonato Sojourner, as dez camadas da barreira de proteção da arena.
O caos se alastrou de tal forma que as duas moças foram incapazes de escapar ilesas e, só depois de um instante, notaram orugido gutural de um nefilim em fúria.
Vínia sentiu um calafrio perturbador percorrer sua espinha. O que estava no meio do vórtex espacial era um ser racional ou uma fera recém-libertada de suas correntes?
Não teve tempo para pensar direito; um grito de dor de sua parceira alcançou seus ouvidos. Se Vínia estava com diversos ferimentos espalhados pelo corpo disforme de Bicho Papão, Grete segurava um ombro ensanguentado… um ombro sem um braço.
— H-Hã…? — Quem também deu o ar da graça foi Sophie. Graças à grande quantidade de Energia Divina e o dano causado em Grete, o efeito da Ilusão do Medo Profundo havia enfraquecido. — O que… Trevor?
Talvez por ainda estar recobrando a consciência, era complicado para a garota dar credibilidade ao que via: quando o vórtex espacial cessou, o jovem nefilim desceu, firmando os pés com força no chão.
Toda a Academia de Batalha tremeu.
Dos olhos inundados de lágrimas, o até então calmo e tranquilo Trevor direcionava um olhar sanguinário e assassino para as garotas da Academia de Batalha Absalon.
— Como assim? — Vínia encarava-o, estupefata. Ele conseguia olhar para ela com a Monstrificação ativada? — Cê tá de brincadeira.
Sophie, por sua vez, parecia tão espantada quanto a adversária. Ela tinha passado por maus bocados enquanto estava dormindo, mas Trevor… O que tinha acontecido com ele?
Naquele estado, seu parceiro não parecia mais a mesma pessoa que a recebeu tão bem quando ela chegou na Academia de Batalha. Aquele ser repleto de ódio e fúria ainda era o seu Trevor?
Continua no Capítulo 132: Promessa
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