O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 130: Aceite-me!

Apreensiva, a garota caminhava a passos trêmulos. O largo e longo corredor da Academia de Batalha Absalon parecia nunca ter fim, ou era o que Grete sentia.

O dia em que conheceria a pessoa que formaria um duo com ela, enfim, havia chegado. O coração, frenético, fazia maratonas em seu peito.

"Que tipo de gente será que é?" Uma das poucas informações que havia sido passado para ela era o nome da moça selecionada pelo Setor de Duos: Vínia Carinae. "Será que ela vai… me querer?"

Parou assim que ficou diante da porta que cederia entrada ao seu destino; a mão que se movia travou antes de tocar a maçaneta.

Talvez teria sido bom se o corredor que parecia interminável realmente fosse daquela forma; talvez assim, quem sabe, teria evitado a sensação de falta de ar em seu peito.

Grete sabia muito bem que a pessoa escolhida para ser sua parceira de duo era uma semi-humana. Essa era a política da Academia de Batalha Absalon: formar duos com membros de duas raças distintas.

Em meio a raças como semi-humanos, majins e tenjins, o que ela — uma simples humana — teria de especial a oferecer?

A tal de Vínia não seria forçada a aceitar uma parceira fraca, insegura e sem valor algum. Talvez ela a rejeitasse assim que se vissem.

"Foi um erro! Foi um erro!" Dando uma meia volta brusca, estava pronta para sair correndo dali, como se fosse uma criança fugindo do Bicho Papão. "É claro que ninguém vai me querer!"

— Eu posso sentir a sua Energia Espiritual aí fora, sabe? — Grete congelou no momento em que ouviu a moça alertá-la, lá de dentro da sala. — não vai deixar a gente esperando muito, né?

Engolindo a saliva em seco, a humana sentiu uma vergonha sem precedentes: durante todo o tempo em que passou plantada no pé da porta, ela também estava passando um grande vexame.

Com que cara poderia entrar naquela sala agora? Com cara de palhaça, não tinha outra. Uma palhaça desastrada e medrosa.

Abriu a porta e entrou devagar, encarando o chão; algumas mechas do cabelo longo caíram para a frente, dificultando ainda mais a visão das duas pessoas, que a esperavam.

— O-Oi… Eu… Eu sou…

Oh! — Ao escutar a voz de empolgação de Vínia, Grete levantou a cabeça, preocupada; as mechas de cabelo caíram sobre seus olhos assustados. — Essa gracinha é quem vai ser a minha parceira?!

"Gra-Gracinha?"

— Senhorita Carinae — disse a terceira mulher presente no recinto, a qual se encontrava sentada em uma mesa, de frente para as outras duas. — Caso não tenha mais motivos para gritar, poderemos iniciar a orientação.

E assim a reunião se seguiu: dada a compatibilidade das Habilidades Inatas das moças, além da característica especial de semi-humana de Vínia, elas possuíam um grande potencial como duo.

"Semi-humana?" Grete observou a sua possível parceira, de canto de olho. "Parece tão humana".

Ela não sabia exatamente o que era a característica da sua possível parceira, mas Vínia não possuía nenhum traço bestial visível em seu corpo: asas, garras, cauda…

— Apesar disso — ressaltou a orientadora — não podemos forçar a união do duo, então vocês têm três dias para se conhecerem melhor e nos entregar uma resposta.

“Três dias…" refletiu Grete, contraindo os lábios e apertando a borda da saia com força. "Eu consigo convencer ela… em três dias?"

A primeira impressão que passou, sem sombra de dúvidas, tinha sido uma das piores possíveis; apesar de que, aparentemente, Vínia a tinha achado uma "gracinha".

Mas seria isso o suficiente?

Mais uma vez diante de uma porta; mais uma vez plantada igual a uma bananeira; congelada feito um picolé no inverno; Grete reuniu o que tinha de forças e deu umas batidinhas fracas na entrada do quarto de Vínia.

Mesmo que o ecoar do "Toc! Toc!" tenho sido quase inaudível, a moça do lado de dentro escutou e pediu para que a visitante esperasse "só um pouquinho".

Só um pouquinho seria o suficiente para fazer Grete correr de medo. Não, não podia fugir. Era necessário corrigir a impressão negativa que passou mais cedo.

Foi então que a porta do quarto se abriu e, como se fosse para deixar a visitante sem reação, Vínia a recebeu vestindo apenas uma camisola que, apesar de preta, possuía um tecido bem fino — quase transparente.

— Desculpa a demora — disse, ofegante, como se tivesse corrido às pressas. — Ah, pode entrar.

U-Uhum! — Grete seguiu os passos receptivos da anfitriã, em silêncio, e adentrou o lar provisório da garota.

Ainda que fossem muito menores do que as residências dos duos, os dormitórios da Academia de Batalha supriam bem a necessidade de alojamento temporário.

As residências eram liberadas apenas quando o Pacto de Ressonância fosse firmado entre os dois membros.

"Que frio." Grete sentiu um leve tremor percorrer seu corpo.

Fosse pela ornamentação, que se assemelhava a um quarto do medo, ou pelo ar de desolação, o lugar transmitia um certo arrepio.

No entanto, mesmo em meio àquele clima desconfortante, se havia algo que realmente roubava a voz da tímida Grete, era outra coisa.

Atrás de Vínia, a mente da visitante se perdia na imagem viciante e nas curvas sensuais do corpo esbelto e luxuriante da anfitriã.

"Dá pra ver…" Por debaixo da camisola semi-transparente, com exceção da calcinha provocante, nada mais existia. "D-Dá pra ver tudo!"

— Tudo bem? — indagou, virando-se na direção da outra. — Aconteceu algo? tá toda vermelha.

— É que… É que… — Levou as mãos até os olhos, tapando-os na vergonha ao confirmar que Vínia estava mesmo sem sutiã. — Dá pra ver os seus pe-peitos.

A anfitriã deu uma pequena olhadinha para o próprio busto, onde — como artistas no palco — um par de mamilos marcados roubavam a cena sobre o volume avantajado.

Hehe! Você é mesmo uma graça. — Pôs uma mão na cintura e a outra em frente aos lábios; então, com sensualidade, justificou-se: — Quando virarmos um duo, nós vamos morar juntas, né? É bom a gente já ir se acostumando com essas coisas.

A cabeça de Grete girava entre a intenção clara de Vínia querer firmar o Pacto de Ressonância e a ideia de que provavelmente a veria com menos roupa do que aquilo ao longo dos dias.

Vínia andou em sua direção, o que fez a moça recuar — um tanto retraída — até que tropeçasse em um sofá que ficava logo atrás e caísse sentada nele.

Apoiando um joelho no assento vizinho ao de Grete, a camisola de Vínia deslizou por cima de sua coxa, revelando um pouco mais do que devia.

Com as mãos nas costas do sofá, Vínia observou a visitante desviar o olhar para o lado; ela tremia, e tremia muito.

"É sempre assim." Todo mundo que passava muito tempo perto dela começava a tremer, a ter os batimentos cardíacos acelerados e a evitar contato visual.

Aquele tipo de situação só piorava quando ela usava a Monstrificação, o que seria um grande problema para quem lutasse ao lado dela.

— Ei, Grete, eu posso te fazer uma pergunta? — Ainda retraída, a outra acenou que sim com a cabeça. — Você treme por timidez ou porque tá com medo de mim?

A mente da visitante deu um estalo, tirando-a dos pensamentos conturbados e trazendo-a de volta aos olhos preocupados de Vínia.

Medo? Claro, seria altamente compreensível sentir algo assim perto daquela garota.

— Eu não tô com medo — falou de forma pausada, fazendo o possível para expor como se sentia de verdade. — Eu só sou meio estranha mesmo. Desculpa.

Com os lábios entreabertos, foi a vez da anfitriã ficar sem palavras. Logo uma garota que tinha tanta dificuldade para se comunicar deixou-a daquele jeito.

Era difícil compreender se a sensação que se formava em seu peito era felicidade ou apenas alívio. O quão sortuda ela poderia ser?

Apesar de ser uma garota muito comunicativa e peralta na infância, quase nenhuma criança tinha coragem de brincar com ela; todos fugiam daquilo que sentiam medo.

"Aceite-me." Queria falar, gritar, implorar. "Por favor, aceite-me!"

— Eu também posso te perguntar… uma coisa? — Sem nem pensar direito, Vínia respondeu com um simples "Uhum! Uhum!" — Você realmente quer formar um duo com alguém tão inútil quanto eu? Eu sei que a Academia me empurrou pra você, mas…

Vínia soltou uma risadinha velada que roubou a atenção da outra garota. Pouco importava se tinha sido uma sugestão da Academia da Batalha, o que realmente importava era a resposta que estava estampada em seu sorriso.

— Eu quero você — disse enquanto acariciava a bochecha direita da sua futura parceira. Encarando-a olho no olho, deixou claro que já havia se tornado tarde demais para fazê-la mudar de ideia. — E eu vou brigar com qualquer um que quiser te tirar de mim, entendeu?

Através de qual milagre, a jovem Grete não sabia explicar, mas seus olhos ficaram presos nos de Vínia; nem mesmo a maior de suas inseguranças era capaz de forçá-la a virar o rosto para o lado ou para baixo.

Ah, é mesmo — lembrou-se Vínia. — sabe que o Pacto de Ressonância é feito com um beijo, né?

Foram tantas coisas em tão pouco tempo que Grete havia se esquecido de um detalhe tão importante: ela teria coragem de beijar alguém?

— Eu nunca… beijei. — Estava aí algo capaz de fazê-la olhar para baixo, ou teria feito, caso uma das mãos de Vínia não tivesse segurado seu queixo.

Ver sua futura parceira daquele jeito a fazia se sentir um pouco mal por querer forçar uma certa intimidade ao recebê-la, vestindo aquela camisola provocante; ainda assim, outro desejo falava mais alto.

— Pode ser egoísmo meu, mas eu te peço uma coisa, Grete. — Enquanto, naquele sofá, os lábios das duas se aproximavam pouco a pouco, as palavras da bela anfitriã saíram mais macias que algodão e doces que o mel. — Não me odeie por roubar o seu primeiro beijo, tá?


Continua no Capítulo 131: O Preço da Bondade

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