Volume 2 – Arco 5
Capítulo 129: Automutilação
— Quer dizer que essa é a tal da Automutilação? — indagou Sirin, a Top 3 Rank S da Academia de Batalha Behemoth. — Ainda bem que não caí contra essa daí.
— É impressionante e preocupante. — Passando uma mão pela faixa em seu rosto, Nathan, o parceiro dela, concordou. — Até que eu gostaria de ver.
Sozinhos na sala dos duos da sua Academia de Batalha, Sirin narrava os acontecimentos da transmissão para o rapaz. Embora Nathan tivesse uma audição capaz de discernir tudo ao redor, quando se tratava de assistir, uma mãozinha era sempre bem vinda.
Contudo, dada a sua falta de visão, o rapaz se perguntava se o efeito da Automutilação causado pelas ilusões de Grete também não funcionaria nele.
Os ataques que Sophie havia sofrido poderiam ser apenas uma farsa; no entanto, os acontecimentos pareciam tão verdadeiros que o corpo se recusava a negá-los, tornando-os reais…
Automutilando-se.
— Se continuar assim, como que eu vou saber o que é verdade ou mentira? — Com uma careta revoltada, a moça encarou a transmissão, chateada. — Que saco.
No fim, nem mesmo os espectadores estavam livres de terem seus sentidos enganados pelas artimanhas das ilusões de uma garota tímida.
Foi então que Lucius e Luminas — os Top 1 Rank S — retornaram à sala; o rapaz com um rosto fechado e expressões nem um pouco contentes.
— Oxe! Chupou limão, foi? — perguntou Sirin, estranhando o mau-humor do companheiro. — Como que tá o Esteban e a Alicia?
Os dois haviam saído para fazer apenas uma visita aos companheiros que se encontravam na enfermaria, mas voltaram daquele jeito?
— Então, né? — Juntando as palmas das mãos próximo ao rosto, Luminas anunciou a fatalidade, como se já esperasse que algo assim poderia ter acontecido. — Parece que a Aliciazinha foi sequestrada.
Sem tirar os olhos da oponente, Sophie usou a Reversão Temporal para fechar os ferimentos em seu corpo, muito mais rápido do que faria se dependesse de técnicas de cura.
— As suas ilusões têm um efeito bem único — disse, pondo-se perfeitamente de pé. — Vou levar esse dado em consideração.
Apreensiva, Grete entrou em posição defensiva. Ela sabia como seria difícil ter que enfrentar a Manipulação Temporal de Sophie.
Independente do que fizesse ou de quanto dano ela causasse, a adversária poderia apenas retornar tudo para o seu ponto zero.
"Se eu… cortasse a cabeça dela…" Talvez nesse estado, ela se tornasse incapaz de usar suas habilidades. "Não dá".
Mesmo se conseguisse fazer algo do tipo, isso apenas resultaria na eliminação dela e de Vínia no campeonato, em vez da vitória.
— Eu sei que o público espera ver todas as nossas habilidades — disse Sophie, assumindo um tom de voz mais sério. — Mas vamos finalizar isso logo.
A assassina ficou nervosa ao perceber que o corpo de Sophie começou a ser tomado por uma densa aura verde-claro, um verde belo ao mesmo tempo que era divino.
"Ela já vai usar isso…?"
Para completar o desespero de Grete, Trevor decidiu seguir o exemplo da parceira dele e, no mesmo instante, os dois proferiram em uníssono:
— Veste Divina!
Revestido pela proteção da armadura leve, o duo da Academia de Batalha Ziz exalava confiança enquanto os mantos das Vestes Divinas tremulavam em glória a partir da cintura.
Grete tremia; os olhos arregalados.
O poder que aqueles dois possuíam, a pressão que exerciam, tudo era de outro nível: o poder de uma raça que não tinha origem naquele mundo, os profanos nefilins.
"Perigoso…" Se fosse um confronto até a morte, ela poderia vencer? Um grande não ressoava em sua mente. "A-Acabou… Víni.."
Uma única e modesta flecha atravessou o peito da garota, deixando apenas um enorme buraco e a fumaça de mais uma ilusão destruída para trás.
Sophie sorriu.
— Já se escondeu de novo?
Mesmo que conseguisse ocultar sua imagem e se tornasse imperceptível aos sentidos humanos, era inegável que Grete ainda se encontrava dentro da barreira da arena.
A suposição tanto era verdade que vários ataques alcançaram a Veste Divina de Sophie; no entanto, as adagas da assassina não eram capazes de proporcionar nenhum tipo de ameaça real.
— Agora é o meu turno. — Cruzando os dedos indicador e médio da mão esquerda, os olhos de Sophie brilharam, anunciando que ninguém era capaz de escapar das garras do tempo. — Paralisia Temporal.
— Vai ser chato assim na casa do cara…! — Com a mão sã, Vínia usou sua lança para bloquear um ataque de Trevor, o que a jogou contra a barreira de proteção. — Urgh!
Os golpes daquele cara haviam ficado pesados demais, rápidos demais. Maldita fosse a Veste Divina do Anjo do Espaço.
Vínia não conhecia o anjo que fez o pacto com aquele nefilim, mas o infeliz devia estar rindo da cara dela, lá no Reino Celestial.
Trevor se teletransportou para o lado dela e, com um chute, a jogou um pouco para o alto; um segundo chute, e ela ficou vulnerável a um corte profundo nas costas.
— Para de correr, porra! — Talvez desaparecer fosse o termo mais correto.
Como se fosse a luz de um pisca-pisca, Trevor sumia e aparecia onde queria; dava um ataque, e então sumia de novo.
Uma sequência incessante de pós-imagens tomava conta do lugar, o que deixava a semi-humana cada vez mais irritada.
Naquele ritmo, mesmo que o rapaz precisasse desativar a Distorção Espacial para atacar, Vínia nunca conseguiria uma abertura para acertá-lo.
— Urgh! — Quando a lança sumiu da mão dela, teletransportada para longe, Vínia sentiu uma pontada no pé direito; a espada de Trevor estava fincada lá.
Contudo, ela sabia que o real objetivo do nefilim estava mais acima; caso não soubesse disso, as consequências poderiam ter sido bem mais desastrosas para o seu lado.
Levando os braços para a frente do rosto, conseguiu proteger a cabeça por muitíssimo pouco, antes de ser atingida por um potente chute.
Se foi golpeada por uma perna ou por uma baleia jubarte, Vínia não sabia dizer. A única certeza que a moça tinha no momento era que aquele chute pesava pra um caralho.
O som de dois cracks foram ouvidos no fim das contas: um da rachadura, que se formou na barreira de proteção, e outro dos ossos dos antebraços da semi-humana, os quais doíam como nunca e sofriam como sempre.
— Vai ficar calado enquanto me enche de bolacha, é?! — Em silêncio, e com a face virada levemente para o lado, Trevor traçava o movimento final. — Fala alguma coisa!
Se ela pudesse ao menos tocar nele…
A Intensificação de Medo poderia tirar facilmente até mesmo um Top Ranking de combate; afinal, quem poderia derrotar seus próprios medos?
Porém, para que essa habilidade funcionasse da melhor forma possível, seria necessário feri-lo ou ao menos tocar nele; gerando, assim, uma espécie de fobia: um medo inconsciente e irracional da pessoa chamada Vínia.
— Maldita defesa… — cuspiu um pouco de sangue e começou a se levantar, devagar.
Se Raizel era conhecido por ser o nefilim com a maior quantidade de energia e poder ofensivo, o adversário dela — Trevor Foster — era tido como o nefilim com o maior poder de defesa.
Para superar o híbrido angelical diante de si, Vínia pretendia apelar para a Indução de Medo através da visão — o que não necessitaria do contato físico, mas levaria um pouco mais de tempo.
Porém, quando Trevor estava começando até mesmo a evitar encará-la nos olhos, aquela maldita Veste Divina veio para encher o saco.
O aumento repentino de poder enfraqueceu o efeito da Indução de Medo, fazendo com que Vínia precisasse segurar a luta por mais tempo até se tornar a fobia de Trevor.
— Quer saber?! — Fincou a lança no chão e, sentindo a frustração quente e amarga brotar dentro de si, estava disposta a tudo para que acertasse um soco bem dado na cara dele. — Se é pra apelar, então bora!
Apesar de sua aparência inteiramente humana, Vínia Carinae também era uma híbrida, o que ficava evidente apenas em um único momento: quando ela usava o seu maior trunfo.
Entretanto, mesmo diante do perigo iminente, Trevor manteve a postura confiante, emanando Energia Divina. Diferente de sua oponente, ele já tinha pleno conhecimento do que estava por vir.
— Monstrifi…! — No meio da fala da garota, enquanto a Energia Espiritual dela se convertia em Energia Bestial, tudo dentro da arena parou.
— Bem na hora… milady — disse enquanto se virava para a parceira. Com exceção dos dois, nada se movia nos arredores. — Obrigado, agora é comigo.
Conforme a espada dele se movia, parecia carregar todo o tecido do espaço junto de si. O forte brilho na lâmina anunciava que receber aquele ataque, nas condições em que Vínia se encontrava — imóvel e com a guarda totalmente exposta — seria fatal.
— Xeque… Mate! — O ataque avançou devorando todo o espaço adiante e ficando cada vez mais devastador a cada centímetro cúbico devorado, até que alcançasse o seu alvo, ou melhor… um obstáculo. — Quê?
— Então, ela estava ali? — Perplexa, Sophie se aproximou do companheiro; e, ao passo que o efeito da Paralisia Temporal passava, uma poça de sangue se espalhava na frente de Vínia. — Grete…
O corpo oculto pela Camuflagem Ilusória começava a ficar visível, dando a entender o que havia ocorrido: sentindo o risco da técnica de Sophie, a assassina se pôs na frente da parceira, já esperando que ela seria o alvo dos adversários.
— Grete! — Em desespero, Vínia tomou a parceira ensanguentada e toda quebrada, em seus braços. Pele, ossos e tecidos musculares, era difícil discernir o que era o que naquela mistura brutal e cruel. — O que… você fez… Grete?
— Huh? — Vê lágrimas verterem dos olhos da adversária, fez o peito de Trevor doer. A dor que Vínia estava sentindo, ele a entendia bem. "Então eu estava certo".
Aquelas duas… Havia um pequeno detalhe que ele tinha notado enquanto pintava o quadro delas no dia anterior. A princípio, pensou estar enganado, mas… não estava.
Continua no Capítulo 130: Aceite-me!
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