O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 127: Espectadores

— Um empate, heim? — Dividindo a mesa com a escandalosa Patrona do Pecado da Luxúria, Inveja analisou o panorama geral do campeonato de forma cautelosa. — Esse pessoal não tá pra brincadeira.

Sem sombra de dúvidas, os duos de Top Ranking das Academias de Batalha seriam adversários formidáveis, o maior obstáculo na concretização dos planos do mestre da Organização Perpetuum.

— Yunaaa… — Dengosa e cheia de manha, Luxúria se encostou no ombro da companheira e se aconchegou por ali, ignorando as feições de reprovação da outra. — A gente tem que brigar com esse povo mesmo? Aff!

Tsc! — Virou o rosto para o lado e observou a transmissão do narrador do evento fazendo o alarde de sempre. — Se está tão preocupada com a força deles, deveria prestar mais atenção nas lutas.

Em contrapartida ao aviso da amiga, Luxúria fez um murmurinho com os lábios e — igual a uma criança birrenta — ficou de cara feia, ou tentou; era difícil gerar alguma espécie de feição pouco admirável no rosto sedutor daquela garota encantadora.

Os demais Patronos do Pecado poderiam falar mal de qualquer uma das atitudes dela ou da forma relaxada que a mesma cumpria as suas funções, mas jamais poderiam criticar o quanto formosa era.

Entre os céus e a terra, uma coisa era certa: Lilith Nocturne não havia se tornado a representante da luxúria entre os Patronos do Pecado por menos.

— Tá, prometo que vou prestar atenção na próxima — disse, esbanjando um certo tom de empolgação. — A próxima vai ser boa.

— Diz isso só porque vai ser a luta daquele cara, né? — Por mais que tenha tentado disfarçar, Inveja ainda deixou escapar um pequeno traço de incômodo afetivo em sua voz. — Você só sabe falar dele.

— Né? Será que ele vai usar aquela Veste Divina de novo? — Ela já podia sentir a água na boca e o corpo formigando ao se lembrar de como os golpes de Trevor eram pesados, principalmente quando usava sua Veste Divina. — Ai, que homão!

Só ao sair do êxtase de suas memórias, Luxúria se deu conta da pitadinha de ciúmes expressa na fala de Yuna; isso era algo raro, uma vez que sua amiga sempre negava qualquer relação de proximidade entre as duas.

— Ei! Ei! — Segurou o braço da outra e o devorou entre seus seios cobiçosos; então, encarando-a nos olhos, sussurrou em uma provocadinha: — tá com ciúmes de mim, né?

— "Ciúmes de você?" Por que eu teria? — De todas as opções disponíveis entre os Patronos, fazer dupla com Lilith servia apenas para trazer dor de cabeça à pobre Inveja. — Só disse que você vive com aquele cara na cabeça.

Heee…? — praguejou um tanto quanto desapontada. No dia em que Yuna confessasse que gostava de tê-la por perto, o tempo fecharia e choveria, com toda a certeza do mundo. — O ciúmes também é um tipo de inveja, então você tem sim.

Yuna encarou a companheira, desconfiada. Poderia ela estar com inveja de Trevor por receber tanta atenção de Lilith? Ciúmes daquela garota inconveniente?

— Mas, sabe… — sussurrou, agora olhando de forma desejosa e sem pudor para os lábios rosados da invejosa. — Se essa sua boquinha falasse que gosta de mim, eu deixaria essa ideia do Trevor de lado e ia pensar só em você.

— Me erra, vai. — Irritada mais consigo mesmo do que com a própria Luxúria, pegou o cardápio e começou a vasculhar alguma coisa para pedir enquanto esperava o início da próxima luta. — Focar em cumprir a sua parte da missão é o melhor que você faz.

Mesmo que sem ouvir o que queria — mas com um sorrisinho de vanglória nos lábios — alguém havia saído daquele embate com uma vitória incontestável nas mãos.

Ah, se lascar! — Batendo as mãos contra uma das mesas do salão de apostas, o Patrono do Pecado da Ganância espumou de raiva pelas narinas. — E tem empate nessa porra?!

Para a felicidade da casa de apostas, e azar dos apostadores, ninguém tinha feito lances no resultado correto da luta; Ganância, por exemplo, havia apostado no duo da Academia de Batalha Leviatã.

— Aqueles dois desgraçados vão ter que me devolver todo o dinheiro que perdi!

— Relaxa, relaxa. — Com um grande pote de coxas de frango, o companheiro de dupla do ganancioso comia como se não houvesse amanhã. — Quem come, seus males espanta.

Enfiou as mãos oleosas no potão de frango e devorou três coxas de uma só vez, o que arrancou uma feição de nojo do rosto do outro.

Para um mão de vaca como Ganância, fazer dupla com o Patrono do Pecado da Gula só poderia ser algum tipo de punição.

Aquele morto de fome comia, comia, comia, e nada de engordar; parecia um esqueleto ambulante. Talvez, ele realmente fosse um.

Não era possível que toda aquela comida estivesse indo para o estômago dele; se fosse o caso, ela estava evaporando assim que entrava em contato com os sucos gástricos.

"Maldito comilão."

E o pior de tudo: comida custava dinheiro.

Se continuasse naquele ritmo, os dois sairiam com os bolsos vazios do salão, e não seria por perderem tudo — até mesmo as calças — fazendo apostas.

— Que fique claro que é você quem vai pagar essa comida toda aí. — Tomou um gole do copo de água, pois até na bebida o muquirana fazia questão de economizar. — Você não vai ver um tostão do meu bolso.

— Que é isso, pô? Nós somos parceiros. — Pote de coxa frango esvaziado, Gula apontou o último pedaço; a barriga ainda roncando de fome. — E dinheiro foi feito pra gastar!

— Nem vem com essa pra cima de mim — disse, fechando os braços cruzados, igual o estado em que sua carteira se encontrava. — Não é culpa minha se te falta dinheiro pra alimentar essa fornalha que você chama de pança.

O guloso suspirou sem esperança. No estado em que ele se encontrava, poderia muito bem devorar até as mesas e cadeiras do salão de apostas; e isso nem era brincadeira.

— O que eu posso fazer se o meu estômago é assim?

Tudo culpa do experimento do Arklev.

Graças à habilidade do monstro que foi fundida ao corpo dele, Gula era capaz de converter o que comia em Energia Espiritual; o problema era a fome insaciável.

Com feições sérias e emburradas, que assustavam até o garçom que o atendia, um homem alto, de músculos truncados e veias salientes, tragava um pedaço de carne fumegante entre seus dentes serrilhados.

— Teve nada que preste até agora — disse, pouco antes de bater na mesa do restaurante, com uma mão fechada. — Que perda de tempo!

— Faz silêncio aí, ô grandão. — À frente dele, como se fizesse contraste com a sua aparência de bárbaro, estava uma garota pequena, calma e serena segurando um livro nas mãos. — Não vê que eu tô lendo?

— E isso lá é problema meu? — Com um movimento de mão, acenou para o garçom, que tremeu da cabeça aos pés ao ver o sinal do pedido de mais uma rodada de carne. — Vai dizer que você não tá nem um pouco entediada com as lutas desses fracotes?

Como Patrono do Pecado do Orgulho, Romulus esperava que os adversários que ele iria enfrentar no dia da invasão fossem um desafio digno; mas, considerando o que viu até ali, só tinha vontade de vomitar.

Os únicos pelos quais ainda nutria algum tipo de esperança para aquecer seu sangue eram os duos de Top 1 Rank S; entretanto, por causa do plano do mestre da Perpetuum, até nisso ele poderia se desapontar.

Usar um ataque surpresa? Aproveitar o dia da luta dos Top 1? O dia em que os adversários mais fortes estariam enfraquecidos?

Bando de covardes!

— Eu sou diferente de vocês, ratos medrosos… — Rangia os dentes com tanta força que as veias em sua testa incharam, ficando a ponto de estourarem; talvez assim escapasse da humilhação de ter que lutar feito um merdinha. — Eu sou mais forte…! Eu sou melhor…!

— Já disse que eu tô lendo — lembrou a garota, dessa vez com um tom de voz mais sério e olhos brilhando de furor. — Faça o barulho e o escândalo que quiser, mas bem longe de mim.

Diante de tal afronta, Orgulho devolveu o olhar feroz para a moça; o que poderia gerar um conflito interno entre os Patronos, se não fosse pelo pobre garçom que se aproximou trazendo uma bandeja com o pedido do cliente.

As pernas do infeliz rapaz tremiam de medo, e o clima tenso entre os clientes só piorava a situação. Nervoso, deixou o pedido e se afastou como quem fugia de dois cães raivosos.

O homem alto e parrudo era capaz de fazê-lo borrar as calças; contudo, por mais incrível que pudesse parecer, quem causou mais medo nele foi aquela garotinha.

Apesar da baixa estatura e da aparência delicada, bastava o mínimo de esforço para tirá-la do sério e conhecer o motivo pelo qual Elesis Hiratus carregava o peso de ser a Patrona do Pecado da Ira.

— Pro seu governo, você tá tirando conclusões erradas, grandão — disse enquanto era acalmada pelo aroma suculento da carne recém-preparada. — Aquela menina usuária de Nether seria um problemão pra você.

Tsc! — O pior era que ela estava certa.

Mesmo que o corpo dele possuísse uma resistência física capaz de mantê-lo vivo — ainda que com sérios danos — após receber o disparo de energia de uma das estrelas de nêutrons de Raizel, o Nether era o seu inimigo natural.

— Que se foda! — Pegou o primeiro pedaço de carne e o engoliu em uma abocanhada só. — Se não aparecer ninguém melhor, ela vai ter que servir, então.


Continua no Capítulo 128: Entre o Luxo e a Lama

Ajude a pagar o cafezinho do autor contribuindo pelo pix abaixo:

79098e06-2bbf-4e25-b532-2c3bf41ccc53

Siga-nos no famigerado Discord.



Comentários