O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 123: Aço Demoníaco

A densa liberação de Energia Demoníaca abalava todo o solo, não só da arena de combate como também de toda a Academia de Batalha. Ao longe, muitos se assustaram com o terror de um terremoto iminente.

Os fortes ventos cortantes, por sua vez, castigavam as costas do Cavaleiro da Morte, que fazia o possível para defender sua mestra, envolvendo-a em seus braços.

O corcel negro e o Sacerdote da Morte não tiveram o mesmo privilégio de Alícia, sendo empurrados para trás, amassados contra a barreira de proteção, a qual via mais uma de suas camadas a ponto de desabar.

Foi então que o vórtice do Sacrifício Sangrento se extinguiu, proporcionando um breve instante de calmaria, que foi tragado pela aproximação repentina de Milene, envolta na aura de sangue escuro.

— Sumam de uma vez.

Na iminência do terror, Dullahan agarrou Alícia e saltou para a frente, escutando apenas a explosão do corte de Milene contra o solo, o qual abriu uma profunda cratera.

— O quê?! — Foi ao pisar de volta no chão que o Cavaleiro da Morte sentiu falta de algo importante, suas pernas. — Muito rápida!

Empurrando Alícia para longe, Dullahan girou o corpo no ar e contra-atacou com o chicote de ossos envolto em Nether; no entanto, o mesmo foi feito em pedaços ao entrar em contato com a espada da majin.

— Uma péssima notícia pra você, caveira maldita! — Com um corte limpo, cortou-o de cima a baixo, como se o mesmo fosse feito de isopor. — Te apresento o Aço Demoníaco!

No mesmo instante, as metades de Dullahan foram tomadas por uma escuridão opaca, transformando-se em metal. A regra era clara: se fosse metal, estava no domínio de Milene.

— Liquidificar! — Então, sem o menor traço de respeito, a majin caminhou sobre a poça de metal líquido, que antes era o implacável Cavaleiro da Morte. — Teve o fim que merecia, aberração.

Ao vibrar de um relincho de ódio, a moça saiu do torpor da soberania e direcionou a atenção para o corcel negro, que avançou liberando faíscas pelas narinas.

— Quer vingança, é? — Uma montaria fiel para um cavaleiro honrado, entretanto não seria uma determinação forte o suficiente para lidar com o poder do Sacrifício Sangrento. — Irritante.

Em um instante Milene estava cara a cara com o corcel, no outro já havia desferido um forte chute na lateral do corpo dele, o qual quebrou algumas costelas e o arremessou para longe.

Um morto-vivo não cairia apenas por ter seu corpo quebrado e estraçalhado em pedaços, então, antes que o animal enfurecido tivesse a chance de se levantar…

— Solidificar! — Milene arremessou a espada, que cravou no estômago pútrido do corcel e o transformou em uma estátua de metal Demoníaco. — Assim tá bem melhor.

"Isso é mal… muito mal." Com uma espada de Nether tremendo em suas mãos e o Necronomicon flutuando ao seu lado, Alícia observava a execução de seus servos. "Aço… Demoníaco".

Literalmente o material usado na criação de armas demoníacas, algo que além de ser impossível de obter no plano físico também não poderia ser danificado por materiais deste plano.

Para fechar o pacote de desgraças, a espada de Milene havia se tornado capaz de transformar tudo o que tocava em metal, então qualquer arranhão, dali para frente, seria fatal.

— Que foi? — provocou, enquanto apreciava o fio de sua lâmina revestido pelo Aço Demoníaco. — Tá com medo, é?

O pior de tudo era que a majin não estava tão errada assim. Naquele momento, Alícia podia sentir as batidas frenéticas do coração em seu peito, batidas de hesitação.

— Sacerdote — sussurrou como uma menininha insegura faria, e se preparou para avançar — me dê suporte.

— Como desejar, senhora.

Quando o Sacerdote juntou as palmas das mãos, Alícia foi envolvida por uma aura roxa, a qual aumentou os seus atributos, para que pudesse fazer frente ao aumento de poder de Milene.

Então, em sua investida — rápida como o bater de asas de um beija-flor — Alícia se aproximou e cravou a espada de Nether no peito da oponente, ou era o que esperava.

O tinido metálico anunciou que além do Sacrifício Sangrento ter curado todos os ferimentos que a majin tinha antes da ativação, também deixou o corpo dela mais resistente, ou melhor, a pele dela havia se tornado metal.

— Quê?! — Alícia encarou, surpresa, a razão pela qual Milene não fez o menor esforço para desviar daquele ataque.

— Esse seu Nether é bem problemático — disse enquanto desferia uma estocada perfurante na cintura da outra que, mesmo tendo a velocidade aprimorada pelo Sacerdote, foi infeliz na tentativa de escape. — Mas tem uma fraqueza e tanto!

O Nether reinava sobre a matéria orgânica; entretanto, quando se tratava de matéria inorgânica, o cenário mudava completamente de figura.

"Arde…" Com feições de dor, Alícia notou que o ferimento, em vez de sangrar, começava a endurecer-se em ferro.

Entretanto, logo a carne voltou a crescer e a cobrir o espaço vazio, o que também deixou Milene surpresa.

— Ei, você aí — chamou a atenção do Sacerdote, com feições nem um pouco felizes. — Dois contra um é roubo, sabia?

Sem pestanejar, a majin disparou contra o curandeiro, pronta para ceifar o pouco de vida que havia naquele cadáver ambulante.

Foi quando sentiu algo ríspido agarrar-lhe o calcanhar, algo que deveria ter sumido para nunca mais voltar; assim, antes que Milene alcançasse o Sacerdote, ela foi puxada para trás.

— Você de novo, aberração?! — Cortando o chicote de ossos, avançou contra o reerguido Cavaleiro da Morte, dessa vez sem o cavalo e sem o crânio em mãos. — Cansou de apanhar não?!

Sem ter que segurar um crânio enquanto lutava, os movimentos de Dullahan se tornaram mais refinados, o suficiente para se esquivar do primeiro corte de Milene.

O que ele não esperava era ser empalado pelas costas, por uma estaca afiada que brotou no chão — o que também veio a suceder ao Sacerdote da Morte.

Os feridos começaram a se transformar em estátuas de Aço Demoníaco mais uma vez, ao menos até que simplesmente desaparecessem.

— Que chato! Sério!

Independente de quantas vezes se livrasse dos insetos, enquanto a invocadora continuasse em plenas condições de luta, bastava invocar o incômodo mais uma vez.

Claro, os servos da morte fariam o possível para defender sua mestra a todo o custo, independente de quantas vezes tivessem que cair em batalha.

— Vai ficar correndo e se escondendo atrás desse bando de carne podre até quando, heim?!

Ao passar das páginas do Necronomicon, o Exército Draugar voltou a fazer frente a Milene e correu em fúria contra ela; entretanto, antes de a alcançar, cada draugr foi aprisionado dentro de uma caixa de aço.

O reverberar da autodestruição das criaturas foi sentido sob os pés da majin, mas nada mais do que isso: as prisões negras mantiveram-se intactas.

"O que eu posso usar pra passar por cima do Aço Demoníaco?" Alícia mantinha distância, mesmo sabendo que Milene poderia cruzá-la em um instante. "Eu apelo pro Vislumbre da Glória?"

Enquanto a adversária revestisse a própria pele com Aço Demoníaco, as tentativas de cortar ou perfurar o corpo dela seriam inúteis.

— Nesse caso — disse, enquanto que, com um movimento de mão, as páginas do grimório voltaram a se mover — se não posso atacar o corpo, então…

Antes que conseguisse submeter sua ideia à prova, Alícia sentiu seus pulsos e tornozelos serem presos por algo rígido e frio: correntes.

Heim?! — Logo atrás, uma estrutura metálica semelhante a um caixão cheio de espinhos se conectava às correntes, a qual possuía uma cabeça feminina como ornamento.

— Seja uma boa garota e receba o abraço da minha Dama… de Ferro! — Ao som do bater de palmas de Milene, as correntes começaram a puxar a outra para dentro do abraço da morte.

Por mais que Alícia esperneasse, por mais que se esforçasse, as correntes simplesmente não arrebentavam, e a entrada do caixão a aguardava sedenta, como a boca de um devorador.

Após um puxão mais forte, Alícia bateu com as costas nos espinhos do fundo. Perfurada, grunhiu de dor, agonizando com a Energia Demoníaca assolando o seu corpo de tenjin.

As portas se fecharam com um impacto pesado, abafando os gritos da vítima na escuridão sádica e torturante enquanto o sangue escorria de todos os ferimentos, tanto antigos quanto novos.

Quando a Dama de Ferro se desfez, o corpo de Alícia despencou em queda livre até se espatifar, em um baque seco, contra o solo.

Imóvel, e com mais sangue se espalhando ao seu redor, a garota tossiu. A sensação amarga na garganta quase rasgou as suas cordas vocais.

— Necronomicon… Invocação…

gosta de apanhar ou o quê? — Com feições de desgosto, estalou os dedos, o que fez os ferimentos de Alícia cessarem o sangramento ao serem convertidos em metal. — É masoquista por acaso?

— Número 25… — sussurrou em desespero. A última participação dela pela Academia de Batalha não poderia ser encerrada daquela forma — Espectro Lamentador… Bradador!

Como se fossem feitas de uma fumaça semitransparente, algumas figuras fantasmagóricas surgiram de manchas roxas, que brotaram ao lado de Alícia.

— Tá achando que eu tenho medo de fantasma, é?! — Então disparou estacas de metal contra as figuras fantasmagóricas, as quais passaram direto pelos corpos delas. — Heim?

Mileeeneee… — sussurraram em conjunto, ao passo em que davam voltas ao redor da garota; foi nesse instante em que Milene percebeu que, se ela não tinha medo de fantasmas, então estava começando a ter.

Atordoada, caiu de joelhos, levando as mãos até os ouvidos, para que parasse de ouvir aquelas vozes perturbadoras a chamar-lhe pelo nome.

Os Bradadores tinham uma certa limitação: para que fossem efetivos em combate era necessário ter conhecimento do nome do alvo, uma vez que a fala de um Bradador era restrita a isso.

Entretanto, sua voz agourenta e macabra submetia o indivíduo a um estado de pânico e desespero que, sob efeito prolongado, até mesmo o mataria… de medo.

"Para… Para!"

Ofegante e com a respiração descompassada, Milene descobriu que o poder daquelas criaturas bizarras era especialmente forte quando o alvo possuía resquícios de alguma espécie de trauma.

"Me ajuda… por favor…" Podia sentir como se cada sessão de terapia escorresse junto às malditas vozes dos Espectros Lamentadores. "Por que eu? Por que eu?!"

"Sinto muito", pensou, melancólica, vendo a outra quase sem ar, rodeada pelo bando de Bradadores. "Você também passou pelo seu próprio inferno, não foi?"

Quem sumcumbiria primeiro? Milene, pelo terror e medo; ou Alícia, pela transformação em metal? De uma forma ou de outra, era fato que alguém tinha saído atrás naquela disputa de resistência: e essa era Alícia.

Então, usando o que ainda tinha de Energia Divina e disposição física, partiu para o seu lance final.

— Necronomicon… Invocação Número 20… Mão do Julgamento…

No meio do caos psicológico, Milene tardou a perceber a enorme nuvem roxa-escura que apareceu em cima dela. De lá, uma grande palma medonha desceu, esmagando-a com tudo.

O chão tremeu. Poeira veio ao alto. O corpo de Alícia subiu e desceu, pelo impacto. Apenas a roda de Bradadores saiu ilesa, intangível.

Quando a Mão do Julgamento se desfez, as duas garotas se encararam caídas no chão. Com os olhos entreabertos, aquela foi a última visão que ambas tiveram antes de desmaiar: uma à outra.


Continua no Capítulo 124: A Sós

Ajude a pagar o cafezinho do autor contribuindo pelo pix abaixo:

79098e06-2bbf-4e25-b532-2c3bf41ccc53

Siga-nos no famigerado Discord.



Comentários