O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 122: Servos da Morte

A passos lentos, Milene caminhava em direção a Alícia, a qual ainda se encontrava caída no meio das flores de Esteban, curando-se de suas feridas.

Ainda que a própria Milene não estivesse nas melhores condições de combate, bastava finalizar a moribunda, um trabalho fácil.

— Diferente do outro, você não vai escapar das minhas mãos, entendeu?

Apontou um dedo para a oponente de olhos entreabertos, e, então, diversos espinhos de metal negro surgiram no ar, mirando Alícia em vários pontos, principalmente nos vitais.

Foi aí que, ao avançar dos espinhos negros, uma sombra roxa-escura surgiu na frente da garota, e o relincho agourento de um cavalo ecoou do interior.

Hã? — Milene sentiu o corpo tremer de medo no mesmo instante em que todos os espinhos dela foram refletidos pelo que parecia ser uma espécie de chicote de ossos. — Que bicho é esse?

Posto em frente à usuária de Nether, um cavaleiro sem cabeça trajava uma armadura pesada e fazia a proteção da garota montado em cima de um corcel negro que — apesar da carne pútrida — esbanjava vigor.

Dizer que o cavaleiro não possuía cabeça talvez fosse um tanto quanto exagerado; a verdade era que um crânio queimava em chamas roxas na mão dele, a que não segurava o chicote de coluna vertebral.

— Um morto-vivo…? — Cerrando os dentes, Milene segurou a arma com força e entrou em posição de combate. — Sai da frente, de ossos.

O corcel, furioso, bufou labaredas de Nether de suas narinas. O cavaleiro, por sua vez, permaneceu parado, como se esperasse os comandos de um rei.

— Agradeço por atender ao meu chamado — disse Alícia ao seu guarda-costas, agora, segurando um livro de páginas escuras no meio das flores curativas — Dullahan.

O Cavaleiro da Morte, uma lenda viva capaz de dizimar exércitos inteiros sozinho. Um verdadeiro arauto da destruição no campo de batalha e, acima de tudo, uma das invocações mais fiéis do livro que Alícia segurava.

— É sempre uma honra servi-la, minha senhora — disse a caveira, conforme movia o maxilar cheio de chamas roxas. Então, focou as órbitas maléficas dos olhos em Milene. — Solicito permissão para o extermínio.

A jovem majin engoliu em seco.

Chamas de Nether envolveram o chicote de ossos de Dullahan, o que era uma péssima notícia para ela. Se a arma do adversário não era feita de metal, alterar a massa ou o estado do material estava fora de questão.

Então, o decreto da invocadora foi proferido: — Dullahan, avante!

O corcel negro relinchou, erguendo as patas dianteiras para o alto e soltando mais labaredas pelas narinas, enquanto Dullahan estalou o chicote no ar e mirou o primeiro ataque no pescoço de Milene.

A colisão das patas do corcel contra o chão fez a terra tremer, contudo, Milene mal sentiu o abalo do terreno, uma vez que saltou para o alto.

Se não tivesse pulado a tempo, aquele chicote de ossos teria agarrado o pescoço dela e o dilacerado por inteiro.

— Nether e Energia Divina… — Uma combinação maravilhosa para ser usada contra uma majin. — Desapareça, aberração!

Ainda no alto, criou uma gigantesca estaca de metal e arremessou-a com tudo contra o Cavaleiro da Morte, que a agarrou fortemente com uma mão.

O corcel negro relinchou, por causa da pressão imposta sobre suas costas, mas manteve-se firme, com o solo rachando sobre seus cascos.

— Caveira idiota! — Logo todo o metal da estaca mudou para o estado líquido, afogando Dullahan e o corcel dentro de uma gosma negra. — Solidificar!

Antes que pudesse sair do meio do líquido metálico, os servos da morte foram fossilizados no interior da massa de metal sólido.

Na sala de transmissão dos duos da Academia de Batalha Ziz, Petra observava — apreensiva — o desenrolar do confronto. Aquele cavaleiro Dullahan era impressionante, mas o que mais se destacava era o livro de Alícia.

— Aquele livro… o que é ele? — A capa preta ostentava uma série de símbolos de caveiras e galhos roxos, formando um emaranhado bizarro.

Ah, aquilo é um grimório. — Trevor tomou a iniciativa para explicar, mas foi cortado por Raizel, que conhecia o ítem em questão melhor do que ninguém.

— O Livro dos Mortos, Necronomicon. — Manteve o olhar apático, embora carregasse um certo desgosto por ver aquele grimório nas mãos de Alícia. — Um ítem raro dado apenas a alguns Anjos da Morte, os ceifeiros de São Azrael Arcanjo.

Mesmo assim, até anjos de alto escalão possuíam dificuldades em acessar as 100 invocações do Necronomicon.

Não. Talvez fosse mais adequado dizer que ninguém, exceto o próprio Azrael, já havia o colapso do caos da Invocação Número 100.

Quanto mais poderosa era a criatura invocada, mais energia consumia e mais difícil era de controlá-la. No meio de tudo isso, o Cavaleiro da Morte, Dullahan, ocupava apenas a posição de número 30.

— Essa garota… — Após a explicação, Raizel manteve o semblante sério, assistindo o restante da luta calado. "Onde ela conseguiu esse grimório?"

Ele duvidava muito que aquele idiota excêntrico do Arcanjo da Morte entregaria um Necronomicon de mão beijada para uma simples tenjin.

— Necronomicon, Invocação Número 10 — entoou, ao passo que mais uma fumaça roxa surgia ao seu lado — Sacerdote da Morte.

Da fumaça, saiu um ser semelhante a um clérigo cadavérico, o qual trajava uma longa túnica ritualística amarrada na cintura por um cordão de couro.

Se não fosse pelos rasgos e pelas manchas sujas, que revelavam a carne pútrida e alguns ossos, a criatura transmitiria um ar verdadeiramente sacro.

— A suas ordens, minha senhora — saudou com uma breve reverência. — Em que posso servi-la?

— Finalize a minha cura, mas antes… — Olhou com pesar o cavaleiro sepultado na estrutura disforme de metal. — Dullahan precisa de ajuda.

Antes que o Sacerdote pudesse fazer algo a respeito, viu-se forçado a criar uma barreira de energia ao redor dele e de sua mestra a fim de protegê-los das estacas de Milene, que rasgaram o ar com violência.

Não sendo suficiente, a majin se aproximou, com a lâmina da espada brilhando em mãos, e desferiu um corte de energia que devastou tudo em volta da barreira do Sacerdote — com um estrondo ensurdecedor — até mesmo as flores de Esteban.

Quando a poeira abaixou, e pedaços do piso da arena pararam de quicar no chão, a barreira da criatura se encontrava danificada, toda trincada.

— Sai daí! — esbravejou Milene, ao passo que descia mais um ataque que, certamente, terminaria o serviço. — Sua desgra…!

Foi quando Milene ouviu um som estridente, e um forte aperto travou o movimento de sua espada. Espantada, notou o chicote de ossos amarrado em sua arma.

"Ele já se soltou?!"

Ainda que tenha colocado apenas um braço e parte do dorso para fora do metal, Dullahan usou a força que tinha para puxar o chicote, roubando a espada da inimiga.

Com a ajuda do corcel, terminou de se libertar da prisão e cavalgou contra Milene, que criou obstáculos metálicos no caminho, os quais foram facilmente destroçados pelo chicote do morto-vivo.

Tsc! — Mais uma vez, a garota saltou para o alto da arena, entretanto a arma de Dullahan se esticou, pegando-a de surpresa e arremessando-a até o domo da barreira de proteção. — Argh!

Com o peito ardendo, por causa da carne dilacerada e dos ossos fraturados pelo ataque de Nether, a garota foi presa pela cintura e arremessada até a outra extremidade da arena.

hiin in in hinir! — O corcel relinchou, sarcástico, ao ver a moça se esforçando para conseguir se levantar.

— Peço perdão pelo atraso — desculpou-se o Cavaleiro da Morte, fazendo um movimento de abaixar a cabeça, como se a mesma não estivesse em sua mão.

Ah, tudo bem — disse Alícia enquanto acabava de ser curada pelo Sacerdote. Graças às flores de Esteban, o processo não foi tão tardio. — Você conseguiu tempo pra gente. Obrigada.

A mestra retribuiu com um sorrisinho singelo. Alícia sabia que, no fim de tudo, aquele cavaleiro estaria disposto a entregar a vida por ela, se já não estivesse morto. Então, estava na hora de dar uma ajudinha a ele.

Erguendo uma mão para a frente, o grimório flutuou na altura do peito dela e começou a passar as páginas sozinho até que parasse em uma que representava a pura definição de loucura e carnificina.

— Necronomicon, Invocação Número 15 — entoou, fazendo diversas manchas escuras surgirem do chão, das quais soldados mortos-vivos se ergueram do tormento de suas guerras — Exército Draugar.

Em posse das armas e vestimentas do momento em que sucumbiram em combate, porém desgastadas e sujas, todos os draugar, avançaram feito um bando de loucos contra Milene.

A moça encarou aqueles rostos podres e deformados, sentido vontade de tapar o nariz para escapar do cheiro repugnante de morte e podridão que contaminou todo o lugar.

— Pra longe, aberrações! — Ainda que mal se aguentando de pé, disparou estacas de metal e jogou várias bolas de aço negro em cima do Exército Draugar. — Heim?!

Diferente de Dullahan, que era impiedoso com os inimigos, mas esboçava profundo respeito por sua mestra, um draugr era um ser sem honra ou escrúpulos.

Apesar de mais fracos individualmente, sua fúria e insanidade jamais os permitiriam parar — ainda que destroçados em pedaços pelo metal de Milene — até que, enfim, alcançassem o seu objetivo.

Próximos à jovem majin, os draugar liberaram toda a revolta e energia contida em seus corpos numa investida suicida.

Um após o outro, cada draugr se converteu em uma potente explosão de Nether, fazendo o roxo da morte tomar conta do ambiente.

Dado o excesso de explosões, e a longa duração do ocorrido, poucos acreditavam que a majin ainda poderia sair inteira daquilo.

E assim o foi.

Quando tudo cessou, Milene se encontrava caída, imóvel, em meio às várias crateras que marcavam o último lugar em que cada draugr havia pisado.

— Sem… essa… 

Ao ouvir a voz da garota, até mesmo a caveira de Dullahan esboçou surpresa. Quanta resistência e determinação seriam necessárias para continuar consciente depois de tanto dano causado por Nether?

— Querido irmão… eu também… vou…

Se Luke havia reduzido alguns meses da própria vida durante o combate, então não existia razão alguma para que Milene desejasse prolongar a dela.

Quando o sangue da garota passou a se misturar com a escuridão da Energia Demoníaca, o Cavaleiro da Morte foi o primeiro a tomar uma atitude.

Para a surpresa de Alícia, seu fiel cavaleiro abandonou o corcel negro e a abraçou; ficando de costas para Milene recebeu o dano do vórtice de Energia Demoníaca que castigou cada criatura — viva ou morta — presente dentro da arena de combate.

— Sacrifício… Sangrento…


Continua no Capítulo 123: Aço Demoníaco

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