O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 118: Vislumbre da Glória

Esteban mal conseguia prestar atenção nas palavras do indivíduo, o aperto da mão de terra e a morte recente daquelas pessoas o deixaram em um estado de puro desespero.

"Droga! Droga! Droga!" Esperneava tanto quanto podia, mas o fim dele estava cada vez mais próximo de ser o mesmo que o dos outros.

— Vamos, garoto, fale alguma coisa — zombou o manipulador de terra, em meio a uma risada rouca. — Ou tá sem ar pra fazer isso?

Foi quando, sem conseguir suportar a pressão imposta sobre seu corpo por muito mais tempo, Esteban soltou um grito agonizante para o alto, o qual reverberou doloroso pelas plantas ao redor.

Caindo das alturas do céu estrelado, a lança do garoto rasgou o ar e, em especial, os dedos da mão de terra que o prendiam.

— Ora, ora! — O bandido voltou a ovacionar o garoto, que tossia no chão em busca de ar, com um breve bater de palmas. — Muito bom! Muito bom!

Matar o pirralho seria a coisa mais divertida que faria naquele dia. A única coisa que ele não esperava era que, ao caminhar em direção a Esteban, raízes prenderiam suas pernas.

— Plantinhas? É isso mesmo, pivete? — No entanto, antes que pudesse fazer algo a mais, um muro de raízes eclodiu do solo e se pôs entre ele e o garoto.

"É agora…" Levantando-se na base do desespero, o jovem tenjin correu, saltou para os galhos de uma árvore e continuou em busca da sobrevivência.

Ir por terra seria perigoso demais. A última coisa que ele queria era ser preso por aquelas mãos medonhas de novo.

Graças à sua conexão com a floresta, Esteban sabia que havia um penhasco não muito longe dali.

Era perigoso, mas ele estava longe demais da civilização para conseguir escapar da floresta antes daquele louco o pegar.

Hahahaha! — Esteban quase engasgou. Deveria ser óbvio que aquele cara não ficaria preso por muito tempo. — Corre! Corre!

E assim ele fazia, até que sentiu as árvores começarem a afundar no chão, o qual estava se transformando em lama.

"Não, não, não!" Suplicava enquanto saltava de galho em galho o mais rápido que podia. "Por favor, só mais um pouco!"

Já era possível vislumbrar o penhasco ao longe e, dada a velocidade de Esteban, ele logo chegaria lá; mas a risada de hiena do lunático atrás dele o fazia duvidar de suas capacidades.

"Não posso morrer…"

Quando finalmente alcançou a beirada do penhasco e estava para pular, movido pela adrenalina que fervia em seu sangue, ele escutou a proclamação do algoz:

— Um presentinho pra você, moleque!

"Não, obriga…" Um forte impacto estalou na sua nuca, como se os ossos do crânio tivessem rachado todos ao mesmo tempo.

Conforme o corpo de Esteban despencava, ele viu sua consciência apagar, substituída por uma escuridão absoluta.

Nem mesmo percebeu quando seu corpo se chocou contra as águas do rio logo abaixo. Pelo menos, como ele havia pensado, o bandido não o perseguiu além daquele ponto.

— Que cabeça dura, heim? — Com uma pequena Bala de Pedra na mão, o criminoso observava uma mancha de sangue na água, onde o garoto havia caído. — Moleque.

Mesmo frustrado por sua Bala de Pedra não ter furado a cabeça do garoto, virou as costas e voltou para junto do grupo de ladrões. Aqueles otários que não pensassem em escapar levando a parte dele do ouro.

Cof! Cof! — Mal recobrou a consciência e quase se viu morrendo engasgado. — Meus… pulmões… Cof!

Se foi um milagre ou sorte, Esteban não sabia, mas — apesar de toda a água que engoliu enquanto esteve apagado — ele ainda estava vivo.

As únicas certezas que ele tinha eram: sua nuca doía como se estivessem martelando a sua cabeça sem parar, e aquele quarto… Ele não fazia a menor ideia de onde estava.

O ambiente era simples, assim como o quarto que ele costumava ter. Talvez por isso não tenha estranhado tanto.

Foi então que a porta se abriu e uma pequena garota de olhos e cabelos roxos entrou trazendo uma jarra com água e um copo.

Oh! Você já acordou. — Por alguma razão, a menina não parecia tão surpresa assim. — Que bom. Agora pode beber água sozinho, depois de um dia.

Esteban levou uma mão ao rosto enquanto as peças começavam a se encaixar na mente dele: um dia… um dia inteiro inconsciente.

— Obrigado — disse, da melhor forma que pôde — por ter cuidado de mim esse tempo todo.

Ao observar a garota com um pouco de atenção, a vontade de perguntar onde ele estava foi embora em um instante.

Mesmo depois da pancada na cabeça, Esteban ainda se lembrava do símbolo na blusa da menina.

"Uma órfã." Os dois estavam, sem sombra de dúvidas, no Orfanato Santo Alexandrino. — Se importaria de dizer como me achou?

— Vejamos… — A garota encheu um copo de água e ofereceu para ele. — Eu fui pescar. As crianças daqui adoram peixe, sabe?

— Aí você me pescou?

— Quase isso. — A garota soltou uma risadinha boba enquanto o via beber a água entregue por ela. — Enfim, por que você tava tirando um cochilo no rio? E cheio de sangue ainda por cima.

Esteban não sabia se ficava em silêncio por não querer expor detalhes da situação ou pela forma absurda que a fala da menina soou.

"Quem pensaria que eu tava tirando um cochilo ali?"

Além disso, ele passou um dia inteiro desacordado, e ela disse "você já acordou" como se aquilo não fosse nada.

Talvez fosse um pouco tarde para perceber, mas aquela garota tinha uma concepção de risco um pouco fora dos padrões.

"Um pouquinho estranha, só", pensou, dando-se conta de que estava conversando com ela já tinha um tempo e ainda nem sabia quem era a sua estranha salvadora. — Sinto muito só perguntar isso agora, mas qual é o seu nome mesmo?

Aham! — Levou uma mão fechada até a boca e limpou a garganta antes de proferir: — Eu me chamo Alícia Scar…

Estranhamente, a tal de Alícia balançou a cabeça para os lados em negação à própria fala e corrigiu sua apresentação.

— Eu me chamo Alícia… — Fez uma breve pausa dramática e anunciou seu sobrenome com orgulho no peito. — Alícia… Necron.

Os ouvidos de Esteban zumbiam, como se houvessem cigarras festejando dentro deles. De qualquer forma, aquele som irritante não duraria por muito mais tempo; a consciência apagaria primeiro.

Um pouco antes de sentir seus olhos se fecharem, ele viu como — do buraco no peito de Alícia — vazava uma quantidade de sangue tão grande quanto a do dele.

Depois de tanto tempo, parecia que enfim aquela garota havia ajustado a sua noção de risco para algo mais próximo do normal, ao menos era o que se podia notar pelas feições de agonia dela.

"Me desculpe, Lucius."

Quando sangue começou a vazar dos poros da pele de Esteban, agora acompanhado por uma suave aura dourada, os outros membros da Academia de Batalha Behemoth se viram paralisados em sua Sala de Transmissão.

"Eu não posso deixar que eles vençam." Mesmo que significasse abrir mão de parte de sua vida ao usar a técnica mais poderosa de um tenjin — algo considerado sagrado para aquele povo. "Eu não posso deixar que a violência deles triunfe no fim!"

Toda a Energia Divina se acumulou ao redor do corpo de Esteban, em forma de uma espiral, e explodiu em um vórtice de luz dourada e vermelha capaz de gerar um espaço vazio nas Águas Corrompidas de Luke.

Pelo deslocamento repentino de toda aquela massa de água e o aumento de pressão, mais uma camada da barreira de proteção caiu, aumentando o espaço disponível na arena.

Quando o corpo de Alícia estava para ser carregado pelas correntezas desenfreadas, que se espalharam pelos arredores, Esteban a segurou em seus braços, deixando o pilar de luz do Vislumbre da Glória para trás.

— Você… por quê…? — indagou a moça, com um semblante doente, por causa da intoxicação de energia demoníaca.

— Descanse um pouco. — No mesmo instante, uma grandiosa árvore eclodiu do chão, tão rápido que seus galhos envolveram todo o lugar em um piscar de olhos. — Eu vou fazer o possível aqui enquanto você cuida desses ferimentos.

Foi quando Alícia percebeu que os machucados no peito e no ombro de seu parceiro haviam se fechado, mas os dela ainda não.

Outra coisa notável era que o nível da água presente no ambiente estava baixando, absorvida pelas raízes da grande árvore de Esteban.

— Então vai ser assim, heim? — Com um movimento de mão, Luke fez o corpo de sua irmã sair das águas remanescentes e o protegeu dentro de uma Bolha de Cura. — Pode vir… otário.

Ao terminar de absorver toda a Água Corrompida, tanto o tronco quanto os galhos e as folhas da grande árvore murcharam.

"Muito obrigado, senhora árvore." Esteban encarou a árvore morta, com pesar, enquanto descia e colocava Alícia no meio de um pequeno campo de flores, as quais liberavam um pólen curativo. "Garanto que seu sacrifício não terá sido em vão".

Então, simplesmente do nada, o jovem tenjin materializou sua lança e realizou um movimento abrupto, que resultou na colisão contra uma das flechas de água de Luke.

Mesmo que a haste da lança tenha vibrado com força em sua mão, Esteban, daquela vez, foi feliz em conseguir se defender de um dos disparos do oponente — com o Sacrifício Sangrento ativo.

— Não pretendia me ignorar pra sempre, né — disse, ao passo que erguia o queixo e seus olhos brilhavam em êxtase — abençoado?

Enquanto os dois se encaravam, o corpo de Esteban emanava a aura dourada com vermelho do Vislumbre da Glória, e o de Luke liberava o vermelho enegrecido do Sacrifício Sangrento.

— Eu já tô indo — disse Esteban, com determinação no olhar — tirar esse sorrisinho grotesco da tua cara.


Continua no Capítulo 119: Vislumbre x Sacrifício

Ajude a pagar o cafezinho do autor contribuindo pelo pix abaixo:

79098e06-2bbf-4e25-b532-2c3bf41ccc53

Siga-nos no famigerado Discord.



Comentários