O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 115: Campos Elíseos

Ainda ofegante, Alícia viu sua algoz caminhar a passos lentos em sua direção. Como uma presa encurralada, ela tentou dar um passo para trás. Mas para onde fugiria?

Por maior que fosse a arena de combate, só havia três formas de passar pela barreira de proteção: destruindo as dez camadas da barreira, sair como vencedor ou ser teletransportado para a enfermaria como um perdedor.

"Não!" Apertou o cabo da sua espada com força, a ponto das veias se destacarem em sua mão. — Vamos continuar.

Milene não pôde conter um sorriso sádico em seus lábios após ver a adversária desesperada, buscando forças para ficar de pé.

Aquela reação era tão patética vinda de uma Top Ranking que chegava a ser prazeroso causá-la em Alícia.

— Então, venha. — Apontou sua espada para a presa encurralada. — Dê um passo à frente, se puder, claro.

Com esforço, Alícia se pôs a cumprir o desafio, no entanto…

Huh?! — Não conseguiu prosseguir. Como uma âncora atracada no fundo do oceano, a sua espada não saía do lugar. Por outro lado, a ponta começou a afundar no chão.

— O que foi? — Debochou Milene. — Não consegue, né?

Alícia cerrou os dentes. Ela sabia muito bem a razão daquilo. Sua arma estava cada vez mais e mais pesada; consequência do efeito da Habilidade Inata de Milene, a Manipulação de Metais.

Pela vontade daquela majin, qualquer coisa — desde que feita a partir de algum metal — poderia ter a sua massa e densidade aumentadas ou diminuídas tanto quanto ela desejasse.

"Não, não é bem assim", pensou enquanto retirava uma Gema Espectral roxa do seu anel de ressonância, o que deixou a outra com feições de surpresa.

— Você vai apelar pra isso? — Forçando uma risadinha, tentou manter sua pose de superioridade, embora soubesse do problema que estava por vir. — Tá desesperada mesmo, heim?

Mesmo que não fosse visível em alguns casos, toda técnica possuía um certo gasto de energia.

Fosse para produzir chamas maiores e mais poderosas ou até mesmo distorcer uma área maior do espaço, tudo custava uma quantidade de energia muito mais cara.

Se a arma de Alícia ficasse poderosa demais, Milene teria que gastar uma quantidade exorbitante de energia para impor peso suficiente para travar seu movimento.

— Integrar! — exclamou Alícia, pronta para cravar a Gema Espectral no guarda-mão da sua espada.

— Negado! — Dando o braço a torcer, a majin estendeu uma mão em direção à arma da oponente, a qual logo começou a derreter.

— Quê? — Alícia sentiu o metal viscoso da espada escorrer por entre seus dedos. Não estava nem um pouco quente, por outro lado, a arma apenas derreteu.

Alteração de Propriedades.

Por causa daquela maldita técnica, Milene podia mudar o estado de metais, mudando-o de sólido para líquido livremente.

Naquele momento, a espada de Alícia não tinha apenas virado um monte de gosma como ela se encontrava vulnerável e desarmada.

Até conseguir reconstruir a sua arma astral levaria um bom tempo. Certamente, mais tempo do que aquela luta duraria.

— Então — indagou Milene, enquanto se preparava para avançar — o que vai fazer com essa pedrinha aí?

Sem uma arma para ser acoplada, uma Gema Espectral não era mais do que um objeto bonitinho. E beleza não definiria aquela luta.

Para completar, quem integrou uma Gema Espectral à sua arma foi a própria Milene, a qual disparou a mil contra a sua rival.

— Mas que peninha, né?!

Esteban cerrou os dentes e puxou a última flecha de água corrompida, que estava cravada em sua perna; a dor era lancinante.

Cada fibra pulsava como se quisesse abandonar o membro ferido; e, claro, as feridas estavam demorando muito para se fecharem.

— Lutar sempre é um saco. — Era difícil entender porque haviam pessoas mundo afora que aclamavam e adoravam se envolver nesse tipo de coisa.

— Vai ficar de choro aí, ô abençoado? — Luke continuou os disparos quase incessantes, fazendo com que a arma de Esteban, que insistia em continuar girando no ar para protegê-lo, começasse a ser empurrada para trás. — O campo de batalha não é lugar pra gente da sua laia!

Tsc! — Ele já estava cansado de ouvir isso. Era sempre assim: aquele que não lutava, era pisado e humilhado. — Vai se ferrar, demônio!

Majins, como apóstolos da maldade, eram sempre uma bomba ambulante, pronta para causar problemas a qualquer momento — o tipo de pessoa perfeita para perturbá-lo.

— Fique em paz e permaneça em silêncio.

Ao soar de suas palavras, o piso rígido da arena de combate começou a tremer e a rachar. Das fissuras, surgiram pequenas raízes, as quais logo se tornaram em plantas floridas.

— Poder irritante do caralho. — Pouco a pouco, as flechas de Luke passaram a perder velocidade. Na verdade, era ele que estava disparando de forma cada vez mais vagarosa. — Que porre.

— Campos Elíseos.

Criadas a partir da Manipulação de Natureza, as plantas dos Campos Elíseos de Esteban liberavam esporos relaxantes pelo ar que, guiados pelo fluxo de energia do tenjin, logo alcançavam o alvo.

Ao que Luke parou de atacar, inclinando-se para a frente e levando uma mão até a cabeça, a lança de Esteban pôde, enfim, parar de girar como uma roda na frente do seu portador e servir-lhe de muleta.

— Se… fuder… — Luke esboçava expressões confusas em seu rosto: por um lado, havia a sensação de paz proporcionada pelas plantas; por outro, o poder divino agia como veneno em seu corpo.

Pela secura e ardência em sua garganta, o majin cedeu de joelhos e cuspiu um pouco de sangue, tingindo o chão com um vermelho ardente.

— Vai… à merda! — praguejou, deparando-se com feições que não carregavam o mínimo de vanglória em Esteban.

— Vou pôr um fim ao seu sofrimento de forma rápida. — Os Campos Elíseos nunca foram pensados para ser uma técnica de tortura. — Desabroche e floresça!

Enquanto os ferimentos em sua perna acabavam de se fechar, Esteban levantou sua mão direita. Logo atrás dele, seguindo o movimento de seu braço, uma grande planta se ergueu até o alto da barreira de proteção.

Uma majestosa e belíssima flor amarelada desabrochou no topo da grande planta, na qual um forte brilho verde começou a se formar em seu centro.

Mesmo sob o efeito dos Campos Elíseos, Luke sentiu a adrenalina percorrer cada membro do seu corpo.

Desviar. Correr. Escapar.

— Mas que…! — Quando estava para, enfim, conseguir se levantar, firmes puxões prenderam seus braços e pernas. — Huh?!

Vindas das profundezas do subsolo, raízes eclodiram das rachaduras sob seus pés, segurando-o como se fossem correntes.

Por mais que puxasse, por mais força que usasse, aquelas malditas raízes não arrebentavam. As desgraçadas persistiam em mantê-lo indefeso, pronto para o abate.

— Me larga, seu tenjin imundo!

No entanto, a resposta não veio de uma forma que lhe agradaria: após um apontamento de mão, a flor — que brilhava como o Sol — disparou toda a energia divina ali contida.

Luke teve seu pedido atendido de liberdade: as raízes que o prendiam sumiram, pulverizadas pelo canhão incandescente que amassou seu corpo contra o chão.

Logo em seguida, foi arrastado pelo ataque — como um náufrago impotente frente às correntezas do oceano — e sentiu suas costas se chocarem de qualquer jeito contra a barreira de proteção.

Gritou e esperneou. Sua voz não foi ouvida. Apenas o ressoar vibrante da energia que o castigava ecoava pelo ambiente, ao menos, até que o poder da flor se esgotasse.

Só então, Luke pôde produzir algum som audível aos tímpanos do público: o tombar do seu corpo sobre o chão devastado.

Hã? — Quando estava para desferir um golpe que, certamente, deceparia o braço da moça desarmada, Milene sentiu o Pacto de Ressonância alertar sobre o risco que seu irmão corria. — Luke?

O estrondo e as ondas de choque do ataque de Esteban inundaram a arena e alçaram tanto o corpo quanto a concentração da jovem majin.

Por sorte, Alícia conseguiu escapar do ataque de Milene sem grandes danos: apenas um corte superficial no braço, próximo ao ombro.

No entanto, não demorou para que a majin se levantasse irada, buscando vingança pelo que fizeram ao seu irmão — buscando o pescoço de Alícia.

"Ela tá doida?!" Sentindo um filete de sangue escorrer pelo seu pescoço, abaixou-se para desviar do corte seguinte e, com uma mão, disparou uma rajada de energia roxa contra a barriga da outra.

Como esperado, apesar de ter ajudado a ganhar um pouco mais de distância, o ataque não foi forte o bastante para causar muitos danos a Milene.

"O que eu tô fazendo?" Alícia podia sentir no fundo de sua alma: ela não tinha liberado a energia de forma eficiente. Desde o início, ela estava suprimindo todo aquele poder dentro de si mesma.

Todos estavam levando a luta a sério. Até mesmo Milene tinha priorizado derrotá-la em vez de ajudar o irmão. Cada um estava cumprindo com o seu dever, exceto ela.

Por um momento, sentiu que perderia de novo. A Academia de Batalha Behemoth teria uma segunda derrota no campeonato, tudo por causa dela.

"A minha última lembrança daqui." Mordeu os lábios com força enquanto via Milene avançar contra ela, com a espada transbordando Energia Demoníaca. — A minha última lembrança…

Eu vou estar torcendo por você.

Suas pupilas se dilataram ao lembrar-se das palavras que ouviu de Petra no dia anterior e receber, à queima roupa, o canhão de energia disparado pela arma da oponente.

Contudo…

Hã? — Milene não sabia o que dizer ao ver seu ataque dividindo-se em dois, deixando o rastro de um "V" pelo piso da arena.

De pé e segurando uma espada feita de pura energia roxa, em posição defensiva, Alícia a encarou com os olhos emanando um brilho mórbido.

Milene engoliu em seco. Ela sabia muito bem que aquela arma não era feita de uma energia roxa qualquer.

"A Energia Primordial da Morte, Nether."

Alícia já havia decidido que abandonaria a Academia de Batalha Behemoth após o fim do campeonato, ainda assim…

— A minha última lembrança daqui — disse, ao passo que apontava sua arma para Milene, e novas Espadas de Nether surgiam dos seus lados — não vai ser uma derrota!


Continua no Capítulo 116: Meu Nether

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