O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 113: Retribuição Duvidosa

Após realizar a compra e se despedir de Alícia, Petra pôde enfim retornar para casa. Dada a atividade física que realizou durante o jogo de basquete, ela sentia o cheiro do suor impregnado em seu corpo.

Não via a hora de tomar um merecido banho.

Contudo, havia algo mais importante que ela queria fazer: entregar os Biscoitos Itinerantes ao seu parceiro. Pelo que a neta da senhorinha da loja falou, aqueles tinham um gosto muito doce de amor.

Claro, ela nunca contaria esse detalhe para Raizel: dava muita vergonha.

Por falar no indivíduo, quando Petra vasculhou o local, não havia o menor traço da presença dele na sala, na cozinha nem mesmo na galeria de música. Tudo se encontrava em meio ao mais puro silêncio.

"Será que ele tá no quarto?"

O lugar de descanso também se encontrava vazio. Soltando um leve suspiro e segurando o pacotinho de biscoitos com cuidado para não quebrá-los, a moça sentiu uma pontada de frustração.

Foi quando a porta se abriu atrás dela, e — sentindo seu corpo tremer, como se tivesse acabado de ter sido assustada por um fantasma — Petra se virou.

De cabelos molhados e com uma toalha em volta do pescoço formando um "U" invertido, o dito cujo entrou como se nada tivesse acontecido.

"O banheiro."

O único cômodo que ela não tinha conferido. Contudo, Petra não se ateve muito à sua conclusão.

Tanto seus olhos quanto pensamentos se viram presos naquela estrutura minimamente elaborada ao longo de incontáveis anos: o peitoral nu do nefilim.

Sólida, firme e intransponível — como a mais imponente das muralhas — era a musculatura de seu parceiro.

Uma vez que Raizel costumava usar roupas um tanto desleixadas — as quais escondiam as minúcias de seu corpo alto e magro, porém perfeitamente equilibrado — Petra era a única pessoa que tinha passe livre para contemplar aquela visão.

De forma instintiva, de modo que a garota mal percebeu a própria reação, seus olhos deslizaram pelo peitoral do rapaz, descendo pelos gominhos do abdômen trincado, e, por fim para… a calça preta.

"Claro que ele ia tá de calç…" Percebendo para onde seus pensamentos a levavam, Petra sacudiu a cabeça para os lados. "Foco! Foco!"

— Senhorita? — indagou Raizel, com um claro sorriso debochado e prepotente em seu rosto. — Em que esse humilde nefilim pode servi-la?

Huh?!

Pega no pulo do gato, a moça gaguejou numa tentativa falha de organizar suas palavras, o que a levou a mostrar o pacotinho de biscoitos na base do impulso.

Er… Pra você — disse, desviando o olhar para o lado, para longe da tentação pecaminosa.

— Biscoitos Itinerantes? — Em instantes, o sorriso debochado e prepotente de Raizel foi substituído por feições de surpresa e paralisia. — Entendo…

Aproximou-se da garota a passos vagarosos e pegou o pacotinho transparente, o qual estampava um belíssimo conjunto de corações vermelhos pela superfície.

— Está na época em que compartilham essas coisas — disse, um tanto quanto pensativo. — Sinto muito, senhorita, eu não preparei nada para retribuir.

Assim como Alícia havia falado.

— Eu fico feliz por você ficar feliz. — O silêncio e as pupilas dilatadas de seu parceiro foram o suficiente para que ela pudesse manter seus olhos fixados nos dele.

No entanto, seu olfato não partilhava da mesma concepção. Raizel estava muito perto. Era impossível escapar do cheiro cítrico e envolvente do pós-banho que ele exalava.

— Não… — disse enquanto guardava o presente em seu anel de ressonância. — Eu irei retribuir de forma adequada.

Petra refletiu sobre o significado daquelas palavras, perguntando-se sobre o que seu parceiro pretendia lhe dar de última hora.

Foi quando ela viu Raizel criar uma toalha branca e lhe oferecer. A princípio ficou confusa, depois, espantada.

— Tire a roupa — disse ele.

Huh?! — Como os olhos a ponto de saltar de sua face, Petra não conseguia acreditar no que havia escutado. — Co-Co-Como é?!

— Tire a roupa e vista a toalha.

Por um momento, ela até esqueceu que aquele confortável tecido brando existia e que estava estendido em sua direção.

— Eu vou te fazer uma massagem. — Então, completou com um sorriso suspeito e mais do que sugestivo: — Você não vai recusar, não é?

Pegando a toalha sem jeito, Petra fez que "sim" com a cabeça. Uma massagem seria excelente para relaxar seu corpo após o jogo de mais cedo.

Entretanto…

Pressionou o dito tecido macio contra seu peito e sentiu o coração pulsando a mil. No fim, ela sabia bem aonde aquela historinha de "massagem" poderia levar.

— Rai… — De bochechas rosadas, sussurrou um pedido: — Fica de costas.

Contudo, o que ele fez veio em contrapartida ao seu pedido. Com uma pegada firme pela cintura, a trouxe para mais próximo de si.

Seus lábios ficaram a ponto de se encontrarem, o que despertou em Petra o desejo genuíno de beijá-lo.

— Eu farei a sua vontade. — sussurrou enquanto desviava o trajeto de sua fala até o ouvido dela. — Entretanto, certifique-se de tirar… tudo.

U-Uhum! — No calor do momento, acabou por concordar com os termos. Só no segundo seguinte, Petra se deu conta do contrato que assinou. "Tudo? Tudinho?!"

Ao que seu parceiro se virou e tomou alguns passos de distância, a moça olhou atônita para a toalha que recebeu, ou melhor, para aquele pedaço de tecido, minúsculo ao extremo.

Raizel tirou a toalha que ainda estava em seu pescoço e a jogou de qualquer jeito sobre uma mesinha mais ao canto.

Logo depois uma pequena venda preta surgiu em sua mão, a qual ele usou para cobrir os olhos.

— Isso garante que eu vou cumprir minha palavra, senhorita.

— A minha… eu também vou — disse, apesar de suas palavras não passarem tanta confiança.

Ouvir aquela voz meiga soar tão abalada fazia aflorar em Raizel um desejo insano de vê-la se converter em algo ainda mais prazeroso.

“Que voz linda”, pensava. “Imagina gemendo.” Seus lábios salivavam ao conceber a imagem em sua mente.

Uma verdadeira tentação.

De pouco em pouco, Petra começou a tirar cada peça de roupa; começando pela blusa, logo em seguida a saia. Quanto mais via sua pele exposta, mais a sensação de nervosismo se espalhava por ela.

Só por precaução, enquanto tirava o par de meias 7/8 e ficava apenas com as vestes íntimas, deu uma última conferida nas costas do seu parceiro.

"Ele tá até vendado." Mesmo assim, a mínima ideia de que Raizel ainda conseguisse vê-la…

Respirou fundo e se despediu silenciosamente do sutiã e depois, com um pouco mais de resistência, também da calcinha.

— Presumo que essa foi a última peça, certo?

Ao ouvir as palavras do rapaz, Petra tremeu. Antes mesmo de conseguir pensar direito, um braço cobriu o volume saliente de seus seios, e o outro se pôs entre as pernas bambas.

Com o coração palpitante e o nervosismo beirando o limiar da loucura, ela constatou que Raizel não tinha violado o que ele havia prometido.

"Como que ele sabia…?"

— Pode vendar meus olhos, mas nunca minha mente. — Apontou para um de seus ouvidos, os quais estavam escutando muito bem o tecido das roupas deslizando pelo corpo dela. — Por sinal, posso dizer que tenho uma imaginação muito boa.

— Rai… — Respirou fundo, vestiu a toalha e, enfim, proferiu o que seu parceiro tanto ansiava por escutar:  — Po-Pode se virar.

Em instantes, a venda no rosto de Raizel se desfez em vários pontos brilhantes de energia vermelha. Ao olhar para trás, ele viu suas expectativas serem superadas.

Com uma mão na altura dos seios, os quais estavam com boa parte do decote visível, uma vez que aquela toalha minúscula cobria quase nada, Petra falou baixinho:

— E agora? — Corada, o observava à espera dos próximos comandos, tímida.

O peito de Raizel pulsou forte. Por um instante, suas pupilas circulares quase assumiram o formato de fendas, para ignorar os arredores e focar apenas na garota diante dele.

O Fruto da Luxúria suplicava por quebrar as correntes impostas pelo nefilim nos últimos dias e liberar todos os desejos suprimidos de uma só vez.

Arrancaria aquela maldita toalha e a jogaria para longe; então, com sua parceira totalmente acessível a ele, a foderia em pé, pressionada contra a parede mais próxima.

Esqueceria a existência da cama. Colocaria Petra de quatro sobre o tapete e se afogaria com ela no mar de luxúria e perversão.

Mesmo que sua parceira pedisse, ainda que com sua voz doce e fraca ela implorasse…

— Rai? — Petra o chamou com cuidado, vendo-o parado e cativo da própria mente.

— Perdão pela demora. — Ignorando a gota de suor que escorria por sua têmpora, focou no trabalho que tinha para realizar. — Deite na cama, de costas para cima.

Enquanto a moça fazia isso, ele colocou seu anel de ressonância sobre a mesinha de cabeceira e criou um frasco de óleo para massagem.

Aplicou o líquido viscoso nas palmas de suas mãos e iniciou a massagem relaxante pelos pés de Petra.

Calcanhar, dedos e sola dos pés, Raizel tratou de dar atenção especial a cada um deles, fazendo a tensão ali presente sumir aos poucos.

Petra, com os olhos fechados, sentiu uma pressão gentil começar a subir pela sua perna, em movimentos longos e relaxantes.

— Ei, tá tudo bem — disse em tom suave, ao sentir a tensão que não se encontrava apenas no corpo da garota. — Prometo ser carinhoso.

Foi então que Raizel colocou as mãos sobre as costas dela, e Petra abriu os olhos, vendo a toalha que vestia se desfazer em vários pontos brilhantes.

"A energia dele…"

Entretanto, graças à sensação de relaxamento que se espalhou pela sua mente, ela levou um pequeno intervalo de tempo para perceber o que realmente tinha acabado de acontecer.

"Nua..."

— A toalha só iria atrapalhar a partir daqui — disse enquanto deslizava a ponta de um dedo pela linha das costas dela, desde cima até a parte superior dos glúteos. — Já estava mais do que na hora de se livrar dela.

Petra sentiu um arrepio e um sentimento dúbio: uma parte dela estava nervosa e com medo de estragar o que viria a seguir, a outra se encontrava completamente entregue e submissa às mãos de Raizel.

Quando a massagem das costas e dos ombros passou para os braços, Petra já sentia seu corpo mole como gelatina. Se não fosse pela respiração calorosa que saiu de sua boca, ela seria como uma boneca, incapaz de se mover sozinha.

— Me diga, senhorita — Suas pupilas dilataram no momento em que Raizel a virou na cama e, pondo-se por cima dela, a encarou nos olhos. — Você sabe o que o casal da lenda dos Biscoitos Itinerantes fizeram na última noite que eles tiveram juntos?

Ela não sabia, mas, em meio àquele momento — enquanto o rosto de Raizel se aproximava do dela — Petra encontrou a resposta.

Seus lábios, que há muito ansiavam por aquele instante, se encontraram em uma união quase inseparável, a qual só teve fim quando a boca do rapaz deslizou para baixo.

Depositando um beijo no queixo dela, espalhou carícias suaves pelo pescoço até que se apossasse do volume macio e simétrico de seus seios.

Petra fechou os olhos e mordeu os lábios quando a língua de Raizel conquistou seus mamilos róseos; circulando-os sem pudor, ele chupava, mordia, puxava… com cada vez mais intensidade.

— Rai… — gemeu baixinho.

Foi então que a mão que dominava seu mamilo esquerdo o abandonou e prosseguiu rumo a uma aventura, pronta para desbravar e bagunçar o mais profundo de seu íntimo.

Se apenas com aqueles estímulos Raizel já a fazia entrelaçar os dedinhos dos pés e sentir o corpo esquentar, o que mais ele tiraria dela com aqueles dedos grossos e compridos?

— Eu nunca te contei isso — disse após deixar o mamilo direito dela úmido pela saliva de sua boca. — Essas mãos não são talentosas apenas no dedilhar de um piano.

Era verdade… Ela poderia confirmar isso melhor do que ninguém. Aqueles dedos imbuídos em luxúria a guiavam à beira de um abismo de delírios e volúpia.

— Não consigo… — Sua voz soou quase inaudível, mas forte o suficiente para que Raizel percebesse. — Eu… Eu…

Antes que conseguisse terminar de falar, sentiu a mão de Raizel voltando a subir pela sua barriga e os lábios dele irem até o seu pescoço; após leves beijos ali e um na orelha, seu parceiro lançou o ultimato em seu ouvido:

— Tem certeza de que quer parar por aqui?

O silêncio era como uma encruzilhada cruel.

No fundo de suas águas, Petra sentia que queria continuar; mas, na superfície, faltava-lhe a coragem necessária para saltar em direção ao fundo.

— Se não tiver coragem para saltar, uma hora esse mar de desejos vai te sufocar em terra firme. — Logo uma nova toalha envolveu o corpo da moça, cobrindo aquela obra de arte, talhada pelas mãos de um exímio escultor. — De qualquer forma, quando esse momento chegar, tudo o que há em você será meu.

Só então, Petra percebeu as pupilas em forma de fendas bestiais nos olhos de Raizel — o ápice do Fruto da Luxúria.

Naquele ponto, seu parceiro era um verdadeiro predador, o qual ansiava por avançar contra sua presa indefesa.

Mas ele não atacava. Mordia os lábios a ponto de sangrar. Se machucava, mas não passava dali.

— Eu sinto muito. — Sua voz soou oscilante e débil. Não era pra terminar daquele jeito. Não era pra ela ser tão covarde. Não era pra… — Desculpa… Eu…

Quando uma lágrima começou a escorrer do olho dela, Raizel cuidou de enxugá-la com a ponta de um polegar.

"Ah, como é desafiador." Com Petra transbordando tantas expressões de fragilidade na sua frente, se tornava cada vez mais difícil manter o controle perto dela. "Assim você me quebra, minha pequena".

Inclinou-se para baixo e beijou ela na testa com carinho, o que fez a moça abraçá-lo de repente enquanto soluçava próximo ao ouvido dele.

Com o rosto escondido ao lado do Petra, as pupilas de Raizel perderam o aspecto de fendas, sendo substituídas por um semblante bem mais melancólico.

Não havia pecado pior do que arrancar lágrimas do rosto que um dia foi a causa dos seus melhores e mais genuínos sorrisos.


Continua no Capítulo 114: Revanche

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