O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 109: Alma Corrompida, Alma Pura

Olhando de um lado para o outro, uma senhora idosa contemplava a passagem de carruagens que, com o advento do Campeonato Sojourner, não paravam de congestionar as ruas da Academia de Batalha Leviatã.

Mesmo que tivesse guardado as compras — que fez há pouco tempo — dentro do seu relógio de bolso, a coluna curvada e o peso da idade restringiam sua mobilidade.

Ah, céus. — Atravessar uma simples rua nunca pareceu tão desafiador. — Nesse ritmo…

Foi quando uma bela jovem de resplandecentes cabelos prateados parou ao lado dela. A senhora ficou surpresa ao ver aquele gentil par de olhos azuis como o céu lhe serem direcionados com solidariedade.

— Eu te ajudo a atravessar, senhora. — Com um sorriso simpático no rosto, a moça estendeu a mão, a qual foi cordialmente aceita.

— Obrigada, mocin… — A senhora arregalou os olhos assim que viu o cenário à sua volta mudar em um piscar de olhos. — Mocinha?

Ao virar-se para trás, viu o outro lado da rua — o que as duas estavam a menos de um segundo atrás, agora vazio.

"Os jovens realmente são rápidos!"

— Estou feliz em poder ajudar. — Então, com um sorriso bondoso e um aceno de mão, a boa samaritana se pôs a seguir seu rumo; isso até que a senhora pediu para que ela esperasse um pouco. — Eu posso ajudar em mais alguma coisa?

Ah, eu só gostaria de agradecer de uma forma mais adequada, mocinha. — De seu bolso, a senhora tirou um pequeno ticket e o entregou. — Espero te ver de novo, minha jovem.

A princípio a moça não queria aceitar, só ajudar já estava de bom tamanho; mas a senhorinha se mostrou inflexível e apenas se despediu, deixando-a com o ticket em mãos.

No fim, aceitar o agradecimento também era uma forma de ajudar a outra pessoa a se sentir bem. Com satisfação em sua mente, a moça conferiu o presente com mais atenção.

— Biscoitos Itinerantes? — Aquele ticket lhe dava o direito de escolher qualquer produto da loja daquela senhorinha. — O que é isso?

— Você é bem gentil mesmo — disse uma pessoa que se aproximava dela, detentora de familiares olhos e cabelos roxos. — Petra, não é?

— Alícia Necron… — sussurrou surpresa. Encontrar aquela pessoa de novo tão cedo era algo que ela não esperava.

Mesmo assim, lá estava a pessoa responsável por deixar seu parceiro perturbado de um jeito que ela nunca tinha visto antes.

Se havia alguém que não saía da cabeça de Petra, esse alguém era a Top 2 Rank S da Academia de Batalha Behemoth.

— Pode me chamar só de Alícia. — O sobrenome Necron já havia causado problemas demais. — Eu posso te fazer companhia?

Petra ficou reflexiva por um momento. Ela só queria conhecer melhor o lugar e ver se poderia participar de algum evento que estivesse disponível naquele dia.

Mas a oportunidade de conhecer mais sobre a pessoa diante de si era algo que ela não estava afim de desperdiçar.

Uhum! — Concordou com um leve balançar de cabeça. — Você disse que eu era uma pessoa gentil, certo? — Puxou o assunto.

— Eu vi como você teve cuidado quando carregou aquela velhinha. — Ouvindo aquilo, Petra ficou em silêncio. Era óbvio que aquela garota conseguiria perceber os seus movimentos, mesmo naquela velocidade. — Faz sentido ele gostar tanto de você.

Ao dizer aquilo, as feições de Alícia foram tomadas por uma mistura de alívio e melancolia, as quais Petra não conseguiu entender.

— Uma alma corrompida sempre buscará o conforto de uma alma pura. — Forçando um certo ânimo, Alícia tentou disfarçar a tristeza proporcionada pelo sentimento de inveja. — Não, é?

— Talvez seja indelicadeza da minha parte perguntar isso, mas eu preciso saber. — Assumindo uma postura mais séria, Petra foi cirúrgica como um bisturi. — Você, por acaso, gosta do Rai?

Hã?! — Como se tivessem jogado uma bomba em seu colo, Alícia deu um passo para trás e balançou as mãos nervosas em frente ao corpo. — Não! Não! Não!

A jovem tenjin ficou abismada por ter passado todo aquele tempo sem perceber o mal-entendido que havia causado. Envergonhada, abaixou a cabeça como forma de expressar arrependimento.

Era óbvio que Petra pensaria algo assim depois de uma estranha aparecer do nada e tentar se aproximar do namorado dela.

— Sério, eu nunca faria esse tipo de coisa com o me… — Engasgou na hora, só de pensar o quanto errado aquele pensamento parecia. — Bem… — Voltando a levantar a cabeça, falou: — Você quer ir pra algum lugar?

Petra estranhou aquela reação exagerada. A vontade de pressionar era grande, mas era provável que Alícia apenas fugiria do assunto.

— Eu queria participar de algum evento do festival hoje. — O melhor seria se aproximar da garota e comer informações pelas beiradas. — Eu ficaria feliz se você pudesse me ajudar.

A-Ah, sim. — Se esse era o caso, ela só conseguia pensar em uma coisa. — Tem umas partidas de basquete rolando aqui perto. Você quer ir ver?

Petra assentiu com a cabeça, e as duas começaram a caminhar em direção aonde deveria estar ocorrendo as tais partidas.

Esse não era um esporte do qual Petra tinha muita experiência; mas, talvez, fosse interessante observar ou, quem sabe, jogar um pouco?

Porém o que mais chamou a atenção da garota foi o fato de Alícia ter ficado estranhamente calada. Era como se ela ainda estivesse incomodada com o que ocorreu há pouco.

— Preocupada com a sua luta de amanhã? — indagou, buscando não ir direto ao ponto. — Você vai lutar contra o pessoal da Academia Leviatã, não é?

Poderia ser apenas uma conclusão precipitada, mas depois da luta que Klaus e Eirin tiveram contra Kaiser e Lilya, era difícil não enxergar os membros daquela Academia como problemáticos.

Além disso, Alícia — como uma usuária de poder divino — sofreria bastante ao receber danos de ataques imbuídos com Energia Demoníaca.

— Eu tenho que vencer amanhã. — A Academia de Batalha Behemoth já tinha perdido os dois pontos da luta do dia anterior, mas as do dia seguinte valiam três pontos. Ainda havia esperança. — Eu quero deixar a minha marca antes de sair da Academia.

— "Sair"? — Aquilo era algo que Petra não esperava ouvir. — Você quer dizer…?

— Os motivos pelos quais eu entrei na Academia já não existem mais.

Mesmo que Alícia não estivesse olhando diretamente para ela, Petra podia sentir o peso presente tanto em suas palavras quanto em seus olhos.

— Eu já sabia que teria que abandonar o meu posto em algum momento. — Com um suspiro pesado, encarou a entrada de um grande ginásio. — Só não imaginei que faria isso tão cedo.

Petra queria saber mais sobre aquilo, saber mais sobre aquela pessoa. Claro, ela poderia estar apenas mentindo para fazê-la baixar a guarda, mas… mas…

As duas já haviam chegado no local das partidas de basquete. Como Alícia disse, o lugar era bem perto mesmo.

Guiando Petra, como quem guia uma criança, as moças passaram pelas outras pessoas até se depararem com um congestionamento logo à frente.

Pelo barulho, ninguém parecia muito feliz. Alguns até jogavam embalagens de lanches e bebidas contra alguém que estava fora do campo de visão das recém-chegadas.

— Que confusão é aquela ali na frente? — Alícia perguntou para uma moça que estava perto dela. — Parece que o negócio tá feio.

— É só uma gentinha se achando melhor do que todo mundo. — Pelo tom da moça, era perceptível que ela também não estava muito feliz com a situação. — Bando de idiotas arrogantes.

Foi quando o congestionamento logo à frente se abriu, e duas pessoas passaram caminhando tranquilamente no meio das vaias.

Com olhares altivos e queixos erguidos, apenas se deliciavam com a frustração dos outros, afinal, ninguém conseguiria alcançá-los enquanto estivessem protegidos por um campo de Energia Espiritual.

— Aqueles dois… — Alícia os encarava com feições não muito amigáveis, as quais foram retribuídas quando a dupla de majins a notou também. — Tinha que ser coisa dessa gente.

— Você conhece eles?

— São os meus adversários de amanhã — disse, sem tirar os olhos deles. — Luke e Milene Lasker.

A princípio, Petra estranhou o fato de Alícia usar apenas um sobrenome para se referir àqueles dois. Foi quando a ficha caiu.

— Eles são casados?!

Porém a moça balançou a cabeça negativamente, o que só deixou Petra confusa. Contudo, não demorou para que os próprios majins chegassem perto a fim de responder a pergunta.

— Nós não somos casados — disse Milene, enquanto ficava na ponta dos pés para beijar o rapaz, que era mais alto do que ela.

Sem o menor pudor, os dois entrelaçaram suas línguas e se agarram com lascívia na frente de todo mundo.

Ao final do beijo, um fino cordão de saliva ainda manteve os lábios dos dois conectados por um momento, até que se afastassem o suficiente para que a ligação fosse rompida.

— Uma pena que não possamos nos casar, não é? — Milene passou a mão com carinho pelo rosto do rapaz, que foi receptivo. — Meu querido irmão.

"Irmão?!" Petra olhou assustada para Alícia, apenas para se deparar com um rosto que transmitia pura aversão.

Como um povo dedicado a seguir os princípios angelicais; para os tenjins, o conceito de família era algo simplesmente sagrado. E aqueles dois eram a mais pura profanação desse conceito.

— Não vai me dizer que tá com raivinha? — Alfinetou Milene. — A ira é um pecado, você sabe.

Ao ouvir a provocação, Alícia deu as costas para os irmãos Lasker e já estava pronta para ir embora, quando Milene simplesmente teve uma ideia.

Ah, já sei! — Bateu duas palminhas de empolgação. — Por que a gente não resolve isso jogando basquete?

O clima já estava pesado demais por ali; Alícia não entraria numa discussão que ela sabia que só pioraria os ânimos das pessoas. Porém, se fosse para resolver suas desavenças na quadra…

— O que me diz? Eu e o meu querido irmão contra você e… e… — Parou um segundo para pensar, até que reparou na garota que estava acompanhando a sua rival, Petra. — Ah! Você pode se juntar a essa menininha aí.


Continua no Capítulo 110: Trapaças

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