O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 108: Meu Herói

Tendo concluído a maior quantidade de quadros que conseguiu durante o pouco tempo que tinha à sua disposição, Trevor pôde sair do evento de Pintura a Céu Aberto com o sentimento de dever cumprido.

Após recolher os materiais de pintura, passou a observar as maravilhas do parque enquanto retornava para casa na companhia de Sophie.

Tudo estava indo bem: as sombras das árvores eram refrescantes e convidativas a um descanso, as gotículas da irrigação das plantas não eram menos do que um refrigério, e a alegria das crianças transmitia uma vivacidade agradável ao ambiente.

Tudo estava indo realmente bem, ao menos, até o momento em que Trevor e Sophie avistaram uma dupla de marmanjos intimidando uma frágil e inocente garota — que segurava um pacotinho de biscoitos com as duas mãos.

Quando viu que um dos marmanjos iria dar um forte empurrão na pobre garota, o que certamente a derrubaria no chão e a deixaria cheia de arranhões, Trevor usou sua Distorção Espacial, sem hesitar por um milésimo de segundo, para defendê-la.

Por um momento, o cara ficou se debatendo, confuso. No entanto, quem também veio a ser tomado pelo sentimento de confusão foi o próprio nefilim — isso por causa de uma única palavra:

— Trevor! — Com olhos radiantes, a garota que estava sendo intimidada chamou pelo nome dele, como quem aclamava um herói.

"Eu já vi essa pessoa antes?" Infelizmente, Trevor teria que deixar essa questão para depois. O marmanjo do empurrão havia se recomposto e o encarava com sangue nos olhos.

— Qual foi, otário?!

— Você poderia deixar ela em paz? — Só então Trevor percebeu que havia uma segunda garota mais ao canto, que acompanhava a primeira. No entanto, essa, estranhamente, parecia não se importar com o que acontecia com a amiga. — As duas, de preferência.

O marmanjo do empurrão pisou com força no chão e estava para avançar contra Trevor no momento em que o segundo o segurou pelo ombro.

— O que pensa que tá fazendo?!

— Vamos embora — disse com um tom de voz firme, mas sem falar muito alto. — Você deve conhecer as caras daqueles dois ali, não é, mano?

De fato, deixando a raiva de lado por um instante, ele percebeu que Trevor e Sophie eram, de certa forma, familiares. E aqueles uniformes de duos…

"Puta merda!" Virou o rosto com os dentes cerrados para o lado e acatou o conselho do parceiro. "É o pessoal que vai brigar amanhã".

Que azar. Arrumar confusão com aquela gente só iria trazer problemas. Então, sem perder mais tempo, saiu com o amigo sem dar sequer uma olhada de relance para trás.

"Eu posso não transmitir tanta segurança quanto o Klaus ou não ser tão cruel quanto o Raizel", pensou enquanto via os arruaceiros intimidados "mas o título de Top Ranking ainda tem seu peso".

Sophie, por sua vez, preocupou-se em ver como as duas garotas estavam. Se elas estivessem com algum ferimento ou machucado, as curaria em um instante.

— Vocês sentem dor em algum lugar?

No entanto, a pergunta dela foi ignorada. A garota mais ao canto se manteve calada, como se não quisesse chamar atenção, enquanto a que segurava o pacotinho de biscoitos passou correndo pelo seu lado e — de forma inusitada — se jogou nos braços de Trevor.

— Meu Herói!

Pela segunda vez naquele dia, Sophie sentiu seu peito apertar. De forma instintiva, ela ergueu uma mão de leve em direção ao seu parceiro, como se quisesse separá-lo da garota.

Mas logo abaixou a mão quando um lampejo de pensamento passou pela mente dela: os dois não estavam em um tipo de relacionamento no qual ela pudesse agir daquela forma.

No entanto, mesmo assim… doía.

— Sinto muito — disse Trevor, ao passo que colocava suas mãos sobre os ombros da garota que o abraçava e a afastou com cuidado — mas a gente já se conhece de algum lugar?

Ao ouvir aquilo, Yuna — que se mantinha distante — sentiu seu peito gelar. Seria possível que aquele cara reconheceria Lilith, mesmo que a aparência e a emissão de energia dela estivessem diferentes?

Ficar perto daqueles dois era perigoso. Elas tinham que sair de lá o mais rápido possível. Se fossem descobertas, seria o fim da linha.

Hmmm! Deixe-me ver. — Lilith deu um passinho para trás e, enquanto cruzava as pernas, levou uma mão até o queixo, reflexiva. — Acho que nunca nos vimos, não.

— Então… — Mostrando que ainda tinha algumas dúvidas que rondavam pela sua cabeça, Trevor foi direto ao ponto que o incomodava. — Por que me chamou pelo nome de forma tão casual?

Ah, isso! — Esbanjou um sorrisinho provocativo, dando uma alfinetada nas dúvidas de Trevor. — Eu sou uma grande fã sua, sabe, Designer Polivalente?

No entanto, antes que aquela garota sem noção acabasse por dar com a língua nos dentes e jogasse o disfarce dela pelo chão, Yuna decidiu entrar na conversa.

Er, senhor Trevor — disse, buscando desviar a atenção que estava voltada para a Patrona da Luxúria — perdoe o atrevimento da minha amiga. Ela é meio sem noção.

Aproximou-se mais do grupo e se desculpou com um pouco mais de formalidade. Então pegou Lilith pelo braço e começou a guiá-la para longe daqueles dois.

— Sinto muito pelo incômodo, mesmo — disse, já meio distante. — E obrigada por nos ajudar.

Já Lilith não se despediu de uma forma tão discreta. Com a mão livre, acenou e gritou: — Tchau, meu herói!

Assim, elas deixaram o duo Top 2 Rank S da Academia de Batalha Ziz para trás, confusos e com a sensação de que aquela garota mais energética transmitia uma personalidade familiar.

Por outro lado, Yuna estava bem irritada. Sem que percebesse, ela estava segurando o pulso de Lilith com muita força, de modo que já tinha ficado vermelho.

A princípio parecia que o motivo da sua raiva era o fato daquela idiota quase ter arruinado o disfarce das duas; mas, na verdade, era algo mais pessoal.

Se até mesmo uma pessoa como Lilith merecia a sorte de ter alguém para salvá-la, então talvez aquele mundo realmente devesse queimar até virar um monte de cinzas.

"Na minha vez, não foi assim!" Cerrou os dentes e apertou o pulso da outra com mais força. "Ninguém! Ninguém tava lá por mim!"

— Cê tá me machucando, Yuna. — Então, quando teve um lapso agudo de dor, Lilith deixou escapar um gemidinho de prazer no meio da rua, o que chamou a atenção das pessoas e fez a outra soltá-la de forma abrupta.

— Po-Por que você fez isso? — Por alguma razão, Yuna se viu dando alguns passos para trás; já Lilith, continuou a se aproximar. — Fica longe de mim, sua praga!

— Eu não posso fazer isso. — Então usou sua agilidade de assassina para se aproximar da companheira e prendê-la pela cintura. Com seus rostos próximos, disse: — Se eu te deixar sozinha nesse estado, Yuna, você vai quebrar.

— E o que isso importa? — Quando virou o rosto para o lado, sentiu seus lábios tremerem de nervoso.

Aquela garota deveria saber que Yuna poderia transformá-la em pó com um único toque, mesmo assim, Lilith parecia não ter medo de tocá-la ou de ser tocada por ela.

— Lá atrás, você me chamou de "amiga". — A Patrona da Luxúria continuou o seu ataque. — Você sempre negou isso, mas num momento de tensão…

— Eu menti! — Com os olhos fechados, sentia o coração batendo forte em seu peito. Só queria se soltar da prisão que eram os braços de Lilith. — É claro que eu menti!

Após um instante de silêncio tenso entre as duas, a Patrona da Luxúria soltou um suspiro triste e deixou a cintura de Yuna livre, o que fez com que a outra pudesse, enfim, respirar aliviada.

— Você é cruel, Yuna.

Depois de todos aqueles encontros — que só envolveram mulheres — Sophie chegou cansada em casa. Logo à sua frente, Trevor caminhava em direção ao banheiro. Um bom e refrescante banho o aguardava.

Contudo, o rapaz parou ao ouvir Sophie chamar pelo nome dele, baixinho. Quando virou-se, viu a moça segurando um saquinho com as duas mãos.

— Trevor — disse, com o rosto envergonhado e com os dedos levemente trêmulos — é pra você.

Ela deveria ter entregado mais cedo, mas, sentindo que — caso demorasse mais do que aquilo — não conseguiria fazê-lo depois, Sophie reuniu o que tinha de coragem para aquele momento.

Er, obriga… — No momento em que segurou o saquinho, Sophie simplesmente desapareceu da frente dele, como se fosse uma miragem. — Huh?

Trevor sentia o presente em suas mãos, aquilo não foi uma alucinação. Além disso, ele também sentia a sensação de um toque úmido na bochecha, bem próximo dos lábios.

— Biscoitos Itinerantes… — Observava o pacotinho com certa admiração. Pela embalagem, um saquinho transparente, Trevor soube que aqueles biscoitos eram caseiros. — Ela fez especialmente pra mim?

Jogada sobre a cama do seu quarto, Sophie cobria o rosto com um travesseiro, o qual também estava servindo para abafar o som das suas lamúrias.

Ela não acreditava que tinha feito aquilo: parou o tempo do seu parceiro e saiu correndo assim que entregou o presente; mas não sem antes dar um beijinho na bochecha dele.

No momento em que tirou o travesseiro da cabeça, viu o seu reflexo em um grande espelho, que estava fixado na parede; um rosto corado e extremamente fofo era refletido para ela.

— Eu quero sumir.

E voltou a enfiar o rosto no travesseiro.


Continua no Capítulo 109: Alma Corrompida, Alma Pura

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