Volume 2 – Arco 5
Capítulo 107: Reencontro dos Sonhos
— Ah, que lugar lindo. — Portadora de uma silhueta pequena e delicada, a bela moça arrancava olhares de admiração por onde quer que andasse. — Uma pena que vai virar um caos, né? — indagou para a acompanhante ao lado.
Com um suspiro pesado, Yuna — a Patrona do Pecado da Inveja — lamentou-se por ter que formar dupla logo com aquela garota sem noção.
Para alguém que estava ali apenas para realizar o reconhecimento do território inimigo e se preparar para a grande invasão, que ocorreria no último dia do campeonato, chamar muita atenção era algo que Yuna não queria.
Contudo, mesmo que estivessem usando os braceletes criados pelo Arklev, para disfarçar suas reais aparências, Lilith continuava atraindo atenção demais.
Os clássicos olhos e cabelos negros reluzentes da Patrona do Pecado da Luxúria haviam mudado para um cinza bem mais opaco e discreto. Além de leves alterações em seu rosto.
Mesmo assim, tais modificações estavam longe de serem capazes de abalar o poço de beleza e sensualidade que era Lilith Nocturne.
Ela andava com naturalidade, ao passo que — em sincronia com o leve movimento dos quadris — a saia balançava com a graciosidade digna de uma ninfa.
Em contrapartida, Yuna — apesar de possuir os seus próprios dotes femininos — não se destacava nenhum pouco perto da companheira. Lilith era como uma estrela cujo brilho a ofuscava quase que completamente.
"Você seria um ótimo meio de distração", pensou enquanto via a outra com a visão periférica. "Claro, isso se você desgrudasse de mim".
Ao que parecia, os fios do destino não estavam muito afim de trabalhar a seu favor. Lilith a puxou pelo braço de forma repentina; pelo susto, Yuna quase soltou um gritinho.
— Yuna, compra pra mim! — Logo à frente, um jovem rapaz cuidava de uma barraquinha de biscoitos. — Compra, vai.
— Bom dia, belas moças — cumprimentou o rapaz. — Interessadas em alguns Biscoitos Itinerantes?
A empolgação nos olhos de Lilith expressava um grandioso e radiante "sim". Por outro lado, a sua companheira não compartilhava da mesma empolgação.
— Infelizmente, nós estamos sem dinheiro — expôs Inveja, dando uma cotovelada na responsável por esgotar todos os seus fundos financeiros.
— Ai! — Fazendo beicinho, mas com uma expressão duvidosa de felicidade no rosto, Lilith provocou a outra: — Isso foi cruel da sua parte, viu?
Yuna franziu a testa em irritação. Aquela masoquista nunca tomava jeito. Bater nela ou lançar agressões verbais só lhe propiciava mais prazer.
Não existia nenhum tipo de pessoa no mundo que fosse pior que o da sua companheira; Lilith era irritante e sem noção, tudo o que a tirava do sério.
— Mas aí, moço. — Com os bolsos vazios, mas cheia de vontade para provar o sabor dos biscoitos temáticos do Festival Sojourner, Lilith decidiu apelar. — Tem como dar unzinho, não?
— É que, bem, a barraca não é minha. — Um tanto quanto sem jeito, o rapaz buscou fugir da conversa com alguma desculpa. — Eu… Eu sou só um funcionário, sabe?
Ainda sentindo dificuldades para encarar aquela moça bonita nos olhos, ele sentiu um nervosismo tomar conta de si. Nunca, nem em seus sonhos, imaginou que uma mulher daquele naipe puxaria assunto com ele.
— Por favor, vai. — Para o azar do pobre e tímido rapaz, a moça diante dele não desistiria tão fácil. Apoiando as mãos no balcão da barraca, inclinou-se para a frente, deixando o decote à mostra. — A gente tá sem grana.
Conforme os olhos do rapaz alcançaram um pouco mais a fundo na blusa dela, ele sentiu seu rosto corar de tão quente que estava. "Perfeição" era a única palavra que passava pela mente dele.
Mesmo que cobertos pelo sutiã, aquele par de seios não poderia ser definido como nada menos do que uma obra-prima da natureza.
Assim, sem que percebesse — movendo-se como uma marionete guiada pelos fios da sedução — o rapaz fez a vontade dela e entregou o pacotinho de Biscoitos Itinerantes.
— Valeu! — Com uma agilidade digna da Classe Assassino, Lilith pegou os biscoitos da mão dele e puxou Yuna pelo braço mais uma vez. — Até mais!
Tão rápida quanto o vento, bastou um segundo para que a moça se encontrasse a uma boa distância do rapaz, deixando-o com uma mão estendida em sua direção, sem que soubesse direito como reagir àquilo.
— Es… Espe… — Tudo o que restava era a latente sensação de que foi usado. — O que eu digo pro feche?
Era melhor pagar logo pelo prejuízo antes que seu superior chegasse, ou ele teria que contar toda a história e como agiu de forma vergonhosa. O chefe, sem sombra de dúvidas, riria dele.
Lilith, em contrapartida, já se encontrava caminhando por um parque verdejante e florido enquanto deliciava-se com a iguaria divina que conquistou há pouco.
— Não sei se você sabe — ressaltou Yuna — mas esses biscoitos são feitos pra dar pra outra pessoa.
— Já entendi — disse ao final de uma mordida, que deixou um biscoito pela metade. — Você também quer um pouco, né? — Pegou aquela metade e levou até os lábios da outra. — Abre a boquinha, vai.
"Essa garota só pode tá de brincadeira", pensou, enquanto fechava a boca e inclinava o pescoço para trás, como se estivessem lhe oferecendo veneno. — Você não tem vergonha de fazer aquele joguinho por causa de um pacote de biscoito?
Com cara de quem ouviu um quilo e não entendeu uma grama, Lilith ficou pensativa por um momento, então enfiou a metade do biscoito goela abaixo.
— Nós somos os caras maus — falou enquanto comia. — A gente tá aqui pra roubar, matar e destruir, não é?
Quanto a isso, Yuna era obrigada a reconhecer que a garota sem noção tinha um ponto. Ainda assim, enganar alguém daquela forma, não era algo de que ela sentia orgulho.
— Eu só quero acabar com essa loucura logo de uma vez.
— Por falar nisso — ponderou Lilith — como será que os outros cinco estão indo?
Isso era algo difícil de saber. O grupo dos Patronos do Pecado nunca foi o que se poderia chamar de parceria, no sentido pleno da palavra.
Eles eram apenas pessoas com objetivos individuais que acabaram por ser reunidos em prol do objetivo de um certo alguém.
— A única certeza que eu tenho — disse Yuna, vendo a garota que se acabava nos biscoitos — é que eles devem estar indo melhor do que a gente.
No entanto, ela não chegou a receber uma resposta da companheira, visto que um de dois rapazes — que vinham em sua direção — acabou por roubar a fala dela.
— E aí, pitelzinho. — Pelo jeito de conversar e pelo tom de voz do indivíduo, Yuna logo percebeu que ele não se referia a ela. — Que tal dar uma voltinha com a gente?
Barrada pela parede em forma de gente que se pôs à sua frente, Lilith — ainda com um biscoito na boca — levantou seu rosto em direção ao rapaz.
Além de alto, ele possuía um físico relativamente atlético, com uma boa quantidade de músculos definidos.
Ainda assim, a garota só conseguia pensar em uma única coisa ao olhar para ele e, sem qualquer preocupação, acabou por verbalizar seus pensamentos.
— Broxa. — Aquele cara estava longe de fazer o tipo dela. Apenas o ignorou e passou pelo lado, mas era óbvio que o indivíduo não deixaria o insulto passar em branco.
— Acho que não escutei direito o que você falou. — Segurando Lilith com força pelo braço, impediu-a de se afastar muito. Mal sabia ele o tamanho do problema que havia arrumado. — Pode repetir?
A força imposta contra o braço da moça, apesar de relativamente grande, era insignificante para um Patrono do Pecado. Ainda assim, foi o suficiente para fazê-la derrubar o biscoito que estava em sua mão.
— Minha comida… — Um sentimento ardente começou a brotar dentro de si, o que só aumentou quando o segundo rapaz se colocou na frente dela, pisando em cima da guloseima caída. — Filhos de uma puta…
Estava para sacar suas adagas e cortar mãos, pés e gargantas daqueles dois energúmenos. Eles tinham noção do trabalho que ela teve para conseguir aquele lanche?!
— Contenha-se, Lilith — alertou sua companheira.
O significado por trás daquelas duas palavras era claro: elas não estavam ali com o intuito de chamar muita atenção; quanto mais discretas, melhor.
Contudo, quem estava distante de se conter era aquele que teve seu ego ferido pelas palavras afiadas da garota. Espumando pelas narinas, o indivíduo soltou o braço de Lilith e se preparou para dar um empurrão nela, só que…
— Urgh! — Realizando um movimento distorcido, seus braços foram dobrados junto ao espaço, fazendo-os parecer que eram feitos de borracha. — Mas que caralhos?!
Começou a balançar os membros em meio ao mais puro desespero, de tal forma que nem percebeu que eles já haviam retornado ao seu estado original.
Se aquele cara estava confuso e desesperado, Lilith sentia uma sensação vibrante em seu peito. A técnica usada para salvá-la do empurrão não era dela, tampouco de Yuna.
Só existia uma pessoa capaz de dobrar o tecido do espaço daquela forma — uma pessoa da qual a Patrona da Luxúria já havia provado o nível das habilidades em primeira mão.
"Nós nos encontramos de novo", pensou, sorridente, enquanto seus olhos contemplavam o rapaz e a moça que tinham acabado de se reunir a ela, no combate aos arruaceiros. — Trevor!
Continua no Capítulo 108: Meu Herói
Ajude a pagar o cafezinho do autor contribuindo pelo pix abaixo:
79098e06-2bbf-4e25-b532-2c3bf41ccc53
Siga-nos no famigerado Discord.