O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 4

Capítulo 96: Os Melhores Olhos

Do lado direito da arena, representando a Academia de Batalha Behemoth, Nathan Martin e Sirin Strauss eram observados pela multidão, através dos telões de energia.

Da mesma forma, os dois encaravam os seus adversários, os quais acabavam de aparecer do outro lado: Eslly Bonelli e Tília Cornell, os representantes da Academia de Batalha Absalon.

A segunda luta, aquela que definiria a posição de cada uma das Academias após o primeiro dia do Campeonato Sojourner, estava para ter início.

Fossem os lutadores ou espectadores, todos podiam sentir os corações baterem mais forte — cada pulsação, de tão intensa, chegava a ser audível.

— Aí está ele — disse Sirin, enquanto observava o arqueiro da Academia de Batalha Absalon materializar sua arma — Eslly.

Da mesma forma que o arco prateado na mão dele possuía adornos em formato de asas de águia e traços de nuvens, assim também o semi-humano — meio-águia — detinha as mesmas características.

Mas a maior fonte de destaque estava longe de ser as garras afiadas no lugar das unhas ou as asas nas costas, o perigo real estava naquele par olhos bestiais: a visão impecável de uma ave de rapina.

— Não ouse perder pra ele, ouviu? — Dando um passo à frente, Sirin materializou suas adagas e caminhou com convicção, deixando o rapaz para trás. — Nathan!

Com um suspiro singelo e um sorriso modesto, seu parceiro começou a flutuar para o alto da arena, de onde teria uma visão completa do panorama.

— Como desejar.

Assim, quem se dispôs a fazer frente a Sirin, foi Tília. Já o parceiro dela, seguindo o exemplo do arqueiro vendado, optou por manter distância no ar.

Com um grande machado sendo arrastado pelo chão, enquanto soltava leves faíscas de eletricidade, Tília parou a uma certa distância de sua adversária.

— Parece que os nossos parceiros querem fazer a mesma coisa — disse, ao passo que buscava ver o rapaz lá no alto. — Então isso é uma luta entre garotas?

Ao ouvirem a provocação, os espectadores, juntos ao locutor do campeonato, foram todos à loucura. A ideia de ver duas belas moças saindo na porrada lhes era tentadora.

Não à toa alguém gritou: — Se não tiver puxão de cabelo, eu quero nem saber!

— Só que eu vou vencer. — Inclinando seu corpo para a frente, Sirin aproveitou de sua alta velocidade para ser a primeira a atacar. — Porque o melhor suporte é meu!

No momento em que cruzou a distância que as separava, suas adagas foram envolvidas por uma leve fumaça esverdeada, e a assassina desferiu um corte limpo na horizontal.

Todavia, tendo seus pés tomados por pequenas faíscas de eletricidade, Tília deu um passo para o lado e escapou por pouco do ataque da oponente, deixando alguns traços da fumaça esverdeada para trás. Respirar aquilo seria fatal.

"Que rápida!", pensou Sirin, abismada. "Ela é mesmo da Classe Guerreiro?"

O único problema era que a moça tinha pouco tempo para gastar em reflexões. Quando veio a perceber isso, já era um tanto quanto tarde.

Tília apertou o cabo do machado eletrizado com toda a força que uma guerreira possuía e realizou um movimento, que facilmente cortaria o corpo da assassina na altura da cintura.

Ihh! — Por pouco, muito pouco, com os pés ainda firmes no solo, a tenjin conseguiu curvar seu corpo para trás em um formato de "U" invertido.

Com a nuca quase tocando o chão, Sirin viu a lâmina do machado passar a um triz de acertar a sua barriga.

E, logo em seguida, um intenso "Trum!" reverberou na atmosfera, como se um verdadeiro trovão tivesse sido criado pela eletricidade da arma de Tília.

"Que menina insana!" Praguejou enquanto seu corpo perdia o equilíbrio e colidia contra o chão, apenas por causa das ondas de choque daquele ataque. — Argh!

Vendo-se em maus lençóis, Sirin arregalou os olhos para o machado, que fez uma curva ascendente para o alto e, logo em seguida, impulsionado pelo efeito da gravidade, passou a descer com ainda mais força.

Independente do que fizesse, ela sabia que não havia como escapar ilesa daquela investida. Se tentasse segurar com as adagas, seria esmagada contra o solo; caso se jogasse para o lado, o impacto a alcançaria de qualquer forma.

— Acabou, Siri… — Foi quando uma Flecha Sonica explodiu contra a lâmina do machado de Tília, fazendo vibrar e perder velocidade. — Heim?

Chegava a ser ridícula a força com a qual o seu ataque alcançou a terra, o que permitiu a Sirin escapar sem receber algum dano muito significativo, além de poeira e farelos da arena.

— Entendo, você também pode contar com alguém assim, não é? — disse, enquanto seus olhos se levantavam em direção ao indivíduo que atrapalhou sua jogada. — É difícil acreditar que aquele cara tá vendado mesmo.

De alguma forma, Nathan mantinha a mira em cima dela com uma precisão impecável. Em seu arco, outra daquelas Flechas Sônicas vibrava, provocando um tinido agudo.

— Afaste-se, Sirin! — Uma vez que a investida dela foi um fracasso total, o melhor seria avançar com algo mais elaborado. — Eu protejo as suas costas!

— Eu sei! Eu sei! — Mesmo irritada com o resultado, acatou o pedido do rapaz. Não tinha nada mais frustrante para alguém da Classe Assassino do que ver a sua preciosa agilidade falhando. — Não precisa dizer isso…

Foi naquele breve instante em que a moça viu suas palavras serem cortadas por uma inusitada flecha que rasgava o ar em alta velocidade.

Huh?! — Claro que nunca a deixariam recuar com facilidade.

De forma abrupta, ela sacou uma adaga para cortar o projétil em um único movimento. Todavia o resultado era óbvio, aquele troço iria explodir assim que fosse atingido.

E assim aconteceu, só que antes de alcançar a moça. Tudo o que ela sentiu foi apenas uma forte brisa quente e parte da força da explosão.

— Você é mesmo um homem de palavra. — Ainda flutuando no céu da arena, em uma altura semelhante à de Nathan, o arqueiro da Academia Absalon batia palmas. — Realmente protegeu ela. Você tem meu respeito.

Por pouco, Nathan conseguiu interceptar a flecha de Eslly com a sua própria. O semi-humano passou tanto tempo quieto que Nathan quase foi pego de surpresa por aquele ataque.

— Um arqueiro que luta pautado na audição e não na visão — prosseguiu Eslly. — Dependendo da forma que se veja, muitos diriam que não teria como você ainda ser um arqueiro.

Ainda assim, lá estava ele fazendo frente a alguém que além de possuir a visão refinada de um arqueiro também nasceu com os afiados Olhos de Águia.

Se Eslly era o que todos consideravam como a mais pura definição de "arqueiro", Nathan era a mais pura distorção daquela Classe de Batalha — e o próprio sabia muito bem disso.

— Cala a boca, galinha voadora! — Com os nervos à flor da pele, Sirin sentiu vontade de depenar cada asa daquele cara. Ninguém tinha o direito de tratar o seu parceiro mal na frente dela, só ela.

— "Galinh…"? — Aquela garota tinha que aprender a tratar os outros com mais respeito. Onde já se viu chamar alguém de "galinha voadora" em pleno campo de batalha? — Na verdade, eu até aprecio o uso dessa faixa nos olhos dele.

Nathan engoliu em seco.

Então o pessoal da Academia Absalon não pesquisou apenas sobre as informações de combate deles.

— A visão faz bons arqueiros, mas ela faz os melhores? — Balançando um dedo para os lados de forma negativa, respondeu a si mesmo: — Não! Não… e não!

Todos foram presos pelas indagações do jovem semi-humano, inclusive sua parceira. Havia um bom tempo desde a última vez que o viu tão empolgado ao conversar com alguém.

— Me diga, Nathan — perguntou estendendo-lhe uma mão à distância — O que faz de alguém o melhor arqueiro?

— Alguém que nunca hesita, nunca se deixa ser tomado pela pressão e, independente do quanto desesperadora a situação seja — disse, virando o rosto na direção de Eslly, como se pudesse vê-lo através da venda — as suas mãos nunca tremem.

— Era isso o que eu queria ouvir! — Puxando uma flecha contra a corda do seu arco, uma densa massa de ar se formou em espiral ao redor dela, como se Eslly estivesse prestes a disparar um furacão. — Sua audição contra a minha visão!

Da mesma forma, Nathan preparou outra das suas Flechas Sônicas. A frequência do projétil se tornou tão grande que as ondas vibratórias se tornaram visíveis no ar.

— Desafio aceito.

Sem tempo para refletir sobre o que aconteceu, tudo o que o público viu foi a arena explodindo no momento em que os dois soltaram as flechas dos arcos.

A colisão entre os projéteis ocorreu ainda no ar, fazendo as ondas de impacto se chocarem contra o solo e as paredes da barreira de proteção.

Com todo aquele poder contido lá dentro, o chão logo se fez em pedaços, os pedaços se desfizeram em pó, e o pó provocou uma densa cortina de poeira.

Porém, se alguém parecia estar perdido dentro daquela tempestade de poeira, esse alguém, com certeza, não era Sirin Strauss.

Lutando para cortar as rajadas de vento da flecha de Eslly, que ainda se mantinham com tudo no ambiente, e mesmo com os ouvidos a ponto de estourarem, por causa do som intenso do ataque de seu parceiro, a moça aproveitou do caos e avançou rumo ao seu próprio objetivo.

"Lá está!" Com as mãos em frente ao rosto, visando proteger seus olhos, Tília havia ficado com a guarda baixa.

Ou era o que Sirin pensava.

— Você veio mesmo, heim?

A tenjin só não arregalou os olhos porque senão eles seriam enchidos de poeira, mas a situação era diferente para a sua adversária.

Protegida por uma fina camada de ar puro, proporcionada pela Habilidade Inata do parceiro dela, Tília poderia usar os seus olhos tranquilamente, ou melhor, os seus próprios Olhos de Águia.

Sem dar tempo para que a assassina se recuperasse do choque, Tília eletrificou seu machado igual nunca antes e, como um raio, acertou a outra com tudo.

Mesmo colocando suas adagas na frente para se proteger, Sirin sentiu cada pelo de seu corpo eriçar, enquanto os raios que a envolviam tomavam a forma de um dragão que, sem o menor remorso, tratou de cravar os dentes afiados em seu ombro.

No instante seguinte, um intenso clarão surgiu no meio de todo o caos da arena, sendo acompanhado pelo estrondo de um poderoso trovão, o qual marcava a colisão de alguém contra a barreira de proteção.


Continua no Capítulo 97: Compartilhamento

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