O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 4

Capítulo 92: Até a Última Gota

O corpo já não mais a respondia. Apenas a respiração pesada e o sangue que escorria pelos seus lábios se destacavam junto aos cristais.

Assim como Eirin congelou seus adversários por dentro, também seus órgãos começaram a entrar em processo de cristalização.

Só mais um pouco e os pulmões parariam de funcionar, o coração cessaria as incontáveis batidas, e a mente dela se apagaria por completo na escuridão do vazio.

De joelhos, Eirin vomitou sangue sobre a lâmina da espada algoz da oponente. Independente da forma que olhasse, a sua participação no campeonato já havia acabado.

— Klaus…

Dado o extremo estresse ao qual corpo e mente foram expostos pelo excesso de energia demoníaca, Eirin percebeu sua visão cada vez mais borrada.

— Ei! Nem pense nisso. — Lilya a pegou pelo pescoço com força. Mesmo que também estivesse em situação crítica, pois logo seu corpo também cederia ao frio interior, ela queria ver o desespero no rosto daquela princesinha antes de cair também. — Fala sério.

Já era tarde demais para que pudesse fazer algo, Eirin havia desmaiado, e isso era ruim. Uma vez constatado que a moça estivesse sem condições de lutar, a coordenação do evento a teletransportaria para a enfermaria.

Então, nesse pequeno período de tempo… "Deixe que o povo veja o tamanho da sua vergonha." Desceu sua mão até o uniforme da moça, pronta para rasgá-lo em um movimento só.

Desejava fazer isso enquanto Eirin estivesse consciente, para que pudesse desfrutar do show em primeira mão.

"Que seja." Teria que se contentar apenas com aquilo mesmo.

— Seu corpo deve ser tão bonitinho, né? — dizia, enquanto vapor frio saía de sua boca e ela começava a rasgar a blusa da moça.

Já podia sentir o toque da pele suave e contemplar o sutiã que logo sofreria do mesmo destino.

— Todo mundo quer ver um pou…

— Solta ela. — Como uma assombração surgindo em suas costas, Lilya sentiu a pressão de uma aura assassina.

Virou-se apenas para ver o punho de Klaus acertar-lhe a boca, jogando-a para longe da parceira dele. Seu corpo rolou pelo chão como um saco de arroz esquecido no caminho.

Como aquele cara conseguiu passar pelo Kaiser naquele estado? O infeliz estava tão fraco que ela mal percebeu a energia dele se aproximando.

Argh! — Pior do que ver o corpo da princesinha ser finalmente teletransportado do campo de batalha e ter o seu plano frustrado, foi notar que junto ao sangue que cuspira havia alguns pedaços de dentes junto. "Esse desgraçado!"

Tentou se levantar antes que se tornasse uma presa fácil para aquele nefilim enfurecido, todavia, seu corpo dormente perdeu as forças.

Lilya voltou a cair de cara no chão. Os dedos mal se moviam, muito menos braços ou pernas estavam em condições de prolongar aquela luta.

— Impossível… — Mesmo depois de derrotada, Eirin continuava a lhe causar problemas. O pouco de força que restava era suficiente apenas para mover o pescoço e ver Klaus se preparar para avançar contra seu pescoço.

— S-Se afaste… — Quem poderia saber o que aquele cara faria após ela ter tentado expor a parceira dele ao ridículo na frente de todo mundo? —Fi-Fique longe… de mim…

A cada instante que passava, Lilya podia sentir o desejo por rendição aflorar em seu peito. Foi quando, para sua sorte, uma lança de fogo negro perfurou o nefilim pelas costas, forçando-o a parar.

— Seu… corno. — Klaus cambaleou para a frente. Por pouco não caiu de joelhos. Isso não poderia acontecer. Ele era o único que restava de pé. O único que carregava a esperança de vitória da Academia Ziz.

Segurou a arma, ainda que queimasse sua mão no processo, e a puxou com o maior ímpeto possível.

Todavia, aquele pequeno espaço de tempo foi suficiente para que Kaiser o alcançasse mais uma vez.

Aproveitando-se da falta de estabilidade do oponente, o majin desferiu um soco flamejante na barriga dele, onde o ferimento ainda estava aberto.

Em meio à agonia, mas sem se dar por vencido, Klaus agarrou o braço do seu adversário e — ao contrariar sua conduta como cavalheiro — pisou no pé dele.

— Ora, seu… — Kaiser teve o braço puxado pelo nefilim, que o desestabilizou e conseguiu acertar uma joelhada na barriga. — Urgh!

Para a tensão de alguns e para o desapontamento de outros, a luta que até então tinha se mostrado como uma grande demonstração de poder havia sido reduzida a uma mísera troca de socos e pontapés.

Nenhum dos combatentes se encontrava mais em condições de lançar ataques ou técnicas devastadoras à bel-prazer.

Fosse por ter sua energia selada ou pelo seu corpo ter chegado ao limite de uma técnica que drenava a própria vida, os lutadores restantes mal conseguiam se manter de pé.

Com isso em mente, Klaus fingiu tropeçar, para que seu adversário baixasse a guarda e se jogasse com tudo contra ele.

Dessa forma, conseguiu escapar por pouco pelo lado e desferir um chute na parte de trás do joelho de Kaiser que, apesar de fraco, foi suficiente para desequilibrá-lo.

Antes que o majin pudesse reagir, Klaus chegou por trás, passou seu braço restante pelo peito dele e, então, o ajustou ao pescoço do infeliz.

Ao perceber o que o nefilim queria fazer, Kaiser levou as mãos até o braço que o prendia, numa tentativa falha de escapar do mata-leão.

"Merda!" Como sua circulação sanguínea já estava debilitada por causa do gelo de Eirin, caso aquele cara conseguisse restringir as artérias do seu pescoço, a falta de sangue no cérebro o faria apagar mais rápido do que o normal. "Merda! Merda! Merda!"

Tentou se jogar para trás, para abalar a postura de Klaus com o seu peso, mas o nefilim foi eficiente em curvar o próprio corpo junto e manter a pressão.

— Me… larga! — Nesse meio tempo, já conseguia sentir o ar faltar em seus pulmões e a visão começar a escurecer.

A partir dali era apenas questão de tempo até que tudo acabasse. Quanto mais seu adversário se debatia, mais sentia sua consciência indo embora.

Contudo, o que o nefilim não contava era que um pequeno pedaço de cristal surgiria na sua frente e refletiria a luz do sol contra seus olhos.

"Aquela garota…" Lilya havia ficado quietinha até que ele se esquecesse de que ela ainda estava na arena.

Como o balançar de asas de uma borboleta poderia causar um desastre no outro lado do mundo, aquele pequeno pedaço de cristal mudou o rumo de toda a luta.

O aperto da técnica diminuiu o suficiente para que Kaiser conseguisse se inclinar para o lado e jogasse o corpo de Klaus contra o solo.

Ofegante e tossindo, deu alguns passos para trás enquanto buscava por um pouco de ar e a sua consciência voltava a clarear.

Por outro lado, Klaus demorou para conseguir se levantar. Agora quem estava a ponto de apagar era ele. A última chance de vitória acabara de escorrer por entre seus dedos, como o sangue que escorria pelo braço cortado.

Enquanto se erguia, sentiu o pé de Kaiser pressionar ferozmente sua nuca contra o chão, o qual rachou-se de leve em um breve estrondo.

— Seu desgraçado! — Continuou a pisar repetidas vezes na cabeça do oponente caído até que sua perna se cansasse.

Vendo aquela cena — duos ou público em geral — ninguém era capaz de esboçar o mínimo de empolgação, exceto os membros da Academia anfitriã, que tinham em mãos a posse da primeira vitória do evento.

Constatado que Klaus havia desmaiado devido aos inúmeros golpes na cabeça, seu corpo começou a ser teletransportado para a enfermaria, onde os médicos que atenderam sua parceira também o aguardavam.

— Nem fudendo! — Kaiser pegou sua arma e mirou um derradeiro ataque na garganta do oponente. Após tê-lo feito passar por tudo aquilo, Klaus achava que poderia escapar só porque desmaiou?

Foi ali que todos tiveram certeza de que aquela luta nunca teve nada de amistoso por parte do duo da Academia anfitriã. Como Raizel e Nosferatu já haviam percebido, aquilo era uma simples e pura disputa de ego.

Foi então que, manifestando-se do nada para cessar a ação covarde do majin e salvar Klaus do ferimento fatal, correntes prenderam a lança e o braço de Kaiser.

— Mas que diabos é…?

Enrolando-se também no pescoço dele, as correntes escureceram após absorver o pouco de energia demoníaca que restava naquele corpo miserável. Então, puxaram-no para baixo, afundando brutalmente o rosto de Kaiser no chão.

— Cê tá doido?! — Repreendido por Sophie, Raizel apenas apoiou o queixo em um de seus punhos fechados e continuou a observar, pela tela de transmissão, um Kaiser mais perdido do que barata tonta. — A coordenação vai cair matando em cima de você.

— A luta já tinha acabado, de qualquer forma — disse, ao passo que estalava os dedos e as correntes desapareciam da arena de combate. — Eu não violei regra alguma.

Levantou-se da poltrona e se pôs a caminhar em direção à saída. Havia um certo lugar ao qual pretendia fazer uma breve visita sozinho.

Acariciando os cabelos de Petra, que ainda estava sentada e o observava com confusão nos olhos, despediu-se dos demais.

— Se a coordenação realmente estiver preocupada com algo, que cumpra a tarefa de teletransporte com eficiência — disse, enquanto fechava a porta da sala. — Ou alguém vai acabar morrendo aqui.


Continua no Capítulo 93: Verdade Nua e Crua

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