O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 4

Capítulo 88: Fogo do Inferno

Mesmo que sua pele fosse rasgada junto ao uniforme, nada daquilo importava. A dor jamais alcançaria seus sentidos enquanto as runas estivessem ativadas, ao menos era assim que deveria ser.

"Arde tanto!" Eirin cerrou os dentes e, com um corte capaz de quase paralisar os átomos ao redor, exclamou: — Congele!

Foi impossível desviar.

Lilya sentiu sua carne ser cortada. De baixo até em cima — da barriga até próximo ao busto — pele e sangue viraram puro gelo.

"Mas que…!" Seu corpo travou, e ela sentiu um terrível calafrio o percorrer.

Consumida por dentro, foi um instante para que o frio sugasse a sua temperatura interna. Outro golpe daqueles, e ela certamente sucumbiria ao terror da hipotermia.

Como se enxergasse em câmera lenta, Lilya viu o segundo movimento da lâmina, a qual decretaria o fim da sua participação no Campeonato Sojourner pelas mãos daquela princesinha.

— Sai dessa! — Um tinido estridente ecoou por toda a arena e, daquela vez, a espada de Eirin ficou sem provar o caloroso sabor do sangue.

Uma fina, mas incrivelmente resistente camada de cristal se espalhou pelo braço de Lilya, o qual recebeu apenas um risco da lâmina de Eirin.

Tsc! — Estava na hora de pôr um fim naquela princesinha logo de uma vez. Já irritada, Lilya retirou uma Gema Espectral do seu anel de ressonância e fundiu-a à sua espada.

A chuva de cristais cessou, paralisando os projéteis no ar, assim, todos eles mudaram seus ângulos, visando refletir a luz do sol contra o rosto de Eirin.

— De novo isso?!

Como um bom guerreiro não cai duas vezes no mesmo truque a moça se apressou em cobrir os olhos com um braço e criar um escudo de energia para a defender dos ataques da sua adversária.

Todavia, reforçada pelo poder da Gema Espectral, a espada de Lilya não viu dificuldades em fatiar o escudo criado pela garota, causando um ferimento profundo no braço dela.

Urgh! — Mais uma vez Eirin sentiu dor, não apenas no corpo mas também um latejar em sua cabeça. — Que chato…

Ao observar com atenção, notou o cristal afiado na lâmina da arma da majin — um material criado a partir daquela energia maldita.

Quem também seguiu o exemplo de Lilya e decidiu usar uma Gema Espectral foi o parceiro da adversária dela — Klaus.

Por mais quentes que as suas chamas fossem, elas estavam sendo sobrepujadas pelas chamas negras de Kaiser com certa facilidade.

Mesmo recorrendo ao poder externo de uma Gema Espectral, o fogo comum continuava a ser inferior ao Fogo do Inferno. E isso ainda nem era o pior.

Dando um passo para trás e um rápido giro para o lado, Klaus escapou de ser perfurado pela lança de Kaiser. No entanto, um pouco do fogo negro chegou a alcançar a lateral do seu abdômen.

Uma ardência agonizante se espalhou pelo ferimento em carne viva — o qual soltava uma fumaça enegrecida para cima — ao passo que uma sensação de agonia apoderava-se de sua mente.

As pernas de Klaus fraquejaram, deixando-o aberto para receber uma poderosa investida do oponente.

Apenas um segundo foi necessário para que ele fosse completamente envolvido pelo terror do fogo demoníaco, as Chamas do Inferno.

— Isso é mau, heim? — Diferente dos outros membros da Academia de Batalha Behemoth, os quais estavam apenas sentados em suas poltronas, Luminas abraçava o pescoço do seu parceiro, Lucius, pelas costas dele. — Esse nefilim não vai durar muito nesse ritmo.

Como tenjins, os seus companheiros sabiam muito bem as consequências de ser atingido por um ataque de origem demoníaca.

Dada a incompatibilidade que seus corpos tinham com aquele tipo de poder, a energia demoníaca era tão nociva quanto veneno para seres que possuíam poder divino.

E a situação só piorava quando se tratava de nefilins, uma vez que — diferente dos tenjins — eles eram criaturas divinas em sua essência.

— Mas… — Ao contrário dos outros, Alícia segurava a borda de sua saia com força, amassando o tecido. — Isso não é unilateral.

Demônios também sofriam bastante ao terem contato direto com o poder divino. Klaus não poderia cair de uma forma tão fácil, era o que ela pensava.

— Por que tá tão tensa, Alicinha? — indagou Sirin, a Top 3 Rank S da sua Academia. — O que importa é que eu vença a minha luta.

— A nossa luta. — Corrigida pelo seu parceiro, a moça o encarou com olhos afiados até que ele completasse sua fala com: — Eu estarei lá pra te dar suporte, certo?

Sirin sentiu suas bochechas arderem, então, antes de mais nada, voltou a encarar a tela de transmissão.

Não resistindo, observou de canto de olho o rapaz que se mantinha pleno em seu lugar, com a venda nos olhos. 

— Não precisa dizer essas coisas constrangedoras na frente dos outros.

O que deixou a moça ainda mais nervosa foi os seus companheiros não aguentarem e rirem da reação dela.

Ao menos naquela sala o clima se encontrava mais ameno do que nas outras e, principalmente, do que na arena de batalha.

Klaus soltou um suspiro pesado enquanto usava a lança para se apoiar em pé. As queimaduras em seu corpo ardiam. Se a luta continuasse naquele ritmo, as coisas terminariam muito mal para o seu lado.

E, acima de tudo, Eirin ficaria brava com ele.

Haha! — Apertou a arma com intensidade, ao passo que as chamas em sua arma mudavam para uma tonalidade dourada. — Não dá pra ficar de brincadeira aqui, não é?

Com um único movimento, o rapaz decretou o que viria a ser a virada no rumo daquela batalha, o que faria seu adversário temer e tremer da cabeça aos pés.

Então, manifestando-se junto ao Fogo do Céu…

— Veste Divina, Anjo das Chamas: Uniel!

Kaiser teve tempo apenas de esbugalhar os olhos até perceber que Klaus havia se aproximado dele e que — após um movimento ascendente — seu peito foi cortado.

Tão rápido quanto saiu de seu corpo, o sangue evaporou deixando apenas fumaça para trás e uma sensação de tormento que se espalhou pela mente dele.

Argh! — Instintivamente, levou uma mão até a cabeça, quase esquecendo-se do campo de batalha.

Um grande erro.

Muito mais poderoso, ágil, forte e letal, Klaus realizou um movimento de meia lua com a sua lança flamejante, de cima para baixo.

Tamanha foi a intensidade e velocidade do ataque que a haste da lança se curvou em meio ao trajeto, parecendo que havia amolecido.

Só Kaiser pôde definir o quão dura e potente aquela arma ainda continuava. Em uma tentativa desesperada de parar o ataque, usou sua própria arma para o segurar.

Booom!

A explosão das chamas douradas fez todo o lugar tremer, enquanto se espalhavam pelas mais diversas direções.

Não houve quem não ficasse em silêncio, boquiaberto. Até mesmo as parceiras dos dois pararam por um instante para ver o corpo do majin amassado brutalmente contra o chão derretido pelo Fogo dos Céus.

Huh… Argh! — Uma grande quantidade de sangue escorreu da sua boca. Certamente teve alguns órgãos perfurados pelos ossos fraturados. — Maldito… seja…

Vendo a luta a um passo de se dar por acabada, Klaus observou o desenrolar do embate da sua parceira. Agora era só esperar um pouco mais e, então, partir para o abraço.

— Ainda… — Kaiser esforçava-se ao máximo para se levantar. Depois de ter a vantagem consigo, ele jamais aceitaria que a mesma fosse tirada tão facilmente de suas mãos. — Eu ainda… posso lutar.

— Não, não pode — afirmou enquanto repousava a ponta da sua arma no chão. Os ferimentos causados pela sua grande concentração de poder divino não se curariam tão rápido naquele corpo de majin. — Renda-se, ou tudo o que você vai conseguir é morrer.

— Cala a… boca!! — Com um movimento brusco, que fez a sua já debilitada carne rasgar por dentro, avançou com tudo o que lhe restava. Só era uma pena que não lhe restava muita coisa.

Seus movimentos estavam tão fracos e lentos que Klaus desviava sem a menor dificuldade.

Para piorar a situação, a armadura leve gerada a partir da Veste Divina segurava a maior parte do dano causado pelas Chamas do Inferno.

Lamentável, essa era a única palavra que poderia defini-lo naquele momento. Pelas telas de transmissão públicas, alguns o observavam com pena; outros, com indignação. A Academia anfitriã caminhava rumo à derrota já no primeiro dia.

Todavia, a pior reação estava estampada no rosto dos seus companheiros Top Rankings, que o observavam da sua sala particular.

Kaiser, aquele miserável estava envergonhando todos eles na frente do continente inteiro.

Ahh! — Atacava como podia, mas Klaus, com um simples passo para o lado, desviava. — Ahh! — Tão ineficaz. Uma criança segurando um cabo de vassoura seria mais perigosa. — Ahh!

— Chega disso. — Tendo suas costas viradas para o adversário, Klaus girou e desferiu um ataque com a lança nas costelas dele, o qual carregava toda a potência do giro.

Ouvindo seus ossos quebrarem mais uma vez, Kaiser foi arremessado por toda a extensão da arena, colidindo contra a primeira camada da barreira de proteção.

O baque seco anunciou a iminência da sua derrota. Agonizando pelo efeito das Chamas Divinas, seus dedos tremiam, incapazes de segurar sua lança mais uma vez.

— Como um cavalheiro honrado — disse, ao passo que fechava os olhos devagar e virava o rosto para o lado, prestando o mínimo de condolência ao inimigo desprezível — darei um fim digno até mesmo a um lixo como você.

— Sa… Sacr… — Babando sangue, o miserável balbuciou palavras incompreensíveis.

De relance, ele viu sua parceira, a qual prosseguia com a própria luta. Pouco se importava com o estado atual dele.

Por um instante, a vontade de se render e ficar caído ali se mostrou uma alternativa tentadora. Todavia — vergonha — apenas isso o aguardava ao fim de tudo.

Pior do que morrer era conviver com a vergonha da derrota. Ainda que lhe custasse quase toda a sua vida, ou até mesmo toda ela, jamais aceitaria perder para aquele nefilim de merda.

Foi quando uma espécie de névoa densa começou a ser expelida de seu corpo, misturando o tom obscuro das Chamas do Inferno a um vermelho-sangue medonho.

— Sacri...fício San...grento.

Ao sentir o poder de seu adversário aumentar, Klaus abriu mão da postura de vitória garantida para se defender das ondas de choque da explosão de energia que se espalhou por toda a arena.


Continua no Capítulo 89: Sacrifício Sangrento

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