O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 4

Capítulo 87: Farinha do Mesmo Saco

Sem intenção de perder tempo discutindo, Klaus ativou suas runas e avançou com tudo em uma explosão de chamas, deixando Eirin para trás.

Naquele meio tempo, ele viu o semblante medonho de Kaiser misturado com um certo teor de êxtase, o qual estava para virar cinzas pela sua lança.

— Queime… — Com uma investida perfurante, o fogo se espalhou por todos os lados após alcançar o majin.

Pela intensidade do calor das chamas, era possível notar certas ondulações tornando-se visíveis no ar, como um lençol quase transparente que balançava ao vento.

Até mesmo o narrador do evento e os espectadores que assistiam a cena ao longe sentiam o suor escorrer pelas suas testas, apenas por contemplar a cena.

No entanto, para a decepção de alguns, e euforia de outros, as chamas de Klaus pareciam não avançar mais do que aquilo.

Parado, o nefilim pressionava a lança para a frente, entretanto, sua arma havia sido barrada por outra lança, a qual estava imbuída por uma espécie de fogo negro.

— Nada mau aí. Mas cão que late… — vociferou Kaiser, ao passo que, com um movimento brusco, jogou seu rival para trás — não morde!

Pondo força em suas pernas, o majin avançou com tudo e, antes que Klaus tivesse a chance de pôr seus pés no chão, o fogo negro se encontrava a ponto de queimar sua face.

Tsc!

Defendeu de qualquer jeito com a sua arma, o que o fez rolar feito uma bola pelo piso da arena enquanto o seu inimigo continuava a avançar com sangue nos olhos.

Klaus cravou a lança no chão, interrompendo o arremesso do seu corpo e, em um instante — com Kaiser praticamente na frente dele — pôs sua arma na horizontal, para segurar o ataque flamejante que veio de cima.

Seus pés afundaram no chão, o qual rachou e se esfarelou em instantes. Com os olhos entreabertos e cerrando os dentes, a haste da sua lança esforçava-se para evitar que as chamas negras o alcançassem.

— Faz um pouco mais de força aí, vai! — Vociferou Kaiser.

— Quem é que tá latindo… agora?

Antes que o adversário percebesse, Klaus inclinou sua lança para o lado, fazendo a de Kaiser deslizar por ela.

Com o inimigo desequilibrado e ainda se preparando para se recompor, o nefilim preparou um poderoso chute que — com toda certeza — quebraria algumas costelas.

É o que ele queria, porém… — Quê? — Uma espécie de substância cristalina envolveu suas pernas, prendendo-o no lugar.

Detrás das costas de Kaiser, a parceira dele surgiu empunhando uma espada reluzente. Com o rapaz imobilizado, ela desferiu um corte contra a garganta dele.

"Mas que…!"

Não conseguiria se defender a tempo. A lança do majin ainda estava pressionando a ponta da sua contra o chão.

Foi então que um escudo de gelo apareceu na frente dele, recebendo o dano em seu lugar.

Como um raio, Eirin surgiu com um chute certeiro na barriga de Lilya, jogando-a para longe do seu parceiro.

— Eu cuido dela — disse, sem encará-lo nos olhos, mantinha o foco na sua própria adversária. — Vê se não perde pra esse cara na minha frente, tá?

Ao ouvir isso, Kaiser rapidamente ignorou seu adversário e tentou atacar a garota no momento em que ela partiu para enfrentar Lilya, todavia Klaus se pôs na frente, parando a investida.

— Eu que sou o seu oponente aqui, entendeu?

Graças ao apoio do seu parceiro, Eirin seguiu livremente, criando várias estacas de gelo e arremessando-as a uma velocidade insana contra a majin.

Para a sua frustração, uma espécie de tela de cristal, semelhante ao material que prendeu os pés de Klaus instantes atrás, surgiu na frente de Lilya e absorveu os projéteis de gelo.

Hã?

Com os olhos bem abertos, Eirin viu ondulações se formarem onde as suas estacas haviam atingido. Era como se ela tivesse jogado uma pedrinha nas águas de um rio.

Foi então que, tão rápido quanto um flash de luz, aquela estrutura de cristal lançou de volta cada uma das estacas de Eirin contra ela — só que mais rápidas do que antes.

Sem baixar a guarda, a moça aproveitou a percepção aprimorada pelas suas runas faciais e começou a rebater cada um dos projéteis, alcançando a adversária logo em seguida.

— Te peguei! — Quando estava para cortá-la de cima a baixo, um pequeno fragmento de cristal apareceu próximo ao seu rosto e refletiu os raios do sol contra seus olhos. — Urgh!

Com sua visão ofuscada, restou a Eirin o destino de receber um potente chute na lateral da barriga, arremessando-a para longe do seu objetivo.

— Mas o que…? — Uma estranha sensação de rigidez começou a tomar conta da área atingida.

Mesmo sem abrir os olhos, ela percebeu o que estava acontecendo: Cristalização.

Segundo as informações que Trevor e Sophie coletaram sobre os outros participantes, um deles tinha a capacidade de transformar aquilo que tocava em cristal.

A participante em questão era Lilya Garnier. Eirin sabia que devia ter lido direito a pilha de documentos entregue por seus companheiros.

"Era informação de muita gente, poxa!", lamentou enquanto congelava a estrutura de cristal, despedaçando-a em finos cristais de gelo. — Ah, que seja!

Se o sorteio das lutas tivesse sido realizado antes, ela poderia ter filtrado melhor as informações dos seus adversários.

Agora era tarde demais para reclamar. Só lhe restava a dor na consciência. Dor? Mesmo com todas as runas ativadas, Eirin levou uma mão até a cabeça. Latejava.

— Você já estava preparada pra isso, Princesa do Gelo? — Lilya observava a pele delicada de Eirin através do rasgo que ficou na blusa dela após o tecido se desfazer em cristal. — Eu não gosto de histórias de princesas, sabe?

Ao que sua visão se recuperou, Eirin pôde perceber que a moça não a encarava com olhos muito amigáveis. Parecia que ela observava um saco de lixo.

— Sempre com carinha de boa moça, elegante à espera de um príncipe encantado. — Refletir sobre fazia seu estômago embrulhar. Ela poderia vomitar a qualquer momento, se continuasse com aquilo. — Tão frufru e sentimental.

— Sei não — disse enquanto virava sua espada no ar, pronta para o segundo round. — Parece que alguém aqui foi mal amada.

Com um pisão, Lilya fez várias estacas de cristais explodirem do chão, forçando Eirin a se jogar para o lado, na tentativa de evitar o pior.

— Sua idiota iludida!

Antes que Eirin firmasse a base de seus pés, Lilya a alcançou, desferindo um rápido corte horizontal, o qual rasgou a blusa da moça e deixou parte do seu decote exposto.

Todavia, antes que pudesse fazer algo a mais, sentiu o ambiente ao redor esfriar. Um calafrio logo se espalhou pelo seu corpo, fazendo seu braço tremer e fraquejar perante o contra-ataque de Eirin.

Pela colisão das lâminas, a espada escapou de sua mão, deixando-a vulnerável a um corte na barriga — o qual congelou sua carne em um instante.

Com nenhuma outra opção a seu dispor, e uma terrível expressão de dor, Lilya deu um salto para trás, mas a outra a perseguiu com gelo nos olhos.

Todavia, a investida de Eirin foi frustrada quando uma chuva de cristais afiados começou a cair sobre sua cabeça.

Ela logo criou um escudo de gelo acima de si e defendeu-se por pouco. Os cristais estalavam seco ao colidirem contra o chão.

— Você sabe que aquele tal de Kaiser te trai, né? — indagou enquanto pensava em uma forma de parar aquela chuva incessante.

— E daí? — Como se respondesse às emoções da garota, a chuva de cristais se intensificou, tornando-se uma verdadeira tempestade. — Relações que dependem de sentimentos são frágeis e fúteis.

Foi aí que Eirin entendeu como alguém conseguiu firmar um Pacto de Ressonância com aquele cara: aqueles dois eram farinha do mesmo saco.

— Quer saber? — Avançou contra sua oponente, mesmo recebendo os ferimentos causados pela chuva de cristais. — Vou perder pra alguém que nem você, não!

Mesmo atrasados para assistir as lutas, Raizel e Petra caminhavam sem pressa em busca da sala dos membros da Academia de Batalha Ziz.

Com algumas mechas do cabelo à frente do ombro, a moça escondia a marca do chupão em seu pescoço.

Para a sua surpresa, como se quisesse colocá-la em uma situação difícil, um certo duo vinha apressado do outro lado do corredor: Valentina e Andrew.

— Petra! — Ao ver sua amiga, a garota correu e pulou no pescoço dela, deixando seu parceiro a comer poeira.

Hehe! Oi, Tina — disse meio desconfortável. Era melhor se soltar daquele abraço antes que a amiga notasse a marca em seu pescoço. — A gente tá indo pra nossa sala agora.

Diferente dos duos participantes, os demais membros que vieram para o evento teriam que assistir as lutas em salas públicas. Mas parecia que alguém havia se atrasado para isso e perdido boa parte do primeiro confronto.

— Vocês podem vir com a gente — convidou Raizel. — A não ser que prefiram os comentários de um narrador qualquer em vez dos nossos.

— Isso não vai gerar problemas? — indagou Andrew. Sua preocupação era justificável: aquelas salas deveriam ser de exclusividade dos duos participantes.

— Nada que uns bons socos não resolvam.

O rapaz ficou surpreso com a resposta do nefilim, não por ela ser exagerada, mas sim porque era bem possível que ele realmente fizesse aquilo.

A única pessoa que ficou mais surpresa do que ele foi Valentina. Enfim, a moça reparou na marca roxa no pescoço de sua amiga. De imediato se virou para Raizel com uma cara de "o que você fez com ela?!"

Isso até reparar que o mesmo também possuía uma marca em seu pescoço, uma ainda maior que a de Petra. Só então ela se virou para a amiga e corrigiu a sua pergunta: "o que você… fez com ele?!"

Entendendo as feições da moça, Petra esboçou um sorrisinho bobo para ela. Era melhor não comentar muito sobre o que ocorreu sobre aquele telhado.

Assim, ambos seguiram até a sala dos representantes da Academia Ziz, deparando-se com Trevor e Sophie sozinhos lá dentro, os quais estavam com os olhos fixos na tela de transmissão.

Parecia que os dois estavam hipnotizados ou algo do tipo. Mas os recém-chegados só compreenderam o motivo da reação deles ao observarem o que estava sendo transmitido.

Fraquejando, a ponto de quase cair no chão, Klaus possuía diversas marcas escuras espalhadas pelo seu corpo e, acima de tudo, um de seus braços havia sumido.


Continua no Capítulo 88: Fogo do Inferno

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