Volume 2 – Arco 4
Capítulo 86: Escapadinha
Após se dar conta de que o seu parceiro só estava participando no evento, de forma aberta, por causa dela, Petra decidiu que — caso Raizel quisesse — os dois não precisavam se fazer presentes na Cerimônia de Abertura.
Como rapaz não demonstrava interesse por esse tipo de coisa e queria um pouco mais de espaço para ficar a sós com ela, o mesmo nem chegou a hesitar antes de agarrar a oportunidade que se pôs diante dele.
Agora, sentados sobre um largo banco de madeira com estofado, o qual Raizel criou no topo de um grande prédio, os dois usavam suas runas faciais para observar a Cerimônia de Abertura ao longe.
— Oh! Parece que as coisas estão se agitando por lá. — De fato, conforme os sorteios dos combates eram realizados, tanto os duos quanto o público ia à loucura. — E olha que eu nem tô lá.
Ao seu lado, a garota estava calada abraçando os joelhos próximos ao peito. Reparando na quietude da moça, que já se mantinha assim havia algum tempo, Raizel indagou:
— Tem certeza de que não queria participar?
— Huh? — Como se fosse puxada por uma forte correnteza, a moça esbugalhou os olhos e se viu de volta à realidade. — Hm! Hm! — Negou com um singelo balançar de cabeça.
O motivo para estar com a mente aérea, na verdade, era outro. Só que era um tanto quanto complicado falar sobre isso para ele. O que Raizel poderia pensar? Acharia que ela era uma garota mimada? Egoísta?
— Huum! — Com os olhos direcionados ao céu, Raízes se mostrou incrédulo pela resposta da sua parceira. No entanto, aquela era uma oportunidade perfeita para brincar um pouco com ela. — Sabe, por mais que eu tente, não consigo acreditar em você.
— É, bem… — A garota entrelaçou os dedos e olhou algumas vezes para os lados, como se estivesse em busca de um ponto de socorro.
Ótimo. Era essa a expressão que ele queria ver. Só Recentemente, Raizel se deu conta de um pequeno detalhe: era tão prazeroso tê-la vulnerável e indefesa em seus braços.
Não que ele quisesse que Petra fosse fraca, todavia, ainda que fosse com ele — só com ele — desejava poder desfrutar daquele lado meigo, frágil e um tanto tímido que ela possuía: aquele charme que tanto o cativava.
— Se esse é o caso — disse, ao passo que dava uns tapinhas leves em sua coxa, convidando-a a sentar-se em seu colo — se fizer isso, eu posso acreditar em você.
Por um momento, a moça se pegou imaginando como seria fazer aquilo. Eles estavam a sós lá em cima. Ninguém os veria, independente do que fizessem. Ainda assim, aquela ideia era um tanto constrangedora.
Vendo que a garota se mostrava relutante, Raizel decidiu provocar um pouco mais. Ele já sabia onde mirar, de qualquer forma.
— Ah! Entendo. — Suspirou e deixou seu corpo inclinar-se para trás. Desesperançoso, fingiu ter sido abalado pelas palavras e olhares de desprezo que recebeu mais cedo. — Ficar ao meu lado deve ser ruim mesmo.
— Nã-Não é bem assim. — Sem tempo para perceber, Petra já havia caído no jogo de Raizel. Ela não queria decepcionar o seu parceiro, tão pouco fazê-lo se sentir mal por causa dela. — Tá. Eu… Eu faço.
— Oh! Poderia ser clara com esse "eu faço"? — Pouco a pouco voltou a mostrar as suas garras.
— Eu… Eu sento, tá?! — Embora dissesse isso com afinco, levantou-se em um impulso, reunindo toda a coragem que tinha e evitando o olhar do seu parceiro.
Dando uma olhadinha discreta para o colo do rapaz, sentou-se devagar, porém um pouco na ponta — ficando de costas para ele. Naquela posição, Raizel não poderia ver as bochechas rosadas dela, pelo menos isso.
Com a cabeça para baixo, perguntou com uma voz fraca e quase inaudível:
— Tá bom ass…? — Foi quando os braços de Raizel envolveram sua cintura, puxando-a num só movimento até ele.
Petra soltou um gritinho, que se perdeu em meio ao assobio do vento ambiente.
Às alturas também foi a sua mente ao sentir suas costas tocarem o peito dele e, logo em seguida, seus ouvidos serem preenchidos por uma voz hipnotizante.
— Você me deu um certo trabalho, sabia? — dizia, ao passo que seus braços se fechavam como correntes, prendendo-a junto a ele. — Eu não posso deixar você escapar de mim, depois disso.
Pelo nervosismo, a moça engoliu em seco, mas, no fim, não era como se ela desejasse fugir dali. Na verdade, esse pensamento nem se passava pela sua cabeça.
Sentindo o doce aroma, que provinha dos sedosos cabelos prateados da moça, Raizel repousou sua cabeça sobre o ombro dela. Tão relaxante e, ao mesmo tempo, tão agradável.
— Então, o que tanto te perturba… Petra?
Seu nome. Ele a chamou pelo nome, e não por "senhorita", a forma que ela tanto adorava. Apesar de provocá-la, Raizel também estava sério. Caso contrário, usaria o pronome de tratamento habitual.
A partir daquele momento seria difícil esconder o que ela sentia. Respirou fundo e colocou suas mãos sobre as dele, certificando-se de que Raizel não a soltaria.
— Aquela garota, a Alícia — disse, enquanto virava o rosto levemente para o lado, com um certo pesar em sua face — você agiu estranho perto dela.
Petra sabia que talvez estivesse fazendo tempestade em um copo d'água, que talvez estivesse sendo ciumenta. Mesmo assim, era difícil ignorar aquele sentimento que remoía em seu peito: a possibilidade da perda.
— Parecia que você ia segurar a mão dela por mais e mais tempo. — Preocupava-a o fato de que Raizel pudesse vê-la como uma criança mimada. Quis esconder aquilo dele, mesmo que não a fizesse bem. — Meu peito doeu um pouco.
— A energia dela. — Com a intenção de evitar qualquer outro mal-entendido, foi objetivo e direto ao ponto. — Tenho certeza de nunca ter me encontrado com aquela garota antes, porém ela possui uma energia estranhamente familiar.
— A energia…?
— E tem o sobrenome dela também. — A segunda coincidência, e também aquela pela qual queria investigar mais sobre a tal Alícia. — Lembra de quando eu te contei que fui invocado para outro mundo?
Petra jamais esqueceria da história que ouviu naquela noite nas Montanhas Belluno, pouco antes de partir para o Continente de Erebus. Aquela foi uma das poucas vezes em que Raizel falou sobre algum evento marcante do seu passado.
A época em que foi convocado para ser um neblim, o representante real de uma certa jovem em uma competição pelo trono de sua nação. O nome da garota em questão era Karen…
— Necron. — Petra sussurrou reflexiva, enquanto as peças se encaixavam. — A energia dela é familiar por que se parece com a da Karen?
No entanto, seu parceiro balançou a cabeça negativamente. Mesmo que tivesse se passado tanto tempo, ele jamais se esqueceria da energia daquela mestra tola.
De qualquer forma, as sombras do passado eram apenas uma fonte de aprendizado. Por mais grato que ele fosse àquela garota, Raizel não estava a fim de remoer as lembranças daquela época.
Relaxou os braços e soltou a cintura de Petra devagar, deslizando as pontas dos dedos suavemente pela barriga dela, o que a proporcionou um pouco de cócegas e um certo arrepio, diga-se de passagem.
— Sente-se de frente para mim.
— Huh?! — Aquilo mais parecia uma ordem do que um pedido. — Mas…
— Vamos. — Com o polegar no queixo da sua parceira, inclinou a cabeça dela para trás, ao passo que fazia algumas carícias na orelha dela, em forma de beijos calientes. — De frente, Petra.
— U-Uhum! — Como se não houvesse outra possibilidade, acatou o desejo do seu parceiro.
Levantou-se e se virou para Raizel. Mais uma vez, evitou olhar nos olhos dele, o que foi um erro.
Só ao sentar-se de novo no colo de Raizel e ficar cara a cara com ele, Petra pôde perceber que as pupilas do seu parceiro, antes perfeitamente circulares, começavam a afinar, tomando a aparência de fendas.
Aquele olhar selvagem e predatório. Ela sabia bem o que aquilo significava. No entanto, antes que pudesse falar algo, sentiu um toque atrevido em suas coxas.
Como estava com as pernas mais abertas — devido a nova posição — a borda de sua saia havia subido, deixando uma porção maior de pele exposta.
Ele sabia disso. Não, ele já contava com isso. Colocá-la naquela situação. Fazer o seu coração disparar, enquanto aproximava seus lábios e roubava-lhe um beijo cálido.
Suas línguas se perdiam no baile de uma valsa alucinante, em meio a um delírio onde suas mentes se desprendiam da realidade e se encontravam um no outro.
— Você tem melhorado, senhorita — dizia, ao passo que o suave toque dos seus lábios passava a percorrer o queixo, o pescoço e o ombro dela.
Conforme o tempo com o seu parceiro passava, Petra se deu conta de uma coisa: por alguma razão, Raizel adorava o pescoço dela.
— Ra-Rai… As lutas… — A luta de Klaus e Eirin já estava para começar, e os dois permaneciam ali, alheios ao mundo. — A gente tem que…
Foi quando sentiu uma fisgada aguda em seu pescoço e, sem querer, deixou escapar um pequeno e tímido gemido.
"Cante pra mim." O que para Petra poderia ser algo embaraçoso, para Raizel era a mais agradável e envolvente das sinfonias. "Meu anjo da música".
Entregue e sem forças para oferecer resistência, Petra se viu rendida ao êxtase que se espalhou desde o seu pescoço, inundando sua mente e percorrendo os braços até às pontas dos seus dedos.
Raizel se afastou, devagar, do pescoço dela, deixando apenas a marca roxa de um chupão para trás — o símbolo de que ela lhe pertencia.
— Bem… — Estava meio difícil encarar seu parceiro agora. Isso também era algo que Petra havia percebido: ela estava desviando o olhar com muita frequência ao ficar a sós com ele.
— Acho que continuar assim seria injusto, não acha? — Inclinando sua cabeça para o lado e puxando a gola da própria camisa para a direção oposta, Raizel deixou seu pescoço vulnerável e à disposição dela. — Faça como desejar.
Durante o tempo em que passaram juntos, Petra nunca havia mordido o pescoço dele. Na verdade, ela nunca teve ousadia para tal, embora estivesse curiosa para saber como seria se entregar aos instintos da agressão de ternura.
— Eu posso... mesmo?
A confirmação lhe foi concedida. Agora, tudo dependia apenas dela e, ao abraçar seu parceiro, gentilmente se entregou ao sentimento de que ele era apenas seu.
Manifestando suas asas, Raizel a envolveu em um pequeno e singelo espaço, onde somente os dois… existiam.
Continua no Capítulo 87: Farinha do Mesmo Saco
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