Volume 2 – Arco 4
Capítulo 83: Rivais Jurados
Com os cotovelos apoiados sobre a mesa, as mãos de Eirin seguravam seu delicado rosto como um pedestal que portava uma relíquia de valor imensurável.
Os olhos da garota, por sua vez, estavam focados em apenas uma coisa: a visão do seu parceiro, o qual se deliciava com uma xícara de café fumegante.
"Tão bonitinho", pensava enquanto um sorriso discreto se formava em seus lábios. "E é todinho meu".
Considerando o clima tranquilo e o cheiro agradável que o aroma das bebidas proporcionava, Eirin teve certeza de que aquela cafeteira foi um bom lugar para o seu primeiro encontro com Klaus na Academia de Batalha Leviatã.
A única coisa que ela não considerou foi que o seu parceiro seria muito conhecido pelo público feminino do lugar.
Em uma mesa mais ao canto, um grupinho de garotas cochichava enquanto lançava, vez ou outra, alguns olhares de admiração na direção dos dois — mais precisamente, para o Cavalheiro das Chamas.
— Eu nem acredito. É ele mesmo — comentou uma das garotas, agarrada ao braço de uma de suas amigas. — Eu ainda tenho aquela revista. Será que ele me dá um autógrafo?
Um Top Ranking ganhava muito bem, contudo — quando se gastava demais — até mesmo um duo Top 3 precisava fazer alguns serviços extras para se sustentar.
Posar para uma revista famosa acabou sendo uma das alternativas que Klaus se viu obrigado a recorrer em um momento de aperto financeiro.
Ele só não contava que a repercussão seria tão grande. Alguns membros da Academia até disseram que o rapaz poderia abandonar o seu trabalho de fechar portais e virar um modelo.
— Eu não tenho a revista — ressaltou outra garota— mas, se ele me der um abraço, eu já fico feliz.
Esse último comentário fez os olhos de Eirin brilharem de uma forma não muito amigável. Segurando sua xícara com um pouco mais de força, o líquido escuro congelou num piscar de olhos.
— Creio que te conheço bem, mademoiselle. — Seu parceiro a encarava com um sorrisinho irônico do outro lado da mesa. — Mas eu não sabia que você gostava de café congelado.
— Hmmm… Se aquelas meninas falarem mais alguma coisa — disse, ao passo que o ignorava e passava a observar o grupinho de garotas, com o canto do olho — eu não responderei pelos meus atos.
— Haha! — Com uma mão em frente à boca, para abafar o riso e não chamar muito atenção, Klaus se entregou às suas emoções mais naturais.
Por sua vez, quem não ficou muito feliz com isso foi a própria Eirin, que fechou as mãos perto do peito e o fuzilou com olhos capazes de congelar até a alma do pobre rapaz.
— E você rir, Klaus? — Antes mesmo de receber uma resposta, virou o rosto para o lado, fazendo beicinho. Não queria olhar mais para ele. Insensível. — Eu aqui preocupada, e você fica zombando de mim.
— Nops! — contrapôs, apoiando os cotovelos na mesa e juntando suas mãos. Inclinou-se para a frente e a observou com atenção. Se Eirin se recusasse a olhar para ele, então Klaus contemplaria a birra dela até se cansar. — Eu já disse como você fica atraente quando tá com ciúmes?
Aquelas palavras acertaram seus ouvidos como uma flecha perfurante que atingiu o alvo. Começando a enrolar uma pequena mecha do seu cabelo curto, segurou a vontade de olhar de volta para ele.
"Não vai se render fácil, né?" O nefilim já estava pronto para continuar com o cabo de guerra emocional; ele, com toda certeza, sairia vitorioso, e a recompensa valeria o esforço.
Contudo, seus planos foram frustrados no momento em que a porta do estabelecimento foi aberta por um rapaz, o qual estava acompanhado por várias garotas.
Assim que o viu, o semblante de Klaus fechou e o ar ao seu redor ficou mais quente. Eirin percebeu isso e se virou para ver o que tinha feito o seu parceiro ficar daquela forma.
"Ah! É aquele cara." Ao contrário de Raizel, que mal interagia com os membros da sua própria Academia, os outros conheciam até mesmo os duos das outras três.
Claro, isso não significava que todos possuíam um passado digno de ser classificado como "amigável". O indivíduo em questão, por exemplo, era o tipinho que Klaus mais detestava.
Kaiser Profenius, o Top 3 Rank S da Academia de Batalha Leviatã, adorava se separar da sua duo — a qual também era sua namorada — e se aventurar com outras garotas sempre que tinha a oportunidade.
A pura definição de um majin.
De todas as auras demoníacas que Klaus já havia sentido, a que aquele cara carregava era a que mais lhe causava vontade de vomitar.
Era difícil saber como o relacionamento de Kaiser ainda estava de pé. Talvez sua namorada fosse uma típica corna mansa. Era o que o nefilim pensava, já que era impossível ela não saber de traições que ocorriam a céu aberto.
— Olha só — disse o majin, ao perceber a presença do duo da Academia de Batalha Ziz.
Puxando duas garotas pela cintura, uma meio-gata e outra meio-coelha, dirigiu-se até a mesa onde os dois estavam. Parou bem diante de Klaus, ostentando sua companhia e não resistiu à vontade de provocar o rival.
— Nunca imaginei que teria a "honra" de recepcionar o grandioso Cavalheiro das Chamas na nossa humilde Academia.
Klaus, por outro lado, evitou cair naquela provocação descarada. O que Kaiser possuía em sedução faltava-lhe em astúcia.
— Que coisa. — Colocou sua xícara de volta no pires e a afastou para o centro da mesa. — O café ficou com um gosto ruim de repente.
O majin franziu a testa e cerrou os dentes. Sem perceber, apertou a cintura das moças com força, fazendo-as tremer um pouco. Aquele desgraçado ousava ignorá-lo, mesmo que fosse apenas um visitante?
Se esse era o caso, então não pegaria leve com ele. Klaus até poderia tolerar ofensas e calúnias direcionadas a si, mas havia algo que nem mesmo o mais pleno dos homens aceitaria.
— Vejo que ainda se contenta com os serviços de apenas uma putinha, não é? — De imediato, o nefilim o encarou com os olhos ardendo em chamas, mas a visão de Kaiser já estava voltada para Eirin. — Ah! Talvez ela só seja boa mesmo!
Soltando as semi-humanas, inclinou-se e estendeu uma mão para a parceira do seu rival, como forma de convite para um passeio com ele.
— Se importaria de me emprestar ela um pou…? — Mais rápido do que Kaiser pudesse perceber, Klaus se levantou e já estava segurando o seu braço.
Por mais que o majin insistisse em puxar o membro de volta, seu braço estava tão firme que era impossível mover sequer um músculo. Enquanto isso, um pouco de fumaça subia da área que os dedos de Klaus apertavam.
Tanto as acompanhantes de Kaiser quanto os demais clientes do estabelecimento começaram a se abanar. Em um piscar de olhos, a cafeteria se transformou em uma verdadeira sauna.
Fosse um livro, uma bandeja ou até mesmo o cardápio, tudo era bem-vindo para exercer o papel de abanador. Só Eirin estava mais tranquila, visto que poderia se refrescar com a Manipulação de Gelo.
— Veja só. — Apesar da situação, Kaiser continuou a provocar. Enfim, a coisa estava começando a ficar divertida. — Parece que alguém tá irritadinho.
— Vai por mim — respondeu Klaus, enquanto o calor aumentava cada vez mais — eu ainda nem tô com raiva.
Foi então que, antes que aqueles dois irresponsáveis acabassem por fazer todo mundo ali desidratar até a morte — de tanto que suavam — uma mão pesada recaiu sobre o ombro de ambos.
Ao virarem seus rostos na direção de quem os segurava, depararam-se com um sujeito alto e parrudo. Seus músculos salientes gritavam aos quatro ventos, devido ao aperto pelo qual eram tomados.
— Ei! Ei! Vamos com calma, galera — falou em um tom bem despreocupado, enquanto revelava seus dentes afiados e resistentes. — Nós somos todos amigos aqui.
— Que diabos de ami…?! Urgh!
Os dedos do indivíduo, adornados por rígidas garras no lugar das unhas, impuseram o peso de montanhas sobre o ombro do majin, fazendo-o vacilar por um instante.
— Nós somos amigos — disse, ao passo que se aproximava do rosto do rapaz — não é, pequeno Kaiser?
Kaiser estava para soltar inúmeras lamúrias, quando percebeu o símbolo de um dragão negro estampado no uniforme do indivíduo: Absalon, o Retentor do Abismo.
— Tsc! Que seja! — Soltou-se do semi-humano e se pôs a sair bufando pelas narinas, acompanhado das moças que estavam com ele.
Vendo que o encontro com a sua parceira já estava arruinado e percebendo o quão irresponsável foi, Klaus tomou a iniciativa e, inclinando-se em ato de arrependimento, se desculpou com todos os presentes no estabelecimento pelos problemas que causou.
Sem perceber, colocou a vida das pessoas ali em risco por causa do seu temperamento impulsivo. Todavia, ninguém era cego. Eles sabiam de quem era a verdadeira culpa.
— Você é um cavalheiro mesmo, heim, cara? — Deu um forte tapa nas costas do nefilim, quase o derrubando para a frente. — Eita! Foi mal aí.
— Tudo bem… — Só naquele momento, o rapaz percebeu a cauda reptiliana do indivíduo. — Um meio-dragão? — Um dos híbridos de maior raridade entre os semi-humanos. — Ah, sim! Você…
O híbrido dracônico mais conhecido em Hervrom por sua força, coragem e personalidade relaxada, o Top 1 Rank S da Academia de Batalha Absalon: Baltazar Dragomir.
Continua no Capítulo 84: Herói da Luz
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