O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 4

Capítulo 82: Alícia… Alícia Necron

Apertados de modo que nem mesmo o ar encontrava caminho pelo qual pudesse se aventurar, todos se encontravam pelos, até então, largos corredores da Academia de Batalha Leviatã.

Independente de para onde Raizel e Petra fossem, apenas duas coisas eram certas: a Cerimônia de Abertura atraiu gente de tudo quanto era lugar; tenjins, majins, humanos e semi-humanos, todos transitavam pelo mesmo ambiente.

A segunda certeza, porém um tanto desagradável, consistia nos olhares de desconforto e desprezo direcionados a Raizel. A fama dele, mesmo nas outras Academias, não era lá das melhores.

Quando já estavam para sair do meio daquela multidão, espremendo-se entre as pessoas, um duo sorridente passou por eles. Dado a letra em seus uniformes, eram um duo de Rank A.

Em vez do símbolo da Águia Ziz, estava estampada a imagem de uma imponente besta terrestre nas mangas de seus uniformes, o símbolo da Academia de Batalha Behemoth — aquela que abrigava, em sua maioria, membros tenjins.

Ao olharem para o nefilim e perceberem de quem se tratava, a reação dos dois foi ainda pior que a dos demais: fizeram uma careta e viraram o rosto, só faltando cuspir no chão de tanto desgosto.

— Humph! — Diferente do que Petra esperava, seu parceiro apenas riu um pouco e a guiou, pelo braço, para o lado de fora. “O povinho dessa raça me ama mesmo, heim?”

Embora as ruas também estivessem cheias, o ar era muito mais leve e puro — agradável aos pulmões. A presença de árvores fazia uma diferença significativa no ambiente.

Por falar em árvores, os dois não tardaram em se abrigar à sombra de uma, escapando dos calorosos raios do sol.

— Como será que os outros estão? — indagou a moça, fechando os olhos e erguendo a face, entregue ao doce abraço da brisa matinal.

— Curtindo por aí, eu diria. — Raizel apoiou um pé e as costas no tronco da árvore, podendo relaxar um pouco. — É bem a cara daqueles dois.

Referia-se a Klaus e Eirin, os quais deviam estar à procura de alguma coisa divertida para fazer antes do início da Cerimônia de Abertura.

Trevor e Sophie, por sua vez, disseram que iriam visitar alguns pontos turísticos da Academia. O garoto queria encontrar alguma inspiração para pintar, e a sua parceira jamais o deixaria para trás.

Aos menos esses dois disseram o que iriam fazer. De qualquer forma, o importante era comparecer à cerimônia na hora marcada, o que não estava tão longe.

— Rai… — O que aconteceu a pouco tempo ainda incomodava os seus pensamentos. Mais cedo ou mais tarde ela teria que perguntar, então que fosse agora. — Sempre foi assim pra você?

Huh? — Ao encarar os olhos repletos de preocupação, ele percebeu o que a garota quis dizer. Cruzando os braços, suspirou de leve. — É, meio que sim, meio que não.

Independente de por onde andasse, até mesmo em outros mundos, as pessoas sempre o tratavam da mesma forma.

Talvez, assim como o Fruto da Luxúria, a rejeição e o desprezo fizessem parte das características naturais de um Nefilim Primordial.

— Eu nunca gostei de participar dessas coisas, de qualquer forma. — De pouco em pouco seus olhos foram cativados pela vastidão do céu azul, quase tão belo quanto os olhos da sua parceira. — Geralmente eu fico lá em cima ou em algum lugar mais distante.

— Então… — sussurrou para si mesma. A única razão pela qual seu parceiro estava enfrentando o desprezo daquelas pessoas era porque queria passear um pouco ao lado dela, porque ela queria conhecer o lugar. — Rai!

Dado o grito repentino, o garoto se virou em sua direção com um movimento brusco, pensando que algo de errado havia ocorrido.

— Que tal a gente ir pra um lugar mais reservado? — Encarava-o com olhos tão desesperados que aquela sugestão mais parecia uma súplica.

Devagar, e sem falar nada, Raizel se aproximou da sua companheira, deixando-a com um semblante um tanto quanto confuso.

Antes que a moça tivesse a chance de tecer algum comentário, ele deslizou a mão pela sua cintura e, ao inclinar-se, falou em um tom baixo, porém sugestivo, em seu ouvido:

— "Um lugar mais reservado" não parece uma ideia ruim. — O ar da voz dele passava quente pelo seu ouvido, roçando seu pescoço e fazendo um arrepio tomar conta do seu corpo. — Existem formas melhores de aproveitar o tempo que nos resta do que apenas andar por aí.

Quando ele começou a beijar seu pescoço, espalhando uma sensação eletrizante capaz de arrepiar os pelinhos de sua pele, Petra deu um passo súbito para trás e começou a olhar para o lado.

Vendo que ninguém reparou no que Raizel pretendia fazer, a moça abaixou seu rosto e o encarou de canto de olho. Suas bochechas estavam tão rosadas que tiraram um sorriso dos lábios do nefilim. Era mais do que prazeroso vê-la daquela forma.

— Rai, você… er.. — Quase engasgou ao lembrar-se de como os últimos dias foram intensos, o que também a fez cogitar um certo pensamento: "Se ele cedesse ao Fruto da Luxúria de novo..."

Petra estava para enfim verbalizar alguma coisa, quando a voz de uma garota soou um pouco atrás deles, interrompendo o clima existente entre os dois.

— Com licença. — O duo se virou e viu a moça de cabelos e olhos roxos, a qual trajava o uniforme com o símbolo da Academia de Batalha Behemoth. — Raizel Stiger, certo?

Diferente dos outros tenjins, essa não encarava o nefilim com um olhar de desgosto ou de desprezo, na verdade, suas íris brilhavam, como se estivessem felizes por enxergá-lo.

De forma intrusiva — e sem falar muita coisa — a garota se aproximou segurando uma das mãos de Raizel com as suas duas.

"Quê?" Bastou apenas um toque, e o rapaz sentiu que havia algo de estranho com aquela pessoa, algo que o paralisou por um ínfimo período de tempo. "Essa energia…"

Sem sombra de dúvidas, ele conhecia aquela sensação muito bem, embora nunca tivesse visto aquela moça antes.

Outra coisa que logo lhe chamou a atenção foi o olhar de incômodo advindo da sua parceira. Parada e calada, mas longe de estar contente.

Por uma simples razão, ela não se sentia muito confortável ao ver uma estranha segurando a mão de Raizel daquela forma.

— Irritante. — Com um movimento brusco, Raizel se desvencilhou da estranha, jogando as mãos dela para longe da sua.

Dando um passo para trás, por um momento a moça pareceu ter tomado mais dano daquela única palavra do que da forma bruta com que foi tratada.

Hehe! Acho que era o esperado.

Enquanto levava uma mão até a nuca, ficou com cara de boba. Era claro que ele iria reagir daquela forma, e ela — melhor do que qualquer um — já deveria saber disso.

— Sinto muito, acho que me empolguei demais. — Deslizando uma mão por seus longos cabelos roxos e mantendo uma postura reta, apresentou-se de uma maneira mais adequada. — Top 2 Rank S, Academia de Batalha Behemoth, eu me chamo Alícia… Alícia Necron.

De todas as coisas, a única a qual Raizel se atentou foi o sobrenome dela.

"Necron?"

O sobrenome de uma pessoa que nem ao menos possuía laços com aquele mundo. Alguém de quem Raizel jamais esperava ouvir falar outra vez e que — pelas circunstâncias atuais — talvez fosse melhor esquecer.

— Me diga, garota Necron. — Com as mãos nos bolsos e o queixo altivo, deu uma alfinetada na jovem tenjin. — Você sempre se joga assim em cima de homens comprometidos?

Ah! Mas é claro que nã… Pera! Comprometido?! — Virou-se de imediato para a garota que o acompanhava. Era ela? Bem, tinha que ser.

De fato, Alícia ouviu dizer que Raizel firmou um Pacto de Ressonância com alguém. Só isso já a deixou mais do que surpresa. Agora… um  relacionamento amoroso? Poderia chover diamantes. Perto da novidade, ela acharia normal.

Ao se dar conta do mal-entendido que causou, deixou o nefilim de lado e, com as mãos juntas — quase que em um ato de súplica — pediu desculpas para Petra.

— Sério, eu não sabia!

Hehe! — Petra riu de nervoso. Ela nunca teve uma pessoa a ponto de se humilhar só para pedir desculpas a ela. — Er, bem… foi só um mal-entendido, né?

Alícia voltou a levantar seu rosto, deparando-se com um sorriso amigável logo em seguida. Vendo daquela forma, a sua primeira impressão acerca de Petra era de que ela era uma verdadeira combinação de bondade e pureza.

"Mesmo depois de tanto tempo, parece que esse continua sendo o tipo de garota dele mesmo."

— Nós até podemos relevar o seu comportamento, no entanto… — ressaltou Raizel, agora com um tom de voz mais sério e sombrio — o que uma tenjin quer comigo?

Como um povo que via os anjos como um símbolo de perfeição, a existência de alguém que marcava o pecado desses seres era algo simplesmente inaceitável. Talvez fosse mais fácil encontrar um demônio que o admirasse do que um tenjin.

— Sabe, é que… — Por mais gentil que Petra parecesse, e ainda que fosse a duo de Raizel, era complicado comentar sobre isso na frente de outra pessoa.

Todavia, antes que a tenjin conseguisse decidir sobre o que fazer, uma voz masculina — e nem um pouco contente — chamou por ela.

— Alícia — falou um rapaz de cabelos loiros, acompanhado por outras duas pessoas — por que você tá com esse cara?

Diferente do caso de Alícia, Raizel reconheceu aquele indivíduo de imediato, afinal Trevor lhe passou algumas informações sobre ele, um dos seus possíveis adversários no Campeonato Sojourner.

Top 1 Rank S, Academia de Batalha Behemoth — e também o atual portador de uma arma divina pela qual Raizel nutre certa repulsa — o Herói da Luz, Lucius Arcadius.


Continua no Capítulo 83: Rivais Jurados

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