O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 4

Capítulo 101: Ao Bater do Martelo

A-Argh! — Usando o arco como muleta, Nathan se ergueu enquanto cuspia sangue, apenas mais um pouco em meio a tudo o que já tinha perdido. — Sinto muito que… tenha que ver essa minha… cara feia.

No mesmo instante, a corda do seu arco parou de vibrar, permitindo que Eslly se livrasse da sensação de incômodo no estômago.

No fim, o tenjin não era uma pessoa ruim a ponto de submeter o adversário a uma cena tão humilhante quanto ter uma crise de diarreia no meio da luta.

Não vejo problema algum no seu rosto — disse a grande águia Eslly. — Essa é a marca do seu heroísmo. — Então, reestruturando sua postura, encarou o oponente nos olhos. — Cicatrizes são o troféu de um guerreiro, certo?

Ao ouvir aquilo, Nathan sentiu a respiração parar por um instante — nem parecia que estava tão ofegante há pouco tempo atrás.

De alguma forma, era reconfortante ouvir tais palavras vindas daquele que o mesmo considerava como sendo um dos melhores exemplos de arqueiros do continente de Hervrom.

Ainda assim, o objetivo daquela luta não havia mudado — ela tinha que continuar. O único problema estava no estado em que o corpo dele se encontrava.

Com vários cortes — que ainda se fechavam — ossos quebrados, buracos no peito e o peso de um nocaute temporário nas costas, Nathan sabia que perderia caso prolongasse o embate.

— Talvez seja pedir demais — sugeriu, ao passo que diversas cordas surgiam pelo corpo de seu arco, tornando-o semelhante a uma magnífica harpa. — Nós podemos acabar com isso em golpe decisivo?

Ah, entendo. — Qualquer um compreenderia o significado por trás daquelas palavras de imediato e, da mesma maneira, as recusaria. Contudo… — Estou de acordo.

Como forma de retribuição por Nathan ter cessado o ataque de baixa frequência sonora, Eslly se sentia no dever de aceitar o pedido do adversário. Assim, poderia sair da arena sem o peso de uma dívida nas costas.

Veenhaaa! — Com o rosto elevado e inflando os pulmões com uma quantidade massiva de ar, que poderia muito bem roubar todo o oxigênio do ambiente, a águia preparou seu ataque.

— Com todo o prazer! — Sem criar qualquer flecha, apenas com as pontas dos dedos sobre as diversas cordas do arco, Nathan entrou em posição de combate.

Assim, no mesmo momento em que Eslly liberou o Grito de Águia, Nathan dedilhou as cordas do arco com todo o ímpeto possível.

Para a surpresa de muitos, a poderosa rajada de ar do semi-humano não conseguia alcançar o seu oponente.

"Impressionante!" A cada corda tocada por Nathan, uma resistente onda sonora era disparada para a frente em forma de uma parede invisível, a qual dissipava o ataque de Eslly.

Não demorou muito para que a pressão começasse a crescer dentro da arena de combate e tudo ao redor passasse a tremer — fosse o piso ou até mesmo as camadas mais distantes da barreira de proteção.

Todavia, o ar presente nos pulmões de Eslly parecia que nunca iria acabar. Para vencê-lo era necessário ir além.

Mas usar o Vislumbre da Glória — o maior trunfo de um tenjin — em prol de alcançar um objetivo egoísta, era um grande desrespeito com a história dos precursores de seu povo.

— Gema Espectral! — Logo a pedra refinada saiu do seu anel de ressonância e se fundiu ao arco, proporcionando-lhe uma aparência mais robusta e um grande aumento de poder.

Aquilo era tudo o que restava como alternativa para o jovem tenjin, e — como se respondesse ao empenho dele — as ondas sonoras se tornaram fortes o suficiente para empurrar o Grito de Águia de volta para dentro da garganta de Eslly.

Ahhhh! — Dedilhando as cordas em um ritmo frenético, Nathan sentiu o sangue ferver nas veias durante o tempo em que o oponente sentia o som quebrar-lhe os ossos e agitar-lhe os órgãos.

Contorcendo-se de dor, Eslly se viu obrigado a cobrir-se com suas asas na tentativa de amenizar os danos, mas foi em vão. Como ele poderia barrar o avanço de algo como próprio som?

Dessa forma, ao vê-lo totalmente na defensiva e sentir que seus dedos já não conseguiriam se mover por muito mais tempo, Nathan puxou todas as cordas de uma vez, anunciando o ataque final.

Sem chance de reação, Eslly foi varrido para longe por uma sequência incontável de ondas sonoras de alta frequência. Junto a ele, uma grande quantidade de destroços e poeira foi arremessada, em um estrondo.

Enquanto o barulho diminuía, e o som do silêncio começava a reinar no ambiente, Nathan sentiu os joelhos cederem e, logo em seguida, tombarem no chão.

— Aca… bou? — Sem o menor indício da silhueta da grande águia no meio da poeira, era notável que o semi-humano havia perdido a forma mais poderosa dele. — Foi algo incrível… mesmo… Sirin.

Foi então que o som repentino de algo cortando o ar e o impacto de um pé sendo firmado logo à sua frente puderam ser ouvidos.

Sem conseguir mais se mover, o rapaz apenas sentiu a vitória escorrer por entre os dedos enquanto aceitava o destino inevitável.

— Foi uma ótima luta — vociferou Eslly, de volta à sua aparência de híbrido. Então, com um movimento feroz de suas garras, desferiu um poderoso corte de vento — Nathan!

Dilacerado igual a um boneco de palha, o jovem tenjin foi jogado para o alto e, logo em seguida, sucumbiu com o corpo sendo esmagado contra o solo, em um baque seco.

Por alguns segundos, todos esperaram para ver se o garoto ainda seria capaz de reagir, todavia, tal resposta não veio. Ainda que consciente, o corpo de Nathan estava imóvel.

Haha! No fim, eu perdi — falou com uma voz que mais parecia um sussurro durante o tempo em que começava a ser teletransportado para a enfermaria. — Você foi uma ótima águia… e um excelente arqueiro.

— Obrigado. — Vendo-se de joelhos, Eslly levou as mãos até a boca para segurar uma cachoeira de sangue que jorrou dali. Com cada osso e órgão fraturados, a dor era lancinante. — Acho que podemos marcar uma revanche pro futuro…

Nisso, o arqueiro da Academia de Batalha Absalon também começou a ser teletransportado. Apesar de vitorioso, ele estava todo quebrado.

— … só entre nós dois… da próxima vez.

Desta forma, ao bater do martelo, as Academias Leviatã e Absalon obtiveram os seus primeiros dois pontos — cada uma — no primeiro dia do Campeonato Soujourner, enquanto as Academias Ziz e Behemoth saíram com saldo… nulo.

— É, parece que eu acertei. — Encarando a tela que transmitia a luta para a sala dos duos da Academia de Batalha Ziz, Raizel esboçava pouca empolgação ao deduzir os vencedores daquela luta. — Sem o Vislumbre da Glória, os membros da Academia Behemoth vão sofrer bastante nesta competição.

Após ver o quão duros aqueles embates poderiam ser, Trevor e Sophie queriam se preparar o máximo possível para a luta deles — a qual ocorreria no terceiro dia do campeonato.

— Tchau! Tchau! — Puxando seu parceiro pelo braço, Sophie se despediu com um breve aceno de mão. — Torçam pela gente.

Por outro lado, Andrew e Valentina saíram sem dizer muitas palavras, principalmente a garota — o que era um tanto quanto estranho. Normalmente, Valentina daria uma despedida calorosa a Petra.

— A Tina tava bem calada durante essa última luta — refletiu a moça, sentindo falta do abraço da amiga. — Ela tava bem animada no começo.

— Rolou algo enquanto eu estava fora? — Com um balançar de cabeça, sua parceira expressou uma resposta negativa. Ao menos, ela não tinha reparado em nada estranho. — Nesse caso, vamos para dentro do seu Espaço Dimensional. Ainda temos que prosseguir com o seu treinamento.

Huh? — A princípio, a moça não entendeu o porquê de Raizel querer treinar dentro do Horizonte de Eventos. Havia muitas salas de treinamento disponíveis na Academia para eles usarem. — Ah, sim.

Só havia uma habilidade de Petra que o seu parceiro queria manter em segredo do público, ao menos até que ela a dominasse de uma forma satisfatória: a Chave de Goétia do Guardião dos Céus.

Nos corredores, e em meio ao mais puro silêncio, Valentina caminhava cabisbaixa ao lado de Andrew quando, do nada, o rapaz decidiu parar, despertando-a do transe.

— O que aconteceu com você? — Ainda que com um tom claro de preocupação, o garoto foi direto ao ponto. — A gente já passou bastante tempo juntos, sabe? Sempre que você fica assim é por… que…

Para a surpresa de Andrew, a garota se aproximou e — ainda calada — enfiou o próprio rosto no peito dele. Ainda que de leve, era possível sentir o corpo pequeno dela tremendo.

Foi um baque muito forte para Valentina perceber que — quando Petra faz um Pacto de Ressonância com Raizel — o destino das duas estava fadado a seguir por direções diferentes.

Naquele ponto, Valentina já não conseguia mais ajudar a amiga em batalha, estava fraca demais para que pudesse fazer isso. Petra havia se tornado uma Rank S, enquanto ela continuava sendo apenas uma Rank A.

Para completar, a amiga não iria envelhecer além dos vinte anos, mas ela… ela iria. No fim da linha, a morte estava esperando pelas duas para separá-las.

Por mais que tentasse negar e desviar os pensamentos negativos de sua mente, Valentina não conseguia se desfazer daquela sensação amarga e ruim.

— Sei que é egoísmo da minha parte, Andrew, mas… — Segurando a camisa do parceiro com força, disse com uma voz vacilante, enquanto uma lágrima solitária escorria pela face. — Eu… Eu não quero… ser deixada… pra trás.


Continua no Capítulo 102: Alento

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