O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 3

Capítulo 81: Módulo, Direção e Sentido

Atrás de uma resistente proteção de vidro transparente e com os braços cruzados, Arklev observava a garota parada no centro da sala de testes.

Sem perceber, os dedos de sua mão direita dançavam em uma sequência de toques sobre a pele do seu braço.

Como a moça se sairia no teste? O que ela lhe mostraria? A sua nova criação seria capaz de superar a poderosa Manipulação de Vetores da Patrona da Ira?

Hahaha! — A animação era tamanha que se tornava difícil evitar uma risada em meio ao ambiente silencioso. — Nós já… podemos iniciar, não é?

Antes mesmo de receber uma resposta, seus dedos tremiam enquanto se aproximavam, em puro êxtase, do botão vermelho que libertaria a besta enjaulada com ódio.

Ahh… — Diferente do homem, Elesis só queria acabar com aquilo logo. Quanto mais rápido terminasse, menos estressante seria. — Pode ser.

Como forma de resposta à sua fala, a porta que estava logo à frente começou a se abrir em formato de "X", liberando uma grande quantidade de vapor e um barulho de  ar comprimido.

No entanto, antes que a porta se abrisse por completo, um vulto veloz se jogou contra ela, estourando pedaços de metal para todos os lados.

Antes que a moça tivesse tempo de mover um dedo, a grande criatura humanoide de pele acinzentada se pôs diante dela, pronta para a partir em duas com as suas garras.

— Não me toque — falou baixinho, e, de imediato, o braço do monstro mudou de direção, jogando-se para trás e o deixando com a guarda aberta. — Isso me irrita.

Quando Elesis aproximou a palma da sua mão, ficando a um fio de cabelo de tocar no peito do oponente, a criatura voou para longe, girando em pleno ar e causando um estrondoso baque contra a parede.

Por um instante, o monstro caiu inerte no chão, junto de algumas migalhas do revestimento da parede. Parecia que ele havia apagado, por causa do impacto.

Hmm! Nada mau. — Com uma mão reflexiva em seu queixo, Arklev observava a cena. — Mas precisa atuar melhor se quiser enganar alguém.

O nível de inteligência da sua cobaia ainda estava abaixo do esperado, no entanto, continuava progredindo pouco a pouco. Isso era indispensável para se alcançar o seu objetivo principal.

Mesmo sabendo da atuação da criatura, a Patrona da Ira aproximou-se dela e ficou um tanto quanto intrigada com um fato: o monstro parou de respirar, nem mesmo o coração batia mais.

Ohhh! — Inclinou-se com os olhos bem abertos. — Parece até que morreu mesmo.

Foi então que, em um abrir e fechar de olhos, a cobaia apoiou uma mão no chão e, com uma rasteira precisa, derrubou a garota.

— Que rápido! — O cientista colocou suas mãos no vidro, que o separava dos lutadores, com tanta força que poderia passar para o outro lado. — Haha!

Todavia, para cessar os risos do homem, sua criação falhou em esmagar a cabeça da moça com um pisão potente.

Esse golpe, ela não estava nem um pouco afim de receber, e o rumo do pé do seu oponente mudou de direção, fazendo-o perder o equilíbrio.

— Eu disse pra você — esbravejou, enquanto se levantava e agarrava o braço do monstro com força — não me tocar!

Ao jogar o braço da criatura para trás, ele foi torcido numa espiral bizarra de carne, sangue e ossos, parecendo mais com um pano de chão do que com a parte do corpo de alguém.

Então, com um giro, e antes que o monstro pudesse se recompor, Elesis deu um chute na barriga dele, empurrando-o para longe e torcendo a carne do seu abdômen.

Essa pequena abertura foi o suficiente para que a Patrona aumentasse o valor do módulo velocidade dos seus movimentos e se pusesse cara a cara com o monstro de novo.

Surpreso com a atitude da moça, a cobaia colocou o braço restante em frente ao rosto, mas foi inútil. Com parte da sua visão obstruída, nem conseguiu perceber o quão rápido a garota materializou um grande machado e lhe cortou do abdômen até a cabeça.

Dessa vez, verdadeiramente sem vida, a cabaia de Arklev sucumbiu com um som mórbido, que espalhou uma grande quantidade de sangue e vísceras pelo chão.

— Que trágico. — Jogou-se de qualquer jeito sobre a cadeira mais próxima. — E ela só ficou com um pouco de raiva.

Para alguém que representava a Ira, entre os Patronos do Pecado, Elesis Hiratus era aquela que mais prezava pela tranquilidade e paz de espírito.

No entanto, isso era justamente o que a tornava a mais apta para ocupar aquela posição. Se alguém a irritasse, se alguém ousasse profanar a sua paz, esse alguém teria que morrer, ou melhor, ela o aniquilaria sem hesitação.

"Se a causa da minha irritação sumir, eu posso ficar em paz de novo, né?" Ela dizia.

— Doutor — indagou ao cientista, que parecia um tanto quanto desapontado — eu já posso ir, né?

Com um desanimado aceno de mão, lhe foi concedida a permissão para retirar-se do recinto, e foi o que ela se pôs a fazer quando, de repente, o cadáver atrás de si voltou a se mover.

A regeneração dos Vampiros finalmente começou a fazer efeito. Além disso, o monstro não fez um barulho sequer enquanto juntava as metades separadas do seu corpo: a furtividade dos Wendigos.

Recuperado em instantes, a criatura saltou contra a garota que se encontrava de costas prestes a abrir a porta de saída.

Ela estava de guarda baixa — distraída — aquela habilidade de mudar a direção e o sentido dos ataques não funcionaria, ou era o que o monstro pensava.

— Eu já tava indo embora — falou, ao passo que os movimentos do seu inimigo ficavam cada vez mais lentos, a ponto de quase parar — porra!

Após reduzir o módulo velocidade da criatura, Elesis se virou para ela com os dentes cerrados e os olhos ardendo em fúria e, então, apontou-lhe um dedo que tremia de indignação.

— Vai pro inferno!

Como que em uma última tentativa de sobreviver, o monstro grunhiu e tentou estender uma mão até a moça, mas foi em vão.

Todo o seu corpo passou a se contorcer em uma espiral de ossos, órgãos e carne, transformando-o em uma pequena bola de gosma.

— Ei! — gritou Arklev ao ver a garota levantar seu machado com tudo. — Tenha cal…

Boom!

A sala explodiu, trincando os vidros de proteção projetados para resistir a todo tipo de dano, ou quase todos, e levando consigo qualquer rastro da existência da cobaia do cientista.

Conforme a poeira baixava, o homem apenas observava, de queixo caído, o cenário catastrófico da sala enquanto a Patrona da Ira saía batendo os pés no chão.

— Mas que por… — Levou uma mão ao rosto e respirou fundo para segurar o palavrão que insistia em querer sair.

Diferente do que a criatura achou, Elesis não tinha perdido o foco da luta. Como alguém que prezava pela tranquilidade e paz de espírito, aquela garota possuía concentração e foco em um nível inconcebível.

O monstro ter acertado uma rasteira nela naquela hora talvez tenha sido apenas um pequeno golpe de sorte, um que poucos tiveram a honra de conseguir.

— Você parece um pouco abalado, Arklev — ressaltou Ekron, que acabara de entrar na sala. Ao contemplar o caos gerado pela luta anterior, logo deduziu os resultados. — Experimento fracassado?

— Eu preciso de uma cobaia melhor. — Começou a enrolar uma mecha do próprio cabelo enquanto pensava em algumas possibilidades. — A cobaia atual demorou bastante para manifestar as Habilidades Inatas que eu transplantei.

Se ao menos tivesse um espécime capaz de portar várias habilidades ao mesmo tempo, seria mais simples.

Mesmo que só tenha transplantado o poder de duas criaturas para a cobaia, a habilidade de uma interferia no uso da outra, impossibilitando, assim, usufruir das duas com perfeição.

— Se eu pudesse colocar as minhas mãos naquela garota logo de uma vez.

O material genético de Petra abria uma gama de possibilidades muito grande para o cientista que adorava trabalhar com hibridismo. Ao menos, o Louco tinha grandes expectativas nela.

— Terá que esperar um pouco mais, Arklev — disse enquanto se dirigia em direção a um pequeno visor na outra parede, um que não foi danificado por Elesis.

Ativou o visor, que passou a mostrar a imagem de duas monstruosidades genuínas, as quais estavam contidas dentro de reservatórios gigantescos repletos por um líquido azul-cristalino. Por sorte, ambas pareciam inconscientes.

Uma era semelhante a um leopardo de sete cabeças e dez chifres. Essa possuía patas, como as de urso, e a sua boca era parecida com a de um leão feroz.

A outra, por sua vez, possuía uma aparência mais simples, semelhante a um cordeiro com dois grandes chifres em espiral.

— Uma pena que minhas crianças não possam brilhar na invasão. — O cientista deslizou uma mão devagar pela tela, observando-a com um brilho no olhar. — Meu querido Projeto 666.

— O palco para essas criaturas será algo muito maior do que isso, Arklev. — Vendo que tudo por ali estava em ordem, ele se preparou para sair. Ainda havia muitas coisas para resolver. — Cuide bem de tudo enquanto eu estiver fora.

A cerimônia de abertura do Campeonato Sojourner se iniciaria no dia seguinte. Era de grande importância que todos os diretores das Academias de Batalha estivessem presentes.

— Como desejar — disse o cientista, executando uma reverência e esbanjando um certo sorriso sádico em seu rosto — diretor Nabuco Donosor.


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