O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 2

Capítulo 75: Ponto de Ruptura

Por mais que Raizel sentisse que não deveria prosseguir, tão grande quanto o desejo de parar era a força que o levava a continuar. Como uma bola jogada ladeira abaixo, aquilo havia se tornado um caminho sem volta.

Seus braços a envolviam com força, enquanto seus lábios se misturavam numa espiral de emoções. Seus corações sincronizados, pulsavam como se fossem pular para fora de seus peitos.

Tudo nele clamava por possuí-la. Todas aquelas emoções e desejos latentes, o Fruto da Luxúria os evidenciava da forma mais crua possível.

Foi quando que, para a surpresa de Raizel, os finos braços de Petra envolveram seu pescoço de uma forma tão tênue e gentil que uma certa sensação de calmaria tomou conta de sua mente.

O beijo, antes frenético e intenso, passou a se tornar cada vez mais vagaroso e singelo. A garota, que ficou sem reação no primeiro momento, correspondeu com carinho e afeto genuínos — algo que ele jamais recebeu antes, senão dela.

Aos poucos, seu coração desacelerou, e seus lábios deslizaram pelos de Petra. Apoiando seu rosto sobre o ombro dela, Raizel sussurrou:

— Petra… — Dali era possível ver os resquícios da marca roxa que ele deixou no pescoço dela na outra vez.

Mas o que mais se destacava era a respiração ofegante e descompassada da sua parceira, que respirava de forma pesada, como se tivesse corrido uma maratona inteira sem interrupção.

Ela não sabia bem por quanto tempo o beijo durou. Durante o momento, aquilo se tornou um detalhe irrelevante, mas sabia que foi o suficiente para roubar qualquer resquício de ar presente em seus pulmões.

— Rai… — disse com a voz fraca, apoiando-se nele para não cair. Então, com o rosto enfiado no peito do seu parceiro, ela expressou com timidez: — Eu… Já tem um tempo que eu…

— Petra! — Soou uma voz feminina ao longe, entre as árvores. — Cadê você, Petra?!

Valentina começou a procurar por ela depois que sentiu falta da garota que se aventurou sozinha em meio àquela montanha desconhecida. Contudo, o que a moça não esperava era encontrar Petra sozinha e caída de joelhos no chão.

Sem pensar duas vezes, Valentina partiu em disparada até a garota e constatou que o seu rosto estava vermelho e quente, além da respiração ofegante. Parecia que a sua amiga ficou doente do nada.

— É melhor a gente voltar logo — disse, segurando as mãos da moça. — Você trouxe algum remédio?

Petra acenou negativamente com a cabeça. — A gente pode ficar aqui um pouquinho?

Não se sentia segura para encarar os outros naquele momento. Talvez ela até se encontrasse com Raizel, que sumiu em um piscar de olhos antes de Valentina aparecer.

Depois daquilo, como poderia encará-lo? O que diria quando o visse de novo?

Sem saber os motivos, mas compreendendo a reação da sua amiga, Valentina se sentou ao lado dela.

Esperaria o tempo que fosse necessário para Petra se recompor, porém, se a garota piorasse, a levaria mesmo que contra a vontade dela.

— Você encontrou ele? — Tocou no tópico principal, afinal aquele cara foi a razão de Petra se ausentar da cachoeira e ficar naquele estado.

Hm! Hm! — negou, um pouco sem jeito. Essa era a primeira vez que mentia para a sua amiga, mas era meio difícil comentar sobre o beijo naquele momento. Nem ela tinha processado direito o acontecimento. — Infelizmente, eu não achei o Rai.

— Rai… — repetiu, de uma forma menos positiva. Era sempre aquele cara. O que ele fez para entrar na mente da sua amiga daquela forma, afinal? — Você se importa tanto com ele, até deu um apelido.

Petra a olhou com feições confusas, já Valentina juntou as pernas próximo ao peito e as abraçou como um bebê birrento.

— Isso é tão injusto, sabe? — disse baixinho, sem conseguir olhar para a outra. — Ele tem um apelido, e eu não.

Todas as vezes em que ouvia o nome "Rai", Valentina sentia como se aquele cara, que caiu de paraquedas na vida de Petra, tivesse se tornado mais próximo da sua amiga do que ela própria.

Por mais que tentasse, era difícil negar para si mesma que sentia inveja dele. Inveja por causa de um apelido. Inveja por causa de um nome.

— Tina. — Petra disse, ao passo que fazia um carinho de leve na cabeça da moça cabisbaixa. — Eu peguei só o início do nome do Raizel, então eu posso ficar com o final do seu, certo?

Virando seu rosto para a amiga, Valentina não conseguiu conter a felicidade que sentia e se atirou nos braços dela, abraçando-a com toda a força que tinha. Até se esqueceu do estado em que a garota se encontrava.

— Sim! Sim! — Nunca uma palavra soou tão bela e agradável aos seus ouvidos. — Fala de novo! Fala de novo!

Haha! — Petra se via a ponto de ficar com falta de ar outra vez. Só aqueles dois para fazerem isso com ela. — Tina.

Pela noite, todos se reuniram ao redor da fogueira. Após passarem o dia curtindo as águas da cachoeira, o grupo já estava cansado de saltar e nadar como se fosse a última vez.

A exaustão era transparente em seus rostos. Mesmo assando alguns marshmallows, quase ninguém ousava falar alto ou fazer estripulias. Naquele momento, eles só queriam dormir.

Ainda pelo amanhecer, preparariam suas mochilas e desceriam a montanha com toda aquela tralha nas costas de novo. Era melhor estar em boas condições.

Petra tirou o seu marshmallow da fogueira e deu uma mordida de leve na guloseima macia e quente. No entanto, o gosto estava diferente de antes — faltava algo.

Desde o ocorrido de mais cedo, Raizel simplesmente desapareceu. Ninguém voltou a ver ele ou foi capaz de sentir a sua energia pelos arredores. Era provável que estivesse usando a Ocultação de Energia.

"Ele tá… me evitando?" Ao ver que alguns já estavam se retirando para dormir, a moça também se despediu e foi para a sua barraca.

Enquanto trocava a roupa atual por um pijama, reparou no anel em seu dedo. Ela poderia simplesmente usar os efeitos do Pacto de Ressonância para encontrar o seu parceiro. Até mesmo a Ocultação de Energia de Raizel seria ineficaz contra isso.

Hm! Hm! — Balançou a cabeça para os lados, limpando aquela ideia da sua mente.

Se o seu parceiro estava mesmo usando aquela habilidade, se estava evitando-a, então Raizel não queria que ela fosse atrás dele de novo.

"Será se eu fiz certo?", pensava enquanto se enfiava debaixo das cobertas, como uma tartaruga que se refugiava no casco. "Será que foi culpa minha?"

Se não o tivesse seguido, nada daquilo teria acontecido. Os dois estariam juntos apreciando alguns marshmallows ao redor da fogueira agora.

Por mais inesperado que tenha sido, aquele beijo foi diferente de quando os dois se beijaram durante o ritual do Pacto de Ressonância. Houve mais sentimentos dessa vez. Ela sabia.

Pensar sobre isso a fez sorrir um pouco, um sorriso bobo que logo se desfez. A situação entre eles mudou de alguma forma. E se realmente continuasse assim? O que ela faria?

— Eu… — Abraçou o travesseiro com força, buscando algum tipo de apoio. — O que eu faço?

Dentro da sua barraca, Klaus estava embrulhado da cabeça aos pés. Até o renomado Cavalheiro das Chamas sofria com o frio noturno das montanhas.

De repente, ele sentiu uma presença do lado de fora e ouviu o zíper da barraca sendo aberto. Então aquele mestre louco resolveu dar as caras depois de sumir o dia quase inteiro.

Huh? — Aquele cara acabou de se enfiar debaixo das suas cobertas?!

Não! Delicados e pequenos dedos dedilhavam pelo seu abdômen enquanto uma figura de cor rosa se aproximava da sua face. Parando para prestar atenção, aquele cheiro doce era familiar.

— Eirin?

— Achooou! — Com um sorrisinho, ela o abraçou e repousou o rosto sobre o seu peito. — Ahh… Assim é melhor do que dormir sozinha.

Se bem que ela estava dormindo na companhia de Petra, então, tecnicamente, não estava tão sozinha assim. Mas esse não era o maior dos problemas: Raizel poderia chegar a qualquer momento.

Mademoiselle, sabe que estamos infringindo a regra de divisão das barracas, não é? — Enquanto acariciava os cabelos dela, a moça fez um som de negação.

Raizel não voltaria para lá naquela noite, ao menos, foi o que ele prometeu quando a encontrou voltando para a sua própria barraca.

Então, sentando-se em cima do seu parceiro e selando os lábios dele com o dedo indicador, provocou-o mordendo os lábios com lascívia.

— Hoje somos só dois… meu cavalheiro.

Quanto tempo já havia se passado e ela ainda não tinha conseguido dormir? Estava tão solitário do lado de fora que dava para ouvir os grilos em festa. Se não fosse pelo frio, seria agradável olhar as estrelas.

O céu daquele lugar costumava ser mais limpo, então dava para contemplar alguns astros celestes que ficavam invisíveis no céu da Academia.

De repente, o zíper da barraca foi aberto pelo lado de fora. Eirin demorou bastante para voltar. Talvez tenha feito um passeio noturno com Klaus. Aqueles dois se davam muito bem.

Oh! Parece que alguém ainda está acordado.

Huh? — Só reconhecer o portador daquela voz já foi suficiente para que Petra saísse debaixo das cobertas quase dando um salto.

Lá estava ele — o fujão — na entrada da barraca, observando-a como quem contemplava a mais bela das estrelas.

— Eu posso te fazer companhia, senhorita?


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