O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 2

Capítulo 73: A Caçada

Andrew suspirou profundamente, buscava estabilizar tanto seu corpo quanto sua mente. Os dedos, a ponto de tremerem, eram sustentados unicamente por sua pura força de vontade.

Camuflado entre as rochas, o rapaz segurava um rifle de caça enquanto mirava no alvo — o qual caminhava ao longe, entre as árvores banhadas pelo orvalho da manhã.

O grupo de Bodes Malteses estava para, enfim, parar e beber um pouco da água de um pequeno rio que fluía montanha a baixo.

O momento de puxar o gatilho se aproximava, o que só aumentava a tensão.

Logo atrás de Andrew, e também escondidos, os outros garotos estavam com os olhos atentos a cada mínimo detalhe, já sentindo o delicioso gosto daquela carne assada na brasa.

"Sério, por que tinha que ser logo eu?" Andrew já tinha até esquecido do que significava piscar. Seus olhos ardiam, ao passo que ficavam cada vez mais vermelhos.

Porém, era a vontade dos demais que fosse ele a realizar a primeira caçada naquelas montanhas.

O único problema era que o rapaz possuía pouca prática, para não dizer nenhuma, com aquele tipo de arma.

— No ponto — sussurrou Klaus, assim que os animais começaram a matar sua sede.

"Agora!" Contudo, no momento em que Andrew estava para puxar o gatilho, um inseto voou em direção ao seu rosto, fazendo-o errar o disparo. — Não!

A bala passou perfurando o ar e errando o mais importante, o animal. O estalo da sua colisão contra uma das pedras chamou a atenção de todos os Bodes Malteses.

Em um piscar de olhos, os bichos sumiram na velocidade de um raio, deixando apenas poeira para trás.

— Rápido! — Klaus foi o primeiro a pular do meio das pedras e a iniciar a perseguição. — É o nosso almoço!

Se eles não fossem rápidos, os bodes seriam, uma vez que essa era a principal característica dos Bodes Malteses: uma velocidade insana de tão alta.

O rapaz ativou suas runas faciais para proporcionar uma visão mais aprimorada dos movimentos dos animais. Graças a isso, o que antes eram apenas vultos passaram a ganhar forma.

— Vem… pro… pai! — Logo arremessou uma lança de fogo contra um dos bodes.

Contudo, por um triz, o animal deu um salto e desviou do ataque — que evaporou a umidade do ar ao redor.

O que a infeliz criatura não imagina era que, uma vez no ar, ela se tornaria um alvo fácil para uma flecha algoz, que veio do fundo da floresta e perfurou a sua cabeça.

O animal logo tombou no chão, contorcendo-se, enquanto os demais escapavam, até que os movimentos do seu corpo cessaram, indicando o fim da sua vida.

— O que foi isso? — Klaus olhou para a direção de onde o projétil foi disparado e viu duas figuras familiares. — Valentina e… Ah! Sophie.

Então foi ela a arqueira responsável por roubar a presa dele, ou por salvar o seu almoço, era um pouco difícil de decidir.

Mas o que elas faziam ali? As garotas deveriam estar responsáveis por procurar e coletar madeira e ervas comestíveis.

— Parece que vocês estavam com dificuldades. — Acenou a moça, enquanto desmaterializava seu arco.

— Valeu. — Aproximando-se do animal caído, Klaus colocou-o sobre os ombros.

Caçada bem sucedida.

Só era uma pena não poder se vangloriar das suas habilidades de caçador para Eirin. Bem, sempre havia uma segunda chance, ao menos, assim ele esperava.

"Na próxima, esses bodes barbudos vão ver."

Ao retornarem para o acampamento, o restante das garotas já estava preparando o almoço. A única coisa que faltava era a carne, que ficou aos cuidados de Raizel e Trevor.

Ao criar duas facas bem afiadas, Raizel começou a desmembrar o animal e a remover pele e órgãos. Trevor, por sua vez, estava encarregado de limpar e salgar a carne.

O que para eles era apenas um processo comum, para Valentina era uma visão nojenta e grotesca.

Ergh! — Levou uma mão ao estômago embrulhado.

— Você mata monstros, mas tem nojo de algumas tripas? — indagou Raizel, com um sorriso de deboche no rosto. — Que moça delicada.

— O que uma coisa tem a ver com a outra? — Indignada, virou o rosto e se pôs a caminhar em direção a Petra. — Humph! Chato.

O que a sua amiga viu de bom em um cara como aquele? Ele nem sequer era educado com a melhor amiga dela.

"Que garota estranha." Ela transmitia um certo rancor quando falava com ele, mas era um pouco diferente das outras pessoas. "Mas também um pouco divertida, eu diria".

De qualquer forma, Raizel continuou o seu trabalho junto a Trevor até que toda a carne estivesse pronta para ser assada.

Petra e Eirin ficaram responsáveis por procurar a madeira necessária para a fogueira, que montaram em um lugar afastado das árvores.

Após tudo ficar pronto, Klaus se prontificou a servir de isqueiro humano, acendeu a fogueira e ficou com os olhos bem atentos ao churrasco.

"Nada melhor do que um carneirinho assado na brasa." Quase salivava contemplando a gordurinha suculenta que escorria pelo espeto.

Assim foi apenas questão de tempo até que o grupo pudesse desfrutar da refeição proporcionada a partir dos esforços conjuntos de todos.

O bode estava com um gosto mais do que agradável. Naquele ritmo, eles teriam que caçar outro mais cedo do que o esperado.

Hmm! — Trevor levou uma mão até a boca enquanto provava uma espécie de raiz cozida. — Gosto de batata.

— Fui eu que colhi — respondeu sua parceira, dando uma mordidinha também. — Tem mais raízes comestíveis espalhadas por aqui do que eu imaginava.

No fim, Raizel conhecia bem o lugar que escolheu para o acampamento. Ali o grupo encontraria tudo o que fosse necessário para a sua sobrevivência na natureza.

— Andrew — chamou Valentina, oferecendo o pedaço de uma das raízes que colheu com Sophie — abre a boca, vai.

Hã? — Ela queria dar comida na boca dele, mesmo? — É, bem…

Alguns dos seus amigos começaram a olhar para os dois, deixando-o meio nervoso. Fazer isso na frente de todo mundo era mais embaraçoso do que ele imaginava.

Ao reparar na hesitação do seu duo, quem se sentiu desconfortável por fazer aquilo em público foi a própria Valentina.

— S-Se você não quiser, eu como! — Quando estava para enfiar o alimento goela a baixo, com toda a frustração que possuía, o rapaz a interrompeu.

— Nã-Não! E-Eu quero sim!

Os outros riram ou se esforçaram para segurar o riso tapando a boca com as mãos, o que só deixou Andrew ainda mais envergonhado.

Ah, sim! — disse Petra, chamando a atenção de todo mundo e aliviando a barra do seu amigo. — Eu e o Rai temos algo pra vocês.

Do seu anel de ressonância, a moça retirou seis pacotes de presentes, que não poderiam se misturar com o conteúdo da sua mochila, caso contrário seriam completamente amassados.

— São umas lembranças que trouxemos da nossa viagem.

A intenção era entregar os presentes no dia do jogo de Verdade ou Desafio, quando todos estivessem reunidos. No entanto, isso não foi possível, dado a forma com que a reunião acabou. Mas, naquele momento, a história era outra.

Valentina foi a primeira que se prontificou a receber o presente de Petra. Poderia ser qualquer coisa, vindo da sua amiga, ela se sentiria feliz. No entanto, o que recebeu quase fez seu coração pular para fora do peito.

— Isso é… — O seu presente, uma pulseira de safira rosa. As pedras encrustadas no acessório eram de um rosa quase tão puro quanto o dos seus olhos. — Petraaa!

Sem segurar seu contentamento, a moça abraçou a outra com bastante força. Sem dúvidas, ela nunca mais tiraria aquela pulseira do pulso.

Agora, com uma reação um pouco mais modesta do que a da sua parceira, Andrew recebeu uma corrente para o pescoço adornada com o símbolo das chamas do sol — assim como a sua Habilidade Inata.

— Obrigado. — Agradeceu de forma singela e sentou-se ao lado de Valentina, que continuava animada.

Já os outros, receberiam seus presentes direto de Raizel. E Trevor foi o primeiro a se prontificar a receber um conjunto de pintura.

Wow! — Seus olhos de pintor reconheceram a qualidade do material com apenas uma piscada. Quem diria que o seu amigo era tão bom na hora de escolher materiais para pintura?

Ao ver como seu parceiro ficou, Sophie deu um pulinho, pronta para receber o seu presente também.

— E pra mim? — Raizel soltou um pequeno sorriso. Ela seria a pessoa mais fácil de agradar ali. — Nossa!

Com um jogo de tabuleiro em mãos, feito a partir da madeira de uma das mais raras e cobiçadas árvores, seus olhos soltaram faíscas capazes de iluminar o breu da mais pura escuridão.

"O vício por jogos de tabuleiro continua sendo o seu ponto fraco."

Eirin, por sua vez, não aparentava estar muito empolgada com um presente vindo daquele cara. Até parece que ele escolheria algo bom para el…

— Que lindo! — Dando um pequeno giro, quase saiu aos pulinhos com o anel de diamante rosa que recebeu. — Vou usar na celebração do campeonato.

Agora o último que faltava era aquele com quem Raizel gostava de trocar algumas farpas sutis — Klaus. Assim como sua parceira, o garoto estava pronto para receber qualquer coisa, mas…

— U-Um console?! — As mãos do fanático por jogos digitais tremiam antes mesmo de tocar no objeto.

— Você já deve ter zerado todos os jogos que trouxemos da outra vez. — Com um sorriso de vanglória, o rapaz anunciou: — Imaginei que estaria ansioso por novos.

Os olhos de Klaus quase saltaram para fora das órbitas só de imaginar as inúmeras aventuras que o aguardavam.

— Passa isso pra cá! — Sem pensar duas vezes, pegou a caixa igual a um sedento em busca de água.

Agora, ele tinha mais um motivo para dar o fora daquele monte de mato o quanto antes: jogar.

Pela manhã do dia seguinte, Raizel se viu forçado a acordar por causa dos gritos de um certo indivíduo que ecoavam do lado de fora da barraca.

Ao se virar para o lado e constatar que Klaus não estava lá, o nefilim logo deduziu quem era o responsável por toda aquela algazarra.

— Tinha que ser…

Logo levantou-se com feições emburradas e saiu para o lado de fora para ver o que o seu amigo queria ao fazer papel de galo despertador tão cedo.

— Ei! Ei! — Klaus anunciou enquanto esfregava as mãos, empolgado. — Vocês não vão acreditar no que eu encontrei neste fim de mundo.


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