O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 2

Capítulo 72: Acampamento nas Montanhas

Pela madrugada, o ar úmido refrescava os pulmões de ambos, e o som dos insetos era uma bela harmonia a ser contemplada enquanto esperavam a chegada dos atrasados.

Todos, com exceção de Klaus e Eirin, se encontravam aos pés do complexo de montanhas Mustafá, onde passariam os próximos três dias isolados da sociedade.

Fosse nas costas ou no chão, cada um do grupo trazia consigo uma grande mochila de aventureiro contendo todos os equipamentos necessários para a estadia.

— Tinha que ser aqueles dois. — O plano de Raizel consistia em subir as montanhas ainda pela madrugada, quando o clima era mais agradável. — Quando chegarem, vou colocar eles pra carregarem a minha mochila.

O que o rapaz não esperava era que, mesmo após tanto tempo, os dois chegariam sem as suas próprias mochilas.

— Oooi! — Eirin acenava ao longe, acompanhada pelo seu duo. — Por que vocês estão com essa bagagem toda?

— Sou eu que deveria te perguntar. — Raizel a encarou com o seu habitual semblante de poucos amigos. — Vocês vão passar três dias no meio do mato, e não trouxeram nada?!

Aham! — Limpando a garganta, a moça mostrou o seu anel de ressonância.

Por que carregar tanta coisa dentro de uma mochila e suar feito um bode se eles poderiam simplesmente jogar tudo, incluindo a barraca, dentro dos seus anéis?

Contudo, pelas feições fechadas e olhos cerrados do nefilim, parecia que o mesmo não compartilhava do seu ponto de vista.

— Te falta a alma de um aventureiro.

Hã?! — De imediato, Eirin olhou para os seus amigos ao fundo, buscando alguém em quem pudesse encontrar apoio para se opor àquele nefilim idiota.

Entretanto, contrariando as suas expectativas, ninguém, nem mesmo Valentina, pareceu concordar com ela.

Todos compartilhavam da ideia de que não se tratava apenas do que era mais confortável ou complicado, era pela experiência.

O grupo estava ali para acampar. E como todo bom campista, eles queriam desfrutar das emoções mais intrínsecas do acampamento: caminhar, escalar, carregar os equipamentos…

— Além disso, a gente vai comer o que tiver lá em cima, então se prepare pra caçar e colher ervas e frutas.

Ah! Que seja! — Logo começou a tirar tudo do seu anel de ressonância e a preparar a mochila. — Tá todo mundo contra mim. Aff!

Após algum tempo organizando as suas coisas junto a Klaus, eles se depararam com o que pareciam dois sacos gigantes. Tinha tanta coisa ali que as mochilas poderiam estourar a qualquer momento.

Ao que Klaus e Eirin pegaram suas coisas, sentiram que aquilo estava tão pesado que parecia que alguém tinha colocado algumas pedras lá dentro enquanto eles não viam.

— Feliz agora? — indagou a moça.

— Ótimo. — Raizel sacou sua lanterna e começou a clarear o caminho à sua frente. — Talvez dê para chegar ao topo antes do sol raiar.

O grupo partiu com Raizel e Trevor na frente cortando um pouco da vegetação com alguns facões.

Como o complexo de montanhas que Raizel escolheu não tinha uma trilha demarcada, fazer isso era inevitável.

Petra e Sophie seguiam os dois logo após, acompanhadas por Andrew e Valentina e, por fim, Klaus e Eirin — que ficaram mais atrás.

Se o pessoal da frente estava mais focado e trabalhando duro, um dos que ficou para trás, mais precisamente Eirin, murmurava baixinho.

— Alma de aventureiro, alma de aventureiro. — A moça estava tão perdida em seus pensamentos que deixou de prestar atenção nas inúmeras pedrinhas soltas espalhadas pelo chão. — Eu lá quero saber de alma de aven… Ahh!

Seu pé escorregou nas pedrinhas, e ela estava a ponto de bater com a cara no chão e ser esmagada pela pilha de equipamentos que carregava nas costas, quando…

Uui! — Por sorte, uma força maior a segurou antes que caísse junto com a lanterna que se soltou de sua mão.

— Cuidado, mademoiselle. — Seu parceiro a segurava pela sua mochila e a ajudou a se levantar.

A garota sorriu para ele enquanto limpava suas mãos com uma doce expressão de "meu cavalheiro".

Diferente dele, que a tratava com todo o esmero do mundo, o restante do grupo se esqueceu dos dois e continuou mata adentro.

Notando que a luz das lanternas dos seus companheiros estava cada vez mais distante, a moça se recompôs rápido e se apressou para acompanhá-los.

— Ei! Esperem a gente!

Já Valentina, andava com cautela entre Sophie e Andrew. A garota estava com a lanterna próximo ao rosto, iluminando tudo a uma curta distância.

Ela não queria admitir, mas a verdade era que estava com um pouco medo do que pudesse estar observando eles no meio de todo aquele mato.

Qualquer som, por menor que fosse, já era motivo suficiente para que a moça apontasse sua lanterna para conferir o que era.

Por que eles tinham que ir para um lugar tão isolado? Existiam tantas montanhas e florestas com a trilha já prontinha e, principalmente, com a segurança garantida.

De repente, galhos chacoalharam bem perto do seu ouvido. Logo Valentina virou a lanterna para ele e…

Ahh!

Foi atacada por uma criatura vinda do mais profundo das trevas florestais, um pequeno esquilo que acabara de acordar e se assustou com o clarão das lanternas.

A moça cambaleou para trás até esbarrar no seu parceiro que, pelo impulso, a segurou pela cintura, impedindo-a de cair de bunda.

— Você tá bem? — Ele ainda a segurava com delicadeza, contemplando os olhos dela em meio ao tênue breu.

— Eu… tô sim — disse, ao passo que se ajeitava e oferecia uma mão para ele, meio sem jeito. — Eu posso segurar a sua mão, se você tiver com medo.

Hã?

— Mas só se você tiver assustado, tá?!

Vendo o rosto corado da garota e o quanto ela estava se esforçando para esconder o pavor que sentia, Andrew segurou a mão dela.

— Sim, eu tô com muito medo.

Enquanto isso, Sophie sentiu falta dos quatro que ficaram para trás e olhou na direção deles, buscando avaliar se algum dos seus companheiros teve problemas no caminho.

— Tudo bem deixar eles tão longe?

— Eu também tô preocupada com isso — assentiu Petra, tentando ver sua amiga ao longe.

Já Raizel não aparentava compartilhar o mesmo senso de preocupação das garotas. Focado em cortar mais alguns galhos, o nefilim ressaltou:

— Talvez eles até prefiram assim. — Sua resposta deixou as duas um tanto quanto confusas. Quem gostaria de ser abandonado numa trilha no meio da madrugada? — Eu me refiro à privacidade, claro.

Começando a compreender o que o seu amigo quis dizer, Sophie usou a sua visão de arqueira para observar melhor como os outros estavam.

"Huh?" Para a sua surpresa, Andrew e Valentina caminhavam devagar e de mãos dadas. Eles pareciam um pouco tímidos, como um casal recém formado.

A arqueira até esperaria algo assim vindo de Klaus e Eirin — desses dois talvez até um pouco mais — mas dos outros... Quando eles ficaram tão próximos?

Por instinto, seus olhos se voltaram para Trevor. Vendo que o mesmo estava focado apenas no caminho, ela soltou um suspiro desesperançoso.

O rapaz, por sua vez, olhou para cima ao perceber um grau de umidade elevado no ar. As nuvens estavam bem escuras, e o céu começava a se fechar.

Nesse ritmo, eles poderiam encarar uma chuva das boas antes mesmo de chegar ao topo.

— Espero que todos tenham lembrado de trazer uma lona para cobrir a barraca.

Após duras horas de caminhada e escalada, o grupo enfim alcançou o tão almejado topo da montanha. Então, sem perder tempo, se dirigiram até a ponta de um desnível para contemplar a vista do complexo iluminado pelos recém-nascidos raios do sol.

Embora tendo boa parte da sua luz barrada pelas densas nuvens, o astro rei insistia em acariciar a terra com o calor do seu toque ardente.

— Que lindo. — Valentina observava as árvores, colocando uma mão na testa, como se fosse uma viseira, para ter uma visão melhor do panorama.

— Mas fazer isso uma vez só já tá de bom tamanho. — Eirin soltou a mochila cheia de tralhas no chão.

Em toda a sua vida, a garota nunca se sentiu tão livre quanto no momento em que se livrou daquele peso, que julgava desnecessário.

Agora tudo o que eles tinham que fazer era encontrar um local com terreno plano e firme para armarem e prenderem as barracas no chão.

Dado a chuva iminente, eles precisavam fazer isso o quanto antes, a não ser que alguém estivesse disposto a tomar um bom banho gelado.

Em questão de minutos, as quatro barracas já estavam armadas e prontas para serem usadas. Todavia, as duplas ainda tinham que ser definidas.

— Como assim? — indagou Klaus. — Cada um divide a barraca com o seu próprio duo, certo?

É claro que queria dividir a sua com Eirin. Já bastava ter perdido a praia no sorteio, agora queriam tirar até isso dele?

— Creio que você se lembre do motivo de estarmos aqui — ressaltou Raizel.

Como o grupo se conheceria melhor e aprofundaria suas relações se eles dividissem a barraca com alguém que já estavam habituados a dividir a própria casa?

Vendo-se encurralado, Klaus entrou em mais um sorteio. Dessa vez, havia oito pauzinhos dentro de um pote escuro. A ponta de cada pauzinho possuía uma cor. Aqueles que tirassem a mesma cor compartilhariam a barraca.

No fim, as duplas formadas foram: Petra e Eirin, Andrew e Trevor, Sophie e Valentina, Raizel e Klaus.

— Eu vou tirar um cochilo. — Uma vez que estaria separada do seu duo, Eirin só queria se jogar de vez num lugar aconchegante e se livrar do cansaço daquela subida toda.

Cabruuum!

De repente, um som estrondoso ecoou do meio das nuvens e, logo em seguida, uma avalanche em forma de gotas de chuva despencou do céu.

Bastou apenas alguns segundos para que todo mundo parecesse um bando de pintinhos molhados. Com a ajuda da água, seus corpos passaram a tremer de frio.

Ahh! Tava demorando, né?! — Ensopada daquele jeito, a pobre Eirin iria encharcar a sua barraca todinha. Se bem que até o seu sono escorreu junto com aquela água gelada.

— Por que você tá reclamando, patricinha?

Raizel já começava a tirar a camisa, revelando seu tanquinho e peitoral sólidos. Por alguma razão, Petra olhou para o lado, meio sem jeito, mas logo deu uma espiadinha.

"Eu já vi ele sem camisa outras vezes, mas…"

— Vamos. — Seu parceiro ofereceu uma mão para ela que, sem pensar duas vezes, a segurou e se deixou ser puxada para os braços dele. — Aceita uma dança em meio à chuva, senhorita?

Uhum! — Acenou com a cabeça.

Não demorou muito para que todos entrassem no ritmo e decidissem aproveitar aquele pequeno banho de chuva.

Se te derem um limão, faça uma limonada.


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