O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 2

Capítulo 70: O Cálice Sagrado

Empenhado em cumprir sua função, Jorge, o assistente do diretor Kriven Stear Nosferatu, conferia alguns documentos, mais precisamente, a agenda do seu superior.

Por sorte, o cronograma daquele dia estava bem vazio. Ultimamente o diretor teve que fazer muitas reuniões, ausentando-se da Academia por longos períodos de tempo.

Todos precisavam de um dia ou outro para respirar um pouco. No entanto, a ideia do jovem assistente caiu por terra assim que recebeu um visitante de última hora.

— Anuncie a minha chegada — disse Raizel, sem perder tempo, enquanto puxava uma de suas luvas contra o pulso. — Diga que eu tenho algo que ele quer bastante.

— Co-Como, desejar, senhor Stiger — respondeu surpreso, contemplando a figura que não via há tempos. Por um momento, até tinha esquecido a aura sufocante que aquele cara carregava.

Mesmo sem horário marcado, Nosferatu entenderia de cara o motivo da visita imediata de Raizel. Só havia um motivo para aquele garoto o ver assim que retornasse: a relíquia perdida.

A passos largos, o assistente apressou-se em abrir a porta e anunciar a chegada do nefilim ao diretor.

Assim, Raizel se pôs a reencontrar aquele velho que o colocou para enfrentar um Arquilich e dois malucos em prol de algo que ele nem sabia o que era.

Oh! Como é agradável tê-lo diante de mim outra vez, meu jovem — saudou o homem. Sentado em sua cadeira, quase abriu os braços para abraçá-lo dali mesmo. — Então… nos traz boas notícias?

— Por "boas notícias", quer dizer isso aqui?

Estendendo sua mão para cima, retirou a pequena caixa de madeira do seu anel de Ressonância e a colocou sobre a mesa.

— Impossível — soou uma voz feminina mais ao canto. Em sua própria mesa, a vice-diretora Sapphire de Leroy observava a caixa incrédula. — Você realmente o encontrou.

Oh! Vejo que a senhora também está por aqui.

Com um sorriso debochado estampado em seu rosto, cruzou os braços em frente ao peito. Sua relação com aquela mulher estava longe de ser das melhores.

— E aí, tem passado bem… senhora?

Tsc! Diz se preocupar com o meu estado, mas ignora a minha presença? — observou-o, virando o rosto com desdém. — O que você tem de poder, tem de cinismo também.

As suas palavras continuavam perfurantes como sempre. Ela realmente era uma mulher digna do título de Dama de Ferro.

Mesmo após tantos anos, mesmo após ficarem tanto tempo sem se ver, aqueles dois continuavam a se tratar como cão e gato.

Aham! — Com uma mão fechada em frente à boca, Nosferatu limpou a garganta. — Me pergunto como o povo reagiria ao ver duas das pessoas mais importantes da Academia se tratando dessa forma.

Em resposta ao ilustre diretor, ambos se mantiveram em absoluto silêncio, esperando que o mesmo desse continuidade ao rumo da reunião.

— Enfim, por que se interessou pelo conteúdo da caixa? — interrogou. — Você aceitou a missão sem nem ao menos questionar, meu jovem.

Cumprir as suas funções era tudo o que lhe era necessário saber. Isso se aplicava, até mesmo àquela caixa. No entanto, isso mudou de figura por causa de um pequeno acontecimento.

— Bem, digamos que dois sujeitos intrigantes me atacaram enquanto eu pegava esse pedaço de madeira.

— Espere! — A mulher bateu as mãos na mesa, quase se levantando para o ouvir mais de perto. Ela só podia ter entendido errado. — Você foi atacado por pessoas… no Continente Sombrio?!

— Por dois indivíduos auto intitulados de Ganância e Orgulho.

Ao ouvirem isso, ambos, diretor e vice-diretora, ficaram pálidos como se tivessem acabado de contemplar o Bicho Papão revelando o maior de seus medos.

— Dois pecados? — falou Nosferatu, fixo no vazio, expressando um teor de preocupação incomum para aquele que sempre se mantinha calmo, independente do que acontecesse. — Passe o restante dos detalhes.

Assim, nenhum fato foi ignorado. O nefilim relatou sobre como encontrou os Patronos do Pecado após pegar a caixa, as suas Habilidades Inatas, personalidades, a presença de energia bestial em seus corpos e o nível de poder de cada um deles, especialmente o do Orgulho.

Aquele brutamontes possuía uma força física e resistência que iam além do imaginado. Afinal, não era todos os dias que se via alguém capaz de sobreviver ao disparo de energia de uma estrela de nêutrons.

— Então… quem são essas pessoas e por que queriam a caixa?

— Meu jovem — explicou, ao passo que colocava uma mão sobre o objeto em questão — durante sua ausência nós enfrentamos uma série de portais irregulares de Rank A e B surgindo por todo o continente.

Em silêncio, o rapaz ouvia atentamente cada palavra do superior, como se tentasse decifrar o som das notas de uma música pela primeira vez.

O diretor também comentou sobre a dura investigação realizada por Trevor e Sophie, e como os dois descobriram a ação da organização denominada Perpetuum.

Ao que parecia, os indivíduos que carregavam a denominação de "Patronos do Pecado" eram os seus membros mais fortes e possuíam poder equivalente a um Top Rank.

Os objetivos de tal organização, bem como o seu líder, ainda eram desconhecidos. Tudo o que se sabia era que eles tinham algum plano maior envolvendo a criação de portais.

— Entendo. — Como um computador trabalhando a mil para processar os dados, Raizel levou uma mão aos lábios, reflexivo. — E onde esse pedaço de madeira se encaixa nisso tudo?

— Dentro dessa caixa está o… — Só se dando conta naquele momento, Nosferatu arregalou os olhos e quase se engasgou com a sua própria conclusão. — É claro!

Pela primeira vez, tanto o nefilim quanto a vice-diretora entraram em consenso e compartilharam a mesma feição de quem não estava entendendo nada.

— O Santo Graal!

Associando a função do Cálice Sagrado com o motivo dos portais irregulares terem parado, uma lâmpada se acendeu em cima das cabeças dos outros dois. 

Como nenhum dos Patronos do Pecado ou algum membro importante da Perpetuum foi capturado, a ideia mais aceita para o encerramento dos portais era a falta de recursos.

Contudo, em posse do Santo Graal — a relíquia perdida dos tenjins — esse problema seria facilmente resolvido, e a Perpetuum poderia criar uma onda de portais mais devastadora, ainda que com poucos recursos disponíveis.

— O Santo Graal, Heim? — Ao passo que colocava as mãos no bolso, o nefilim sentia que seu reencontro com o Orgulho estava mais próximo do que o esperado. — É apenas questão de tempo até que eles venham buscar, não é, vovô?

— Sim, meu jovem. — Sorria de forma maliciosa, já tramando incontáveis estratégias e maneiras diferentes de reagir a uma invasão. — E é nesse momento que nós vamos pôr as mãos neles.

Os dois, nefilim e diretor, eram incapazes de segurar sua empolgação e riam feito loucos, como se fossem eles os verdadeiros vilões da história.

— Por que vocês estão rindo tanto? — indagou Sapphire batendo o pé no chão, em alto de reprovação. — Não percebem que estamos a um passo de iniciarmos o Campeonato Soujourner?

De fato, como todos estariam focados no evento, aquela seria uma ótima ocasião para os seus inimigos agirem. Contudo, alguém ali ainda não estava muito a par da situação.

— "Campeonato"? — indagou Raizel a Nosferatu. — O que mais rolou durante o tempo em que eu estive fora?

— Há algum tempo atrás, Nabuco Donosor, o diretor da Academia de Batalha Leviatã, propôs aos demais diretores realizar uma competição amistosa entre as quatro instituições.

"Amistosa, heim?", pensou o nefilim, descrente. "Já ouvi mentiras melhores".

A competição foi idealizada para ocorrer na mesma semana do Festival Soujourner — a data comemorativa da fundação das Academias de Batalha.

Assim, ela misturaria os dias das lutas com os das celebrações do festival. No entanto, apenas os três duos mais fortes do ranking S de cada Academia participariam do evento.

Ainda que fosse proibido matar, os participantes iriam se ferir de verdade ali. Por isso, apenas uma quantidade seleta de duos competiria.

Seria um grande problema para um continente ter o seu maior poderio bélico enfraquecido em todas as regiões, e ao mesmo tempo.

— Então tudo o que as Academias querem é inflar o seu ego, mostrando qual delas é a mais forte após um período conturbado? — enfatizou Raizel, provocando uma reação não muito agradável na mulher ao lado.

— Veja como fala, rapaz! — Apontou um dedo repreensor para ele, o qual foi ineficaz em alcançar o campo de visão do garoto. — Tenha em mente que, embora ocupe o topo da Ziz, você ainda é só um membro de combate.

— Sim, meu garoto, você está certo. — Contrariando a fala do seu braço direito, o diretor suspirou cruzando os braços, então continuou: — Apenas uma disputa de ego.

Não era à toa que ele foi o único a votar contra a proposta do tal campeonato. Se houvesse uma boa hora para se fazer algo assim, aquele, certamente, estava longe de ser o momento.

— Nosferatu, este garoto já é egocêntrico o bastante, e você ainda dá mais corda pra ele puxar?!

Cruzando os braços e replicando a pose imponente do homem à sua frente, uma posição que jamais se abalaria independente de terremotos e tempestades, Raizel falou:

— Que seja. Eu trarei a vitória, de qualquer forma.

No fim, tudo o que realmente interessava era qual Academia de Batalha levaria o título do campeonato para si, o resto era apenas detalhes.

— Eu me pergunto se os seus adversários ainda o enxergam como uma ameaça tão grande assim, garoto.

Oh! É mesmo?

Respirando fundo para não pular dali e colocar aquele pivete dentro de um caixão de ferro e abandoná-lo no oceano mais próximo, a mulher explicou:

— Eu me refiro àquela garota que você escolheu como duo.

Como Petra saiu da Academia para treinar logo após ter ingressado na instituição, a garota ainda não tinha participado de nenhum portal de Rank S.

Somando isso ao baixo nível de poder que ela possuía na época, era esperado que os demais membros duvidassem das suas capacidades e questionassem se a moça estava no mesmo nível que o Primordial.

Caso a diferença de poder entre os dois fosse grande demais, Petra seria considerada apenas um fardo que atrapalharia o rapaz, impedindo-o de usar todo o seu potencial em luta.

Essa seria uma desvantagem que ninguém deixaria passar em branco.

— Peço permissão para me ausentar. Creio que já tratamos o essencial aqui. — Após um movimento respeitoso ao diretor, se pôs a caminhar para fora.

Tudo bem, se era assim que os seus adversários pensavam, então os dois iriam com tudo para destruí-los naquele campeonato maldito.

— Você confia tanto nessa moça?

— Tudo o que eu posso garantir, vice-diretora — disse, ao passo que tocava a maçaneta da porta com a força de um urso — é que, sejam majins, tenjins ou semi-humanos, subestimar a minha parceira vai custar muito caro para eles.

Com um caminhar pesado, que provocava passos secos pelos corredores da Academia, Raizel mantinha um olhar afiado.

Já fazia um bom tempo desde a última vez em que se encontrou com algum Top Ranking de outra Academia de Batalha. Talvez já nem fossem mais os mesmos dos quais ele se lembrava.

— Fraca, heim? — Foi quando um Portal Dimensional se abriu logo à frente dele, fazendo-o mudar de foco. — Oh! Veio me dar as boas-vindas, Trevor?

Saindo do Portal Dimensional, o jovem Top 2 Rank S cumprimentou o seu parceiro com um anúncio e um convite um tanto quanto inesperado.

— A Sophie me disse que o encontrou mais cedo. Então decidimos fazer uma pequena socialização para comemorar o seu retorno.

— Ora. — Já imaginando que havia alguma artimanha por trás daquilo, Raizel indagou, enquanto parava ao lado do amigo: — E onde seria isso?

Com um sorriso despretensioso, Trevor abriu um Portal Dimensional que conectava os dois a um lugar que Raizel conhecia muito bem.

— Na sua casa.


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