O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 2 – Arco 2

Capítulo 68: Começando com o Pé Esquerdo

A passos largos, Giovanna andava em direção ao Laboratório de Análises. O seu ritmo frenético, somado à papelada em suas mãos, arrancava alguns olhares estranhos das pessoas ao redor.

"Sério, tinha que acontecer justo hoje." Mantinha-se focada enquanto desviava de mais algumas das pessoas à sua frente.

Ela sempre foi uma técnica pontual, responsável e — acima de tudo — eficiente, um exemplo para todos os analistas do Laboratório da Academia Batalha Ziz.

Não era à toa que uma garota tão jovem detinha o cargo de maior prestígio e renome daquele setor.

Mas, naquele dia, era um tanto quanto difícil dizer isso. A moça simplesmente perdeu o horário de acordar e mal teve tempo de tomar café.

Desesperada, catou os documentos que precisava e partiu sem olhar para trás, sem escovar os dentes e sem pentear os cabelos direito.

O coração batia acelerado seguindo o ritmo da sua respiração ofegante por causa do esforço que fazia para andar rápido, quase correndo.

Mas, enfim, ela estava a ponto de chegar na entrada do laboratório. Só faltava cruzar mais algumas esquinas e…

— Ai! — Do nada, ao virar na próxima rua, chocou-se contra algo tão duro e sólido quanto uma parede. Atordoada, alguns dos documentos caíram no chão. — Ah, não!

Apressou-se para pegar todos os papéis; mas, quanto mais pegava alguns, mais deixava os outros caírem.

O desespero e a pressa eram uma péssima combinação, e ela estava provando isso da pior forma possível.

As pessoas que passavam apenas a olhavam e seguiam caminho. Ninguém estava a fim de ajudar aquela menina estranha.

— As suas mãos estão furadas ou algo do tipo? — indagou o rapaz à sua frente, ao passo que os papéis foram tomados por uma aura vermelha e começavam a se organizar no ar.

"Energia espiritual?" Quando levantou os olhos para aquele que segurava os seus documentos — o indivíduo em quem acabara de esbarrar, a moça sentiu o coração quase parar.

Porém, apesar do olhar frio, o rapaz apenas entregou os documentos para ela e se pôs a sair sem dizer mais nada.

— Espere! — pediu no impulso, fazendo o garoto parar e olhar para ela com aqueles perturbadores olhos carmesins. — Obrigada! — Juntando os papéis próximo ao peito, inclinou-se levemente para a frente.

Depois do que ocorreu, ele não só foi o único a lhe ajudar como também deixou passar o fato de que ela trombou nele.

— E sinto muito por ter batido em você.

— Eu estou bem depois dessa tal "batida". — Ao passo que colocava as mãos nos bolsos, observou a garota com um pouco mais de atenção. — Já você, tá toda acabada aí.

Hã? — Só então percebeu o estado em que o seu cabelo se encontrava, fazendo uma sensação de vergonha tomar a sua mente. — E agora? E agora?

Feito uma louca, tentou arrumar os cabelos com as mãos, às pressas. Como ela poderia se apresentar no laboratório daquela forma? Já não bastava estar atrasada?

Foi então que, do nada, aquela mesma energia vermelha envolveu seus cabelos castanhos e colocou cada fio em seu devido lugar. Surpresa, encarou o rapaz boquiaberta.

— Agora, vê se coloca esses documentos dentro do seu Dispositivo de Guarda Dimensional. — Já tendo feito mais do que tinha obrigação, o rapaz deu as costas para ela. — É pra esse tipo de situação que essas coisas servem, afinal.

Sério, até disso ela esqueceu.

Ah! É mesmo. — No entanto, quando a garota se pôs a guardar os papéis… — Minha pulseira?

Esqueceu em casa.

Ahahaha! — De repente, sem o menor respeito, o indivíduo riu da sua desgraça, a ponto de parar e levar uma mão ao rosto. — Sério! Quanto de azar alguém pode ter?

A moça queria argumentar contra o comportamento dele, mas se ela mal tinha confiança para isso, quem diria fatos que a ajudassem.

No entanto, logo a sua intenção desapareceu no momento em que ouviu uma voz feminina bem familiar que gritava ao longe.

— Ei! Raizel! — Quando Giovanna se virou, viu Sophie se aproximando, sorridente.

Para a loira, era difícil segurar o sorriso de felicidade naquele momento, havia se passado um ano desde a última vez que falou com o seu amigo.

Dava até vontade de pular em seu pescoço e abraçá-lo fortemente por um tempo, mas, bem… era o Raizel.

"Espera!", pensou Giovanna, perplexa, quase se assustando com a fala da amiga. "Ra-Ra-Raizel?!"

Aquele era o implacável e desprovido de compaixão, Raizel Stiger? Já era difícil esbarrar com um Top Rank por aí, principalmente com aquele cara. Ele mal saía de casa.

— Sophie. — Com uma voz solene, diferente da que usou com Giovanna, o nefilim estendeu uma mão para a colega. — Como posso dizer? Parece que o tempo lhe fez bem.

Hm! Hm! — Limpou a garganta, colocando um punho fechado em frente à boca. — Acredito que esteja se referindo ao meu poder e não à minha beleza.

Oh! Você nunca foi o tipo de pessoa que se preocupa tanto com a beleza — provocou, dando uma alfinetada de leve na moça. — Aconteceu algo na minha ausência?

Hm! Hm! — Desviou do assunto, limpando a garganta mais uma vez e virando o rosto para o lado. Esse nefilim estava longe de ser a melhor pessoa para se falar sobre sentimentos. — Vejo que já conheceu a Giovanna.

Ah! Então esse é o seu nome. — Encarou a moça fixamente, deixando ela meio desconfortável.

Olhando de Raizel para Giovanna, Sophie esboçou uma feição de confusão. Pela forma que viu aqueles dois ao longe, eles pareciam se tratar bem.

— Nós acabamos de nos conhecer, ou melhor — disse o rapaz, refletindo sobre o acontecimento — nós trombamos um no outro.

— Nesse caso, permita-me fazer as honras. — Realizando um movimento de apresentação com as mãos em direção à garota, Sophie disse: — Essa é Giovanna Valentine, a técnica-chefe do renomado Laboratório de Análises.

Se havia algo em que Sophie era boa, era em enaltecer os outros, de forma a deixar a pessoa em questão vermelha igual a um pimentão.

— "Técnica-chefe", heim? — ponderou por um instante. — Um cargo de bastante prestígio, pode-se dizer.

— E aí, qual é a sua primeira impressão sobre a minha amiga?

— Vejamos… — Com um dedo nos lábios, observou a moça de cima abaixo, fazendo-a ficar tão pálida quanto o uniforme que vestia.

O que ela fez para passar por isso? Não bastava dar tudo errado desde o início do dia? Ainda tinha que ter a sua alma devorada por aqueles olhos carmesins para fechar com chave de ouro?

Por acaso, isso era algum tipo de punição? Se fosse, estava sendo uma bem exagerada, por sinal.

— Desastrada, eu diria.

Hã? — Isso só estava ficando pior para a pobre garota. Ela só queria enfiar a cara em um buraco e sumir daquele mundo.

Sophie, por outro lado, ficou pensativa sobre o que teria acontecido para que Raizel pensasse aquilo. Giovanna sempre foi conhecida pela sua competência impecável.

— E você, o que achou dele, Gi?

— Ele é… — Tentou encará-lo com confiança na hora de fazer o comentário, mas quem disse que conseguia encarar aquele cara nos olhos. — Impactante… talvez.

— "Impactante"? — Esboçou um sorriso descarado, sem se importar com o desconforto da moça. — Tá aí algo inesperado.

Aquela conversa estava mais interessante do que ele esperava. Era até uma pena ter que encerrá-la por ali.

Foi agradável rever Sophie e brincar com aquela tal de Giovanna, mas Raizel sabia que ainda tinha algumas coisas para resolver naquele dia.

— Bem, diga ao Trevor que mandei saudações — disse, enquanto se despedia.

— Você já vai? — indagou sua amiga.

— Eu tenho alguns assuntos para resolver com o Nosferatu.

Já estava mais do que na hora de se livrar daquela maldita caixa de madeira que resgatou no continente de Erebus.

Além disso, ele tinha algumas perguntas a fazer sobre os dois indivíduos que queriam roubar o que quer que estivesse dentro dela.

Se havia alguém que possuía as respostas para aquelas questões, certamente seria o indivíduo que passou a missão para ele.

— Tá cer… — Quando estava para se despedir do garoto, Sophie se deu conta de um pequeno detalhe. — Espera. Cadê a Petra? — Então completou, um pouco receosa, temendo pelo pior: — Não me diga que ela…

— Ela tá bem. — Com um certo orgulho em sua face, o nefilim comentou por cima dos ombros: — Ela ficou bem forte. Talvez até consiga te derrotar.

— Sério?

Haha! Quem sabe? — Sem se aprofundar demais no assunto, Raizel sumiu entre as esquinas, deixando as garotas para trás.

"Mas onde é que ela tá agora?" Seus pensamentos foram interrompidos quando uma cabeça se recostou sobre seus seios.

Sua amiga se apoiou nela, ou melhor, praticamente se escorou. As pernas da garota tremiam, estavam quase sem forças.

— Gi?

— Sophie — falou, baixinho, como se estivesse com medo. — Aquele cara era assustador.

Vendo o estado de Giovanna, Sophie colocou uma mão sobre a cabeça dela e começou a fazer um carinho de leve.

— Respira, respira — sussurrou com uma voz meiga, para acalmá-la. — Já passou, tá?

Uhum… — Pouco a pouco, afastou-se da companheira.

Pelo que Sophie sabia da personalidade de Giovanna, era até compreensível que a garota reagisse daquela forma ao se deparar com alguém que possuía uma presença tão forte quanto a de Raizel.

Mas, ainda assim, algo lhe incomodava.

— Você não tava conversando com ele naturalmente antes de eu chegar?

Hã? — A analista se viu pega de surpresa. — Agora que você falou…

Por que ela só sentiu medo quando soube que aquele cara era o Raizel? Apesar de sentir um certo desconforto no início, ele não parecia ser tão ruim quanto os rumores diziam.

Recordar-se do início do acontecimento também a fez se lembrar do porquê dela ter tombado com ele.

Ah, não! O horário — falou, quase dando um pulo para trás. Então se pôs a correr às pressas, deixando a outra para trás. — Tchau, Sophie!

— Tchau! Tchau! — Despediu-se, enquanto via a moça desaparecer entre as pessoas. — Ela tá bem avoada hoje.

Quem também parecia estar com uma certa pressa para ir embora era o Raizel. Isso só a fazia pensar sobre o que o amigo tinha de tão importante para resolver com o diretor assim que retornasse.

Ah, é! Ele foi embora tão rápido que eu nem comentei sobre o campeonato Soujourner.


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