Volume 2 – Arco 1
Capítulo 65: Na Palma da Mão
Pega com a guarda baixa, Petra se viu a ponto de ser atingida pela lança do Rei quando, de repente, correntes surgiram através do espaço e envolveram a arma, prendendo-a no caminho.
Raizel apareceu logo em seguida ao lado da garota e disparou um potente disparo de energia com a Espada do Princípio, atingindo o rosto do seu adversário em cheio.
Todavia, mesmo após receber a broca de energia carmesim na face, o monarca permaneceu inabalável, diferente do plano ao fundo, que foi completamente pulverizado.
Nesse meio tempo, Petra se recompôs e o atacou pelas costas, mas o Rei soltou sua arma e desviou do ataque, revidando com um soco.
O punho colidiu contra a lâmina da Bellatrix e, surpreendentemente, a espadachim foi jogada para trás.
— Argh! — grunhiu ao colidir brutalmente contra uma das paredes da arena, quebrando-a.
— Gratificante. — O Rei estendeu seu braço para a grande lança que se desmaterializou das correntes de Raizel e reapareceu na sua mão. — Desde quando não tenho um bom exercício?!
Então, com um movimento pesado e rápido, virou-se para contra-atacar a investida que Raizel preparou no seu ponto cego.
As duas lâminas se chocaram, espalhando poderosas ondas de choque, as quais começaram a devastar todo o coliseu enquanto o chão tremia.
— Oh! Parece que alguém está se animando um pouco — provocou o rapaz.
— Sinta-se honrado, moleque.
Nesse momento, as duas armas brilharam intensamente, liberando uma grande quantidade de energia, o que acabou por explodir tudo ao redor em forma de destroços e poeira.
Como consequência, a arena, as ruas e as casas foram completamente varridas da face de Setealém.
Apenas os três combatentes restaram ilesos, ou quase, em meio a uma gigantesca cratera deixada para trás pela destruição.
De um lado, o Rei sangrava por causa de um ferimento na testa e alguns espalhados pelo seu rosto.
Do outro, Raizel e Petra possuíam feridas superficiais que se fecharam rapidamente sob influência das suas runas.
—Sabe, você poderia só ter entregado o portal — observou o nefilim. — Agora vai sofrer também.
— Eu… sofrerei? — De repente o indivíduo caiu em meio a uma crise de risos. Nunca ouvira uma piada tão engraçada. — Eu? O governante de toda uma dimensão, sofrerei?!
"Esse cara é completamente louco" refletiu Petra. "Em algum momento, ele realmente foi uma pessoa normal?"
— Eu tenho tudo na palma da minha mão. Eu decido se as regras são seguidas. Eu decido quem fica — disse enquanto o portal para a Terra surgia ao seu lado. — Eu decido quem sai.
Ao apertar o objeto com as pontas dos seus dedos, o portal trincou, quebrando-se em vários cristais coloridos.
— E vocês não sairão daqui.
— Isso complica as coisas — disse Raizel, ao passo que encarava o céu de sangue sem esboçar muita preocupação. — Se você morrer, toda essa dimensão vai ser destruída, não é?
— Hahaha! Sim, isso mesmo. — Afinal, ele detinha a Lei do Mundo. Matá-lo era o mesmo que destruir toda a Setealém. — Caso me matem, vocês ficarão no vazio, sem poder voltar para o seu mundo.
Contudo, o governante não recebeu resposta alguma. O rapaz o ignorou e olhou para a sua parceira.
— Então, senhorita, está comigo nessa? — perguntou, estendendo uma mão gentil para a garota. — Ficaremos sozinhos no meio do vazio.
— Bem, se for ao seu lado — respondeu com um sorriso meio tímido — eu não me importo.
Já estava decidido. Eles lutariam com tudo o que tinham e colocariam um fim definitivo àquele reinado de maldade.
Raizel, que era o único ali sem trajar uma proteção para o corpo, manifestou suas asas escarlates e criou uma armadura leve para si.
"Um anjo?", indagou-se o Rei. Em seguida, uma dor pungente afligiu a sua barriga. — Argh!
Ao inclinar-se para a frente, o soberano daquelas terras se deparou com o punho do nefilim cravado em seu estômago, perfurando o metal da sua armadura.
"Quando ele…?!"
Abrindo a mão dentro do estômago do inimigo, Raizel disparou uma rajada de energia que o empurrou para longe.
— Você pode até ter um poder avassalador, mas é um péssimo guerreiro.
Sendo arrastado por uma distância incalculável, o Rei se viu preso por aquela densa e hostil energia divina. Uma forte frustração se espalhou pelo seu peito.
Quando finalmente a energia cessou e ele se viu livre, acima da sua cabeça uma majestosa figura feminina se destacava. Instantaneamente, o corpo do Rei travou no chão, pressionado pela gravidade.
Liberando toda a energia que acumulou até então na sua espada, com um movimento de perfuração, Petra proclamou:
— Gamma Orionis!
O feixe de energia prateada chocou-se contra o corpo imóvel do monarca, levantando uma grande nuvem de caos e energia que se estendeu até o alto dos céus.
De cima, a garota viu que, mesmo tendo se passado apenas alguns minutos desde o início da luta contra o Rei, toda a cidade já estava dizimada.
Mas isso não durou por muito tempo, pois do nada todos os prédios e casas começaram a tremer e a se desmembrar em vários pedaços como se fossem brinquedos.
— Ele vai reescrever o estado da cidade? — perguntou-se. — Mas por quê?
A resposta ficou clara no momento em que não só as estruturas mas todo o espaço daquela dimensão desmembrou-se em vários segmentos.
Já nem era mais possível discernir o que estava acima ou o que estava abaixo. Tudo passou a flutuar em gravidade zero, e o chão não mais existia.
— Hahahaha! Ahahaha! — A risada perturbadora era proveniente das cordas vocais do soberano que se revelou com o corpo todo acabado.
Um enorme buraco era notável em sua barriga, além da ausência de um dos olhos e os membros quebrados.
— Como se eu precisasse de combate corpo a corpo — vociferou enquanto reescrevia o estado do seu corpo e diversos canhões de energia apareciam atrás dele — para ser um bom guerreiro!
Em contrapartida, o nefilim também criou os seus próprios canhões de plasma e entrou numa disputa de energia contra o monarca enlouquecido.
Cada um dos armamentos disparou plasma com toda a potência, fazendo uma grande quantidade de calor se espalhar pelos arredores.
— Vamos destruí-lo sem deixar qualquer rastro da existência dele para trás. — Então deu um sorriso confiante para a moça ao seu lado. — Você sabe o que fazer, não é, senhorita?
— Uhum! — assentiu com um balançar de cabeça. — Nós vamos fazer isso.
Durante o tempo em que os dois conversavam, aos poucos os canhões de Raizel começaram a ser pressionados pelos armamentos inimigos.
— Ainda que você seja um anjo, seu pirralho — esbravejou, em meio aos berros — eu posso usar tanto poder quanto quiser!
Aumentando drasticamente a potência dos seus canhões de plasma, o seu poder ultrapassou o dos de Raizel e avançou com tudo.
A reação primitiva de Petra foi se proteger com um Escudo de Repulsão, mas, em um movimento repentino, seu parceiro a abraçou por trás e a envolveu com suas asas.
Após receber a enxurrada de ataques, a moça se deu conta do quão poderosas aquelas armas realmente eram.
A pressão ao seu redor era tão densa que, sem dúvidas, seu Escudo de Repulsão seria destruído em instantes.
— Eu abro caminho — falou para a moça enquanto apontava sua arma para baixo. — Espada do Princípio, Quinto Ato…
A energia percorreu a lâmina da espada em espiral e se derramou formando uma grande poça líquida em forma de vórtice que logo começou a girar freneticamente.
Domados pela espiral imponente, os ataques do Rei passaram a ser tragados pela técnica e reduzidos a nada. Eram nada mais do que frutas trituradas em um liquidificador.
— Acorde Final!
O grande monarca observava atônito o seu poder sendo subjugado pelo último ato da Espada do Princípio — uma técnica criada para destruir o inimigo a nível atômico.
— Maldito seja!
Despejando mais e mais energia, o Rei se entregou à disputa. Perder para um plebeu estava fora de qualquer cogitação.
No entanto, ao fazer isso, ele ficou aberto para a real intenção dos seus inimigos. Do nada uma pequena esfera negra surgiu bem na sua frente. Aquele poder, ele já tinha o visto antes.
— Ahahaha! Você acha que vai me matar com algo tão minúsculo? — falou para a garota que flutuava acima.
— Eu sei que só isso não é suficiente pra alguém como você.
Quando o Rei se deu conta do seu erro, já era tarde demais. Logo a esfera negra se expandiu, dando forma a um imenso núcleo de gravidade que sugou tudo ao redor.
Luz, matéria, energia… tudo foi absorvido sem piedade e reduzido a nada mais do que poeira cósmica, sendo despejado em meio a um espaço distorcido.
Mesmo o grande Rei de Setealém estava sendo tragado e tendo seu corpo transformado em pó pelo gigante astronômico.
— Ahh… Su… desgr… adaa… — Era difícil compreender as palavras. Até o som era distorcido dentro daquela área.
Ao fim da técnica, todo o local ficou limpo, restando apenas Raizel e Petra como as únicas formas de vida existentes.
— Devo dizer que isso foi meio assustador, senhorita — esboçou um largo sorriso, ao passo que se aproximava dela.
— Hehe! — expressou, juntando as mãos em frente à cintura e olhando para baixo. — Você também foi impecável.
Estranhamente, a moça não recebeu nenhuma resposta após isso. Ao levantar seu rosto, se deparou com uma feição confusa estampada no rosto do nefilim.
— Rai?
— Essa dimensão… ainda está de pé? — Mesmo após a morte do Rei, Setealém não dava o menor indício de que iria sucumbir ao desaparecimento total.
Um pouco distante, uma forma humanoide começou a tomar forma, trazendo aquele ser de volta para o campo de batalha.
— O desgraçado — observou, seriamente — reescreveu a própria morte?
Com o corpo sendo refeito, o Rei levou uma mão ao rosto e começou a rir feito um louco.
— Entendam de uma vez — proclamou de braços abertos aos céus: — dentro dos meus domínios, eu sou absolu… Urgh!
Do nada, uma pontada aguda afligiu suas costas — alguém o apunhalou por trás. Mas quem seria? Os dois invasores estavam logo ali, bem na frente dele.
— Você é tão precipitado, meu Rei — soou a voz medonha e macabra de um ser rebelde. — Hi! Hihihihi!
— Maldito… seja. — Ao girar seu pescoço para trás, viu a figura de um homem que trajava sobretudo e chapéu pretos, além de uma máscara de pássaro. — Corvus… Pragis!