O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 6

Capítulo 57: Devorador Cósmico

A distância havia se tornado algo crucial naquela luta. Se aproximar demais de Inveja significava entrar no alcance de suas mãos — algo horrível de se fazer.

Petra se via obrigada a sempre se afastar, o que também era algo ruim. A classe espadachim nunca foi a melhor para longa distância.

Já a classe lanceiro, ao menos, possuía uma margem de alcance maior, estendendo-se até a média distância, e uma agilidade que só seria superada por um assassino.

Sabendo de sua vantagem, a patrona avançava sempre que possível, porém dotada de uma certa cautela.

A razão para todo aquele cuidado? Bem, isso se mostrou no momento em que seu corpo pesou e travou a alguns metros de distância da espadachim.

Mais uma vez, foi vítima da paralisia provocada pelos Centros Gravitacionais de Petra.

Tsc! — Essa situação já estava enchendo o saco.

Para se defender da investida de Petra, a lanceira usou a Manipulação de Matéria para transformar o chão que a garota pisava em uma superfície lisa e escorregadia.

Ao perder seu equilíbrio repentinamente, ela cambaleou e quase caiu no chão. Todavia, com a ajuda de um Círculo de Propulsão, foi capaz de se impulsionar para o ar.

"Vamos, Petra. Como se aproximar dela sem correr riscos?"

— Garota, eu tenho que reconhecer que você é forte — expressou Inveja. — Sabe, isso não vai nos levar a lugar nenhum, além disso, a gente nem tem motivos pra brigar, sabe?

— Então você vai me deixar em paz?

— Sim, claro.

— O Rai já fez isso comigo muitas vezes. — A princípio, Inveja não entendeu o que a garota quis dizer. — Ele falava que o treinamento já tinha acabado, só pra me dar um cascudo depois.

— Então acho que isso é um "não".

Uhum! — Já sabia que no momento em que desse as costas para aquela pessoa, ela morreria.

Tsc! Então que morram aqui você e essa sua esperteza!

Pela vontade da patrona, várias lanças surgiram do nada e avançaram contra sua inimiga, rasgando o ar com uma velocidade hipersônica.

Sem perder tempo, Petra criou um Escudo de Repulsão para se defender, e, conforme as armas colidiam contra a energia prateada, elas eram repetidas para o lado pela gravidade.

Essa era uma situação a qual a espadachim já estava habituada. Um certo alguém costumava fazer a mesma coisa, só que com espadas.

— Realmente são parecidas — disse, pensativa, ao passo que se protegia dentro do escudo. — Conversão de Energia e Criação de Matéria.

As duas habilidades tinham como foco produzir objetos, a diferença estava na essência do material criado.

Como as armas de Raizel tinham a sua origem na energia, elas eram capazes de explodir, já as de inveja… não. 

Os construtos da patrona eram matéria desde a sua essência, e lanças, naturalmente, não explodem.

— As armas do Rai eram mais perigosas.

— Quê? — Enquanto olhava para baixo e mordia seus próprios lábios em indignação. — Isso… isso é tão injusto.

Por alguma razão, Petra sentiu que a energia daquela garota estava crescendo exponencialmente.

Aquilo era perigoso.

— Eu… — disse, ao passo que um brilho carregado de uma mistura de melancolia e raiva surgia em seus olhos — não aceito isso!

Antes que Petra percebesse, uma enorme montanha dividiu as nuvens e despencou dos céus em direção à sua cabeça.

Sem pensar duas vezes, usou a Repulsão Gravitacional para empurrar a montanha para longe. No entanto…

Uma segunda montanha surgiu e caiu sobre a primeira, fracassando o objetivo da garota.

Urgh! — Estava mais pesado do que o esperado.

Mais e mais construções montanhosas continuaram a aparecer ao seu redor, um total de quatro.

Hã? — Aquilo era estranho. Por que a patrona não continuou jogando uma em cima da outra? — Ela queira me cercar?

De repente, todas as construções de inveja mudaram a composição de sua matéria, adquirindo um aspecto esverdeado luminescente e irradiando uma enorme quantidade de calor.

Aquele era o Virônio, um material extremamente radioativo que a própria descobriu após anos de teste com a Transmutação de Matéria.

Tanto tempo valeu a pena. Agora ela conseguia transformar qualquer tipo de matéria numa substância cuja única grama era capaz de matar centenas de milhões de pessoas.

Cercada por um mar dessa radiação, nem mesmo o resistente escudo de energia conseguia conter tudo aquilo.

Aos poucos, sinais de vermelhidão e queimaduras se espalharam pelo corpo de Petra. A única coisa que ainda a mantinha de pé eram as suas runas.

— Eu tenho que sair daqui. — A questão era "para onde?" O alcance daquela técnica era absurdo.

Com a quantidade de radiação que estava recebendo, até mesmo o suporte de cura das runas não daria conta se aquela situação se prolongasse.

— Você até que é bem durona, garota — ressaltou Inveja. — Outra pessoa teria morrido só de chegar perto.

Começou a fraquejar. Até mesmo respirar estava se tornando difícil. No entanto, aqueles olhos azul-celeste se recusavam a admitir a derrota.

— É a minha primeira vez… usando isso, então… — dizia com dificuldade — eu não sei quanto tempo… vai durar.

"Do que ela tá falando?"

E a resposta veio nas seguintes palavras:

— Veste Divina, anjo da gravidade… Auriel.

Um glorioso brilho prateado envolveu suas roupas e, aos poucos, uma proteção de metal prateado com detalhes azuis se formou na região do busto da garota.

Grevas e botas foram criadas para proteger pés e panturrilhas, ao passo que luvas de couro surgiam nas mãos.

Ao fim, para completar a bela visão, um majestoso manto azul-celeste surgiu para  ornamentar sua cintura.

A aura da garota também adquiriu um brilho mais claro que o habitual, indicando a presença da energia divina.

— Rai… — Inveja refletiu ao lembrar-se do nome do parceiro da garota. Com a manifestação da Veste Divina, ela finalmente entendeu de quem se tratava. — Raizel?

Como o nefilim se ausentou da Academia pouco tempo após formar o seu duo, não se tinha muitas informações acerca da sua parceira.

Além disso, pelas poucas informações existentes, a tal garota de cabelos prateados não era tão forte.

— Ninguém escapou das suas garras, e aqueles te viram nunca mais foram avistados — entoou Petra, ao passo que pequenos orbes negros se formavam perto das montanhas de Virônio. — Devorador Cósmico!

Com toda a ferocidade do mundo, os pequenos buracos negros devoraram impiedosamente cada uma das colossais montanhas de Virônio.

Naquele dia, todos testemunharam que tamanho não era documento, mas gravidade, sim.

Conforme o material das montanhas era puxado pela soberania da gravidade, ele começava a girar a uma velocidade tão extrema que aqueceu e passou a formar um disco de luz chegante: um disco de acreção.

"É realmente perigoso", pensou Petra.

Ainda que os buracos negros criados tenham sido de tamanho mínimo, o efeito da técnica que Auriel lhe passou era devastador. Se exagerasse um pouco, transformaria todo o planeta em poeira cósmica.

— Essa luta é desnecessária — disse, enquanto se aproximava da sua oponente, com o controle da batalha. — Eu permito que você vá embora.

— Quê? — Aquela garota estava falando sério? — Está dizendo que a luta acabou? Que eu não tenho chances de vencer?

Receio era estampado nas feições de Petra. No fim, se possível, ela só não queria que tivesse que matar uma pessoa.

— Diferente de você, eu não vou te atacar pelas costas quando estiver saindo.

— Você só pode estar de brincadeira! — esbravejou a patrona. — Quem você pensa que eu sou?!

Aquela garota deveria ser fraca, que nem ela também era antes. Do fundo do coração, Inveja não conseguia aceitar tal situação.

Para se tornar forte e chegar aonde estava, ela teve que passar pelo inferno e comer o pão que o diabo amassou.

Teve que abrir mão de qualquer resquício de uma vida normal que ainda lhe restava na época.

Perdeu tudo, então, por quê? Por que aquela garota ainda possuía feições genuínas de bondade?

Como ela ousava estar na sua frente com aqueles olhos gentis e sorriso amigável? Como ousava lhe fazer uma proposta tão… ridícula?

Por que a sua adversária teve sorte, enquanto ela não? Quando a pequena Yuna, quando a pequena Inveja mais precisou de ajuda, quem estava lá para a proteger?

Caída no chão, a patrona descontava toda a sua frustração — toda a sua inveja — rasgando a terra do chão com as pontas dos dedos.

— Suma da minha frente! Saia daqui! — Petra deu um passo para trás ao contemplar os olhos da patrona ardendo de raiva. — Eu não quero, nunca mais, ter que ver essa sua carinha maldita na minha frente!

— Eu… — De repente, já nem sabia mais o que dizer. — Você está bem?

— Quê? — Aquela garota estava mesmo oferecendo compaixão para quem queria a matar?

O peito da patrona ardeu. Sua inveja alcançou níveis que jamais imaginaria, e, conforme sua inveja aumentava, maior seu poder se tornava.

Petra veio a perceber o perigo tarde demais. Em um piscar de olhos, sua adversária havia se tornado um verdadeiro monstro sem controle.

Tomada pelo seu pecado, Inveja criou um domo negro, que envolveu as duas e obscureceu suas visões.

Enquanto se surpreendia pelo que havia ocorrido, Petra sentiu um tato gelado encostar na sua sua pele.

Quando o domo se desfez, lá estava a patrona segurando o pescoço da sua rival com ódio no rosto e na voz.

— Eu não quero a sua compaixão.

Petra tentou se desvencilhar das garras da Inveja, mas tanto o tecido da sua pele, quanto o dos seus músculos, já estava rachando e se desintegrando.

Com um salto para trás, a espadachim pegou distância e levou a mão ao pescoço. Sentia que estava ferida, mas não havia sangue. Ela estava virando pó.

De repente, uma sensação de aflição tomou conta do seu coração. Ela não conseguia se curar, ela morreria ali.

— Você mereceu isso. — A patrona a observava de longe. Seu destino já estava selado. — Nunca mais terei que te ver de novo.

"Eu não… Eu não quero morrer." Pouco a pouco sentiu sua pele enrijecer e, logo em seguida, se esfarelar junto à sua carne por baixo da Veste Divina.

Ela ainda não havia se tornado forte o suficiente, reencontrado seus amigos ou contado para o seu parceiro sobre o resultado do teste.

Por bem ou por mal, teria que carregar esse arrependimento consigo até o túmulo.

"Eu quero contar pra ele pessoalmente." Foi quando o estigma em seu peito brilhou.

— Esse é o seu desejo? — Uma voz estranha soou dentro da sua mente.

Hã?

Virou-se para trás à busca de algo ou alguém pudesse tê-la chamado, mas tudo o que encontrou foi um par de olhos dourados e selvagens que brilhavam na escuridão do vazio.

Era como se alguém a tivesse transportado da ilha e a levado para um lugar vazio e escuro.

Então a voz que vinha do portador dos olhos dourados continuou:

Se esse é o seu desejo, eu o cumprirei.

— Quem é… — De repente, uma sensação de sono tomou sua mente. O seu corpo amoleceu e caiu sobre o chão. — Você?

Enquanto observava os olhos da garota se fecharem, a voz respondeu de forma breve e direta:

O Guardião dos Céus.


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